Comportamento

A dor numa visão espírita

tortura espiritismo

Morel Felipe Wilkon

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Viver com a ideia fixa no próprio sofrimento é o mais puro egoísmo. Sob o ponto de vista espírita, sofrer pelos outros é caridade; sofrer voluntariamente, em benefício próprio, é egoísmo. 

Cada pessoa tem determinada resistência à dor. O que para uns é uma coisa terrível, para outros é apenas um pequeno choque; o que para certas pessoas é uma verdadeira tragédia, para outras não passa de um golpe contornável.

Espiritismo e sofrimento

O que dá essa maior resistência à dor é justamente a experiência na dor. Em momento algum podemos esquecer que somos espíritos imortais, seres milenares adquirindo conhecimentos e experiências no transcorrer dos séculos. As coisas em que somos melhores é por já tê-las aprendido. Assim, quem hoje é mais resistente à dor, é porque já sentiu muita dor e tirou disso um aprendizado permanente.

se chicoteando
Não há mérito no sofrimento voluntário

Por não sabermos o grau de resistência à dor que cada pessoa tem, não é fácil avaliar o que cada um sente. Mesmo que já tenhamos enfrentado situação semelhante, nosso modo de pensar e sentir é diferente da pessoa que vive a situação agora.

Mas esse respeito pela dor alheia pressupõe dores reais, atuais. Muitos espíritos, encarnados e desencarnados, vivem suas dores indefinidamente. A sede de vingança, o ciúme doentio, o desespero gerado pelo ódio, a mágoa que não apaga, isso são dores voluntárias. Ninguém escolhe deliberadamente a dor. Mas ao manter essas doenças morais por tanto tempo, esses espíritos estão fazendo uma escolha.

Viver em torno da própria dor é o egoísmo em último grau. Viver se lamentando, rememorando desgraças do passado, reais ou imaginárias, viver em função de doenças e da possível atenção que elas despertam, viver planejando vingança ou desejando ardentemente o mal de alguém, viver se retorcendo de raiva por alguma ofensa que há muito tempo já cumpriu seus efeitos imediatos, tudo isso é egoísmo puro.

Por pior que tenha sido a injúria sofrida, ou a traição ou a desgraça, por mais grave que tenha sido a vivência dessas experiências, elas passaram. Não há como voltar atrás, não há como evitá-las, não há remédio para sustar os seus efeitos já desencadeados. É preciso se desvencilhar dos pensamentos negativos e derrotistas, é preciso afastar do pensamento as ideias de desgraça, de aflição. É preciso parar de pensar só em si e no seu próprio sofrimento.

Viver com a ideia fixa no próprio sofrimento é o mais puro egoísmo. É fazer de si o único ser do universo, é imaginar que o mundo gira em torno de si mesmo e que tudo deve parar para atendê-lo. Só com a renúncia de si mesmo, só com a coragem de abrir mão da autocompaixão é que se torna possível a recuperação. É preciso perdoar. É preciso querer viver. É preciso reconhecer que o mundo não vai parar para nos satisfazer ou vingar.

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