Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Espiritismo, o consolador prometido por Jesus

Jesus disse que ainda tinha muito o que nos dizer, mas que nós não o suportaríamos. Não tínhamos preparo intelectual (e moral) suficiente para compreender a profundidade do seu ensinamento. 

Hoje, espiritualmente mais amadurecidos, temos condições de alcançar uma maior compreensão. O Espiritismo é a chave que nos proporciona o entendimento até então velado do Evangelho de Jesus.

Este é o 30º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 16

  1. Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis.
  2. Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.
  3. E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim.

Quando este Evangelho foi escrito, provavelmente entre os anos 90 e 100, as perseguições dos judeus aos primeiros cristãos já eram conhecidas de todos. O evangelista aproveita o discurso de Jesus para abordar um tema presente naquela época e que iria perdurar por muitos séculos – embora os cristãos (ou os que se diziam cristãos) passassem de perseguidos a perseguidores.

Nos primeiros séculos do Cristianismo os cristãos foram duramente perseguidos, tanto pelos judeus como por Roma. Jesus fala sobre a expulsão da sinagoga. Ser expulso da sinagoga não privava a pessoa apenas da vida religiosa, mas a isolava completamente da sociedade. Ela passava a ser desprezada por todos, não podendo entrar em contato com ninguém, dificultando ou mesmo impossibilitando a sua sobrevivência, pois ela não poderia comprar ou vender nada e ninguém poderia lhe dar esmola.

Depois da adoção do Cristianismo como religião oficial do Império Romano, em 380, alguns chamados cristãos – que de cristãos, mesmo, não tinham nada – passaram a perseguir todos os que pensavam diferente deles.

Desde o começo do Cristianismo havia várias correntes de pensamento, com concepções bem diferentes a respeito do Cristo e do ensino de Jesus. Essa diversidade foi esmagada pela corrente vitoriosa, que se tornou conhecida como Igreja Católica Apostólica Romana.

“(…) vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus” – os primeiros cristãos mortos pelo judaísmo foram mortos em nome de Deus – como Estevão, o primeiro mártir. Estevão foi morto em defesa de uma interpretação equivocada da Lei judaica. Séculos depois os cristãos fizeram a mesma coisa em proporções muito maiores. Julgaram, condenaram e executaram milhares de pessoas inocentes, que cometeram o erro imperdoável de pensar diferente.

Todos esses que cometem essas violências não conheceram nem a Jesus Cristo nem a Deus. Se conhecessem Deus e Jesus de verdade, jamais praticariam qualquer violência.

Muito poucos conhecem verdadeiramente o ensinamento de Jesus. Muitos dos que vivem esquentando a Bíblia debaixo do braço não têm a menor ideia do que seja o ensinamento de Jesus. Se apegaram a alguns conceitos deturpados inventados por teólogos e não conseguem ver nada além disso.

Os próprios apóstolos de Jesus tinham dificuldade de entendê-lo. Em Lucas 9:54, Tiago e João -o mesmo João que a tradição diz ser o autor deste Evangelho – queriam fazer descer fogo do céu sobre os samaritanos que não os receberam. Queriam que os samaritanos morressem queimados porque não os receberam.

Jesus não é compreendido nem por pessoas muito inteligentes e espiritualizadas. Acostumadas, talvez há várias reencarnações, a uma abordagem dos Evangelhos ao pé da letra, não conseguem ver nada além das letras mortas. E quando se permitem questionar, em vez de reverem o que aprenderam, negam tudo o que aprenderam.

  1. Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito. E eu não vos disse isto desde o princípio, porque estava convosco.
  2. E agora vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?
  3. Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza.

Quando Jesus começou os seus discursos de despedida, durante a ceia, os discípulos ainda não haviam percebido a gravidade de tudo que os esperava.

Em 13:36 Pedro pergunta: “Senhor, para onde vais?” – e logo em seguida diz que “colocaria a sua alma sobre Jesus”, ou, como costumam traduzir, “daria a sua vida por Jesus”. É então que Jesus o alerta de que antes que o galo cantasse Pedro o negaria por três vezes.

Tomé, logo depois, em 14:5, também quer saber para onde vai Jesus. Agora, diante das dificuldades previstas por Jesus para aqueles que o seguem, ninguém mais lhe pergunta para onde ele vai, todos se encheram de tristeza.

“Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito (…)” – a tradução correta é quando chegar “a” hora, não “aquela” hora. A expressão “aquela hora” pode dar a ideia de que se trata de um evento específico, e isso não é verdade. Jesus está alertando os seus discípulos de todas as épocas sobre as dificuldades que esperam aqueles que resolvem trilhar o seu caminho.

  1. Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei.
  2. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.
  3. Do pecado, porque não crêem em mim;
  4. Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais;
  5. E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.

Jesus diz que ele mesmo é quem enviaria o parakletos. Se ele envia, o parakletos não é ele mesmo – porque ninguém envia a si mesmo.

É preciso que Jesus vá para planejar e comandar o longo processo que culmina com a codificação do Espiritismo e a popularização dos conceitos propagados pelo Espiritismo. O Espiritismo é o parakletos, o consolador prometido por Jesus. Na verdade “consolador” não é o termo mais adequado.

Vamos lembrar que parakletos é a junção do prefixo pará, que quer dizer “ao lado”, “junto de”, “na presença de”, e do verbo kalein, que quer dizer “chamar”. Parakletos, então, é aquele que é “chamado da parte de alguém”, ou “chamado para ficar junto de alguém”. É o intercessor. A palavra “advogado”, originalmente, tem mais ou menos este sentido – do latim advocatus, “chamado junto de si”. É quem intercede em favor de alguém.

Para aqueles que ainda não compreenderam conceitos como a pluralidade dos mundos e da existências, a reencarnação e a Lei de causa e efeito, o permanente intercâmbio entre os planos astral e físico e a consequente comunicação entre encarnados e desencarnados, talvez não seja possível reconhecer que o Espiritismo seja o parakletos prometido por Jesus.

Mas para todos aqueles que se dizem espiritualistas e já compreenderam a realidade desses conceitos, é preciso que se diga que quando nos referimos aqui ao Espiritismo, não estamos defendendo uma religião espírita, ou a adoção dos preceitos kardekianos, ou a Doutrina Espírita como a última verdade – de jeito nenhum. As grandes verdades trazidas à luz pelo Espiritismo são eternas – o Espiritismo não.

O Espiritismo, assim como qualquer movimento filosófico ou religioso, tem o seu prazo de validade, que pode ser de séculos ou milênios. Mas conceitos como a reencarnação e a mediunidade só estão à disposição de todos de maneira clara e didática, livre de preconceitos arcaicos e superstições, graças ao surgimento do Espiritismo. Todos os grandes mistérios espirituais da Antiguidade, que eram segredo de pequenos grupos fechados, hoje estão abertos para todos que se disponham a estudá-los. 

Não desprezamos de modo algum outras escolas como a Teosofia, a Rosacruz, a Umbanda e tantas outras menos populares no Ocidente. Mas é o Espiritismo o responsável pela popularização desse conhecimento, da abertura desse conhecimento a um número maior de espíritos.

“E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo” – “convencerá” é a tradução de elenchei  (ελεγξει), indicativo futuro na voz ativa, terceira pessoa do plural do verbo elencho (ελεγχω), que é a evidência da verdade ou realidade de algo, normalmente baseada em debate ou discussão. Também pode ser traduzido como “controlar”, “examinar”, “rever”. É tudo o que o Espiritismo propõe: a “evidência da verdade ou realidade de algo”. Essa definição é de Louw e Nida.

O que é a revelação trazida pelo Espiritismo senão a evidência da verdade ou realidade do mundo espiritual? Isso não é mérito do Espiritismo como movimento, não é mérito de um homem ou um grupo de homens – isso é a revelação de uma realidade na época em que a humanidade atingiu as condições intelectuais necessárias para compreender esses fenômenos como algo totalmente de acordo com as Leis de Deus.

“(…) convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo” – temos que rever todos esses termos.

Hamartia (αμαρτια), traduzido como “pecado”, quer dizer “erro”. Referia-se, originalmente, à tentativa frustrada de acertar um alvo com o arco e flecha. Pecar, então, é errar, é a tentativa frustrada de acertar. O sentido de pecado que você conhece foi inventado pela igreja. Pecado é erro.

Dikaiosune (δικαιοσυνη), que quer dizer “justiça”, é melhor entendido como “justeza”. Ao falarmos de “justiça” associamos essa palavra a questões judiciais, a julgamentos. Mas dikaiosune, embora seja corretamente traduzido como “justiça”, só pode ser entendida como justiça de Deus se imaginarmos um deus antropomórfico aplicando justiça como um homem. A melhor tradução para nós é “justeza”.

A minha aliança de casamento fica justa no meu dedo. A sua justeza é tal que não sobra e nem falta espaço. Ela está perfeitamente ajustada ao meu dedo – não posso falar da “justiça” da aliança, pois não é de justiça que se trata, mas de “justeza”, “ajustamento”.

Krisis (κρισις), traduzido como “juízo”, nós já vimos várias vezes que seu significado é mais amplo do que apenas juízo. O verbo krino se refere a “escolha”, “critério”, “separação”, “discernimento”. Se eu tenho duas camisas e vou vestir uma, eu vou “escolher” uma camisa, vou utilizar um “critério” para essa “escolha”, vou “separar” a camisa que eu vou vestir da camisa que eu não vou vestir – não vou necessariamente “julgar” as camisas.

Jesus diz que o consolador convencerá o mundo “Do pecado, porque não crêem em mim (…)” – sabemos que pisteuó (πιστευω), que traduzem como “crer” é muito mais do que apenas crer. Pisteuó é ser fiel, é aderir totalmente, é sintonizar, entrar na mesma sintonia.

Então o parakletos, o consolador enviado, que é a revelação trazida pelo Espiritismo (não necessariamente o Espiritismo como movimento) vem “evidenciar a verdade e a realidade” do erro – do hamartia, que é errar o alvo. Nosso alvo é Deus. Hamartia, traduzido como pecado, é “errar o alvo”.

Queremos ser felizes. A felicidade está em Deus. Mas por conta das nossas inúmeras falhas de caráter nós erramos o alvo, não seguimos para Deus em linha reta, rumamos para outros alvos, às vezes opostos a Deus. Não acertamos o alvo, não entramos em sintonia com o nosso Cristo interno, que é Deus em nós.

A realidade do mundo espiritual, revelada universalmente pelo Espiritismo, coloca o erro em evidência. Através das comunicações dos espíritos desencarnados tomamos conhecimento das consequências dos erros cometidos na Terra, temos a prova do que Jesus disse: a cada um segundo as suas obras (Mateus 16:27).

Jesus diz que o consolador convencerá o mundo Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais (…)” – Jesus nos deixou o seu Evangelho, que nos acompanha há muitos séculos. Muito provavelmente todos nós já tivemos contato com o Evangelho de Jesus em outras existências. Fomos ensinados sobre o Evangelho de Jesus, mas não vemos Jesus. A imagem de Jesus que nos passam é a imagem de um Jesus morto numa cruz.

O ensino de Jesus é sobre o Cristo, e o Cristo está dentro de nós. Precisamos nos ajustar ao nosso Cristo interno. O parakletos vem “evidenciar a verdade e a realidade” do ajustamento, que acontece com todos nós, sem exceção.

Os grandes criminosos de hoje serão os santos de amanhã. É claro que este amanhã pode levar milhões de anos para chegar. Mas todos nos regeneramos – nosso destino é a felicidade, todos nos ajustaremos ao Cristo que habita dentro de cada uma de nós.

A revelação trazida pelo Espiritismo nos mostra que o espírito jamais regride. O espírito pode permanecer estacionário, mas jamais retrograda, não perde nada do que acumulou intelectual e moralmente. A cada nova existência aprende algo novo, num longo processo de aperfeiçoamento, ajustando-se pouco a pouco ao seu Cristo interno.

Jesus diz que o consolador convencerá o mundo “(…) do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado” – vimos que o príncipe deste mundo não é o diabo, como dizem, mas é o próprio Jesus. De acordo com este Evangelho, Jesus é o governante deste mundo.

O parakletos vem “evidenciar a verdade e a realidade” do discernimento, porque “o governante deste mundo é escolhido” – Jesus não é Deus e Jesus não é o governante da Terra por um favor ou acaso da sorte. Jesus foi escolhido pelo seu grau de adiantamento. Cada planeta, cada sistema planetário, cada galáxia tem o seu governante, escolhido de acordo com a sua capacidade. Assim como Jesus é o escolhido para governar a Terra de acordo com um critério justo, nós temos que adquirir o hábito de discernir e escolher sempre o melhor, sempre o que estiver mais ajustado às Leis de Deus, para evitarmos o erro e desenvolvermos o nosso Cristo interno.

  1. Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.

Este é um dos versículos mais importantes para quem, como nós, não interpreta os Evangelhos ao pé da letra. Jesus não nos revelou tudo porque não tínhamos condições intelectuais suficientes para compreender naquele tempo. Somos os mesmos espíritos daquele tempo, já estávamos na Terra há muito tempo quando Jesus esteve encarnado entre nós.

Há quem acredite que o parakletos prometido por Jesus fosse o espírito santo, e que essa promessa se cumpriu no Pentecostes. Se não tínhamos condições de suportar maiores ensinamentos de Jesus no dia em que ele declarou isso, é claro que não teríamos adquirido essas condições apenas 52 dias depois.

  1. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.

O espírito de verdade, como já vimos, é o próprio espírito de Jesus. Jesus, que este Evangelho nos apresenta como governante do mundo, coordenou a codificação do Espiritismo.

É muito importante destacar que o Espiritismo não é a salvação da humanidade, o Espiritismo não é de Allan Kardec – o Espiritismo não é a religião do futuro, mas é o futuro das religiões. O importante não é o Espiritismo como movimento, ou como religião ou como Doutrina. O importante é a divulgação dos conhecimentos espirituais proporcionados pelo Espiritismo.

O importante não é seguir o Espiritismo, o importante é seguir Jesus. Mas para quem não aceita os dogmas embolorados e as teologias que se sobrepõe umas às outras e ficam cada vez piores, o Espiritismo oferece um amplo campo de pesquisa e aprendizado capaz de fazer despertar de dentro de nós mesmos o entendimento mais profundo do ensinamento do Cristo.

“(…) porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” – o espírito de verdade não falará de si mesmo assim como Jesus não falou de si mesmo, conforme ele nos afirmou em 12:49-50:

“Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito”.

“(…) ele vos guiará em toda a verdade (…)” – vamos lembrar do significado da palavra verdade? Verdade, no Evangelho, é a tradução da palavra grega alétheia. Alétheia é definido como “verdade”, “realidade”, “sinceridade” – mas o seu sentido aqui é muito mais profundo. Alétheia é composto pelo prefixo a com o sentido de negação e a palavra léthe, que quer dizer “esquecimento”. Da palavra grega léthe é formada a palavra “letargia”, que é um estado mórbido com a aparência de morte. Então alétheia é o despertamento, o desvelamento do que estava esquecido – é despertar da letargia, sair do torpor da letargia, deixar o estado de morte aparente do espírito e despertar para a verdadeira vida.  A nossa verdadeira vida é a vida espiritual, e é isso que o Espiritismo nos revela com toda clareza.

  1. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.

Nós temos insistido sobre a má escolha das palavras “glória” ou “glorificar” para traduzir o substantivo doxa (δοξα) e o verbo doxazó (δοξαζω).

Jesus não buscava a glória, pelo contrário, foi exemplo de humildade. Antes de iniciar esses discursos de despedida, Jesus lavou os pés dos seus discípulos, para que ficasse registrada a importância da humildade (João 13:12). Em vez de “ele me glorificará”, uma tradução mais condizente com o ensino de Jesus e com o contexto desta declaração é “ele me fará reconhecer”. Jesus será reconhecido através do espírito de verdade – pois o espírito de verdade é o próprio Jesus.

  1. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.

Jesus representa o Cristo. Jesus é o espírito que desenvolveu plenamente o seu Cristo interno. O Cristo é a manifestação de Deus no mundo sensível, tudo o que é de Deus é do Cristo, pois o Cristo é Deus manifestado.

  1. Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai.
  2. Então alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai?
  3. Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não sabemos o que diz.
  4. Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis?
  5. Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.
  6. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.
  7. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.
  8. E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar.

Depois de três anos de companhia, Jesus ia deixar os seus discípulos sem a sua presença física ao lado deles.

Jesus se utiliza do exemplo da gravidez, do parto e do nascimento para ilustrar o desenvolvimento do nosso Cristo interno. Assim como os discípulos se tornaram, até certo ponto, dependentes da figura de Jesus, nós somos ou já fomos, em algum momento, dependentes de algum líder religioso – seja o padre, o pastor, um médium, um guru qualquer.

Mas não podemos ser dependentes de que alguém nos guie. Nosso guia está dentro de nós mesmos, é o nosso Cristo interno. O desenvolvimento do Cristo que habita em nós é semelhante ao exemplo oferecido por Jesus, da gravidez, do parto e do nascimento: a gravidez requer cuidados especiais e eventualmente causa incômodos; a hora do parto é de choro e lamentação; mas o nascimento da criança faz esquecer a aflição.

O Cristo habita em nós em estado latente, em estado embrionário. O trabalho de fazer nascer efetivamente o Cristo dentro de nós é o nosso maior desafio. É para isso que estamos aqui.

“(…) a vossa tristeza se converterá em alegria” – na verdade, a vossa tristeza “gerará” a alegria. A tristeza de hoje, se bem aproveitada, é causa da alegria de amanhã. A alegria de hoje pode ser consequência da tristeza corajosamente enfrentada de ontem. Como disse Jesus na segunda bem-aventurança, “bem aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus 5:4).

Isso corrobora mais uma vez a Lei de causa e efeito. Vivemos em um mundo de provas, temos que suportar as provas e aprender com elas para nos capacitar para os estágios seguintes. 

  1. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra.

A natureza dos pedidos que fazemos em nome do Cristo é espiritual, como vimos quando comentamos o capítulo 14.

  1. Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai.
  2. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;
  3. Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus.
  4. Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.

Essa declaração de Jesus pode ser entendida em dois níveis: num estágio mais imediato, nós constatamos que alcançamos, hoje, condições de compreender um ensino mais direto, sem a necessidade de figuras fortes para aguçar a nossa imaginação. Mas o sentido mais elevado dessa declaração é que quando nós tivermos desenvolvido o nosso Cristo interno, estaremos em comunhão com Deus, e o próprio Cristo que habita em nós nos falará do Pai, ou seja, conheceremos Deus dentro de nós mesmos. Não precisaremos de mais nenhum intermediário, pois estaremos em plena harmonia com Deus.

  1. Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma.
  2. Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.
  3. Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?

O versículo 31 é traduzido como se fosse uma pergunta. Lembramos que os manuscritos gregos não têm sinais de pontuação. Jesus não está fazendo uma pergunta, está afirmando: “Agora sintonizais, agora estais na mesma sintonia que eu”.

Traduzir pisteuó (πιστευω) invariavelmente como “crer” é um empobrecimento das ideias de Jesus. “Crer” os seus discípulos já criam nele – se não cressem em Jesus não estariam seguindo Jesus há três anos. É evidente que aqui não se trata de “crer”, mas de “sintonizar”, captar com o seu entendimento o entendimento de Jesus, estar em harmonia com o pensamento de Jesus.

  1. Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo.
  2. Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.

Tharseite (θαρσειτε), imperativo presente, na voz ativa, segunda pessoa do plural do verbo tharseo θαρσεω, traduzido aqui como “tende bom ânimo”, se refere à coragem com que devemos suportar as provas. Uma tradução mais clara seria “sede corajosos”.

“(…) eu venci o mundo” – “venci” é a tradução de neníkeka (νενικηκα), indicativo perfeito, na voz ativa, primeira pessoa do singular do verbo nikao (νικαω) (que originou a marca de tênis Nike), que quer dizer exatamente “vitória”, “conquista”. Jesus venceu o mundo não como quem vence uma luta. Jesus “conquistou” o mundo.

Podemos pensar, numa análise superficial, que isso não pode ser verdade, pois há tantos crimes e injustiças no mundo. Nós contamos o tempo baseados nas poucas décadas que passamos encarnados no plano físico. Para Jesus estes dois milênios que se passaram desde que ele esteve encarnado entre nós são dois dias.

Estamos agora em plena transição planetária. Mudanças importantes estão acontecendo no nosso mundo. Por estarmos imersos no mundo, nós não percebemos claramente o que está acontecendo, mas nós vivemos uma transformação sem precedentes. Nós temos o privilégio de viver durante esse período de transição planetária.

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