Artigo publicado originalmente em 16/08/2012
Você acredita na boa intenção das pessoas? Você costuma confiar nos outros? É muito comum encontrarmos, mesmo no meio espírita, alguém que não confia em ninguém, que acha que todo mundo tem uma segunda intenção. Tanto em suas relações pessoais como a respeito de classes de pessoas. Políticos, por exemplo.
Você provavelmente já ouviu alguém dizer (ou você mesmo diz?) que político não presta, que político é tudo igual, que não escapa um. Não é minha intenção defender a classe política. Faz tempo que me decepcionei com a política partidária e me tornei o que os ativistas chamam de “alienado”.
Não faço a defesa dos políticos, mas de alguns seres humanos que seguiram a carreira política. Não acredito que todos entrem na política pensando em se locupletar com o dinheiro público. Não posso conceber sequer que a maioria dos políticos comece sua carreira urdindo maracutaias. Creio na boa intenção inicial. Acredito no idealismo que leva um jovem a se interessar pela carreira política.
Não, não sou ingênuo; esteja certo disso. É por não ser ingênuo que sei como as pessoas se deixam influenciar pelo meio. É por não ser ingênuo que sei que um meio onde haja o predomínio de lideranças pérfidas é capaz de desviar pessoas de boa índole. Todos somos falhos. Todos temos defeitos. Todos já nos deixamos influenciar negativamente em algum momento da vida.
Será que você não se deixaria corromper pelo poder? Será que você sairia imaculado ao receber uma proposta indecente mas tentadora? Será que você não se sentiria obrigado a fazer negociações e alianças? Os políticos, como qualquer outra classe, não são seres à parte da criação. Todos são pessoas, como você e eu. Será que só eles são desonestos e corruptos? Ou será que muitos de nós, no fundo, pelo menos algumas vezes, não invejou sua posição, seu status, seu poder, sua visibilidade, sua capacidade de influência, e até suas benesses econômico-financeiras lícitas e ilícitas?
O meio corrompe quem não é suficientemente forte. E poucos são fortes o suficiente. As pessoas passam por muita coisa, por muitas situações que nós não sabemos. As pessoas enfrentam problemas e dificuldades de que nós não tomamos conhecimento. E se transformam. Deixam aflorar o que tem de mau, de negativo. Adoecem. A maldade é doença. Os criminosos, os preguiçosos, os mendigos, os colegas vagabundos, os vizinhos implicantes, os motoristas histéricos, os maledicentes, todos estão doentes.
Isso não é maneira de dizer. É fato. Estão espiritualmente doentes. São dignos de compaixão. Pode ser difícil conviver com pessoas assim. E não somos obrigados a aceitar suas diatribes calados e passivos. Não estou dizendo que temos que passar a mão na cabeça de todos os pilantras. Mas estamos aptos a julgar? Somos tão melhores que eles? Acho que não. Acho que o que nos diferencia é apenas uma boa vontade incipiente, uma necessidade que sentimos de realizar a reforma íntima. Depois de apanhar muita surra, reencarnação após reencarnação, o espírito imortal pensa duas vezes antes de errar. E mesmo assim, muitas vezes, erra igual.
A diferença que nos separa dos vagabundos e safados de todos os tipos é mínima. Se fôssemos tão melhores que eles, os compreenderíamos melhor. Se não conseguimos compreendê-los é porque mal saímos do seu estágio moral. Por isso não os compreendemos. Você acha que eles compreendem o que fazem? Eles sabem o que a lei terrena diz. Mas espiritualmente, moralmente, você acha que eles percebem seus próprios erros? Ninguém se torna corrupto ou bandido de um dia pro outro. É um longo processo, em que vão se permitindo falhar. Vão enfraquecendo a guarda sobre os seus próprios defeitos. Então começam a procurar desculpas para si mesmos. A princípio como um modo de conformar a consciência; com o tempo passam a acreditar em suas próprias desculpas, em suas próprias mentiras, e a doença está instalada.
Eu insisto em ver o lado bom das pessoas. Não conheci ninguém que não tivesse nada de bom. No fundo somos todos muito parecidos. E um dia todos nos elevaremos.