Opiniões sobre beber, fumar e comer carne…
Boas maneiras são produto de pequenos sacrifícios. Allan Kardec, talvez tendo em mente as críticas do Mestre aos fariseus, ensinou que “o espiritismo é uma questão de fundo e não de forma”.
É lógico que não bastam as boas maneiras se o coração não as acompanha, mas é melhor que nada. Hipocrisia? Talvez. Não estou de maneira alguma defendendo a hipocrisia, mas a reforma íntima passa também pelo reaprendizado do modo de se portar. Li uma matéria, num blog, de autoria de J. Herculano Pires (O Homem Novo), que afirma que “há uma tendência bastante forte, no meio espírita, para um tipo de moral religiosa que se caracteriza pelo artificialismo”.
Nem tanto nem tão pouco; é preciso valorizar as tentativas de aperfeiçoamento moral que muitas vezes têm como primeira manifestação as exterioridades. É claro que existe o artificialismo, mas ele só se torna um problema se não for acompanhado de alguma mudança interior. O referido autor afirma que não tem valor deixar de beber, de fumar, de comer carne, se o coração não estiver limpo.
Só um pouquinho! É evidente que não são essas atitudes, ou abstinências, que fazem o espírito elevar-se. Mas de nada vale? Aí também não, né? José Herculano Pires escreveu quase uma centena de livros, sua memória merece muito respeito, mas se sua opinião a esse respeito era válida em meados do século passado, hoje beira o simplismo… pra não perder a delicadeza.
Não é o fato de não beber que torna um homem bom, mas entre um que bebe e outro que não bebe, sendo semelhantes quanto ao resto, quem tem mais mérito? Há muitas pessoas que bebem socialmente, mas também há milhões que causam diariamente pequenas ou grandes tragédias influenciadas pelo álcool.
Não é o fato de não fumar que torna o homem digno, mas você há de convir que é
melhor não fumar. Se a pessoa não prejudica a si mesma, pode prejudicar alguém com seu exemplo.
Não é por privar-se de carne na alimentação que um homem se purifica, mas se consegue manter-se bem alimentado, sem risco para sua saúde, sem precisar sacrificar um animal para comer, é melhor para todos. Ou não?
Pode não ser muito relevante, mas de nada vale, também não! Noutro trecho, diz o autor: “Quando o Espiritismo ensina que os formalismos do culto exterior são inúteis, ensina também que toda exterioridade sem raízes no coração é igualmente inútil”.
Que exagero! Boas maneiras se tornaram inúteis? Educação pra quê, então? Se o coração não estiver puro (onde estão os corações puros?), não adianta ter bons modos, ser gentil, é tudo artificial mesmo! Sei que eu posso ter exagerado, por minha vez, na interpretação. Mas é que achei um verdadeiro absurdo, quando li. Não somos uma sociedade assim tão adiantada, tão “pura” para abrir mão das boas maneiras. São elas, as boas maneiras, muitas vezes o que temos de melhor, já que nosso coração não é “puro” o suficiente para poder agir com a esperada espontaneidade.
Se a maior parte das pessoas resolvesse ser espontânea, a civilização estaria perdida. Mas tem mais um pedacinho: “Querer forçar a evolução com abstenções e atitudes falsas, seria iludir-nos a nós mesmos e também aos outros, o que é ainda mais grave”. Credo! Então tá tudo liberado? Se abster de prazeres pra quê, se sua fraqueza não está totalmente superada? Paciência, tolerância, pra quê, se é uma atitude falsa, se no fundo, se não calássemos o orgulho e o egoísmo, agiríamos diferente?
Encarar a realidade faz bem a todo mundo. Não vivemos numa sociedade perfeita; nem nós, espíritas, somos perfeitos. Nos esforçamos para progredir. O progresso deve vir de dentro pra fora, mas não só de dentro pra fora. Um sorriso forçado é melhor do que nenhum sorriso.