Um amigo – que não conheço pessoalmente – se queixa das diferenças entre teoria e prática dos espíritas. Segundo ele, os espíritas pregam muito e agem pouco, ou melhor, praticam muito pouco do que pregam.
Neste vídeo de apenas 5 minutos faço um breve comentário sobre o tema. Se preferir, leia o artigo logo abaixo.
Eu acabo de receber uma mensagem de uma pessoa que eu não conheço pessoalmente em que, em linhas gerais, ela está decepcionada com o Espiritismo, se queixa da sua decepção para com o Espiritismo e principalmente para com os espíritas. Essa pessoa diz que nasceu em berço espírita, mas que ela vê no seu dia-a-dia, no seu cotidiano, uma grande distância entre a teoria, entre o que pregam, o que falam, e aquilo que realmente praticam, aquilo que colocam em prática.
Eu vejo isso todos os dias, vejo isso principalmente em mim mesmo. É evidente que a imagem que passamos para o público )seja através de um vídeo, através das redes sociais, ou mesmo no próprio centro espírita dando uma palestra), é claro que essa imagem que nós passamos é uma imagem idealizada – porque nós buscamos um ideal.
Então a imagem que eu passo, por exemplo, não é de modo algum uma imagem de fingimento, uma imagem falsa – mas isso não quer dizer, também, que eu seja sempre assim! Eu, apenas, quando estou tratando de assuntos mais elevados e me reportando ao público, passo o melhor de mim mesmo.
É claro que existe muita hipocrisia no meio espírita ou em qualquer outro meio. Claro que há pessoas que se perdem no meio do caminho, mas isso não pode ser motivo para nos decepcionar com a Doutrina em si. A Doutrina é uma coisa, as pessoas que seguem (ou pensam que seguem) a Doutrina é outra coisa.
O livro “Os Mensageiros” de André Luiz, que é o segundo livro da série “A vida no mundo espiritual” trata mais ou menos disso: daquelas pessoas que reencarnam com determinadas tarefas – seja através da mediunidade, seja uma tarefa ligada à comunicação no meio espírita – e que se perdem no meio do caminho, acabam perdendo o seu foco, acabam perdendo o sentido daquilo que vieram realizar. E, então, ou não fazem nada, ou aquilo que fazem é, como se diz, “da boca pra fora”, é uma vida apenas de aparência, mas não vivenciam intimamente aquilo que pregam, aquilo que passam para fora.
Então eu quero dizer que compreendo essa decepção dessa pessoa que me mandou essa mensagem, porque eu mesmo experimento alguma coisa semelhante à decepção (não sei se chega a ser decepção), mas eu também experimento um certo desgosto algumas vezes observando colegas meus, ou, como eu disse, observando principalmente a mim mesmo.
Quando nós nos damos conta (e eu me dou conta disso todos os dias, ou quase todos os dias) de que nós estudamos muito, nós oramos muito, nós nos esforçamos muito para adquirir novos princípios, para estabelecer nova conduta, para nos reconstruir, e que, no entanto, a nossa vida prática não muda grande coisa, nossa transformação é muito lenta – se nós não estivermos convictos daquilo que queremos, nós balançamos; mas, se uma pessoa acredita realmente nos princípios que ela segue (porque nós seguimos princípios), então ela pode eventualmente balançar, mas não pode cair; ela tem que continuar, tem que seguir sempre, porque nós não podemos desistir.
E as pessoas que nos cercam, as pessoas que deveriam talvez nos dar o exemplo? Elas são elas!
O caminho é individual, o crescimento espiritual é individual. Nós temos que nos ajudar uns aos outros, mas cada um se desenvolve a partir de si mesmo. Então o meu foco, a base do meu crescimento, não pode ser as pessoas que observo, tem que ser eu mesmo.
Eu erro todos os dias, vou continuar errando por muito tempo ainda (provavelmente), mas que esses erros sejam cada vez menores, e, principalmente, que eu consiga cada vez mais produzir acertos.
E nós não temos um mal a ser combatido, nós temos um bem a ser construído, e assim como nós vemos os aspectos negativos nas pessoas, aquelas coisas que nós condenamos, que nós gostaríamos que fosse diferente – nós podemos nos focar também nos seus aspectos positivos, naquilo que elas já conseguiram construir em si mesmas, e naquilo que elas colaboram para o crescimento do próximo, para a melhora do próximo, para o alívio das dores do próximo.
Uma coisa é certa: não existe ninguém perfeito na Terra. Mesmo as pessoas que mais admiramos – no próprio movimento espírita, poderíamos citar dois grandes nomes: Chico Xavier e Divaldo Franco; um já desencarnado e o outro encarnado ainda; mesmo essas pessoas, se partilhássemos do seu convívio, se nós as conhecêssemos mais intimamente, certamente nós encontraríamos nessas pessoas algumas falhas, alguns defeitos, algumas contradições.
Não encontraremos a perfeição neste planeta, mas não podemos deixar de buscá-la.
Vale a pena, então, deixar de ser espírita?
Se fora do meio espírita a pessoa conseguir ser mais útil, produzir mais, se sentir melhor e fazer os outros se sentirem melhor, sim, vale a pena deixar de ser espírita. Mas não me parece que esta seja a solução. Se nós temos essa capacidade de perceber a diferença entre a teoria e a prática, se nós nos incomodamos com isso, fica demonstrado que nós temos condições de fazer mais e melhor, e esse fazer deve começar por nós mesmos. Nós é que temos que ser o exemplo.