Artigo publicado originalmente em 30/10/2012
Não são muitas as pessoas prontas para buscar o esclarecimento. Há muito mais pessoas buscando consolação para os dramas de suas vidas. Antes consolar do que ser consolado…
Admiro muito as pessoas que têm a mesma postura em todas as situações. Acho que é um sinal de superioridade moral. Eu, que ainda não cheguei a esse estágio, de tempos em tempos preciso rever conceitos, preciso perguntar a mim mesmo se ainda permaneço com a mesma opinião acerca de determinado assunto.
É o caso de um artigo que publiquei há algum tempo; “consolar ou esclarecer?”. Relendo este artigo, noto o quanto a prática, algumas vezes, se distancia da teoria. Simplificando: falar é uma coisa, fazer é outra bem diferente…
Waldo Vieira é um dissidente espírita; foi parceiro de Chico Xavier, mas abandonou o espiritismo para fundar a conscienciologia. O Waldo criou uma infinidade de neologismos; palavras novas pra designar coisas velhas. Duas dessas palavras novas são tares e tacon. Tares é tarefa de esclarecimento; tacon é tarefa de consolação.
A conscienciologia defende a tares com unhas e dentes. Sua missão é esclarecer. Eu, particularmente, também sou favorável ao esclarecimento. Acho que a consolação é como um chazinho pra gripe, pode fazer com que o doente se sinta melhor, mas não cura.
Para as pessoas que já estão prontas pra aprender mais, que já têm capacidade intelectual e disposição emocional para avançar em conhecimentos, o esclarecimento é necessário. Consolar uma pessoa que já está preparada para aceitar novas ideias é um engodo, é uma farsa. É o mesmo que dar uma lição muito fácil para uma criança inteligente. Ela termina a lição rápido e fica se sentindo, se achando o máximo, enganando a si mesma. Uma criança inteligente deve receber uma lição de acordo com a sua capacidade. Se ela só recebe lições fáceis, pensa que é melhor do que é de verdade e não se prepara para maiores desafios.
O mesmo acontece com que já está pronto para ser esclarecido e ainda continua sendo consolado. Alguém nessa situação começa a ser condescendente consigo mesmo, desculpando seus erros e falhas, sentindo-se vítima das circunstâncias. Quando passar por uma crise mais grave, não saberá como agir, pois não se preparou para cobrar de si mesmo, não aprendeu a analisar suas atitudes, não consegue lidar com a culpa gerada por um erro de grandes proporções.
Acho que todos, de acordo com sua capacidade, devem procurar se esclarecer. Só que isso é o ideal. A prática se mostra bem diferente do ideal. Não são muitas as pessoas prontas para buscar o esclarecimento. Há muito mais pessoas buscando consolação para os dramas de suas vidas. Há pessoas que precisam de consolo urgente. Assim como uma pessoa faminta anseia por um pão ou um prato de comida, essas pessoas necessitam de palavras de esperança, de promessas de conforto íntimo, de apoio moral.
Como dizer para uma pessoa amarga, desgostosa com a vida, que as doenças e dores de que ela vive se queixando são provocadas por ela mesma? Como dizer para alguém, que sente falta de um ente querido desencarnado, que a situação do falecido pode não ser das melhores, e que a angústia de quem fica só atrapalha quem partiu? Como dizer a uma pessoa que sofre privações materiais que só ela, com seu esforço, perseverança e confiança em si mesma, pode mudar esse quadro de maneira definitiva? Como dizer a alguém, que vive se queixando de que nada dá certo em sua vida, que é exatamente essa postura de desânimo e desconfiança que faz com que tudo saia errado, que é o negativismo que atrai coisas negativas?
Para essas pessoas o esclarecimento não é oportuno. Pelo menos não de maneira direta, franca. Para essas pessoas o esclarecimento tem que ser a conta-gotas. Você já está pronto para esclarecer a si mesmo? Preste atenção à palavra: Esclarecer. Tornar claro, afastar a sombra. Esclarecer é iluminar. E isso ninguém impõe a ninguém. É uma iniciativa absolutamente pessoal. Ou você acha que chá cura gripe?
P.s. Quando escrevi este artigo, Waldo Vieira ainda estava encarnado. Waldo Vieira desencarnou no dia 02/07/2015