Uma das queixas que ouço com mais frequência é com relação à família. Que a família não acompanha as iniciativas em busca do crescimento espiritual e da reforma íntima. É realmente bastante raro ver uma família em que todos os componentes marcham lado a lado com o mesmo objetivo e sob a mesma proposta.
Esse tipo de queixa, que às vezes não chega a ser queixa, apenas um lamento, ouço de pessoas que abraçaram uma causa com convicção e gostariam que os membros familiares os seguissem. São pessoas que se tornam vegetarianas e a família continua comendo carne; são pessoas que adotaram o veganismo e os familiares os consideram exagerados; são pessoas que se dedicam a uma atividade espírita e a família reclama do tempo roubado a si.
Muitas vezes a família não compreende as peculiaridades que acompanham o processo evolutivo de um de seus integrantes. A mediunidade até hoje causa estranheza. A projeção astral, pelas condições de silêncio e sossego que exige para a sua prática, é frequentemente abandonada por seus adeptos por não terem tais condições atendidas por falta de compreensão no lar. O vegetarianismo, por suas características que exigem ajustes no cardápio, pode ser visto, por uma família mais conservadora, como um comportamento que dá trabalho. Com o veganismo é pior, já que veganos têm uma série de restrições sobre os produtos que utilizam, já que não usam nada que tenha componente de origem animal ou que tenha sido testado em animais…
Há pessoas que se dão por contentes quando a família respeita suas convicções e seus novos hábitos, mesmo que ela não modifique os seus. Mas o mais comum, pelo que observo, é que aqueles que se convertem a uma causa gostariam muito de convencer os seus próximos a compartilhar de seus ideais.
Penso que todos devem se esforçar para aceitar as particularidades que envolvem as causas adotadas por uma pessoa próxima, de sua intimidade. Desde que isso não prejudique irremediavelmente a vida familiar, não vejo por que não respeitar a opção de cada um, mesmo que não se concorde com ela.
Por outro lado, acho que devemos respeitar sempre aqueles que não querem ou não estão preparados para nos acompanhar em nossas caminhadas. Pode ser que não seja o seu momento, já que cada um tem o seu tempo. Além disso, e isso deve ser sempre lembrado, a verdade de um não é a verdade de outro. Toda análise que fazemos é baseada em nossas experiências pessoais. Todo raciocínio que elaboramos é construído em cima de valores e crenças que interiorizamos há muito tempo. Na realidade do espírito imortal algumas crenças podem acompanhá-lo séculos afora, reencarnação após reencarnação. É difícil pra nós aceitarmos que nossa razão é parcial; é “uma” razão, não é “a” razão.
Ao abraçarmos uma nova causa nosso entusiasmo com a mesma é tão grande que gostaríamos de compartilhá-la com todos; queremos que todos sejam beneficiados com a verdade que descobrimos. Mas os motivos que nós temos para nos convencer e nos entusiasmar são “nossos” motivos, não são motivos universais.
Tolerância, nada mais valioso nessas horas. Tolerância para com os que adotaram novos costumes, novos hábitos, novas crenças, novas experiências, novos modos de pensar. E tolerância para com aqueles que, seja qual for o motivo, não comungam dessas novidades, dessas mudanças.
Somos crianças espirituais, engatinhando rumo à elevação moral e espiritual. Temos muito que aprender e desenvolver. Podemos dar um passo importante nesse sentido desenvolvendo a tolerância. Você pensa diferente? Comente, dê a sua opinião.