Reencarnação

A reencarnação na Bíblia

batismo de Jesus

Morel Felipe Wilkon

Vou tratar brevemente da reencarnação na Bíblia, mas antes alguns esclarecimentos:

Uma das minhas maiores alegrias no trabalho com este site é a constatação do grande número de leitores de outras denominações religiosas que se interessam pelos assuntos que abordo.

Na sexta-feira passada publiquei um artigo de autoria do Rodrigo Pnt, leitor do site que já se tornou colaborador. O Rodrigo é evangélico, mas estuda o Espiritismo e faz uma interpretação de passagens bíblicas à luz do Espiritismo que eu considero muito interessante. Acho ele inovador, original e convincente.

Nem todos pensam assim. A leitora Carla B., que em outras oportunidades já colocou em dúvida os argumentos utilizados pelo Rodrigo, desta vez mandou uma resposta refutando as suas ideias. Respeito a Carla. Gosto dela, mesmo sem conhecê-la, por ela demonstrar interesse em aprender e analisar pontos de vista diferentes dos seus, mesmo sem intenção de mudança em suas crenças pessoais.

Publico, agora, a refutação que a Carla B. fez ao artigo do Rodrigo. Depois, a minha resposta ao texto dela. Quem quiser ler o artigo do Rodrigo Pnt que deu origem a essa troca de ideias clique no link abaixo:

reencarne
Reencarnação na Bíblia

Ressurreição ou reencarnação?

 

Igreja Protestante: fanatismo religioso?

Carla B.

É impressionante a rapidez da evolução do homem  ao longo da História. Surgem nessa mesma proporção grupos que, por divergências doutrinárias ou por motivos de tradição enraizados na cultura brasileira, acabam por promover certas mudanças. A bola da vez é, sem dúvida, o Espiritismo. Apesar de se intitularem cristãos, os espiritistas não o são para católicos e evangélicos. Intolerância religiosa?

Atualmente, no Brasil, o Espiritismo kardecista (termo que, aliás, é usado somente aqui) é uma crença professada por cerca de 1,8% da população. No entanto, estima-se que 15% dos evangélicos acreditem em um dos seus dogmas, que é a Reencarnação, a qual possui o sentido diferente de Ressurreição.

O mundo está sofrendo mudanças, e como na religião não é diferente, novas “modalidades” de espíritas surgiram: “espiritólico”, “espírita-evangélico” etc., que, diferentemente dos simpatizantes da doutrina espírita, são pessoas que sonham um dia fundir o Espiritismo com as religiões ditas cristãs (Igreja Católica e Igrejas Protestantes). Ademais, Os Quatro Evangelhos de Roustaing nada mais são do que o Espiritismo católico, porém sofrem  ataques tanto por parte do Catolicismo, quanto por parte dos defensores da “pureza doutrinária”. Mas… a pergunta que não quer calar é a seguinte: os cristãos protestantes são religiosos fanáticos? Eles devem  estudar o Pentateuco Espírita  e aceitá-lo como sendo a terceira revelação de Deus? Para a decepção dos irmãos kardecistas diríamos que não.

Ao analisar o artigo do Rodrigo Pnt, um evangélico (ou seria espírita-evangélico?)  estudioso  da Codificação Kardequiana, percebe-se uma certa incoerência no seu texto. Na verdade, mesclar ideias tão antagônicas pode causar mal-entendidos e não obter o(s)  resultado(s) desejado(s). Vejamos o que ele diz:

Ressurreição, reencarnação, ressurgimento. Ressuscitar ou ressurgir? Eis a questão. Jesus falou que todos os que morreram, para Deus estão vivos e é fato que muitos vivos entre nós estão mortos, a própria bíblia nos mostra isso.”

Em verdade, Ressurreição e Reencarnação  não são a mesma coisa. Ressuscitar significa ressurgir, retornar com o mesmo corpo. Enquanto reencarnar significa voltar à carne, entretanto, não no mesmo corpo.

Segundo alguns historiadores os primeiros judeus acreditavam na 2ª tese. Todavia, após o exílio na Babilônia, o Judaísmo sofreu influências da religião dos persas (Zoroastrismo), quando estes dominaram os babilônicos. As ideias persas, por exemplo, de vida no pós-morte com céu e inferno, de um julgamento a ser realizado em um dia final, com o aniquilamento dos maus e uma felicidade eterna para os justos, são conceitos que imperam até os dias atuais. Todos os cristãos, exceto espíritas, acreditam nessa crença, uma vez que a mesma é confirmada no Novo Testamento, no livro de Apocalipse: “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos que se prostituem, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.”  Ap.  21:8.

Portanto todos os que estão seguindo seus ensinamentos já ressurgiram e ressuscitaram, porque entenderam aquilo que lhes importa para alcançar o esclarecimento. Doravante não importa mais a morte física, ou seja, o desencarne, porque estes já alcançaram a ressurreição entre os mortos que estão vivos aqui no mundo e a morte física já não lhes afetará, e é isso que os cristãos primitivos pregavam, eles queriam que todos entendessem que não precisavam temer a morte já que Jesus lhes havia mostrado que esta não existe verdadeiramente. 

De acordo com as Escrituras somente os salvos em Jesus Cristo ressuscitarão: “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na PRIMEIRA RESSURREIÇÃO; sobre esses a SEGUNDA MORTE não tem autoridade.” Ap. 20:6. Ao afirmar que a morte “não existe verdadeiramente” cometeu um grande engano. Foi com essa falácia que Satanás, sedutor do mundo, enganou a Eva ao dizer: “Certamente não morrereisGênesis 3:4.

Quando estamos encarnados, os que não possuem ainda a percepção espiritual compreendem que a verdadeira vida é aqui habitando nesse invólucro material e partilhando das suas similaridades, mas quando acordamos no outro lado e nos vemos mergulhados em energia segundo a composição do perispírito, entendemos que ressurgimos para a verdadeira vida de fato e isso seria compatível com a ressurreição (...)”

Como assim? Coisas com discrepâncias tão evidentes podem ser iguais?

“Muitos podem me perguntar, então porque a revelação das verdades espíritas não deu prosseguimento dentro das denominações protestantes? E eu respondo: Pelos mesmos motivos que as verdades ditas pelo Cristo não foram aceitas dentro do judaísmo.”  

Não aceitamos pelos seguintes motivos: Ressurreição e Reencarnação não são a mesma coisa, logo, a segunda não é bíblica; considerando ser um dogma escrito no Livro dos Espíritos, o mesmo não tem valor sagrado para nós pois a Bíblia é a única fonte de verdade; Em Apocalipse diz: “Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro. Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste livro.” A palavra de Deus e o sacrifício de Jesus são perfeitos,  imutáveis e eternos. Hebreus 7:27; 9:12. A Reencarnação anula o sacrifício de Cristo; morremos uma vez, nossa vida na Terra é ÚNICA: “E ao homem está ordenado morrer UMA SÓ VEZ e depois disso o Juízo.”  Hebreus 9:27.

Eis agora nós, os ressurgidos do pó, eis a ressurreição, tudo se cumpriu, o que muitos de nós que vemos no Espiritismo a terceira revelação não entendemos é o obvio, é a terceira revelação, antes tiveram duas outras revelações e se tanto buscamos por conhecimento então abracemos o todo, porque lhes garanto que todo o que aceita essa doutrina como verdade um dia já foi um mestre ou sacerdote do antigo testamento, e se queremos o real conhecimento precisamos conhecer e compreender os sinais, as cerimônias judaicas e cristãs e judaico-cristãs e tudo aquilo que está ligado às três revelações.” 

O que faz os espíritas pensarem que a Codificação é a Terceira Revelação de Deus? E o que dizer do Livro de Mórmon, uma outra revelação? O que pensar das profecias de Ellen G. White? Serão mesmo revelações divinas? Deixarei uma pergunta coerente: “Se a doutrina bíblica não é o padrão final, então onde traçar os limites do que é ou não é cristão?” (John Ankerberg).

Ainda nesse tópico, ressaltamos que, na verdade, o Evangelho foi corrompido não por nós, mas sim pelo Sr. Hyppolyte Leon Denizard Rivail. A Codificação Kardequiana não tem respaldo bíblico. Muitos espiritistas sequer leram a Bíblia ao menos uma vez. Leon foi bem coerente com o título: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Em verdade, os kardecistas (?) estudam as Escrituras pela ótica espírita, ou seja, assim como a Igreja Católica, Kardec corrompeu o VERDADEIRO EVANGELHO, logo, não tem valor para o Protestantismo.

Diante do exposto, concluímos que jamais aceitaremos o Pentateuco Espírita como a Terceira Revelação. Não somos fanáticos por isso. Apenas temos pontos de vista distintos. Os irmãos espíritas devem respeitar nosso modo de pensar e de igual forma devemos fazer o mesmo. A Bíblia é um enigma insolúvel. Talvez todos estejamos errados acerca dela. Quem sabe? Que a graça do Senhor Jesus esteja com todos!

Esse é o comentário feito pela nossa amiga Carla B. ao artigo do Rodrigo Pnt. Faço agora a minha análise do seu comentário.

Ela abre o seu comentário dizendo que:

É impressionante a rapidez da evolução do homem  ao longo da História.

Na verdade, a evolução do homem não é rápida, pelo contrário. Para não irmos muito longe, observemos apenas os últimos dois mil anos. Do tempo de Jesus até o século XVIII não houve nenhuma mudança significativa nos costumes, ideologias, conhecimentos e tecnologias. O mundo ocidental, principalmente, ficou “congelado” durante mais de mil anos. A evolução só acelerou, mesmo, a partir do século XIX, com o surgimento da ciência moderna, estando já estabelecida a Revolução Industrial e as consequências do Iluminismo que culminou com a Revolução Francesa. É neste contexto de ebulição da ciência, do pensamento e dos costumes que surgiu o Espiritismo na França.

A bola da vez é, sem dúvida, o Espiritismo.  Apesar de se intitularem cristãos, os espiritistas não o são para católicos e evangélicos. Intolerância religiosa?

Não sei se o Espiritismo é a “bola da vez”. E nunca me passou pela cabeça saber a opinião de quem quer que seja sobre meus valores e crenças. Sou cristão. Se alguém achar que não sou, não faz diferença. Respeito católicos e evangélicos e sempre fui tratado por eles com o mesmo respeito. Não acho que haja intolerância religiosa nas religiões, mas em algumas poucas pessoas tristes.

Atualmente no Brasil, o Espiritismo kardecista (termo que, aliás, é usado somente aqui) (…)

Alguns espíritas usam a expressão “kardecista” para diferenciar a Doutrina Espírita da Umbanda ou de religiões de nação africana que, em alguns casos, se consideram espíritas. Não me apego a rótulos. Pra mim isso não faz diferença. Trato deste tema com mais cuidado neste artigo:

Espiritismo e umbanda

Mas… a pergunta que não quer calar é a seguinte: os cristãos protestantes são religiosos fanáticos? Eles devem  estudar o Pentateuco Espírita  e aceitá-lo como sendo a terceira revelação de Deus? Para a decepção dos irmãos kardecistas diríamos que não.

Não sei quem fez essa pergunta que não quer calar. Tenho o máximo respeito pelos protestantes e jamais sequer imaginei converter um deles para o Espiritismo ou tentar impôr pontos de vista. Por isso não me decepciono nem um pouco. Só há decepção quando antes houve expectativa. Não é o caso.

Carla B. cita o Apocalipse para embasar a crença de vida no pós-morte com céu e inferno, de um julgamento a ser realizado em um dia final, com o aniquilamento dos maus e uma felicidade eterna para os justos (…). Todos os cristãos, exceto espíritas, acreditam nessa crença, uma vez que a mesma é confirmada no Novo Testamento, no livro de Apocalipse: “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos que se prostituem, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.”  Ap.  21:8.”

Entendemos, no Espiritismo, que a chamada “segunda morte” se refira à perda temporária do corpo espiritual. O espírito não tem forma, ele utiliza-se de um veículo de manifestação no plano em que atua, o corpo espiritual a que se refere o apóstolo Paulo:

“Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? Insensato! O que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente. Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo. Nem todo carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais, e outra a dos peixes e outra a das aves. E há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor. Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual.” 1 Coríntios 15:35-44

É por meio deste corpo, que o Espiritismo chama de perispírito, que o espírito liga-se ao corpo carnal na reencarnação. E é com este corpo, ou perispírito, que ele transita no mundo espiritual, após a morte física.

Esse corpo espiritual, ou perispírito, é conhecido há milênios em todos os povos. No budismo era chamado Kama-rupa; no Egito era chamado Kha; na Grécia era chamado Imago; na China era chamado Khi; foi chamado de carne sutil da alma por Pitágoras; foi chamado de corpo sutil e etéreo por Aristóteles; foi chamado de Evestrum por Paracelso; foi chamado de corpo fluídico por Leibnitz; foi chamado de Aerossoma pelos neoagnósticos; foi chamado de corpo astral pelos hermetistas e pelos alquimistas; e por aí vai.

Há a clara distinção, para Paulo, entre o corpo carnal e o corpo espiritual ou perispírito. É a perda temporária do perispírito que enseja a “segunda morte”. Paulo fala em ressurreição; abordarei este tema logo adiante.

Carla B., ainda apoiada no Apocalipse, sustenta que “de acordo com as Escrituras somente os salvos em Jesus Cristo ressuscitarão.” O texto bíblico não diz isso, a não ser que “ser salvo em Jesus” signifique ser degolado:

“E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos.” Ap. 20:4-6.

Ela diz que afirmar que a morte não existe verdadeiramente é um grande engano: “Foi com essa falácia que Satanás, sedutor do mundo, enganou a Eva ao dizer: “Certamente não morrereis” Gênesis 3:4.”

O texto bíblico não fala em satanás:

“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,
Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.
Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.” Gênesis 3:1-5

O texto fala em serpente, não em satanás. Por que interpretar a serpente como satanás? Satanás quer dizer adversário. O que simboliza a serpente? Ninguém melhor para elucidar essa questão do que o próprio Jesus. Mateus nos conta o seguinte:

“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.
Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas;
E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios.
Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer.
Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós.” Mateus 10:16-20

Se Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes, como associar a imagem da serpente a satanás? Não vejo como. A não ser que pretendamos saber mais que ele, mas:

“O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo acima do seu senhor”. Mateus 10, 24.

No mais, fica evidente o simbolismo do fruto do conhecimento do bem e do mal como o livre-arbítrio. É o momento em que o espírito deixa a sua inocência animal para inaugurar o período em que passa a ter responsabilidade sobre os seus atos por saber distinguir o bem do mal.

Carla B. garante que a Bíblia é a única fonte de verdade. Diz ainda que  “a palavra de Deus e o sacrifício de Jesus são perfeitos, imutáveis e eternos.”

Não acho, de forma alguma, que a Bíblia seja a única fonte da verdade. Nem que represente a palavra de Deus. Não vou citar as inúmeras passagens sanguinárias da Bíblia, pois ocuparia muito espaço. Como cristão, sigo o ensinamento do Cristo revelado nos Evangelhos. Não acho que o ensino de Jesus se resume ao que nos foi relatado pelos evangelistas. É o próprio Jesus quem disse:

“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.
Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.
Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” João 16:12-14

“Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.
Se me amais, guardai os meus mandamentos.
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre;
O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.” João 14:14-17

Sabendo que a evolução não é fácil, Jesus prometeu que enviaria mais tarde um Consolador para nos relembrar o seu ensinamento e para nos ensinar todas as coisas que não poderiam ser compreendidas naquela época, por aquele povo inculto e espiritualmente despreparado. Considerando Moisés como a 1° revelação e Jesus como a 2°, o Consolador prometido por Jesus é a 3ª revelação.

Ao fazer essa promessa, Jesus se refere ao Espírito de Verdade que o mundo não vê e não conhece, mas que viria para estar eternamente entre nós. Percebemos, analisando a promessa de Jesus, que ele previa que o homem se desencaminharia do seu ensinamento, da sua mensagem. Se seria preciso enviar alguém para lembrar o que Jesus disse, é porque os homens esqueceriam o que Jesus disse. E se esse enviado viria para ensinar todas as coisas, fica claro que Jesus não ensinou tudo quando esteve encarnado, pois os homens não estavam preparados intelectual e moralmente para compreenderem a realidade espiritual. Jesus disse que o Consolador ficaria  eternamente conosco, então o Consolador não é um homem encarnado, não tem um corpo físico, pois o corpo físico envelhece e morre. O Espírito de Verdade, portanto, viria de outra maneira, como veio, através do Espiritismo.

Carla B. acrescenta:

A Reencarnação anula o sacrifício de Cristo; Morremos uma vez, nossa vida na Terra é ÚNICA: “E ao homem está ordenado morrer UMA SÓ VEZ e depois disso o Juízo”  Hebreus 9:27.

Há pouco ela disse que morremos duas vezes:

“Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos que se prostituem, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.”  Ap.  21:8.”

Agora diz em letras maiúsculas que só morremos uma vez. O homem é espírito revestindo-se de um corpo. Como uma pessoa poderia morrer mais de uma vez? Todas as pessoas morrem. Mas ao morrerem não deixam de existir como espíritos que são. O espírito, através da reencarnação, utiliza-se de muitos corpos, anima muitas personagens, e todas elas morrem. Uma vez. Uma vez cada pessoa animada pelo espírito imortal. Depois da morte, o espírito passa por um julgamento – sua consciência é o seu juiz – para que colha o que plantou. Mas esse julgamento é temporário, não definitivo.

Embora defendendo um ponto de vista com o qual não concordo, Carla B. estava se saindo muito bem. Infelizmente resvalou ao afirmar que “Na verdade, o Evangelho foi corrompido não por nós, mas sim pelo Sr. Hyppolyte Leon Denizard Rivail. (…) Assim como a Igreja Católica, Kardec corrompeu o VERDADEIRO EVANGELHO, logo, não tem valor para o Protestantismo.”

Não sei de onde a Carla tirou a acusação de que os protestantes teriam corrompido o Evangelho. Ela se defende de uma acusação inexistente dizendo uma insensatez. Allan Kardec não traduziu o Evangelho, não mexeu no Evangelho. Fez uma seleção de mensagens dos espíritos que se referiam aos aspectos morais do Evangelho do Cristo, só isso. Como corromper algo sem tocá-lo? Quanto à Igreja Católica, embora eu não tenha procuração para defendê-la, foi quem nos legou a Bíblia. Sabemos que houve alterações ao longo do tempo. Mas prefiro ver o lado positivo da História e reconhecer que sem ela talvez estes textos não tivessem chegados a nós.

Agora vou tratar rapidamente de “ressurreição”.

Não há a palavra reencarnação na bíblia. Há a palavra ressurreição. Os textos gregos, dos quais se originaram todas as traduções atuais, contêm os verbos “egeírô”, que significa “estar acordado, despertar”; e “anístêmi”, que quer dizer “tornar a ficar de pé, regressar”. Este último verbo tem o sentido de reencarnar. Não se fala, na Bíblia, em ressurreição do corpo, ou ressurreição da carne. O que se encontra nos textos é “anástasis ek tõn nekron”, que quer dizer “ressurreição dos mortos”.

Então, quem “torna a ficar de pé” ou quem “regressa” é o espírito, seja para o plano astral, através do desencarne, seja para o plano físico, por meio da reencarnação.

Se assumirmos a hipótese da ressurreição como desencarne, compreendemos o sentido das palavras de Jesus: “na ressurreição nem se casam nem se dão em casamento, mas são como os anjos no céu” Mateus 22:30. Ou seja, no plano astral não há necessidade de casamento, não há necessidade de reprodução, pois não há morte.

Considerando a hipótese da ressurreição como reencarnação, compreendemos a seguinte passagem:

“E aconteceu que, estando ele só, orando, estavam com ele os discípulos; e perguntou-lhes, dizendo: Quem diz a multidão que eu sou?
E, respondendo eles, disseram: João o Batista; outros, Elias, e outros que um dos antigos profetas ressuscitou.” Lucas 9:18-19

Muitos conheciam Jesus desde criança, como nos mostra Mateus:

“Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?” Mateus 13:55

Se conheciam Jesus desde criança, não poderiam supor que Jesus fosse um antigo profeta que houvesse ressuscitado pelo corpo, mas poderiam pensar, como pensaram, que Jesus fosse algum desses profetas – com exceção de João Batista, morto havia pouco – que houvesse reencarnado.

Quase todos os cristãos, sejam eles evangélicos, católicos ou espíritas, já se defrontaram com materialistas que põem em dúvida a existência histórica de Jesus. Realmente, fora os evangelhos, são poucos registros históricos contemporâneos a Jesus que fazem referência, direta ou indireta, a ele. Todos que se deram ao trabalho de pesquisar as fontes históricas referentes a este período na região onde Jesus viveu, encontrou no historiador judeu Flavio Josefo (37-103 d.C) a fonte mais prolixa e fidedigna. Se referindo aos fariseus da época de Jesus, ele diz:

Eles julgam que as almas são imortais, julgadas em um outro mundo e recompensadas ou castigadas segundo foram neste — virtuosas ou viciosas — e que umas são eternamente retidas prisioneiras nessa outra vida, e outras retornam a esta. Eles granjearam, por essa crença, tão grande autoridade entre o povo que este segue os seus sentimentos em tudo o que se refere ao culto de Deus e às orações solenes que lhe são feitas. Assim, cidades inteiras dão testemunhos valiosos de sua virtude, de sua maneira de viver e de seus discursos.” (História dos Hebreus, 1° Parte, Livro 18°, Capítulo 2).

Para quem tem a Bíblia como verdade única, podemos citar a epístola aos Hebreus:

“As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões.” Hebreus 11:35-36

Por que foram as mulheres que receberam os seus mortos em ressurreição, e não os homens? É lógico que é porque só as mulheres podem gerar em seus ventres os corpos carnais necessários à reencarnação dos espíritos “mortos”. Por que uns foram torturados e escarnecidos? É lógico que se trata dos mecanismos da Lei de causa e efeito, através da qual cada um é responsável pelos seus atos e todos colhem aquilo que plantaram. Fica evidente a preexistência do espírito e a reencarnação.

Gosto muito da Bíblia. Estudei a Bíblia ainda criança. Prefiro os Evangelhos, mas no Antigo Testamento, embora não seja cristão, também há belíssimos e importantes ensinamentos, em que se destaca a reencarnação.

Não vale a pena questionar se houve ou não má fé nas incontáveis traduções e cópias que a Bíblia sofreu até hoje. O fato é que muitas traduções, mesmo que bem intencionadas, tentando trazer a linguagem bíblica para os dias atuais, a fim de torná-la mais facilmente compreensível, deturparam o verdadeiro sentido de inúmeras passagens. Apenas um exemplo:

“O senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela.” 1 Samuel 2:6

A palavra hebraica traduzida como “sepultura” é “sheol”, que é o lugar de purificação ou punição dos mortos para o judaísmo. Esta palavra foi traduzida nos textos gregos como “hades”, que designa a habitação dos mortos entre o desencarne e a reencarnação. Os gregos acreditavam que os espíritos dos mortos que estavam no hades retornavam à vida; chamavam esse fenômeno de “palingênese”, que significa “novo nascimento”. Da mesma forma,  os hebreus acreditavam que os mortos retornavam do sheol ao mundo material, e davam a este fenômeno o nome de “anástasis”, derivado de “anístêmi”: tornar a ficar de pé, regressar. É esta expressão que é traduzida como “ressurreição”.

Isaías fala da entrada do rei de Babilônia no sheol, que traduzem como “inferno” ou “sepultura”. Outros reis que estavam “mortos” no sheol  reconhecem o rei de Babilônia e passam a escarnecê-lo (Is 14:9-16). Estes reis temiam que os descendentes do rei de Babilônia viessem a cometer as mesmas faltas que ele e os seus haviam cometido.

“Preparai a matança para os seus filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e nem possuam a terra, e encham a face do mundo de cidades. Porque me levantarei contra eles, diz o senhor dos exércitos, e extirparei de Babilônia o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto, diz o senhor.” Isaías 14:21-22

Achavam melhor matar os descendentes para que os pais, ou antepassados, não reencarnassem como seus próprios descendentes. Onde diz “para que não se levantem”, este “se levantem” é expresso pelo verbo “anístêmi”, que significa “tornar a levantar”. É fácil perceber que a intenção ao matar os filhos, ou descendentes, era evitar que os espíritos dos pais, ou antepassados, “tornassem a levantar” do sheol pela reencarnação, formando novas gerações, que poderiam repetir os mesmos crimes de que eram acusados. Matando os filhos, ou descendentes, os espíritos dos pais, ou antepassados, não poderiam reencarnar por intermédio deles, e, consequentemente, não poderiam retomar o poder e repetir os abusos de outrora.

A nossa querida Carla B. se refere à serpente, a quem ela chama de “satanás”, que tentou Eva. Imagino que ela acredite na teoria do pecado original, segundo a qual todos nós pagamos pelos pecados dos nossos ancestrais. Os erros, ou pecados, não podem ser hereditários; isso seria uma injustiça gritante que desmentiria a Justiça perfeita de Deus.

“Naqueles dias nunca mais dirão: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram. Mas cada um morrerá pela sua iniquidade; de todo o homem que comer as uvas verdes os dentes se embotarão.” Jeremias 31:29-30

“Mas dizeis: Por que não levará o filho a iniquidade do pai? Porque o filho procedeu com retidão e justiça, e guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso certamente viverá. A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.” Ezequiel 18:19-20

 A lei com maior autoridade no Antigo Testamento, os dez Mandamentos, já deixa claro a realidade da reencarnação:

“(…) eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.” Êxodo 20:5

A Vulgata Latina traz o texto assim: “in tertiam et quartam generationem”. Ou seja,  a tradução correta é NA terceira e quarta geração, e não ATÉ a terceira e quarta geração. Por que na terceira e quarta geração? Porque é o próprio espírito que cometeu a iniquidade que volta reencarnado no mesmo grupo familiar. Pela Lei de causa e efeito, somos responsáveis pelos nossos atos e ficamos ligados àqueles com quem formamos laços positivos ou negativos. É no próprio grupo familiar que o espírito que cometeu a iniquidade, ou falta, ou erro, ou pecado, tem oportunidade de reajuste e de rearmonização com aqueles a quem prejudicou direta ou indiretamente. Então ele volta, reencarnando, na terceira e quarta geração, ou seja, como seu bisneto ou tataraneto. A Lei de causa e efeito, ou “visita de Deus”, atinge o próprio espírito que cometeu a iniquidade, confirmando o que foi dito por Jeremias e Ezequiel. A “visita de Deus” não poderia ocorrer na primeira ou na segunda geração, pois são espíritos diferentes, não houve tempo hábil para a reencarnação do espírito faltoso. Se Deus “visitasse” a primeira ou a segunda geração, estaria sendo vingativo, e não Justo. É isso que dizem Jeremias e Ezequiel. A Justiça de Deus, através da Lei de causa e efeito, só pode atingir ao próprio espírito que cometeu a falta.

Não encontramos a palavra reencarnação na Bíblia. A palavra deriva do latim “incarnare”, “tornar carne”, e sua utilização na língua portuguesa não era de uso corrente até a popularização do Espiritismo. É bom lembrar que a Bíblia só chegou ao nosso idioma em 1753, quando foi publicada a primeira tradução completa para o português, feita pelo protestante João Ferreira de Almeida.

Mas o conceito de ressurreição, para os judeus, em muitos casos se aplica ao que chamamos hoje de reencarnação. Voltando aos Evangelhos, cito Mateus:

“E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” Mateus 11:12-15

Jesus está dizendo abertamente que João Batista é a reencarnação de Elias, que todos esperavam que voltasse para que as escrituras se cumprissem. Mas é preciso ter ouvidos para ouvir…

A reencarnação contraria interesses egoísticos geradores de preconceitos de toda espécie. Através da reencarnação, o poderoso de hoje pode ser o farrapo humano de amanhã; o rico pode ser o mendigo; o machista pode ser a mulher frágil e delicada; o branco racista pode ser o negro e assim por diante. A salvação, vista sob o ângulo da reencarnação, depende exclusivamente de si mesmo, e não há penas eternas para ninguém. Deus sempre nos concede novas oportunidades para nos reajustarmos por nós mesmos e alcançarmos o seu Reino, que está dentro de cada um de nós:

“E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós.” Lucas 17:20-21

A existência única, com tantas desigualdades e injustiças, não está de acordo com o conceito de Justiça Divina. Hoje, com a popularização das redes sociais, principalmente com o Facebook, recebemos quase todos os dias fotos ou vídeos de crianças com doenças terríveis, às vezes bebês com doenças em toda a pele que provoca dores atrozes. Não seria justo Deus, o Creador do Universo, se creasse seres para sofrer. Enquanto alguns nascem com saúde perfeita, conforto e amor, outros nascem com doenças horríveis, na miséria e no abandono. Só a preexistência do espírito e a pluralidade das existências é capaz de explicar esses aparentes descalabros.

Obrigado, Carla, pela motivação, mesmo que despropositada, que você me deu para estes rápidos esclarecimentos.

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