“Cada um tem o seu tempo” é uma das frases mais usadas nos cursos e palestras espíritas. Sempre que alguém cita um familiar ou conhecido que seja descrente, que tenha crenças consideradas atrasadas ou que, simplesmente, comete muitos erros, lá vem a frase fatídica: “cada um tem o seu tempo”. Uma variante dessa frase, com um tom um pouco mais “oficial” é “a natureza não dá saltos”.
São duas coisas óbvias, mas nem sempre estão corretas. É verdade que cada um tem o seu tempo. Observamos isso desde os primeiros anos de vida. Algumas crianças têm mais aptidões para algumas coisas, outras crianças têm mais aptidões para outras coisas. É verdade que algumas não têm aptidão para quase nada…
Quanto ao provérbio “a natureza não dá saltos”, ele é de Darwin, e reflete a teoria evolucionista. A evolução se dá aos poucos, por seleção natural, então, supostamente, não há “saltos” evolutivos na natureza. Podemos acreditar nisso. Particularmente, eu acredito. Mas isso não pode ser levado ao pé da letra. Em relação à evolução humana, por exemplo, não há evidências de estágios bem definidos de aproximação entre os hominídeos mais desenvolvidos e nós.
Segundo a Doutrina Espírita, podemos compreender que os estágios intermediários de evolução ocorrem em outro plano – provavelmente o plano astral. Mas não sabemos se isso é um processo mais ou menos demorado do que no plano físico. Não temos, portanto, condições de saber se realmente não damos um “salto” de vez em quando.
O fato é que esses ditados servem para os outros, não para nós. Calma; não se trata de discriminação, eu explico: Nós temos que entender que os outros terão o seu tempo, pois “a natureza não dá saltos” – eles terão a sua oportunidade de esclarecimento, de conscientização e de necessidade íntima de progredir moralmente e intelectualmente.
Mas isso não pode valer para nós. Não podemos nos apegar a esses ditados e usá-los como desculpas esfarrapadas para a nossa preguiça, para o nosso desleixo, para a nossa teimosia em relação às mudanças necessárias.
Quem faz o seu tempo é você mesmo. É você quem decide quando é o seu tempo. É claro que não basta decidir que você quer ser rico, inteligente e bondoso – você terá que se esforçar para isso (a não ser, é claro, que você já preencha esses requisitos…).
Mas o esforço compete exclusivamente a você. E, quanto a isso, não vale a pena esperar pela ação do tempo. Você tem a oportunidade agora, o seu tempo é agora. Já pensou se quando você desencarnar você lembrar de que tinha se proposto a fazer um monte de coisas aqui? E você com a desculpinha de que “cada um tem o seu tempo”…