Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

A negação de Pedro – uma visão espírita

A negação de Pedro, a prisão e a condenação de Jesus são temas tratados, numa visão espírita, neste vídeo que aborda o capítulo 22 do Evangelho de Lucas, a partir do versículo 40. Este é o 28º vídeo de uma série de 30 vídeos em que analisamos e interpretamos o Evangelho de Lucas a partir do entendimento proporcionado pelo Espiritismo.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

CAPÍTULO 22

39. E, saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
40. E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação.

Provavelmente o Monte das Oliveiras era o seu lugar de recolhimento e oração enquanto esteve em Jerusalém. A missão de Jesus no plano físico está chegando ao fim e uma das suas principais lições é repetida. A subida ao monte, ou seja, a elevação para orar a fim de não entrar em tentação (ou em provação), para que não entremos, por descuido, em provações desnecessárias, pois a palavra grega peirasmón (πειρασμον), traduzida como tentação, tem este sentido de experimento, ensaio.

Devemos nos manter elevados, em estado de oração, para que não façamos da nossa experiência terrena um permanente ensaio espiritual, mas que coloquemos em prática os bons propósitos que assumimos.

41. E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,

42. Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.

Jesus põe em prática o que nos ensinou na oração que chamamos de “Pai Nosso”, ao declarar que deve ser feita a vontade de Deus, e não a nossa vontade (Mateus 6:10).

Os dois versículos que vêm a seguir, 43 e 44, muito provavelmente não fazem parte do texto original. Há vários manuscritos antigos, de diferentes lugares, que não contém estes dois versículos. A Bíblia de Jerusalém e outros comentadores dizem que estes versículos foram retirados propositadamente de alguns textos por darem uma ideia de fraqueza de Jesus que não condiz com a ideia de Deus; já que pregavam, e pregam ainda hoje, que Jesus é Deus.

Nós concordamos com este argumento, mas não podemos conceber que em diferentes localidades, em que as comunidades cristãs tinham orientações diversas, tenham tido essa mesma ideia e tirado dos seus textos estes dois versículos. Muito mais provável é que estes versículos tenham sido acrescentados para enfatizarem o sofrimento de Jesus, ideia que também é explorada hoje, como se o mérito de Jesus tivesse sido o de morrer, e não o de viver entre nós. Jesus morreu como todos morrem. E sofreu como muitas pessoas sofrem. Neste exato momento há crianças sofrendo dores terríveis como parte integrante do seu processo evolutivo. Não é o sofrimento que faz de Jesus nosso mestre, mas o seu ensino vivido na prática.

O mais provável é que as duas interpolações neste capítulo, esta e a dos versículos 29 e 30, foram introduzidas nos séculos II ou III como uma tentativa de combater o docetismo, que era uma doutrina gnóstica que afirmava que Jesus não havia animado um corpo físico. Para combater essas opiniões consideradas heréticas, a corrente cristã dominante, que gerou mais tarde o que conhecemos com Igreja Católica Apostólica Romana, inseriu estas passagens, para enfatizar que Jesus veio ao mundo com um corpo totalmente humano, e não com um corpo “aparente” como sustentavam os docetas e outros.

43. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
44. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.

Se quisermos analisar estes versículos, mesmo considerando-os como interpolação, temos que chamar a atenção para o texto grego em que a palavra trômboi (θρομβοι) é traduzida como “gotas”. Trômboi quer dizer “coágulo” ou “nódulo”, desta palavra deriva a palavra “trombose”. Então Jesus transpirava como se fossem coágulos de sangue que caíam na terra.

45. E, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos, e achou-os dormindo de tristeza.
46. E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação.

Os discípulos estavam “dormindo de tristeza”. Só podemos aceitar essa expressão como sentido figurado, querendo dizer que eles não entendiam o que estava ocorrendo e por isso estavam tristes.

Em Marcos e Mateus é dito que quem acompanhou Jesus foram Pedro, Tiago e João, os mesmo que o acompanharam ao monte Tabor no episódio da transfiguração.

É possível notar as semelhanças. Os mesmos discípulos; a oração no monte; o sono dos discípulos; a aparição de espíritos, que no Tabor foram Moisés e Elias e agora o anjo; e um fenômeno ocorrido com Jesus.

Se os discípulos estivessem de fato dormindo, quem teria testemunhado estes fatos? Jesus, pelo que vemos, não teve ocasião de contar nada a ninguém sobre o que aconteceu no monte. Se houve estes fatos, acreditamos que se trate, como no episódio conhecido como “transfiguração no monte”, de um desdobramento de Jesus e dos seus discípulos.

Pedro, conforme se vê nos Atos dos apóstolos, era médium de desdobramento (Atos 10:10; 12:15). Os outros também deveriam ser. Isso explicaria a presença do anjo ou espírito, já que estariam no plano astral. O fenômeno ocorrido com Jesus teria se dado com o seu corpo astral, uma exteriorização abundante de energia, talvez como forma de tornar o corpo astral menos denso e manter-se naturalmente mais desligado do corpo físico.

Lembramos que era noite, estava escuro, a descrição do que ocorria com Jesus não pode ser tida como exata. Comparar o que eles viram com coágulos de sangue que se exteriorizavam dele e caíam na terra foi a maneira mais aproximada que acharam para descrever o fenômeno.

Ainda no versículo 44 é dito que Jesus, “posto em agonia, orava mais intensamente”, e depois disso é que ocorreu o fenômeno. Acontece que “agonia” é uma palavra grega, que não tinha o sentido que damos a ela hoje. Não podemos, de modo algum, imaginar que Jesus estava agonizando de medo, ou de pavor, como muitos religiosos pensam. Nós vemos crianças com câncer que encaram a sua doença com tranquilidade. Jesus, incalculavelmente superior a nós, não ia ficar choramingando com medo da dor. Nem da dor física nem da dor moral.

“Agonia” (αγωνια), em grego, quer dizer uma disputa, um concurso, uma competição, a luta pela vitória. Só figurativamente tem o sentido de “angústia”, como comparação ao sentimento experimentado por quem luta com todas as forças para obter a vitória. É o que Jesus estava fazendo. Nesse esforço mental, nessa concentração mental, orava com mais fervor e seu corpo astral começou a exteriorizar energias de forma tão intensa que parecia que estava transpirando coágulos de sangue; não pela cor, já que era escuro e provavelmente não era possível distinguir a cor, mas pela aparente consistência e forma. Depois disso é que Jesus diz:

“E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação”. – Embora seja possível que eles ainda estivessem desdobrados, e, portanto, como se estivessem dormindo, o alerta de Jesus é para todos nós.

A maioria da humanidade terrena ainda dorme, ainda não despertou para a realidade espiritual. Jesus aqui chega ao final da sua missão e muitos continuam dormindo.

“Levantai-vos e orai”, ele diz. A palavra traduzida como “levantar” é a mesma palavra que traduzem como “ressuscitar”. Jesus está dizendo para ressuscitarmos, para renascermos espiritualmente, para despertarmos do sono inebriante da matéria e orarmos, nos elevarmos a Deus para que não precisemos passar por provações desnecessárias.

47. E, estando ele ainda a falar, surgiu uma multidão; e um dos doze, que se chamava Judas, ia adiante dela, e chegou-se a Jesus para o beijar.
48. E Jesus lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do homem?

É importante lembrar que os manuscritos originais, em grego, não contém sinais de pontuação. Então, aqui, o que parece ser uma pergunta de Jesus, “com um beijo trais o filho do homem?”, nós acreditamos que seja uma declaração: “Judas, tu entregas o filho do homem com um beijo”.

No Evangelho de Mateus essa idéia fica ainda mais clara: “Companheiro, faz o que vieste fazer” (Mateus 26:50), ou “faz aquilo para o que vieste fazer”, podendo dar a entender, até, que a tarefa de Judas nesta reencarnação era servir de instrumento para que Jesus fosse entregue aos seus perseguidores.

49. E, vendo os que estavam com ele o que ia suceder, disseram-lhe: Senhor, feriremos à espada?
50. E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita.
51. E, respondendo Jesus, disse: Deixai-os; basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou.

Já vimos que macaira, como traz o texto grego, é faca, e não espada. Mas os discípulos pensaram que talvez devessem reagir, sinal de que realmente não entendiam o que estava acontecendo. João, no seu Evangelho, esclarece que quem desferiu um golpe com a faca foi Pedro, e que o homem atingido se chamava Malco (João 18:10). Jesus, como já havia feito antes, diz a eles: – Basta! – E cura a orelha de Malco.

Lembramos que na primeira vez em que Jesus anunciou aos discípulos o que aconteceria com ele, Pedro tentou dissuadir Jesus, e Jesus disse a Pedro: – Vai para trás de mim, satanás, porque não sabes das coisas de Deus, mas das coisas dos homens (Mateus 16:23). Pedro ainda não tinha condições de compreender que a missão de Jesus era inteiramente espiritual.

Simbolicamente, Pedro representa, aqui, o pensamento material imediatista, que não vê além da matéria, que só acredita no poder material. Malco, em hebraico, quer dizer “rei”. O espírito ainda preso ao pensamento material imediatista tenta lutar contra o reinado das coisas materiais (representado por Malco, que quer dizer “rei”).

Mas Jesus, colocando em prática o seu ensino que diz para não devolver o mal com o mal, não só impede a luta de Pedro como cura a orelha de Malco. Não é pela força bruta que venceremos o poder vigente no plano material.

52. E disse Jesus aos principais dos sacerdotes, e capitães do templo, e anciãos, que tinham ido contra ele: Saístes, como a um salteador, com espadas e varapaus?
53. Tenho estado todos os dias convosco no templo, e não estendestes as mãos contra mim, mas esta é a vossa hora e o poder das trevas.

Jesus lembra aos seus perseguidores que esteve entre eles durantes vários dias, no templo. Temos aqui outra demonstração da postura característica de Jesus. Jesus jamais se acovardou ou se calou para supostas autoridades. Jesus deixa claro que está no controle da situação ao dizer que esta é a hora e o poder das trevas.

54. Então, prendendo-o, o levaram, e o puseram em casa do sumo sacerdote. E Pedro seguia-o de longe.

55. E, havendo-se acendido fogo no meio do pátio, estando todos sentados, assentou-se Pedro entre eles.
56. E como certa criada, vendo-o estar assentado ao fogo, pusesse os olhos nele, disse: Este também estava com ele.
57. Porém, ele negou-o, dizendo: Mulher, não o conheço.
58. E, um pouco depois, vendo-o outro, disse: Tu és também deles. Mas Pedro disse: Homem, não sou.
59. E, passada quase uma hora, um outro afirmava, dizendo: Também este verdadeiramente estava com ele, pois também é galileu.
60. E Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo.
61. E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.
62. E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.

Muito se fala da fraqueza moral de Pedro por ter negado Jesus, mas ele negou porque acompanhou Jesus, enquanto os outros tinham fugido. No Evangelho de João é dito que quem acompanhou Jesus foram Pedro e o outro discípulo, provavelmente o próprio João (João 18:15). Mas o fato é que, se Pedro confessasse conhecer Jesus, ele provavelmente seria preso, até porque foi ele quem feriu Malco. E, se fosse preso, perderia o contato com Jesus.

Poderíamos tirar lições sobre a negação de Pedro, fazendo analogias com as vezes em que nós negamos o Cristo. Mas não consideramos que a intenção de Pedro tenha sido preservar a si mesmo, mas apenas permanecer próximo do mestre.

Então a única lição que podemos perceber aqui é que nem sempre estamos preparados para determinadas situações, só temos domínio sobre o que depende de nós mesmos. Por isso não podemos julgar o próximo, dizendo que no seu lugar faríamos tais e tais coisas.

O choro de Pedro não é de remorso, mas de tristeza por ver que se cumpria o que Jesus havia previsto. Jesus disse que antes do cantar do galo Pedro o negaria por três vezes e isso se confirmou. Se isso se confirmou, também se confirmariam as demais coisas que Jesus disse que aconteceriam com ele, inclusive a sua morte. E foi por isso que Pedro chorou.

63. E os homens que detinham Jesus zombavam dele, ferindo-o.
64. E, vendando-lhe os olhos, feriam-no no rosto, e perguntavam-lhe, dizendo: Profetiza, quem é que te feriu?
65. E outras muitas coisas diziam contra ele, blasfemando.

Diziam para Jesus profetizar. A palavra “profeta” é formada pelo prefixo pro, que quer dizer “em lugar de”, e fetes, que quer dizer “locutor”. Profeta, então, é “aquele que fala em nome de alguém”, ou “aquele através do qual alguém fala”. Profeta é médium, nada mais que isso. Mas, tanto naquele tempo como hoje, confundiam médium com adivinho ou mágico.

Os céticos e fundamentalistas agiriam da mesma forma hoje. Jesus, se estivesse encarnado hoje, talvez se deparasse com pessoas muito parecidas com aquelas que zombavam dele.

66. E logo que foi dia ajuntaram-se os anciãos do povo, e os principais dos sacerdotes e os escribas, e o conduziram ao seu concílio, e lhe perguntaram:
67. És tu o Cristo? Dize-no-lo. Ele replicou: Se vo-lo disser, não o crereis;
68. E também, se vos perguntar, não me respondereis, nem me soltareis.
69. Desde agora o Filho do homem se assentará à direita do poder de Deus.
70. E disseram todos: Logo, és tu o Filho de Deus? E ele lhes disse: Vós dizeis que eu sou.
71. Então disseram: De que mais testemunho necessitamos? pois nós mesmos o ouvimos da sua boca.

Ao dizer que “desde agora o Filho do homem se assentará à direita do poder de Deus”, Jesus está atribuindo a si mesmo o cumprimento das profecias, o que era inadmissível para aquelas autoridades religiosas.

Ao responder se era o filho de Deus, a tradução pode ser assim: – Vocês estão dizendo: Eu sou. – “Eu sou” foi a descrição que Deus fez de si mesmo, e Jesus, ao dizer isso, foi acusado de blasfêmia.

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