Artigo publicado originalmente em 17/09/2012
Você acha que Deus castiga? Cada um de nós é um universo. Cada um vive o seu universo particular de acordo com suas crenças, de acordo com suas possibilidades e limitações. Há pessoas que temem o castigo eterno, que imaginam o inferno como um lugar físico, real, delimitado no espaço. Os espíritas não creem no sofrimento eterno, mas tenho percebido controvérsias a respeito da aplicação da lei divina. Ela pune ou educa? Notei algumas dúvidas quando escrevi o artigo “Você e a sua consciência” e me deparei com novas incertezas num estudo entre amigos, na sexta-feira última. Nunca é demais lembrar que tudo o que escrevo é minha opinião, passível de erros e personalismos.
Deus castiga? Deus é pai; eu sou pai. Eu não castigo meus filhos, mesmo que meu modo de educá-los possa ser considerado rígido e ocasionalmente confundido com punição. Se eu, aprendiz falível, não puno, você é capaz de achar que Deus pune?
O que conhecemos de Deus são suas Leis, imutáveis e eternas. As Leis de Deus estão impressas em nossa consciência. É a consciência que nos adverte quando transgredimos a Lei. Essa advertência vem geralmente sob a forma de dor. Poderíamos achar que nós mesmos nos punimos através da consciência.
Mas se a consciência é a impressão das Leis de Deus, e Deus se manifesta através de nós, chegaríamos à conclusão de que Deus nos pune através de nossa consciência. Mas isso é apenas um jogo de palavras e conceitos. A questão não é saber se Deus nos pune diretamente ou através de nossa consciência. A questão é saber se Deus pune.
Deus não pune. Estamos aqui para aprender. Eu, você, todo mundo. O que parece punição é apenas a correção dos desvios que trilhamos, faz parte do processo educativo. Como cada um de nós é um universo, a punição existe para quem acredita nela. Quem ainda desconhece ou não considera devidamente a Lei de causa e efeito pode atribuir as manifestações de sua mente culpada a castigo, a punição. Mas o processo da vida é educativo. Você é espírito imortal reencarnando há milênios sob a crença num deus punitivo. É natural que ainda confunda sentimento de culpa com punição. Assim como é compreensível que alguém que apresenta deficiência física grave possa se sentir punido por Deus.
Ninguém gosta de sofrer. E pode ser trabalhoso, embora necessário, entender que o sofrimento é instrumento de recondução do espírito imortal ao caminho correto, ao caminho traçado por Deus, à Lei de Deus. Tudo o que contraria a Lei de Deus, tudo o que contraria o bem do próximo, é apontado por nossa consciência como erro. E como erro, requer correção. E essa correção gera sofrimento. E o sofrimento é tanto mais doloroso quanto menos o compreendemos. Deus não castiga. Deus não premia. Deus cumpre com a Lei. Deus é a Lei.
A crença na punição denota uma mente culpada. É o caso de quem age em desacordo com seus valores mais íntimos, em desacordo com seus ideais. Há quem se permita comportamentos que considera incorretos por não resistir ao benefício imediato das sensações. Depois sente remorso, mas sem modificar a conduta. A consciência dispara o sinal de alerta em forma de dor, que é confundida com punição. Mas esta dor, por si só, não corrige. É preciso modificar condutas.
É preciso verificar onde erramos, é preciso o arrependimento e é preciso reparar o mal praticado. Os romanos já alertavam: “Dura Lex, sed Lex”. A lei é dura, mas é a lei. A Lei é para ser cumprida, sempre. O resto é choradeira.