Comportamento, Reforma íntima

Diferença entre fé e crença

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Você sabe a diferença entre fé e crença? Não? Eu imagino que seja mais ou menos isso:  A fé nasce e morre dentro de cada um. A fé é uma energia ou sentimento intransferível e uma experiência totalmente pessoal. A crença é a sensação de que alguma coisa é verdadeira, sem que se questione a procedência desta coisa, sem que se questione se essa coisa pode ser provada ou não.

Você sabe o que é a fé raciocinada? O espiritismo inovou com esse conceito. Fé raciocinada é o meio-termo entre a incredulidade e a fé cega. Como ninguém é igual a ninguém, a quantidade necessária de razão e de fé para apreender a teoria e experimentar a prática depende de cada um.

As crenças em geral tentam explicar o sentido da vida e da morte e o sentido de um monte de coisas que nos rodeiam. Quem tem fé sabe; quem tem crença pode saber ou apenas pensar que sabe. A fé não se transmite, a crença pode ser ensinada.

criança orando
A fé é pessoal e intransferível

Aqui surge um problema filosófico um tanto chato mas de grande importância para o dia-a-dia. É complicado querer ensinar ou compartilhar crenças. Sabe por quê? Por que conhecemos, de verdade, apenas as nossas próprias crenças. Seja qual for o assunto tratado, sabemos de imediato se ele se adapta ou não às nossas crenças.

Mas não conhecemos as crenças dos outros. Você não conhece a crença do seu marido, do seu filho, da sua mãe, ou esposa, ou irmão, ou de quem quer que seja. Você só conhece a sua própria crença. Você só nota alguma coisa da crença do outro pela observação do seu comportamento. Por causa disso, não conseguimos captar ou transmitir com clareza tudo o que se refere às nossas crenças. Não entendemos os outros e os outros não nos entendem.

Não precisaríamos de tantos sistemas, tantos mestres, tantos livros, se fosse possível a comunicação imediata da crença. Mas tudo o que externamos o fazemos com conceitos que têm valor pra nós, não necessariamente para os outros. Da mesma forma acontece quando interiorizamos algum aprendizado. Nós percebemos a informação de acordo com nossos conceitos, e decodificamos essa informação baseados em nosso ponto de vista. Toda informação que entra ou sai de nós passa pelo filtro de nossos conceitos, de nossos pontos de vista.

Por isso é tão difícil o entendimento, por isso tanta divergência, por isso tanta discórdia. Muitas vezes falamos as mesmas coisas como se fosse em línguas diferentes. O maior obstáculo ao entendimento entre as pessoas é o orgulho. E não estou me referindo a pessoas estranhas umas às outras. Estou me referindo a pessoas que compartilham um ideal, a pessoas que pensam e querem mais ou menos as mesmas coisas. O maior obstáculo é o velho e podre orgulho. É o orgulho que nos aconselha a não descer do pedestal de nosso conhecimento adquirido para prestar uma maior atenção ao que diz o próximo. É o orgulho que nos impede de levar em consideração a experiência alheia, é o orgulho que nos proíbe de meditar seriamente acerca da verdade dos outros.

Quantas vezes você nem sequer ouviu até o final o que o outro tinha a dizer só porque logo na primeira frase ele contrariou alguma verdade que para você é inquestionável? Quantas vezes você interrompeu a fala do outro porque ele ousou discordar do ensinamento intocável do seu guru da verdade? Quantas vezes você olhou com desdém para o seu semelhante porque ele externou um pensamento de simpatia por um mestre ou livro ou sistema que você definitivamente execra, mesmo sem nunca tê-lo estudado com um mínimo de boa vontade?

Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade.” Palavras do velho e bom Allan Kardec. Você tem fé? Se você tem fé, não precisa ter medo de ouvir o próximo. Você sabe no que acredita? Ou confunde saber com estar convencido? A fé é algo que sabemos, compreendemos intimamente, sem margem a dúvidas. O resto são crenças. E crença é a verdade de alguém que adotamos como sendo nossa. Não precisamos que nos digam em que acreditar. Mas precisamos ouvir, analisar, aprender com os outros, sem medo de contágio, porque temos fé. Você tem, não tem?

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