Perguntas dos leitores

Adolescência e espiritualidade

adolescentes

Morel Felipe Wilkon

Minha visão sobre a vivência da espiritualidade na adolescência…

Recentemente publiquei um artigo como resposta ao questionamento de um leitor a respeito da mediunidade. Se você quiser ler este artigo, é só clicar sobre o título: “Será que sou médium?”

Este artigo gerou algumas perguntas da leitora Luisa, que reproduzo a seguir. Seu último questionamento diz respeito à adolescência. Por ser um tema relevante, ofereço minha visão sobre a vivência da espiritualidade na adolescência. É possível desenvolver-se espiritualmente nesta fase da vida? Ou este período da existência terrena requer a experimentação de prazeres e diversões sem maiores compromissos com a espiritualidade? É normal o adolescente dedicar-se ao trabalho voluntário voltado à espiritualidade em benefício do próximo? São questões abordadas a seguir:

Morel,

Você comentou no post que mediunidade não é um dom, e que podemos ajudar as pessoas de várias formas diferentes. No caso da pessoa não querer desenvolver a mediunidade, mas fazer caridade e ajudar ao próximo de uma outra maneira, ainda assim ela não encontraria seu equilíbrio?

É verdade que quem faz um trabalho mediúnico, ou até mesmo no atendimento fraterno, precisa ficar 24 horas sem beber, fumar, comer carne, ter pensamentos negativos ou estressantes, sexo ou qualquer uma de suas variações?

Para ler o artigo “Beber, fumar e comer carne”, clique sobre o título.

– Luisa, talvez o sintoma mais comum, mais primário da mediunidade seja uma maior sensibilidade. O médium é mais sensível a qualquer influência, é mais aberto, mais exposto, é como uma esponja que absorve as vibrações à sua volta.

O desenvolvimento e posterior trabalho com a mediunidade é o meio eficaz de controlar essa sensibilidade, distinguindo os tipos de energias e influências, protegendo-se de influências negativas e recebendo influências positivas. O primeiro beneficiado com o trabalho mediúnico é sempre o próprio médium.

Os cuidados que você citou devem ser tomados por todas as pessoas – com exceção do sexo, desde que equilibrado. Mas o médium, justamente por sua maior sensibilidade e consequente suscetibilidade deve ter cuidados redobrados com tudo que possa prejudicar o seu controle sobre si mesmo.

Morel,

Eu perguntei isso porque eu tenho uma amiga que é médium clarividente.

Ela descobriu a mediunidade aos 14 anos, e começou a frequentar o centro, fazer trabalho social… Com o tempo ela foi evoluindo e aos 18 anos ela passou a ser atendente fraterna.

Inicialmente ela atendia apenas 1 dia na semana, só que ela acabou por ficar com um número maior de pacientes e passou a 2 dias e depois a três. Como precisa tomar esses cuidados que citei, ela com 18 anos nunca havia experimentado nenhuma dessas experiências. Bom, aos 23 anos ela saiu do centro, disse que estaria de férias provisórias, pois gostaria de poder viver uma adolescência que não teve devido a ter começado muito jovem.

Bom, hoje ela não consegue administrar os problemas tanto quanto antes… Então, rejeitar a mediunidade poderia levar a consequências?

adolescencia
Estereótipo adolescente

Porque quando eu olho para ela, eu vejo que a adolescência é importante e fundamental na nossa vida. Se você é “adultizada” desde cedo, automaticamente você amadurece, e terá dificuldade de ter amigos da sua idade. Se você faz um trabalho fraterno 3 dias na semana, não terá a chance de experimentar situações que são normais da idade como beber, fumar… fazer sexo. Ela nunca havia tido uma experiência sexual até aos 23 anos, isso porque a recomendação passada por alguém que a acompanhava no centro era de que durante a adolescência ela não conseguiria atingir o equilíbrio sexual por que a fase da puberdade era a mais difícil.

Não sei, só acho que é importante ter experiências de acordo com cada faixa etária… E que sentir que negligenciou essa fase, e querer vivê-la colocando de lado sua mediunidade não deveria acarretar consequências, quando sua essência e a pessoa que realmente é não se modificou, apenas está passando por uma fase.

– Luisa, não reencarnamos para termos experiências sensórias como beber, fumar e fazer sexo descompromissado. É exatamente o contrário. Nossa evolução espiritual depende de que superemos estas falsas necessidades. Somos espíritos. Somos imortais. Nosso interesse deve estar voltado para as coisas do espírito. É verdade que estamos provisoriamente num corpo de carne, e que precisamos respeitar e sustentar este corpo. Mas os desejos não são do corpo, são do espírito.

Não há o menor fundamento em achar que um adolescente deve experimentar essas coisas. Muito pelo contrário. São exatamente essas coisas, esses prazeres materiais, que nos afastam da elevação espiritual. Não há como conciliar a ilusão dos sentidos físicos com a realidade espiritual.

Um adolescente não é um ser à parte. É um espírito como nós. Espiritualmente está consolidando a sua reencarnação, externando os seus reais predicados, trazendo à tona o seu caráter, as características que traz desde há muitos séculos e que deve desenvolver nesta existência. Fisicamente passa por algumas transformações, mas estas transformações são comandadas pelo espírito. Não podemos pensar, de modo algum, que o corpo tem desejos e que nós devemos satisfazê-los. Quem comanda é o espírito. Quem é mais forte ou mais fraco em relação aos apelos materiais é o espírito, de acordo com os seus conhecimentos e experiências vivenciados em diversas reencarnações.

Álcool, cigarro e sexo casual não são benéficos a ninguém. O álcool e o cigarro poderiam e serão, um dia, abolidos da humanidade sem que isso prejudique ninguém. O sexo é energia sagrada que deve unir os seres por amor. Sexo com amor é sublime, sexo só pelo desejo é instinto animal. Não somos animais.

A cultura adolescente é um reflexo dos nossos dias, é movida por interesses midiáticos imediatistas que visam sempre o lucro. Se acreditamos que somos espíritos imortais e que estamos aqui para progredirmos moralmente, não podemos nos deixar levar pela influência que os grandes meios de comunicação exercem sobre a massa, ditando falsos valores que quase sempre são aceitos sem questionamento.

Alguém que se dedica desde cedo às coisas espirituais não está perdendo nada. Não está deixando passar fases importantes da sua vida. É o contrário. Está aproveitando a sua curta reencarnação da melhor forma possível, crescendo espiritualmente, aprendendo e ensinando, vivendo em paz interior, sendo útil, produtivo, construtivo.

As experimentações materiais da adolescência podem ser determinantes para o futuro do espírito encarnado. Sem experiência de vida, quase sempre ele comete excessos que terá que colher, mais cedo ou mais tarde. Atrai para junto de si espíritos desencarnados que anseiam pelos prazeres que este adolescente está começando a experimentar e formam uma parceria que mais tarde será diagnosticada como obsessão. Os vícios, as dores morais, as descobertas infelizes, as péssimas e errôneas impressões sobre a sociedade, os filhos indesejados, são alguns dos subprodutos das experimentações da adolescência.

Alguém que se interessa desde cedo pelas coisas espirituais deve conhecer e se envolver justamente com pessoas que se interessem por estas mesmas coisas. Não há nada de positivo em alguém precocemente espiritualizado se envolver com pessoas que vivem em busca de emoções baratas como beber, fumar e praticar sexo sem compromisso.

Quem se interessa pelas coisas do espírito não é assim por acaso. Já reencarnou assim. Seu interesse é reminiscência de vivências anteriores. Ele traz o compromisso de trabalhar em benefício do próximo e para o seu próprio crescimento moral. É isso o que pode satisfazê-lo. Como espírito ele já se conscientizou de que os prazeres fugazes da matéria representam atrasos espirituais, e que o que pode libertar o espírito da dor moral é a superação dessas falsas necessidades e a busca pela elevação dos pensamentos, intenções, ideais, palavras, gestos e práticas.

Temos um potencial energético incomensurável. Não podemos direcionar nossas energias para campos opostos ao mesmo tempo. O apelo material é o pólo oposto à elevação espiritual. Ou canalizamos as nossas energias para cima ou para baixo. Se escolhemos viver os prazeres baratos da carne estamos canalizando as nossas energias, a nossa atenção, os nossos pensamentos, palavras e ações para a matéria, deixando de lado as coisas do espírito. Se nos focamos nas coisas espirituais, superamos as falsas necessidades materiais, vivemos de forma equilibrada, sem angústias, sem escravização aos desejos, sem remorsos por atitudes impensadas, sem contrair novos “carmas”.

O estereótipo adolescente é uma invenção, é um produto cultural. Nenhum adolescente precisa imitar os outros ou se enquadrar em algum grupo para sentir-se aceito ou para desenvolver-se. Desenvolver o quê? O caráter-padrão propagado pela mídia? A televisão e os grandes meios de comunicação apregoam a imagem de seres em série, como se fossem todos produtos massificados, sem ideias próprias e sem identidade. Se a maioria se encontra nestes modelos pré-fabricados, por falta de bagagem espiritual, ou por falta de uma melhor educação, isso não é motivo para que os adolescentes que conseguem pensar por si mesmos, que conseguem formular questionamentos sem dependerem da aceitação do sistema vigente, deixem de manifestar o que trazem no seu íntimo, o que fala mais alto dentro de si mesmos.

Adolescentes que convivem com sintomas de mediunidade tendem a se sentirem como ETs, pois são diferentes da grande massa. Seus interesses são outros. As banalidades materiais não os satisfazem.

Mas não são seres superiores. São mais esclarecidos, mas não elevados suficientemente a ponto de resistirem, sempre, aos apelos materiais. Podem acabar cedendo aos seus instintos inferiores e procrastinar indefinidamente uma tarefa espiritual que seria benéfica a muitos espíritos, encarnados e desencarnados, e que evitaria a eles muitos dissabores. Esses prazeres que nos chamam a atenção nós já os conhecemos há séculos. Já os experimentamos suficientemente. Ninguém vai ficar traumatizado porque não bebeu, não fumou ou não transou com qualquer um. Já está mais do que na hora de superarmos esses resquícios de animalidade. Esses prazeres materiais intensos nos mantêm no mesmo nível evolutivo dos animais. Só o que nos diferencia deles, quando nos entregamos aos desejos materiais, é a aparência. Mas o que nos faz realmente inconfundíveis com os animais é a capacidade de pensar em Deus, de concebermos, mesmo que timidamente, uma ideia do Creador do Universo e de querermos nos aproximar dEle.

Pelo fato de os adolescentes que convivem com sintomas de mediunidade, ou que são naturalmente espiritualizados sentirem-se excluídos, sem interesses em comum com a maioria daqueles com quem normalmente convivem, é que eles devem participar de grupos de estudos e atividades voltadas à espiritualidade que lhes permitam conhecer pessoas com quem tenham afinidade.

Pode ser difícil conviver com uma grande maioria de pessoas, como na escola, trabalho, estágio ou faculdade, que não os compreende e com quem eles não têm muitos assuntos em comum. Mas o fato de a maioria estar num estágio menos avançado não quer dizer que aquele que já esteja um degrau acima deva retroceder. Deve esforçar-se para conviver harmoniosamente com os demais, sem arrogar-se pretensões de superioridade, e estar disponível para esclarecer quem quiser ser esclarecido, pois em todos os ambientes encontramos quem se interesse, mesmo que superficialmente, pelas coisas do espírito.

Deixo aqui alguns links de temas relacionados:

O sexo casual numa visão espírita

A liberdade do espírito

A grande mídia e você

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