Admiro muito a pessoa, símbolo de humildade, e a obra, ícone de seriedade, de Chico Xavier. Através da sua mediunidade única, chegaram até nós obras de valor inestimável que acompanharão os aprendizes das coisas do espírito por muito tempo.
Minha percepção da figura humana de Chico Xavier foi de um homem que havia vencido as pequenas ilusões terrenas que nos mantém ocupados com absurdidades que nos tomam o tempo. O tempo dele foi extremamente bem empregado.
Nunca vi nele um santo, um homem de bondade irretocável. Acredito, mesmo, que ele tenha precisado de muito esforço para suportar o escárnio, o desrespeito, o deboche, a ingratidão, a burrice.
Nesse esforço íntimo, Chico se rebaixava ao mínimo, se dizia um verme, um cisco, um nada. Isso denota um esforço de humildade, uma humildade mística, medieval, a meu ver, negativa.
Não acho que alguém se sinta entusiasmado no seu melhoramento por se reconhecer pequeno e insignificante como um verme. Não creio que alguém se decida firmemente a mudar, a construir sua evolução, por perceber que, perante o Universo infinito, ele é apenas uma pulga, um cisco.
Pelo contrário! O que leva o Espírito imortal a decidir-se pelo caminho reto, pela trilha estreita das Leis de Deus, é a percepção da sua grandeza, é a constatação de que é filho de Deus, feito à sua imagem e semelhança, portanto, perfectível. Herdeiro de Deus pelo uso do livre-arbítrio como construção de sua trajetória milenar. Herdeiro de Deus pelo pensamento, pela capacidade de pensar e pelo poder criador do pensamento.
Nós não somos vermes rastejantes, nós não somos seres insignificantes. Somos filhos de Deus, temos consciência de nós mesmos, olhamos para o futuro sabendo que compete a nós construí-lo. Nada pode ser mais grandioso que isso!
Não precisamos nos considerar vermes a rastejar pela Terra para evitarmos a vaidade. Você sabe tão bem quanto eu que são poucas as pessoas com capacidade de compreender a grandiosidade do Espírito e sua caminhada cósmica em direção a Deus. Quem consegue entender isso está imune a uma vaidade tão tola. Ninguém que conheça sua natureza espiritual vai se envaidecer por isso.
É claro que se nos compararmos com a vastidão do cosmos somos nada. É lógico que se nos compararmos com os grandes espíritos evoluídos, somos bem pouca coisa. Mas nós olhamos pra frente. Podemos estar pequenos, mas somos grandes. Todas as qualidades que admiramos e buscamos em Jesus, espírito mais evoluído que já pisou neste planeta, tudo o que vemos e o que ainda não conseguimos ver de grande e belo nele está dentro de nós.
Você tem o Cristo dentro de você. Nossa reforma íntima é o modo de consolidarmos essa percepção e, a partir disso, desenvolvermos a nossa potencialidade crística.
Há instantes em que conseguimos compreender, mesmo que fugidiamente, a felicidade que nos aguarda, o amor profundo que sentiremos, o conhecimento que teremos a nosso favor e em benefício do próximo.
Tenho plena consciência de que estou muito, muito longe do estágio evolutivo de Chico Xavier. E a sua maneira de ser foi a sua maneira de ser. Única. Inigualável. Se fosse diferente, não seria Chico Xavier. Essa é a beleza da diversidade, das diferenças. Eu, particularmente, acho que não somos vermes, mas Espíritos imortais herdeiros de Deus.