Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

A crucificação de Jesus numa visão espírita

A crucificação de Jesus, mais do que um acontecimento material, guarda um simbolismo que se aplica a todos nós e à humanidade como um todo. A morte de Jesus na cruz representa a libertação definitiva da matéria – destino de todos nós.

Neste vídeo estudaremos o capítulo 19. Este é o 33º vídeo da série de estudos sobre o Evangelho de João, que se aproxima do seu final. Este trabalho interpreta e analisa mais de uma dezena de traduções em português, além do texto original grego do Evangelho.

JOÃO 19

  1. Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou.
  2. E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram roupa de púrpura.
  3. E diziam: Salve, Rei dos Judeus. E davam-lhe bofetadas.

A crucificação era a pena reservada aos escravos e aos piores criminosos. Jamais um cidadão romano seria condenado à morte na cruz. O açoitamento antes da crucificação fazia parte da pena, todos passavam por isso.

Fazemos questão de dizer isso para deixar claro que a morte dolorosa que Jesus sofreu não foi algo específico para ele, não foi uma exclusividade sua. Todos os dias isso acontecia no Império Romano. Hoje ainda, neste exato momento, pessoas de várias partes do mundo estão experimentando dores terríveis. Isso faz parte do nosso estágio evolutivo.

Não são as dores físicas ou mesmo as dores morais experimentadas por Jesus que o engrandecem. O que o engrandece é a sua superioridade espiritual que nos legou o Evangelho, um código eterno de libertação espiritual.

A cruz simboliza o próprio homem terreno, o espírito preso à matéria. As dores experimentadas por Jesus são as dores experimentadas pela humanidade em sua
trajetória evolutiva. A superação da dor conquistada por Jesus é a superação que nós devemos buscar, seguindo os passos de Jesus.

  1. Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.
  2. Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem.

“Eis o homem” – a imagem de Jesus todo ensanguentado e com uma coroa de espinhos sobre a cabeça é a imagem do homem com suas dores. É o retrato das misérias humanas, das quais só nos libertaremos através da conscientização da nossa natureza espiritual e divina e a consequente transformação dos nossos hábitos.

  1. Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele.
  2. Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
  3. E Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais atemorizado ficou.

A lei a que eles estavam se referindo talvez seja Levítico 24:16, que prevê a blasfêmia. O fato de Jesus dizer que era filho de Deus poderia ser considerado blasfêmia.

Pilatos estava convencido de que Jesus não havia cometido crime algum. A História mostra que Pilatos já havia cometido abusos em relação aos judeus, e queria evitar novos confrontos. Pensou que quando os judeus vissem Jesus todo ensanguentado abrandariam seus corações, mas o efeito foi contrário, ficaram ainda mais atiçados.

Os judeus não poderiam crucificar Jesus pessoalmente, a pena de morte cabia exclusivamente a Roma. Pilatos diz para eles o crucificarem no sentido de que eles seriam os responsáveis pela morte de Jesus.

O evangelista diz que Pilatos ficou ainda mais atemorizado quando os judeus disseram que Jesus se fez filho de Deus. Pilatos era romano, e para o pensamento romano era comum que deuses encarnassem em meio aos homens. Em Mateus 27:19 é relatado o sonho que a mulher de Pilatos teve em relação a Jesus:

“E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele”.

A palavra traduzida como sofrer (“muito sofri”) tem o sentido de “experimentar”. A mulher de Pilatos experimentou muitas coisas por causa de Jesus. O aviso dela a Pilatos é no sentido de que ele não interfira no que está acontecendo. Que ele não condene nem liberte, que ele não se intrometa numa questão que não é dele.

  1. E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.

A pergunta de Pilatos: – “De onde és tu?” – mostra que ele realmente acreditou que Jesus pudesse ser uma espécie de ser divino, vindo de outro mundo. Jesus já havia dito a ele que o seu reino não é deste mundo.

  1. Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?

Os comentadores geralmente veem nessas palavras de Pilatos uma demonstração de poder, uma impaciência com o silêncio de Jesus. A impressão que temos é que Pilatos insistiu humildemente com Jesus para que ele falasse. Pilatos queria soltar Jesus. Pelo menos essa é a impressão passada pelo evangelista.

Temos que lembrar novamente que no tempo em que este Evangelho foi escrito havia forte animosidade entre os cristãos e os judeus que não haviam se convertido ao Cristianismo. O evangelista, então, faz questão de passar uma boa imagem de Pilatos para que ficasse bem evidenciado, para quem lesse este Evangelho, que os culpados pela morte de Jesus foram os judeus.

  1. Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.

Todo o poder que eventualmente exercemos é apenas uma delegação do poder de Deus. Só o poder de Deus é legítimo. Quando exercemos o poder com justiça (ou com “justeza”, ajustados às Leis de Deus) somos instrumentos fieis de Deus. Mesmo quando não somos justos no exercício do poder servimos de instrumentos de Deus, pois a Lei é perfeita, e todas as contingências que experimentamos nos servem de aprendizado.

Questiona-se muito por que Deus permite o mal. O que hoje nós conhecemos como mal é um estímulo ao nosso amadurecimento espiritual. Como tudo no Universo, tendemos para a inércia. Se estamos em repouso queremos permanecer em repouso, se estamos em movimento queremos permanecer com o mesmo movimento. A existência do mal e da dor em nosso estágio evolutivo é o estímulo para que saiamos da inércia.

“(…) mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem” – pecado quer dizer erro. O erro dos judeus era maior do que o erro de Pilatos. Pelo conhecimento que eles tinham das escrituras, sabiam que o que estavam cometendo era um crime terrível. Mesmo que não reconhecessem Jesus como o messias prometido, nada justificaria a condenação de Jesus à morte.

  1. Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo de César; qualquer que se faz rei é contra César.

Mais tarde Pilatos foi chamado a Roma por Tibério, o Cesar, por causa da acusação de haver trucidado um grupo de samaritanos. Mas é possível que tenha havido fofocas como estas aventadas pelos judeus.

  1. Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, e em hebraico Gabatá.
  2. E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei.

A palavra “páscoa” quer dizer “salto” ou “pulo”. Este momento vivido por Jesus simboliza o salto do espírito de um estágio evolutivo para outro. Todo o drama de Jesus é um resumo da nossa trajetória espiritual na Terra.

“Era quase a hora sexta” – já chamamos a atenção algumas vezes para a importância que o evangelista dá ao número sete como o número da completude, como um ciclo completo. Esse simbolismo é muito presente na Bíblia. Deus fez o mundo em seis dias, no sétimo dia o ciclo estava completo. Jesus aqui representa o espírito imortal que vai dar um salto evolutivo, pois o seu ciclo está quase completo.

  1. Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.

Os judeus detestavam Roma e o seu César. O que eles mais desejavam era livrar-se do domínio romano. E agora passam por cima de si mesmos, de tudo o que mais prezam, que é a sua nacionalidade e a sua relação com o seu deus, apenas porque queriam destruir Jesus. Nada os incomodava mais do que Jesus, pois viam seus interesses ameaçados.

Isso acontece na política em todos os tempos. Políticos com trajetórias respeitáveis jogam essas trajetórias no lixo unicamente para se manterem no poder.

  1. Então, consequentemente entregou-lho, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e o levaram.
  2. E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,
  3. Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.
  4. E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
  5. E muitos dos judeus leram este título; porque o lugar onde Jesus estava crucificado era próximo da cidade; e estava escrito em hebraico, grego e latim.
  6. Diziam, pois, os principais sacerdotes dos judeus a Pilatos: Não escrevas, O Rei dos Judeus, mas que ele disse: Sou o Rei dos Judeus.
  7. Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.

Oficialmente, Pilatos, como representante de Roma, condenou Jesus por ele fazer-se passar por rei, como se Jesus tivesse ameaçado o Império Romano. Seria difícil para Pilatos justificar uma condenação à morte por motivos religiosos.

Jesus foi condenado como o rei dos judeus. Judeu quer dizer “aquele que louva a Deus”. É neste sentido que devemos entender a afirmação de Jesus em 4:22 que diz que a salvação vem dos judeus. A salvação vem daqueles que louvam a Deus – mas que louvam em forma de ação, como Jesus fez, e não apenas com os lábios.

  1. Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes, e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e também a túnica. A túnica, porém, tecida toda de alto a baixo, não tinha costura.
  2. Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será. Para que se cumprisse a Escritura que diz: Repartiram entre si as minhas vestes, E sobre a minha vestidura lançaram sortes. Os soldados, pois, fizeram estas coisas.

O evangelista aponta uma série de pequenos atos que teriam acontecido para que se cumprissem as escrituras. Acreditamos que Jesus seja o cumprimento do anseio que nós encontramos no Antigo Testamento no que concerne a uma relação mais próxima com Deus.

A relação dos judeus com Deus se dava através de sucessivas separações. A palavra “santo” na Bíblia tem este sentido de separação, separar para Deus.

De todos os povos do mundo, um povo foi separado para Deus, o povo israelita; das doze tribos de Israel, uma foi separada para Deus, que é a tribo de Levi; da tribo de Levi eram separados os sacerdotes; dos sacerdotes era separado o sumo sacerdote; e o sumo sacerdote, como representante do povo israelita, procurava aproximar-se de Deus através das oferendas e sacrifícios.

Não havia uma relação direta com Deus. Jesus vem cumprir esse anseio de uma relação mais direta com Deus. Nos outros Evangelhos é narrado que quando Jesus morreu rasgou-se o véu do templo – no capítulo 1 nós explicamos o simbolismo do véu do templo. Mas o que isso representa é que a partir de Jesus o véu que nos separava de Deus foi rompido.

Deus está dentro de nós. É dentro de nós mesmos, em nossa natureza íntima, que iremos encontrá-lo. Neste sentido Jesus é o cumprimento das escrituras. Mas não precisamos ficar catando passagens do Antigo Testamento para tentar provar que Jesus é o messias prometido. Se formos levar essa tentativa ao pé da letra iremos nos esbarrar em passagens como esta, em Deuteronômio 21:23:

“O seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança”.

Jesus foi pendurado num madeiro. Será que Jesus é maldito de Deus?

A escritura citada pelo evangelista, referente à repartição das vestes de Jesus, é o salmo 22:18, que diz:

“Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa”.

Recomendamos a leitura de todo o salmo 22. Ele começa com a declaração de Jesus nos Evangelhos de Mateus e de Marcos: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” – a leitura do salmo completo pode explicar o porquê de Jesus ter dito isso.

  1. E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena.
  2. Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
  3. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.

Vemos que os homens se afastaram de Jesus, as mulheres permaneceram com ele. O único homem mencionado aqui é o discípulo que Jesus amava, que é tido pela tradição como o apóstolo João.

  1. Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede.

Os verbos “terminar” e “cumprir’, aqui, são a tradução do verbo teleo (τελεω), que é melhor traduzido como “aperfeiçoar”. Jesus veio aperfeiçoar a obra de Deus. Nós somos filhos de Deus, creados à imagem e semelhança de Deus, portanto, perfectíveis. O papel de Jesus é nos orientar neste aperfeiçoamento.

A escritura mencionada aqui é o salmo 69:21:

“Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre”.

  1. Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissopo, lha chegaram à boca.

O vinagre referido aqui era o vinho bebido pelos soldados romanos. Não haveria motivo para que tivessem vinagre ali. Por outro lado, os soldados normalmente carregavam vinho consigo, a posca, um vinho de má qualidade, provavelmente muito ácido, por isso chamado de vinagre.

  1. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

“Entregou o espírito”. Entregou a quem? A Deus? Mas se Jesus fosse o próprio Deus, como muitos pensam, como entregaria o espírito a si mesmo?

Jesus não é Deus, é um espírito como nós. Incalculavelmente mais velho, mais experiente, mas da mesma natureza que nós. Isso fica evidenciado a cada passagem do Evangelho. Um dia, para converter povos acostumados a acreditar que os deuses encarnavam entre os homens, inventaram que Jesus era o próprio Deus. E muitos continuam acreditando até hoje.

Foi Voltaire quem disse que “Deus matou Deus para honrar a Deus”.

Também não podemos mais conceber Jesus como o filho de Deus em termos humanos, antropomórficos. Jesus é filho de Deus – mas nós também somos filhos de Deus. Essa imagem de que Deus sacrificou o seu filho único para salvar os homens é de um mau gosto terrível. Isso seria o mais abominável de todos os crimes: um pai matar o seu próprio filho para pagar pelos erros dos outros.

Um pai que fizesse isso seria um criminoso abominável – o inocente não pode pagar pelos erros do culpado: “a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27); e a dor, por si só, não resgata erro nenhum.

No meio espírita ainda é muito comum pensar que a dor resgata o erro, então nós precisaríamos sofrer para pagar pelos nossos erros. A dor não resgata nada, absolutamente nada.

A dor é um mecanismo que nos avisa quando nos desviamos do caminho reto das Leis de Deus. O caminho que leva a Deus é uma reta. Quando nos desviamos do caminho reto, enveredando por desvios e atalhos, somos avisados pela dor de que precisamos voltar para o caminho reto. Então a dor nos serve de estímulo – mas ela, por si só, não resolve nada.

  1. Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados.

Os judeus queriam sepultar logo os condenados, para que não ficassem insepultos durante a páscoa. Normalmente os romanos deixavam os corpos dos que haviam sido crucificados apodrecerem na cruz, mas os judeus não admitiam isso e lhes era permitido sepultar os seus mortos.

Era comum que o condenado levasse dias para morrer na cruz. Quebrar as suas pernas era um meio de apressarem a sua morte. Também temos que considerar a possibilidade de que alguém fosse sepultado sem ter morrido de fato. Quebrar as suas pernas evitaria que fugissem caso sobrevivessem.

  1. Foram, pois, os soldados, e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro que como ele fora crucificado;
  2. Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas.
  3. Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.

Não encontramos nenhuma explicação convincente para este relato de que saiu sangue e água do corpo de Jesus. Se procurarmos compreender isso simbolicamente, buscando os símbolos do sangue e da água na Bíblia, vemos que a água simboliza o elemento gerador absoluto, pois quando Deus fez o mundo ele não fez a água, é como se a água já existisse (Gênesis 1:2), pois ela representa a matéria; e o sangue simboliza a vida, pois em Levítico 17:11 está escrito que a vida está no sangue.

Poderíamos entender, então, que Jesus, que representa todos nós, deixou a sua vida física juntamente com a matéria. Ele foi esvaziado do seu estágio de vida material.

  1. E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais.

Aqui temos a impressão de que quem escreve este Evangelho está contando o que ouviu de alguém, mas isso pode ser apenas um modo de expressão. O que fica claro, mais uma vez, é que o evangelista faz questão de demonstrar que Jesus tinha um corpo normal, que ele era um ser de carne e osso.

Na época em que este Evangelho foi escrito havia uma corrente de pensamento dentro do Cristianismo, o docetismo, que pregava que Jesus não veio a este mundo com um corpo físico, mas apenas com um corpo espiritual. Isso explicaria o chamado nascimento virginal e o desaparecimento do seu corpo do sepulcro. Jesus, neste caso, não teria sentido as dores da cruz, pois teria apenas o que hoje nós consideraríamos um corpo astral materializado. Para combater esse pensamento, que mais tarde foi considerado como heresia e perseguido pela Igreja, é que o evangelista narra detalhes sobre o corpo de Jesus.

  1. Porque isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: Nenhum dos seus ossos será quebrado.
  2. E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram.

A escritura citada sobre os ossos é o salmo 34:20:

“Ele lhe guarda todos os seus ossos; nem sequer um deles se quebra”.

A outra citação provavelmente se refere a Zacarias 12:10:

“Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e prantearão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito”.

  1. Depois disto, José de Arimatéia (o que era discípulo de Jesus, mas oculto, por medo dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu. Então foi e tirou o corpo de Jesus.
  2. E foi também Nicodemos (aquele que anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis de um composto de mirra e aloés.
  3. Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o sepulcro.
  4. E havia um horto naquele lugar onde fora crucificado, e no horto um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto.
  5. Ali, pois (por causa da preparação dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro), puseram a Jesus.

José de Arimateia e Nicodemos eram membros do sinédrio, e provavelmente foram eles que informaram os detalhes do julgamento de Jesus.

Vimos que eles não tinham coragem de seguirem Jesus abertamente, mas, tendo visto a maneira como Jesus se portou durante o julgamento e a execução da pena, não se importaram com o que poderiam pensar deles e foram providenciar o sepultamento de Jesus.

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