Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

A porta estreita – visão espírita

A porta estreita e a cura da mulher encurvada são dois temas tratados neste vídeo, além do restante do capítulo 13 do Evangelho de Lucas. Este é o 18° de uma série de 30 vídeos em que analiso e interpreto o Evangelho de Lucas de acordo com o meu entendimento do Espiritismo.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

CAPÍTULO 13

1. E, Naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios.
2. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas?

3. Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.

4. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém?
5. Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis
.

Algumas pessoas falavam a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos havia matado ou mandado matar. Pilatos era o Governador romano, o representante de Roma naquela região. Era conhecido por sua dureza com o povo israelita.

Esses galileus provavelmente provocaram alguma agitação enquanto faziam os sacrifícios no templo, e por ordem de Pilatos o seu sangue foi misturado ao sangue dos sacrifícios.

Jesus esclarece que estes galileus que foram mortos por Pilatos não eram mais culpados do que quaisquer outros galileus. Não é pelo fato de haverem morrido de uma forma cruel que eles eram piores do que outros.

“… se não vos arrependerdes…” – Já vimos que a palavra traduzida como “arrependimento” é metanoia, que é a mudança de mente, a conscientização. Jesus cita ainda um acidente que provavelmente havia ocorrido há pouco tempo, que foi a queda de uma torre no qual morreram dezoito pessoas, e repete que é necessária a mudança de mente.

Percebemos que Jesus deixa claro que as dores que experimentamos não se devem exclusivamente à colheita de nossos atos passados. Este é um planeta de provas. Somos crianças espirituais e precisamos nos fortalecer através de provas. Mesmo uma pessoa moralmente muito elevada experimenta a dor neste planeta. Mas para superarmos este estágio em que a dor é inevitável, precisamos nos conscientizar de nossa realidade espiritual. Precisamos mudar a nossa mente para corrigirmos o rumo da nossa trajetória espontaneamente, sem esperarmos que a vida nos apresente provas sem que estejamos preparados. Ao nos conscientizarmos percebemos que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.

6. E dizia esta parábola: Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando;
7. E disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente?
8. E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque;
9. E, se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar.

No capítulo três do Evangelho de Lucas João Batista diz que “o machado já está junto à raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada ao fogo”. Tanto lá como aqui a árvore somos nós, a árvore é o espírito, o espírito que não dá fruto. João Batista, que preparou o caminho de Jesus, que pregou a base necessária para que se tenha condições de assimilar e praticar o ensinamento de Jesus, disse que devemos produzir frutos dignos da mudança de mente, frutos da conscientização.

Para que a árvore não seja derrubada é preciso escavar em torno da árvore, ou seja, afastar da árvore aquilo que a cerca e adubar as raízes da árvore, as raízes que representam a consciência do espírito.

Jesus havia dito há pouco, referindo-se aos galileus mortos por Pilatos e aos que morreram na queda da torre, que é preciso mudar a mente – é preciso conscientizar-se e se antecipar aos fatos, corrigindo o rumo espontaneamente.

O mesmo sentido nós encontramos nesta parábola. É preciso libertar a raiz da árvore, ou a consciência do espírito, de tudo aquilo que a impede de dar frutos e promover a conscientização.

10. E ensinava no sábado, numa das sinagogas.
11. E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se.
12. E, vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade.
13. E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus.

Percebemos que ninguém pede ajuda a Jesus. Jesus declara que a mulher já estava livre da sua enfermidade.

Sustentamos, neste estudo, como uma opinião pessoal, que houve um longo e detalhado planejamento para que Jesus executasse a sua missão. Foram reunidos os espíritos certos, nos lugares certos, no tempo certo e nas circunstâncias mais adequadas. Acreditamos que os espíritos que Jesus curou, em sua maioria, já haviam restabelecido o equilíbrio com a Lei de causa e efeito. Não através da dor, pois sabemos que a dor, por si só, não tem o poder de curar. A dor é um mecanismo que nos indica que nos desviamos do caminho reto das leis de Deus.

Mas Jesus não curaria esta mulher, por exemplo, se ela não fosse merecedora de cura. Ou ela já havia compensado os seus erros passados através de boas ações, ou Jesus estava oferecendo a ela uma espécie de moratória, desligando-a do efeito dos seus erros passados, temporariamente, para que ela tivesse a chance de se reajustar espontaneamente.

Também precisamos ter bem claro que nem todos os casos de doença são devidos a erros cometidos no passado. De jeito nenhum. Vivemos num planeta de provas e expiações. No caso da doença nascida de erros cometidos no passado, estaríamos expiando; mas também é comum que a doença seja apenas um instrumento de prova para o espírito. Um meio de fortalecer o caráter, de eliminar antigos vícios, de nos mantermos afastados de determinadas tendências, um meio de servirmos de instrumento de aprendizado para os familiares, ou mesmo como uma ferramenta para fortalecermos a fé com a conquista da cura.

Neste último caso, não faltam exemplos de pessoas que são curadas de suas doenças, no próprio meio espírita ou em qualquer meio religioso, e que com isso consolidam a sua confiança em Deus através da conscientização da realidade espiritual.

A mulher não pediu a Jesus que a curasse, mas não sabemos o que se passava no plano astral. Jesus, que se mantinha consciente também no plano astral, declarou que a mulher estava livre da sua enfermidade.

Podemos notar que não era a mulher, propriamente dita, que estava enferma, mas que ela tinha um espírito enfermo, um espírito enfermo a acompanhava.

É importante notarmos a ligação deste caso da mulher encurvada com o caso dos que morreram com a queda da torre. Foram dezoito homens que morreram, e fazia dezoito anos que a mulher andava sob a influência deste espírito. Jesus deixa claro no caso da torre que eles não eram mais culpados do que qualquer outra pessoa. Do mesmo modo, parece que a mulher não sofria deste mal necessariamente por uma questão de culpa. Ela apresentava-se resignada, tanto é que não pediu ajuda a Jesus. A impressão que temos é que se tratava de uma prova para o seu crescimento espiritual.

Há um sentido mais profundo aqui. A mulher encurvada representa o espírito que carrega um fardo excessivamente pesado nos ombros. Sabemos que Deus não nos dá um fardo que nossos ombros não possam suportar. Se o espírito está encurvado, o fardo que ele carrega nos ombros não é de Deus.

O Cristo nos livra do fardo inútil. Assim como a figueira não dava frutos e precisava que fosse removida a terra ao seu redor, para que novos elementos pudessem adubá-la, assim também o espírito que carrega um fardo inútil precisa ver-se livre dele para que novas atribuições possam ser abraçadas e para que o espírito volte a dar frutos.

14. E, tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que é mister trabalhar; nestes, pois, vinde para serdes curados, e não no dia de sábado.
15. Respondeu-lhe, porém, o Senhor, e disse: Hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, e não o leva a beber?
16. E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa?
17. E, dizendo ele isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele.

Jesus é criticado novamente por curar no sábado, que era o dia do descanso, o dia em que era proibido trabalhar. Já vimos o ensinamento de Jesus de que as regras foram feitas para o homem, e não o homem para as regras.

Jesus argumenta, desta vez, que nos sábados qualquer um deles costumava soltar o seu boi ou o seu jumento para dar de beber a eles. Se eles soltavam os animais para que pudessem beber, como se opor a que se soltasse a mulher que há dezoito anos estava presa? 

Dissemos que a mulher carregava um fardo muito pesado, e que, se os seus ombros não aguentavam a carga, é porque esta carga não era de Deus. Jesus diz que ela estava presa de satanás.

Sabemos que satanás quer dizer adversário, é o antagonismo a Deus, é o contrário à espiritualização, o apego à materialidade. O apego excessivo à matéria é a carga que nos pesa nos ombros. Tudo o que nos prende à materialidade: o orgulho, o egoísmo, a vaidade e a ambição excessiva são pesos que nos impedem a elevação espiritual.

18. E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei?
19. É semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta; e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.
20. E disse outra vez: A que compararei o reino de Deus?
21. É semelhante ao fermento que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou.

 Jesus nos disse em outra ocasião que o reino de Deus está dentro de nós (Lucas 17:21). O reino de Deus é o nosso próximo estágio evolutivo, em que o espírito há de predominar sobre a matéria. Para desenvolvermos o reino de Deus dentro de nós precisamos superar exatamente as características satânicas que nos prendem à materialidade. Temos que nos libertar dos fardos que carregamos para conseguirmos escalar os degraus da evolução espiritual.

Assim como o grão de mostarda, que era considerada a menor das sementes, o reino de Deus está dentro de cada um de nós em estado embrionário. Compete a nós fazê-lo germinar e crescer.

Assim como o fermento escondido na farinha, esperando levedar para transformar a massa, o reino de Deus está escondido em nosso íntimo, esperando que nos transformemos mentalmente, que nos conscientizemos e mudemos a nossa escala de valores.

 22. E percorria as cidades e as aldeias, ensinando, e caminhando para Jerusalém.
23. E disse-lhe um: Senhor, são poucos os que se salvam? E ele lhe respondeu:
24. Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão.

25. Quando o pai de família se levantar e cerrar a porta, e começardes, de fora, a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos; e, respondendo ele, vos disser: Não sei de onde vós sois;
26. Então começareis a dizer: Temos comido e bebido na tua presença, e tu tens ensinado nas nossas ruas.
27. E ele vos responderá: Digo-vos que não vos conheço nem sei de onde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniqüidade.
28. Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora.
29. E virão do oriente, e do ocidente, e do norte, e do sul, e assentar-se-ão à mesa no reino de Deus.
30. E eis que derradeiros há que serão os primeiros; e primeiros há que serão os derradeiros.

A porta é estreita assim como o caminho é reto. O caminho que leva a Deus é uma reta. Qualquer desvio ou atalho é perda de tempo e desperdício de energia. Caminhando em linha reta, sem nos desviarmos com as distrações materiais, com os falsos valores do ego, do personalismo, dando de nós mesmos ao próximo, seguindo, enfim, o ensinamento moral do cristo, estaremos em condições de entrar pela porta estreita.

Não é o fato de falar de Deus ou de Jesus que nos torna aptos a evoluirmos ou nos salvarmos da escravidão à matéria. Ninguém se torna melhor porque resolveu crer em Jesus se não se esforça por praticar o ensinamento de Jesus.

Jesus diz “Porfiai por entrar pela porta estreita”. Outras traduções dizem “esforçai-vos” por entrar pela porta estreita. A palavra grega que é traduzida como “porfiai” ou “esforçai-vos” é agonízeste (αγωνιζεσθε), de onde deriva, na língua portuguesa, a palavra “agonia”. Agonízeste, presente do imperativo do verbo ogoníssomai, que quer dizer esforçar-se, competir, fazer o máximo possível.

Não adianta dizer que aceitou Jesus e não se esforçar para a mudança interna, não adianta só rezar. É preciso agir. Depois que nos conscientizamos não podemos mais perder tempo. Temos que nos doar ao próximo.

Não é a religião ou crença que salva. Qualquer espírito encarnado, de qualquer parte do planeta, mesmo não conhecendo Jesus, mas praticando o que Jesus nos ensinou, conquista o reino de Deus. Em outra ocasião (Mateus 21:31) Jesus disse que as prostitutas e os cobradores de impostos, que eram considerados impuros, entrariam antes no reino de Deus do que os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, que eram entendidos na sua religião, que gozavam de grande autoridade, mas que eram moralmente baixos.

De qualquer forma, quando perguntaram a Jesus se são poucos os que se salvam, Jesus não respondeu à pergunta. Apenas disse para nos esforçarmos, para darmos o melhor de nós para entrarmos pela porta estreita.

Jesus não respondeu porque a pergunta estava errada, pois não são poucos ou muitos os que serão salvos. Todos serão salvos. Quanto a ser salvo ou não ser salvo, quanto a evoluir ou não evoluir, quanto a ser feliz ou não ser feliz, nós não temos escolha. Todos seremos salvos, todos iremos evoluir, todos alcançaremos a felicidade. Só o que depende de nós é o tempo que levaremos para isso e as condições em que conquistaremos isso.

O nosso livre-arbítrio, em última análise, se refere apenas ao tempo que demandamos em nossa evolução, pois como filhos de Deus estamos todos fadados ao progresso e à felicidade.

***

A porta estreita também se refere aos desencarnados, pois muitos anseiam por uma nova oportunidade na matéria e às vezes é preciso esperar muito. Hoje a fila para reencarnar é grande, e a porta é estreita.

31. Naquele mesmo dia chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e retira-te daqui, porque Herodes quer matar-te.

32. E respondeu-lhes: Ide, e dizei àquela raposa: Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado.
33. Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém.
34. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?
35. Eis que a vossa casa se vos deixará deserta. E em verdade vos digo que não me vereis até que venha o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

 Os comentaristas do Evangelho são unânimes em achar que os fariseus avisam Jesus com más intenções, em tom de ameaça. Não temos essa impressão. Os fariseus eram, dentre os grupos dominantes entre os israelitas, os que tinham conhecimentos mais avançados. De acordo com o historiador Flavio Josefo, que era fariseu e viveu naquela época, eles acreditavam, embora de maneira muito confusa, na reencarnação.

Uma demonstração disso é quando Nicodemos, que também era fariseu, procura Jesus para interrogá-lo a esse respeito. Além disso, Jesus costumava comer na casa de fariseus. O próprio fato de Jesus cobrar duramente os fariseus é indicativo do fato de que eles tinham mais esclarecimento que os outros. Não podemos pensar, portanto, que todos eles estivessem tramando contra Jesus.

Jesus promovia curas e afastava os espíritos obsessores. E disse: “e no terceiro dia sou consumado”. Outras traduções dizem, em vez de “consumado”, “completado” ou “morto”, ou “terminarei”.

A palavra grega é teleiúmai (τελειουμαι), presente do indicativo do verbo teleiô, que quer dizer “realizar o objetivo”, “tornar perfeito”, “plenamente desenvolvido”. No terceiro dia, então, estaria realizado o seu objetivo.

“Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém”. – Essa afirmação de Jesus geralmente é vista como uma ironia pelo fato de que alguns profetas haviam morrido em Jerusalém. É verdade que Jesus diz isso logo em seguida.

Mas devemos nos lembrar do significado da palavra Jerusalém, que é “visão da paz”. O profeta, que hoje nós chamaríamos de médium, deve morrer na visão da paz, deve desencarnar com a sensação do dever cumprido, de acordo com as faculdades mediúnicas com que reencarnou. Seja promovendo curas, restabelecendo as energias através do passe, seja participando das sessões de desobsessão, o médium é quase sempre um espírito que reencarna com uma tarefa a cumprir. E só o pleno desenvolvimento e cumprimento desta tarefa lhe proporciona a visão da paz.

A tarefa do médium, como de qualquer trabalhador da causa do Cristo, deve dar frutos dentro do período estipulado, que Jesus representa como sendo três dias. É preciso dar fruto em três dias, diferentemente da figueira, no início deste capítulo, que não deu fruto em três anos.

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