Há um pensamento atribuído a Sêneca que é mais ou menos assim: “Precisamos escolher algum homem bom, tendo-o sempre diante do olhos, para que vivamos como se ele nos vigiasse e para que pratiquemos tudo como se ele nos estivesse vendo”.
Sabemos que antigamente (talvez hoje, ainda) as mães assustavam os filhos com a ideia de que Deus via tudo o que elas faziam. Raul Seixas retrata isso em Paranóia, que você pode ouvir clicando sobre o título da música (mas depois, primeiro leia o artigo…).
Os espíritas foram acostumados com a ideia do espírito protetor, uma espécie de anjo da guarda que nos observa. Mas isso não parece servir de fator inibidor para as más ações. É importante lembrar que nós não temos nenhum espírito designado para ficar 24 horas por dia conosco. Não somos assim tão importantes, e o espíritos desencarnados têm mais o que fazer do que servir de babá para encarnados teimosos.
A ideia de Sêneca é ótima. Imagine alguma pessoa que você ache realmente boa. Vamos simplificar as coisas: Chico Xavier. Duvido que você faria qualquer coisa de que pudesse se envergonhar se o Chico estivesse olhando pra você. Se o Chico estivesse ao seu lado, você iria se segurar e não faria fofoca do seu colega ausente para o seu colega presente. Talvez nem pensasse mal do seu colega. Se o Chico estivesse ao sua lado, você certamente seria mais sorridente e atencioso com a sua família, e não faria isso por fingimento: agiria naturalmente, influenciado pela presença e pela opinião indutora de alguém que você acha bom. Você não xingaria ninguém no trânsito se o Chico estivesse ao seu lado; tenho certeza.
Por que não somos capazes de agir normalmente assim? Por que não somos capazes de agir como sabemos ser o certo se não estivermos sendo vigiados? Na verdade, somos capazes, sim. E, na verdade, somo vigiados, sim. Somos vigiados por nós mesmos. Você é vigiado por você mesmo. A sua consciência registra absolutamente tudo o que você sente, pensa, fala e faz. O que acontece é que você ainda não dá importância de verdade à sua consciência. Raul Seixas ficava paranoico por achar que Deus estaria vendo tudo o que ele fazia. Mas Deus está dentro de nós. Nossa consciência é Deus em nós. Não devemos explicação a ninguém além da nossa própria consciência, e, no entanto, não damos a ela a importância devida.
Quando percebermos realmente que o que fazemos de errado estamos fazendo, em primeiro lugar, a nós mesmos, teremos mais cuidado com os nossos atos. O pouco caso que fazemos de nós mesmos se deve, pelo menos em parte, ao fato de nos acharmos maus. Foi implantado em nossas mentes, durante séculos, que somos pecadores. Não nos achamos dignos de credibilidade e respeito.
Mas nós somos partículas divinas, essa é a verdade. Somos manifestações de Deus a serem desenvolvidas. Somos bons em essência, pois nossa essência é Deus.
O homem bom, que Sêneca propõe que escolhamos, somos nós mesmos, cada um de nós. Nós temos totais condições de sermos nossos próprios fiscalizadores. Quando pensar em fazer uma bobagem, lembre-se: Você está vendo o que você está fazendo…