Jesus nos disse para amarmos o próximo como a nós mesmos. Na verdade, o ensinamento já existia, está lá em Levítico 19:18. O que Jesus fez foi nos alertar para a importância dessa Lei. Há pessoas que pensam que amam demais. Dizem que amam mais ao próximo do que a si mesmas. Acham que amam mais o marido, ou os filhos, ou os netos, ou os pais, do que elas mesmas.
Quase todos nós ainda confundimos sentimentos de posse e apego com amor. É verdade que isso que sentimos pode ser uma forma de amor, na falta de um nome mais adequado. São ensaios para o verdadeiro amor, que é incondicional. O único amor verdadeiro é o amor que não impõe condições. É o amor que sobrevive incólume a qualquer situação. Se o alvo do nosso amor deixar de ser como é e continuarmos a amá-lo, isso talvez seja, realmente, amor.
Se a mulher amada deixar de ser bonita, atraente, sexualmente satisfatória, alegre e saudável, e mesmo assim despertar o mesmo sentimento, isso deve ser amor.
Se o filho deixar de ser criança, admirador ou adorador dos pais, dócil, vibrante, obediente, e adquirir novos gostos, e novos costumes, e novas amizades e compromissos, e o sentimento dos pais em relação a ele for o mesmo, isso pode ser amor.
Se os pais ficam velhos, e cansados, e esquecidos, e lentos, e bem menos bonitos do que já foram, e desatualizados, e repetitivos, e doentes, e mesmo assim o sentimento dos filhos por eles ainda for o mesmo, isso deve ser amor.
Mas na maior parte das vezes o que sentimos é apego. Quase sempre há algum interesse envolvido, por menor que seja. Esse interesse não precisa ser financeiro, nem sexual, nem nada prático. Pode ser apenas a necessidade de ter alguém por perto, de se sentir útil. Mas, mesmo assim, é um interesse.
Não se pode amar ninguém mais do que a si mesmo. É matematicamente impossível. Ninguém pode dar o que não tem. Nós somos o parâmetro do amor que podemos e devemos dar ao outro. Quanto maior o amor que sentimos por nós mesmos, mais temos amor para oferecer. Alguém que não se ama, então, alguém que visivelmente não está contente consigo mesmo, e jura que ama alguém mais do que a si mesmo, está enganando a si próprio. Está transferindo suas carências afetivas para alguém, está idealizando um sentimento, mas isso não é amor. Pode ser um treino para o amor, uma tentativa para o amor, mas não é amor incondicional. É só o alvo deste amor alterar a situação vigente e o sentimento muda.
Sabemos que temos que amar com desinteresse, e sabemos, também, que ainda estamos um pouco distantes do amor incondicional. Mas é preferível não nos enganarmos. É sempre melhor jogar limpo. Reconhecer os limites dos nossos sentimentos para podermos desenvolvê-los. Se nos enganarmos pensando que amamos muito, e que esse amor é o amor ideal, estaremos adiando o nosso processo de conscientização.
Só somos capazes de oferecer efetivamente ao próximo aquilo que nós temos, os sentimentos que já conseguimos desenvolver. E se nós somos o parâmetro para o amor que devemos dedicar ao nosso próximo, nossa urgência é em amarmos a nós mesmos. Precisamos estar contentes com nós mesmos, nos sentirmos úteis e produtivos. Só dando o melhor de nós mesmos estaremos realmente contentes em sermos quem somos, e assim expandirmos nosso amor em direção ao próximo.