Evangelho

A todo o que tem se lhe dará

castelo da nobreza

Morel Felipe Wilkon

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“A todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.”

Você acha que um espírito pode regredir? Acha que ele pode desaprender, tornar a um estágio anterior de evolução? A questão 118 do Livro dos Espíritos afirma que o espírito pode permanecer estacionário, mas jamais retrogradar. A questão é retomada outras vezes no livro, e as instruções dos espíritos são claras: O espírito pode ficar algum tempo sem progredir, pode reencarnar em condições inferiores, mas os valores que ele adquiriu são seus, são conquistas suas que ele não perde mais.

Ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
Ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.

Quando vemos barbáries que acontecem no mundo, quando tomamos conhecimento de crimes chocantes que chamam a atenção pela brutalidade e frieza, nos questionamos sobre essa questão do progresso do espírito. Se ele não retrogradou, se não se tornou inferior ao que já foi, concluímos que ou ele está assim há muitos séculos ou ele já foi pior que isso. Porque melhor ele não pode ter sido, então ou ele já era assim ou era pior ainda.

Mas compreendemos. Eu, pelo menos, compreendo que há espíritos que não reencarnam há séculos ou milênios; há espíritos que voltam à matéria com provas pesadas para o seu estágio evolutivo em que ainda predomina o mais puro egoísmo, há espíritos que não têm experiências de amor como nós temos. Porque por mais dura que a nossa vida seja, algumas vezes, nós conhecemos o amor, que pode não ser o amor ideal, mas já é alguma coisa. São amostras grátis do amor verdadeiro que ainda não nos habilitamos a experimentar.

Violeta Parra, compositora chilena, na canção “Volver a los diecisiete”, fez um verso assim: “Al malo solo el cariño lo vuelve puro e sincero”. Só o carinho, só o amor para transformar o mal em bem, o mau em bom.

Concordo, então, que o espírito não retrograda. Mas não retrograda em relação a si mesmo. Porque em relação aos outros espíritos, em relação ao planeta, ele regride sim. Se o meio em que você vive e as pessoas com quem você convive progridem e você permanece estacionário, sem progredir, você pode não ter regredido em relação a você mesmo; mas em relação ao meio e aos outros você regrediu, porque a distância entre você e eles aumentou.

A Parábola dos Talentos é um bom exemplo disso. Lembra dela? Um senhor foi viajar e chamou três servos para que cuidassem do seu dinheiro. A um deles deixou cinco talentos (talento era o nome de uma moeda da época), a outro deixou dois e a outro deixou um, de acordo com a capacidade deles. Quando voltou, o que ficou com cinco tinha feito bons negócios e arranjou mais cinco. O que recebeu dois também fez bons negócios e ganhou outros dois. O que ficou com um achou melhor enterrar o talento, com medo de perder. O dois primeiros foram recompensados pelo homem, ficando com os talentos. O servo que enterrou teve que entregar o seu talento ao que tinha dez, pois “a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.

O que não multiplicou os talentos permaneceu estacionário em relação a si mesmo. Não progrediu e não regrediu. Começou a parábola sem nenhum talento e terminou a parábola sem nenhum talento. Mas, em relação aos outros servos, ele regrediu, pois eles progrediram. O que já era mais adiantado, mais capacitado, progrediu mais; o segundo progrediu menos e o terceiro não progrediu nada, mas ficou mais distante dos outros.

Um espírito que não reencarna há muitos séculos: No tempo de sua última passagem pela matéria era comum a barbárie, a brutalidade, a escravização do semelhante, os sacrifícios humanos. Ele não retrogradou, aquilo que ele já alcançou, moral e intelectualmente, é dele. Mas o mundo mudou, o planeta evoluiu, a humanidade aperfeiçoou-se, os espíritos estão muito adiantados comparando com aquele estágio em que ele permaneceu estacionário. Comparado aos outros, ele regrediu.

Por isso o atraso de alguns nos choca tanto, por isso algumas vezes é difícil de entender que o espírito não retrograda. Mas, por mais que isso seja distante, o destino de todos é a felicidade. E nunca é demais lembrar que somos todos filhos de Deus, creados à sua imagem e semelhança, portanto, perfectíveis.

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