Eu lembro que logo que eu comecei a estudar o Espiritismo, 20 anos atrás, eu li uma declaração de Allan Kardec com a qual eu não concordei naquele momento. Allan Kardec diz que em determinadas circunstâncias o espírito se compraz no mal – isso quer dizer, por exemplo, que quando nós estamos com raiva, quando nós sentimos uma raiva insistente, nós sentimos prazer em ter raiva.

Espiritismo e a raiva

E é exatamente assim. Nós nem sempre escolhemos um sentimento; mas, quando nós percebemos que estamos sentindo determinada coisa nós temos a opção de mudar o foco – mas nem sempre isso acontece. Nós sentimos prazer em nutrir sentimentos como raiva e tristeza. É claro que esse prazer não é uma coisa consciente, não é exatamente uma escolha. Ninguém escolhe: – “agora não me interrompa que eu quero ficar triste durante umas duas horas e não quero ser interrompido”. – Não é assim.

Muitos pensamentos passam pela nossa mente a toda hora, e muitos deles não produzidos por nós – são pensamentos que estão numa faixa de frequência próxima da nossa e com os quais nós sintonizamos. E quando esses pensamentos perduram um pouco eles são acompanhados de sentimentos. O que determina a nossa vida – a maneira como nós vivemos, como nós vemos a vida, como nós sentimos a vida – são os nossos pensamentos e sentimentos. É através dos pensamentos e sentimentos que nós sintonizamos com outras mentes, de espíritos encarnados e desencarnados, formamos o nosso ambiente psíquico e experimentamos o fenômeno vida.

Tudo na nossa vida passa pelo controle dos nossos pensamentos e sentimentos, e muitas pessoas têm dificuldade em controlar os pensamentos – vem um pensamento ruim na cabeça e a pessoa não consegue controlar esse pensamento, a pessoa diz que não consegue se livrar desse pensamento.

E na verdade consegue, sim, qualquer um consegue, mas pra isso nós precisamos reconhecer que nós gostamos – mesmo que inconscientemente – de nutrir sentimentos como raiva, rancor, tristeza, mágoa, inveja e outras coisas desse tipo. Se nós não gostássemos, nós não ficaríamos presos a eles.

Isso são doenças do espírito, são vícios da mente, e o primeiro passo para vencer um vício é reconhecer esse vício.

Os vícios numa visão espírita

Se uma pessoa tem problemas com drogas, com álcool, com cigarro, por exemplo, ela tem que, em primeiro lugar, reconhecer que isso é um vício, e, a partir daí, afastar-se radicalmente do objeto do vício.

Pois a mesma coisa acontece com esses sentimentos doentios. Então eu vou dar agora algumas dicas para controlar os pensamentos e sentimentos:

• Quando perceber um pensamento ou sentimento negativo, pense em outra coisa, mude o foco. Se não conseguir, ouça uma música diferente, cante, reze – você pode rezar um Pai Nosso – e nós sabemos que nos momentos de raiva, de grande tristeza, nós não conseguimos nos concentrar, nós rezamos automaticamente sem prestar atenção naquilo que nós estamos dizendo, mas devemos continuar mesmo assim. No caso do Pai Nosso, por exemplo, nós rezamos uma vez sem prestar a menor atenção nas suas palavras, e repetimos; na segunda vez já estaremos prestando atenção em uma ou outra parte; e lá na terceira ou quarta vez, no terceiro ou quarto  Pai  Nosso que nós rezarmos nós já estaremos automaticamente nos acalmando.
• Pra pessoas que tem uma grande dificuldade de concentração, melhor do que rezar o Pai Nosso, melhor do que repetir algumas vezes o Pai Nosso é fazer afirmações positivas, afirmações curtas, como por exemplo: “eu sou luz”, “eu sou um ser de paz”. Repetir isso muitas vezes; isso sempre traz resultados benéficos.
• Se você estiver com muita raiva, ou muito triste, nutrindo grande mágoa, grande rancor, se houver possibilidade você pode fazer exercícios físicos, isso também ajuda a mudar o foco instantaneamente. – praticar exercícios físicos, principalmente se forem exercícios intensos.

Essas coisas sempre funcionam num primeiro momento, num momento de crise, mas para nós começarmos a criar novos hábitos mentais e deixarmos de lado os pensamentos e sentimentos negativos nós precisamos preencher a nossa mente com coisas boas, com coisas úteis:

• A leitura edificante, a leitura de bons livros, livros espíritas ou espiritualistas, isso ajuda a manter a nossa mente ocupada com coisas boas, com coisas elevadas;
• O convívio com pessoas agradáveis, com pessoas mais positivas;
• A adoção de novos ambientes: se nós circulamos em ambientes muito negativos – às vezes no nosso local de trabalho, ou o próprio lar pode ser um fator de convergência de coisas negativas – temos que procurar sempre novos ambientes, ambientes mais agradáveis, mais positivos;
• Precisamos criar novos hábitos. Se nós temos cotidianamente uma série de hábitos e isso não está nos fazendo bem – nós estamos permanentemente nutrindo maus pensamentos, maus sentimentos – nós temos que mudar os nossos hábitos, criar novos hábitos, e nisso a prática corriqueira, a prática cotidiana de exercícios físicos é muito bom;
• Caminhar ao ar livre, pra quem tiver essa possibilidade – se puder ser próximo à natureza melhor ainda;
• Abandonar as notícias sensacionalistas, esses jornais que a gente torce e sai sangue, esses programas que nos apresentam um monte de problemas, as novelas cheias de maldades, de intrigas.

Tudo isso pode e deve ser mudado. Se nós queremos mudar o nosso padrão de pensamentos e sentimentos, temos que parar de absorver essas coisas.

Outra coisa muito importante em relação à oração: nós temos que parar de pedir coisas. Quando nós pedimos muitas coisas em oração nós estamos inconscientemente nos tornando pedintes, nos tornando mendigos; estamos implantando em torno de nós um ambiente de carência, de permanente carência.

Aqui está um ótimo exemplo de oração: Como orar e ser atendido

Quem coloca isso em prática, ou pelo menos parte dessas coisas que eu citei em prática, melhora, e muito, o seu padrão de pensamentos e sentimentos. É impossível não melhorar se você fizer isso.