Como funciona a oração pelos doentes? O que prevalece; a necessidade de aprendizado do espírito ou as orações por ele? É o que tentei responder à leitora Lia:
– Morel, obrigada mais uma vez pela oportunidade de participar e aprender neste site rico em conhecimentos. Tenho uma pergunta, se for possível me responder agradeço; gostaria de saber quando uma pessoa está doente – e como aprendemos na doutrina a doença faz parte do aprendizado muitas vezes necessário ao espírito – então, sendo assim, como funciona a oração? Se por exemplo uma pessoa com muitas dívidas sofre algo que lhe afete a saúde e essa pessoa é querida e faz com que muitos orem, façam correntes, o que ocorre neste caso? Sei que cada caso é individual, mas isso ocorre com frequência, orações para pessoas enfermas. Gostaria de uma explicação, o que prevalece: o pedido de muitos ou sua necessidade de aprendizado na dor?
Lia, venho me preparando há um ano para a produção de uma série de 30 vídeos em que analiso o Evangelho de Lucas a partir dos conhecimentos do Espiritismo. Começarei a divulgar em Março. E uma das coisas que percebo é que quando Jesus diz “teus pecados estão perdoados”, na verdade, analisando os textos originais gregos, vemos que o que ele está realmente declarando é “teus erros foram resgatados”. A palavra pecado, nos textos gregos, significa “erro”; originalmente se referia ao ato de errar o alvo com o arco e flecha. É, então, uma tentativa de acerto que não obteve êxito. E a palavra grega “aphesis”, que normalmente é traduzida como perdoar ou remir, também pode ser traduzida como desligar, libertar ou RESGATAR, referindo-se ao preço que se pagava para obter-se a libertação da escravidão.
Então Jesus não “perdoava os pecados”; estaria sendo parcial se perdoasse uns e não perdoasse outros. Mas Jesus declara àquelas pessoas que “os seus erros foram resgatados”, ou seja, que elas já cumpriram o seu “carma”, ou, melhor dizendo, já estão quites com a Lei de causa e efeito.
Se já estavam quites, por que permaneciam doentes? Pela inércia. Tendemos a permanecer na mesma situação em que estamos.
Todos nós temos a tendência de acomodação. Isso é confirmado pela Física. Pelo princípio da inércia, todos os corpos comportam-se como preguiçosos e não querem modificar seu estado de movimento: se estão em movimento, querem continuar em movimento; se estão parados, querem continuar parados. Esse comportamento preguiçoso é chamado pelos físicos de inércia. Um exemplo comum do princípio da inércia é o movimento de um automóvel. Quando o automóvel está parado e arranca, quem está no interior do veículo desloca-se para trás. Quando o automóvel está em movimento e freia, quem está no interior do veículo desloca-se para a frente, pela tendência de permanecer com a velocidade que tinha. A inércia se refere à resistência que um corpo oferece à modificação do seu estado de repouso ou de movimento.
Assim como os corpos físicos, nós também seguimos o princípio da inércia. Se nada de novo acontecesse em nossas vidas, permaneceríamos parados, no estado em que nos encontramos. Nada mais de progresso, de evolução ou desenvolvimento. Nada de esforço no melhoramento de si mesmo, no fortalecimento interior, na reforma íntima.
O que Jesus fazia, então, com o seu imenso poder magnetizador, com os fluidos purificados que emanavam de si, era dar condições para que o espírito encarnado doente se conscientizasse da sua realidade, após anos de sofrimento e arrependimento, e saísse da sua inércia. Jesus contribuía com o seu poder e o doente colaborava estando receptivo, pois é preciso receptividade para obter ajuda, para ser curado, para que o poder de Deus se manifeste no espírito. Isso é demonstrado quando Jesus visitou a sua cidade, Nazaré, e não pôde realizar aí nenhuma cura relevante, pois os seus conterrâneos não tinham fé. Sem a receptividade proporcionada pela fé a cura é dificultada.
Para que a pessoa obtenha a cura, então, é necessário, como vemos no Evangelho, que tenha “cumprido o seu carma”, “resgatado os seus erros”, que tenha se rearmonizado com a Lei de causa e efeito. A cura definitiva deve ser do espírito, o corpo físico apenas reflete a disposição do espírito.
A oração sincera nunca fica sem resposta. Algum alívio, no mínimo, acontece. Mas o fundamental é que o espírito tenha aprendido com a dor, se arrependido e se modificado internamente. É para isso que existe a dor. A dor é um mecanismo de alerta que nos avisa quando nos desviamos do caminho reto das Leis de Deus. A pessoa arrependida, conscientizada, mesmo que não tenha “cumprido o seu carma”, mesmo que não esteja quitada com a Lei de causa e efeito, pode estar disposta a resgatar os seus erros através da sua mudança interna e externa, da sua reforma íntima e consequente alteração de comportamentos e atitudes. Então as orações encontram receptividade em seu espírito e ela obtém a cura do corpo físico. A cura definitiva do espírito, no entanto, só é alcançada quando a pessoa se submete espontaneamente aos mecanismos da Lei de causa e efeito, consertando ou compensando os males causados com bons pensamentos, boas palavras e boas ações.
Resumindo, temos a conjunção de três fatores: merecimento, pela submissão aos mecanismos da Lei de causa e efeito; receptividade através da fé; e o auxílio espiritual advindo das orações.