A verdade está no Espiritismo? Não, não, não. E seria muito pretensioso quem insistisse em dizer que sim.

O Espiritismo é um meio acessível e eficaz de nos aproximarmos da verdade. Mas, assim como todas as doutrinas, com o passar do tempo o Espiritismo mostrará suas fragilidades, sua parcialidade, e ficará defasado.

Não há como evitar isso. Se o Espiritismo permanecer estático, como querem alguns, que acreditam que toda a Doutrina está contida nas obras básicas de Allan Kardec, em pouco tempo estará desacreditado. O que era moderno no século XIX vai ficando obsoleto, isso é inevitável. Podemos alegar que os conceitos espirituais são eternos. Não são. São válidos para o nosso nível de entendimento. Esse nível de entendimento pode se estender por muito tempo, ainda. Mas esse “muito tempo” não é a eternidade.

Por outro lado, se o Espiritismo se abre demais, passando a abraçar outras crenças e práticas, ele vai aos poucos se descaracterizando. Isso pode não ser ruim, pode até resultar em algo melhor. Mas já não será a Doutrina Espírita, já não será um corpo doutrinário coeso, já não haverá uma base sólida como ponto de partida.

Nós fizemos do Espiritismo uma religião, mas ele não surgiu com esse propósito. Não que seja errado vivê-lo como religião. Eu mesmo faço isso, e estou muito bem assim. Mas o seu fundamento é filosófico, não religioso. Como filosofia, se bem compreendido, pode atravessar os séculos e se moldar a níveis de entendimento mais elevados sem perder nada da sua essência.

Mas, se insistirmos em tratá-lo dogmaticamente, discutindo sobre quais são os espíritos “mais autorizados” a nos orientar, estamos fadados ao enfraquecimento e à pulverização.

O objetivo do Espiritismo é esclarecer a humanidade. Será que estamos fazendo isso? No Brasil, onde o Espiritismo é mais forte e presente, ainda temos a cultura igrejista da consolação. O consolo é necessário, mas não é suficiente. É preciso esclarecer. É assim que o Espiritismo deve crescer – espalhando-se nas mentes e nos corações.

Leon Denis, discípulo de Kardec, já nos avisava que o Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das religiões. O futuro das religiões é um maior conhecimento da verdade, mesmo que para isso as religiões, como nós as conhecemos, tenham que desaparecer. O que importa, então, é esclarecer. Esse é o nosso papel – aproximar as pessoas da verdade.