A maior parte dos cristãos sustenta que Jesus veio ao mundo para nos salvar. Se fosse assim, teríamos que admitir, constrangidos, que Jesus falhou em sua proposta, pois a humanidade ainda parece distante de ser salva.
A ideia de que Jesus nos salva é cômoda, pois nos dá a impressão de que não precisamos fazer nada para ser salvos. Basta, de acordo com a corrente de pensamento cristã, submeter-se a determinados sacramentos, ou pagar o dízimo, ou “aceitar Jesus” e está tudo resolvido: estamos salvos!
Não é assim. Cada um de nós é responsável pela sua própria salvação. O que Jesus fez foi nos ensinar o caminho que conduz à salvação. Mas compete a cada um de nós trilhar esse caminho, com o seu próprio esforço.
Este é um dos temas abordados neste vídeo, que trata do capítulo 18 do Evangelho de João. Este é o 32º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João.
Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.
JOÃO 18
Jesus terminou os seus discursos de despedida, que tiveram início no capítulo 13 e se estenderam até o capítulo 17, e agora os acontecimentos da última noite de Jesus são retomados.
- Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos.
- E Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos.
- Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas.
- Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais?
- Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles.
- Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra.
“(…) Judas, que o traía (…)” – o verbo paradidomi (παραδιδωμι) é melhor traduzido como entregar, não trair. Judas entregava Jesus naquele momento – não traía Jesus. O versículo 4 diz:
“Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir (…)” – Jesus sabia o que ia acontecer. Desde o começo Jesus sabia o que ia acontecer. Jesus encarnou entre nós com um propósito, e tudo o que aconteceu com ele obedeceu a esse propósito. Lembramos que para haver traição é preciso que haja um enganador e um enganado. Nem Judas enganou Jesus nem Jesus foi enganado por Judas, pois sabia o que aconteceria.
Judas foi o responsável por entregar Jesus para o seu próprio sacrifício. Em Gênesis 22:1-18 é narrado o drama de Abraão, que ia sacrificar o seu próprio filho Isaac em obediência a Deus. Quando ele estava prestes a matar Isaac, um anjo impediu Abraão de matar Isaac e providenciou um carneiro para ser sacrificado em seu lugar. Isaac foi salvo na última hora. Mas Abraão também foi salvo na última hora. Imagine como ele se sentiria por ter sacrificado o próprio filho!
Agora Judas tem que cumprir esse papel de entregar Jesus para o sacrifício. Jesus não será salvo da morte física. E Judas, pelo que sabemos, não suportou o remorso, a dúvida. Se Abraão tivesse chegado a sacrificar Isaac, certamente também conviveria com a dúvida. Perguntar-se-ia: Será que deveria mesmo ter feito aquilo?
Sabendo que chegara a sua hora, Jesus adianta-se para evitar qualquer confronto e pergunta a quem eles buscavam. Jesus esperava que eles lhe dessem uma resposta objetiva para que os seus discípulos não fossem envolvidos no que acontecia.
“Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra” – por quê? Talvez por medo de Jesus; é possível que tivessem ouvido falar muitas coisas a respeito de Jesus. Não podemos deixar de considerar o poder magnético de Jesus. A sua presença na escuridão, a sua resposta dizendo “Eu sou”, que foi a descrição que Deus fez de si mesmo (Êxodo 3:14), talvez tenha assustado alguns dos israelitas presentes.
- Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno.
- Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes;
Confirmamos aqui o cuidado de Jesus para com os discípulos. Eles teriam que permanecer livres para propagar o seu Evangelho.
- Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi.
Não podemos esquecer de ver isso de uma maneira mais ampla. Não são apenas os discípulos de Jesus que não se perderiam. Nenhum dos espíritos da Terra colocados sob a responsabilidade de Jesus se perderá. Nossas perdições são passageiras, sempre podemos nos recuperar. A misericórdia de Deus é infinita – se não fosse infinita, alguém poderia desenvolver uma misericórdia maior que a de Deus e então Deus não seria Absoluto.
- Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco.
- Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu?
A tradução diz “espada”, mas machaira (μαχαιρα) não é espada, é uma faca grande. Nem seria compreensível que Pedro, um pescador, andasse com uma espada. Soldados usavam espadas. Pescadores usavam facas. Além disso, eles tinham acabado de comer a páscoa. O cordeiro pascal era sacrificado por eles mesmos, e isso era feito, obviamente, com uma faca grande, não com uma espada.
Pedro cortou a orelha direita do servo do sumo sacerdote. O sumo sacerdote era o representante maior da religião oficial, da religião das exterioridades, que se ocupa com as aparências, não com o que vai no íntimo. O servo do sumo sacerdote representa aquele que serve a religião exterior. O nome do servo era Malco, que quer dizer “rei”. Simbolicamente, ele representa o reinado dos interesses mundanos, da busca pelo poder que a religião proporciona, da religião cheia de aparatos e de luxo, mas pobre em moral e espiritualidade.
No Evangelho de Lucas, quando Jesus conta a parábola do semeador, seus discípulos perguntam: “Que parábola é esta?”- e ele disse:
“A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam”. (Lucas 8:5-10)
“Para que ouvindo, não entendam” – Pedro, justamente Pedro, que é tido como a base da Igreja, corta a orelha direita, para que aqueles em que reina a religião das exterioridades e do poder ouçam tudo pela metade, e não ouçam direito.
Vemos que Jesus repreende Pedro. Pedro, se dependesse dele, impediria Jesus de cumprir a sua missão, pois não compreende a necessidade da dor e do auto-sacrifício – mesmo que o preço disso fosse fazer com que aqueles em que reina o apego ao poder e à matéria fossem condenados a ouvir tudo pela metade.
E infelizmente isso permanece assim até hoje. A religião tradicional se apoia numa salvação externa; os cristãos, de um modo geral (claro que não são todos), desconhecem o valor do cumprimento do reto dever, desconhecem o valor do auto-sacrifício, preferem esperar comodamente por uma salvação externa. Perderam a sua orelha direita: só ouvem pela metade e essa metade é aquilo que não é direito.
- Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.
- E conduziram-no primeiramente a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano.
Aqui há um deslocamento de texto. Originalmente depois do versículo 13 vem o versículo 24, e depois o 14. A ordem seria assim:
“E conduziram-no primeiramente a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano. E Anás mandou-o, maniatado, ao sumo sacerdote Caifás. Ora, Caifás era quem tinha aconselhado aos judeus que convinha que um homem morresse pelo povo”.
- Ora, Caifás era quem tinha aconselhado aos judeus que convinha que um homem morresse pelo povo.
Anás, embora não fosse o sumo sacerdote oficial, já havia ocupado esse posto. Para os judeus o sumo sacerdote era vitalício – mas por questões políticas, Roma interferiu nos seus costumes e outras pessoas ligadas a Anás ocuparam o cargo. De qualquer modo, embora Anás não fosse o sumo sacerdote de direito, ele ainda era sumo sacerdote de fato, tanto é que levaram Jesus a ele em primeiro lugar.
“(…) Caifás era quem tinha aconselhado aos judeus que convinha que um homem morresse pelo povo” – isso foi dito por Caifás em 11:49-50.
Temos que ter cuidado com essa ideia tão difundida de que Jesus morreu por nós. Isso é verdadeiro se considerarmos o sacrifício de Jesus para nos legar o seu ensinamento. Jesus doou-se totalmente a nós.
Mas não podemos pensar, de modo algum, que o simples fato de Jesus ter morrido seja capaz de nos salvar. Essa ideia pode ser confortadora para as nossas fraquezas de caráter, pois assim não precisamos fazer nenhum esforço para progredir intelectual e moralmente, nenhum esforço para colocar em prática tudo o que Jesus nos ensinou. Jesus morreu na cruz, nós acreditamos nele e pronto: – Estamos salvos!
- E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote.
Este outro discípulo é tradicionalmente entendido como sendo o próprio João. É bem difícil de explicar como um jovem pescador da Galileia seria conhecido do sumo sacerdote, mas tudo bem. Essas especulações tomam muito tempo e não são o objetivo deste trabalho.
- E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu então o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, e falou à porteira, levando Pedro para dentro.
- Então a porteira disse a Pedro: Não és tu também dos discípulos deste homem? Disse ele: Não sou.
- Ora, estavam ali os servos e os servidores, que tinham feito brasas, e se aquentavam, porque fazia frio; e com eles estava Pedro, aquentando-se também.
Vemos aqui a primeira negação de Pedro. Quando foram procurar Jesus, Jesus se identificou dizendo “Eu sou”. Pedro, ao contrário, diz “Eu não sou”.
- E o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
- Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao mundo; eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde os judeus sempre se ajuntam, e nada disse em oculto.
- Para que me perguntas a mim? Pergunta aos que ouviram o que é que lhes ensinei; eis que eles sabem o que eu lhes tenho dito.
Percebemos novamente que Jesus protege os seus discípulos. O sumo sacerdote pergunta sobre os discípulos e sobre a doutrina de Jesus. Para que o sumo sacerdote não pensasse em perseguir os seus discípulos, Jesus responde que ensinava na sinagoga e que falava abertamente. E sugere ao sumo sacerdote que pergunte àqueles que o tinham ouvido – possivelmente servos ou outras pessoas ligadas ao sumo sacerdote, talvez mesmo alguém presente ali naquele momento. Se as autoridades religiosas não tinham acreditado em Jesus quando ele pregava, por que iriam acreditar nele agora que ele era acusado? Por isso ele sugere que se pergunte sobre o seu ensino a alguém que o tenha assistido.
Jesus diz que falou abertamente ao mundo e que nada disse em oculto. Jesus está se referindo ao ensino dele dado em público. Ele foi perguntado sobre a sua doutrina, e a pergunta obviamente se referia àquilo que já tinham ouvido Jesus falar. Mas essa resposta de Jesus não quer dizer, de modo algum, que ele não ensinasse uma doutrina mais profunda aos seus discípulos. Temos a prova disso em Lucas 8:10:
“A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam”.
Em Mateus 10:27 fica novamente evidenciado que o ensino que Jesus dava aos seus discípulos em particular não era o mesmo que ele dava à grande massa:
“O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados”.
Mas a resposta de Jesus ao sumo sacerdote, sugerindo que ele perguntasse aos que tinham ouvido Jesus, não foi bem recebida:
- E, tendo dito isto, um dos servidores que ali estavam, deu uma bofetada em Jesus, dizendo: Assim respondes ao sumo sacerdote?
- Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; e, se bem, por que me feres?
Aqui nós temos a demonstração prática de Jesus sobre o seu ensinamento dado em Mateus 5:39 que diz:
“Não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra”.
Jesus não ofereceu resistência, mas não se calou. Não devemos sofrer injustiças calados. Jesus ofereceu a outra face, a face da razão. Recebeu uma violência irracional e ofereceu o chamado à razão: “Se falei mal, dá testemunho do mal; e, se falei bem, por que me feres?” – se o que Jesus disse estava errado, este erro deveria ser corrigido, esclarecido; e se o que ele falou estava certo, não havia motivo para violência.
- E Anás mandou-o, maniatado, ao sumo sacerdote Caifás.
Este versículo, como vimos, está deslocado.
- E Simão Pedro estava ali, e aquentava-se. Disseram-lhe, pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.
- E um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no horto com ele?
- E Pedro negou outra vez, e logo o galo cantou.
Aqui se completam as três negações de Pedro previstas por Jesus. Temos que lembrar que Pedro negou conhecer Jesus porque ele estava ali – os outros foram embora, Pedro estava presente. E de nada adiantaria, neste momento, ele dar um testemunho de bravura e lealdade e, quem sabe, morrer junto com Jesus. O seu papel como propagador do Evangelho exigia que ele se mantivesse livre e com vida.
Pedro não pode nos servir como um modelo de negação nem de fraqueza. Pedro não fraquejou, esse símbolo é furado. Pedro convenceu-se de duas coisas: convenceu-se de que, se Jesus acertou na sua previsão de que antes que o galo cantasse ele o negaria por três vezes, as outras previsões de Jesus, acerca da sua morte, também se confirmariam. Pedro se deu conta, naquele momento, de que Jesus iria realmente morrer e que seria agora, dentro de algumas horas. Naquele momento caiu a ficha de Pedro.
E Pedro também se convenceu de que não bastaria aquele tipo de coragem a que ele estava acostumado. Não é cortando orelhas que transformaremos o mundo. Existe uma coragem muito maior que puxar uma faca e cortar alguém. É a coragem de sofrer injustiças e não devolver com outras injustiças; é a coragem de calar os sentimentos, de controlar os ímpetos em nome de um objetivo maior. Isso é coragem. Puxar uma faca e lutar é fácil, qualquer mentecapto faz isso – ligue a televisão e verá um monte de débeis mentais se afofando num ringue. Mas… “os mansos herdarão a Terra” (Mateus 5:5), disse Jesus. Ser manso é domar os instintos e controlar a própria força, canalizar as energias para objetivos determinados.
- Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa.
As tradições dos judeus para comer a páscoa eram rígidas. Por isso evitavam entrar na casa de um estrangeiro, onde poderiam, de algum modo, se contaminar. Como eles ainda estavam comemorando a páscoa, não queriam se contaminar entrando do local dos romanos para não precisarem interromper as comemorações.
“Comer a páscoa” não quer dizer necessariamente “comer”, mas “participar” da páscoa. Entre nós, quando há uma celebração social ou algum evento como a inauguração de algum lugar, costuma-se dar uma festa, e às vezes esse tipo de festa é chamado “coquetel”. Mas num coquetel nem sempre se bebe coquetel, e, aliás, se nós verificarmos a origem da palavra “coquetel” ela vem do inglês e quer dizer “rabo de galo”. As palavras tomam diferentes conotações com o tempo. “Comer a páscoa”, então, é “festejar a páscoa”.
- Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem?
- Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
- Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.
O motivo de as autoridades judaicas terem procurado Pilatos era porque eles não tinham permissão de condenar à morte. Roma, que dominava a região dos judeus, permitiu que eles permanecessem com a sua religião e as suas leis, mas dentro de alguns limites. A pena de morte competia exclusivamente a Roma. A essa altura Jesus já estava condenado à morte pelos judeus. Eles precisavam apenas que Roma executasse a condenação.
- (Para que se cumprisse a palavra que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer).
Obviamente Jesus sabia como iria morrer. Sabia que o matariam, e sabendo que os judeus não podiam condenar a morte, restaria a ele a morte na cruz, que era a pena romana para os rebeldes. A crucificação era muito comum. Todos os dias alguém era crucificado. Jesus certamente aproveitou a cruz como um símbolo. Por isso ele evitou a sua morte em outras ocasiões – para que o símbolo da cruz fosse imortalizado.
Mas não podemos perder de vista que assim como Jesus não ensinava ao povo mais do que o povo podia entender naquele momento, mas ensinava os mistérios do reino aos seus discípulos, do mesmo modo o Evangelho tem mais de um nível de entendimento. O texto grego literalmente diz: “para que o Logos de Jesus se cumprisse”, ou melhor, “para que o Logos de Jesus fosse completado” – ou “plenificado”.
Embora já tenhamos considerado neste trabalho que Jesus é um espírito que desenvolveu plenamente o seu Cristo interno, não podemos ignorar que o progresso do espírito é infinito. O espírito é imortal e progride sempre. Negar isso é negar o bom senso. Jesus certamente cumpriu um importante passo na sua evolução ao encarnar na sua missão na Terra. É isso o que o texto diz claramente.
É claro que o evangelista faz menção, aqui, às previsões de Jesus acerca da sua morte. Mas este é o sentido superficial do texto.
- Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus?
- Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou disseram-to outros de mim?
Em Mateus 10:16, quando Jesus manda os seus apóstolos em missão, ele recomenda que eles sejam “mansos como as pombas e prudentes como as serpentes”. Jesus acabou de demonstrar mansidão ao não resistir ao tapa que o servo do sumo sacerdote lhe deu. Agora está demonstrando prudência.
Jesus precisa saber se Pilatos faz essa pergunta como representante da lei de Roma ou se faz essa pergunta baseado nas fofocas dos judeus. Se Pilatos estivesse se referindo ao que ouviu dos judeus, Jesus poderia dizer que era, sim, o rei, o messias esperado pelos judeus. Mas em termos da política de Roma, Jesus não é rei, pois o objetivo de Jesus não é um reinado material.
- Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?
- Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.
Pilatos deixa claro que está perguntando como representante do Império Romano, por isso Jesus esclarece que o seu reino não é deste mundo. Jesus não diz que não é rei. Jesus é rei, mas o seu reino não é um reino material como o de Roma. Já vimos que este Evangelho defende que Jesus é o governante deste mundo, o governante da humanidade terrestre – mas isso espiritualmente, num sentido cósmico, não tem nada a ver com o poder exercido pelos reis e pelos líderes religiosos que sentam-se em tronos de ouro e vestem suas roupinhas afetadas.
- Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
- Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.
Jesus confirma que é rei e diz que nasceu para dar testemunho da verdade. A verdade é o Cristo, e quem é da verdade, quem já tornou-se receptivo ao seu Cristo interno, ouve a voz de Jesus.
É interessante notar que Jesus falou com Pilatos em grego, pois Pilatos, como romano que era, certamente não falava o aramaico. Fica demonstrado mais uma vez que Jesus conhecia perfeitamente o grego, e sabendo que o seu Evangelho seria escrito em grego, utilizou-se de imagens e figuras de linguagem que levassem a sua mensagem mais profunda ocultada por trás das palavras aparentemente simples.
Depois disso Pilatos dirige-se aos judeus:
- Mas vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte o Rei dos Judeus?
- Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador.
Não há nenhum registro histórico sobre este costume de soltar um preso por ocasião da páscoa. Mas nada impede que isso acontecesse naquela época. Também não nenhuma menção a Barrabás fora dos Evangelhos.
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