Infelizmente ainda é comum tanto no meio espírita quanto fora dele, em meios espiritualistas, que o médium seja considerado um ser especial. Principalmente por pessoas que não entendem nada do assunto, pessoas que não sabem ao certo o que vem a ser mediunidade e o que a mediunidade representa de fato para o médium.
Na internet nós encontramos dezenas de blogs e canais no Youtube em que pessoas que se dizem médiuns (mesmo que deem outro nome para isso, como “canalizadores”, por exemplo) expõe as suas teorias como se fossem a última verdade.
Às vezes, no meu canal no Youtube, no espaço de comentários, alguém “corrige” minhas opiniões e posicionamentos. E qual é o seu grande argumento para dizer que eu estou errado e eles estão certos?
– Eles são médiuns!
Ora, eu também sou médium. Mas isso não faz de mim o consertador das verdades.
Esse carteiraço não cola. Pode colar entre aqueles que não sabem como se processa a mediunidade; pra mim não cola.
Esses dias teve um aí dizendo que no mundo de regeneração nós vamos viver centenas de anos.
Por quê?
Porque ele é médium e o mentor dele disse pra ele.
Com todo o respeito ao teu mentor, mas isso não quer dizer nada. Isso é a opinião de um espírito. Eu também sou espírito e tenho opiniões – será que isso faz de mim um ser especial? Será que a minha opinião está sempre certa? Não tem nada a ver.
Em primeiro lugar mediunidade é algo muito sutil. Nem sempre é possível distinguir o que vem do espírito, o que é intuição nossa e o que é apenas opinião.
Em segundo lugar, mesmo que tenhamos comunicações bastante claras, e que estejamos certos de que o que é comunicado vem integralmente do espírito comunicante, isso é apenas a opinião dele!
Agora, só porque um espírito falou, tá falado? Desde quando isso? E as recomendações de Kardec, pra que servem? Pra nada?
Pra mim, particularmente, a opinião dos guias vale tanto quanto a minha própria opinião. É verdade que para muitos assuntos eles estão numa posição privilegiada – por estarem livres da influência da matéria densa, os seus horizontes de percepção são muito mais amplos. Além disso, temos que considerar que um espírito, para ser guia de um encarnado, deve estar no mínimo no mesmo nível do encarnado.
Mas a sua comunicação deve, necessariamente, passar pelo crivo da minha razão. Então o que vai prevalecer, no fim das contas, é a minha opinião. Se eu achar que a sua comunicação tem fundamento, ótimo. Se eu tiver dúvida, fica por isso mesmo – como recomenda a regra de trânsito, “na dúvida não ultrapasse”.
O que eu tenho visto de gente falando das suas reencarnações anteriores (tem um aí que diz que foi o Rei Ricardo Coração de Leão), gente que recebe extra-terrestres em casa, gente que nos atendimentos espirituais combate grandes seres das trevas, dragões, monstros terríveis… Tem um que é especializado em desmascarar grandes vultos do espiritualismo: já desmascarou a Helena Blavatzki, fundadora da Teosofia; o Mikao Usui, criador do Reiki – quem será o próximo?
Carteiraço de médium eu não aceito. Tem duas coisas que não rolam entre espíritas. Uma é carteiraço de médium; a outra é carteiraço de idade. Você pode ser um espírito muito mais velho e experiente do que um senhor octagenário que pretenda lhe dar lições. Você pode ser muito mais lúcido do que um médium e todos os seus “mentores” juntos.
Então vamos devagar.
Médium não é mais do que ninguém. Por melhor que seja o médium, ele vai perceber o que está de acordo com a capacidade de entendimento dele. O tempo em que tínhamos comunicações praticamente mecânicas, através de médiuns inconscientes, passou. Isso serviu para implantar as bases da Doutrina dos Espíritos. É o caso, por exemplo, da 1º edição de O Livro dos Espíritos, que foi concebido a partir das comunicações feitas através de três médiuns adolescentes, três meninas de 12 14 e 15 anos. Hoje não existe mais isso.
Num atendimento espiritual é diferente. Ali existe um propósito de cura, um propósito de caridade, e desde que o médium esteja imbuído desse propósito de fazer o bem e de ser apenas um instrumento do bem, a comunicação vai ser a melhor possível para o momento. Quando todos estão imbuídos do mesmo propósito de fazer o bem, o Bem age através de nós.
Mas o mesmo não acontece no que se refere a possíveis revelações e comunicações de ordem pessoal. É um perigo quando esses médiuns conseguem influenciar outras pessoas com as suas ideias – se essas ideias forem equivocadas, evidentemente.
Outro perigo é no âmbito familiar, no âmbito das relações mais próximas. Tem aqueles médiuns que atendem em casa, ou na casa dos seus parentes e amigos. E pra agradar aos seus parentes e amigos é capaz de mentir descaradamente, criando fantasias muito prejudiciais na mente dessas pessoas.
Eu sei de casos de médiuns (ou supostos médiuns) que recebem seus guias em casa e dão palpites em todos os assuntos familiares: se intrometem nos namoros dos filhos, no comportamento do cônjuge.
Conheci um caso de uma família em que o pai e marido tinha morrido. E uma médium amiga da família dizia que via ele sempre na casa. Chegavam a fazer festa pra comemorar o aniversário do falecido. E todos ali, na expectativa, olhando para a médium. Até que ela dizia: – Ó, ele está sentado aí. Tá comendo bolo!
Eu nem estou duvidando da presença do falecido lá. Nós sabemos que é relativamente comum que um desencarnado permaneça ligado aos entes e à casa que deixou. Mas esse tipo de situação não pode ser alimentada, isso cria fantasias muito perigosas.
Outra coisa que requer muito cuidado é divulgação de cartas supostamente psicografadas por pessoas famosas. Não duvido delas; não é o caso. Mas não podemos aceitar tudo cegamente – principalmente se notarmos, nessas cartas, qualquer posicionamento ideológico.
Temos que diferenciar a mediunidade, em que o espírito encarnado recebe informações do plano astral, e o desdobramento ou a projeção consciente, em que o encarnado é que se desloca ao plano astral em busca de informações. Aí realmente a coisa muda. Mas isso é assunto pra outra ocasião.
Para saber mais sobre mediunidade, leia os seguintes artigos: