Jesus prometeu que enviaria outro consolador. A maior parte dos cristãos acredita que o consolador prometido por Jesus seja o espírito santo, e que a sua promessa se cumpriu no dia de Pentecostes. Neste vídeo, o 27º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João, nós demonstramos porque essa interpretação é equivocada e contraria as próprias palavras de Jesus.
Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.
JOÃO 14:15-27
- Se me amais, guardai os meus mandamentos.
- E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre;
- O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.
Os versículos 15 e 16, mais o versículo 26 deste capítulo 14, são alvo de muita discussão e de interpretações muito diferentes. Não temos a pretensão de sermos donos da verdade. A verdade, em nosso estágio evolutivo, é relativa. Mas vamos tentar compreender, a partir do pouco conhecimento de que dispomos, o que dizem estes versículos.
A primeira coisa que temos que ter em mente é que o Evangelho foi escrito em grego. Muitas análises são feitas sobre traduções em português, emitindo juízos peremptórios sobre palavras que nem sempre correspondem ao seu significado original.
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador (…)” – “consolador” é a tradução de parakletos (παρακλητος). Parakletos é a junção do prefixo pará, que quer dizer “ao lado”, “junto de”, “na presença de”, e do verbo kalein, que quer dizer “chamar”. Parakletos, então, é aquele que é “chamado da parte de alguém”, ou “chamado para ficar junto de alguém”. É o intercessor. A palavra “advogado”, originalmente, tem mais ou menos esse sentido: do latim advocatus, “chamado junto de si” – é quem intercede em favor de alguém.
αλλον παρακλητον – outro parakletos. Se é outro, é porque já havia um. Quem é que exercia este papel de intercessor a que Jesus se referia? Poderíamos pensar que fosse o próprio Jesus. Jesus, o espírito que desenvolveu plenamente o seu Cristo interno, era pura manifestação do Cristo. Mas todos temos o Cristo dentro de nós, Jesus sabe disso, Jesus nos ensinou isso. Então compete a nós mesmos o desenvolvimento do nosso Cristo interno. E para isso Jesus nos trouxe o seu Evangelho. O Evangelho de Jesus, então, é o parakletos que Jesus nos trouxe com a sua encarnação.
Agora Jesus promete “outro parakletos”. Quem é o outro parakletos prometido por Jesus? O versículo 26 diz assim: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.
O versículo diz que o parakletos é o “espírito santo” – é importante que se diga algumas palavras sobre o espírito santo.
Na maior parte das vezes em que nas traduções em português aparece “o” espírito santo, na verdade a tradução deveria ser “um” espírito santo (ou, como São Jerônimo traduziu na Vulgata Latina, “um espírito bom”), pois nessas passagens o texto original grego traz “espírito santo” escrito sem artigo.
Os Evangelhos foram escritos originalmente em grego. O grego não tem artigo indefinido, só artigo definido. Quando se trata de algo ou alguém específico, costuma-se usar o artigo. Mas nas 19 vezes em que aparece o termo “espírito santo” nos Evangelhos, 12 aparecem sem artigo.
Não se trata, portanto, do espírito santo como uma das três pessoas de Deus – aliás, a santíssima trindade foi um invenção dos homens, e se estabeleceu na Igreja a partir dos Concílios de Niceia e Constantinopla.
Este é o único versículo da Bíblia que associa o parakletos ao espírito santo. No Evangelho de João há apenas três passagens que falam de espírito santo: Em 1:33, quando João Batista diz que Jesus batizava (ou mergulhava – “batizar” quer dizer “mergulhar”) num espírito santo; em 20:22, quando Jesus assopra sobre os seus discípulos e diz a eles: “recebei um espírito santo”; e nesta passagem, em 14:26.
Esta, então, é a única vez, no Evangelho de João, em que há o termo “espírito santo” com artigo, podendo dar a entender que se trata de um ser definido – ao mesmo tempo em que o associa ao parakletos (ou “o consolador”) prometido por Jesus.
Em 16:7, Jesus diz que é preciso que ele vá, pois se ele não for, o parakletos não virá. O texto não deixa dúvida: se Jesus não for, o paraketos não virá.
Como Jesus ainda não tinha ido, e o chamado “espírito santo” já tinha se manifestado várias vezes (como vemos neste e nos outros Evangelhos), o parakletos (que uns chamam de consolador) definitivamente não é o espírito santo como um ser definido, um ser único, ou como “uma das três pessoas de Deus”.
Vamos ver isso novamente. Se cada vez que aparece a expressão “espírito santo” nos Evangelhos a referência fosse a um ser definido ou a uma das três pessoas de Deus, nós teríamos aqui uma contradição gritante por parte de Jesus, pois em 16:7, Jesus diz que é preciso que ele vá, pois se ele não for, o parakletos não virá.
Se Jesus precisava morrer primeiro para depois se manifestar o espírito santo, como é que em Lucas 11:13 Jesus diz que Deus dá o espírito santo a quem o pedir?
“Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”
Aqui é Jesus falando e isso era válido para qualquer momento, Jesus não disse que só teria espírito santo quando ele morresse. Aliás, há várias alusões ao espírito santo durante a vida de Jesus, logo, o espírito santo não é um ser definido, único, e nem é uma das três pessoas de Deus.
A palavra “santo”, na Bíblia, quer dizer “voltado para Deus”, “separado para Deus”, “dedicado a Deus”.
Mesmo assim, aqueles que se acostumaram a acreditar que o parakletos (ou o consolador prometido por Jesus) seja o espírito santo, podem argumentar que essa promessa de Jesus se cumpriu no dia de Pentecostes, que o espírito santo desceu no dia de Pentecostes e que então ele era o parakletos.
O que nós vemos neste episódio de Pentecostes, narrado por Lucas em Atos dos Apóstolos 2:1-4, são manifestações mediúnicas. Houve um desenvolvimento rápido e generalizado das faculdades mediúnicas daquelas pessoas, como meio de facilitar as tarefas de que eles estavam incumbidos.
Mas não vemos ali nenhum ensinamento novo. Jesus disse que o parakletos viria nos ensinar todas as coisas – e no Pentecostes não foi ensinado nada, então é evidente que o que houve no dia de Pentecostes não foi obra do parakletos. Se fosse o parakletos, ele teria cumprido o que Jesus disse dele – que ele ensinaria todas as coisas e lembraria aquilo que foi esquecido.
Aliás, não seria necessário alguém lembrar os ensinamentos de Jesus 52 dias depois da sua morte. Será que em tão pouco tempo eles teriam esquecido o ensinamento de Jesus? Ficaram três anos com Jesus recebendo os seus ensinamentos e iriam esquecer tudo em menos de dois meses?
Se o parakletos viria para “ensinar todas as coisas”, é porque Jesus não ensinou tudo. Se Jesus não ensinou tudo, é porque não estávamos preparados para compreender certas coisas há dois mil anos, quando Jesus esteve encarnado entre nós. Será que 52 dias depois eles já estavam preparados? Uma criança sai do jardim da infância, tira 52 dias de férias e vai direto para a faculdade? Ou ela tem um longo período de aprendizados necessários até chegar à faculdade?
E será que em 52 dias tudo o que Jesus falou teria que ser lembrado? Não será mais lógico pensar que o seu ensinamento deveria ser lembrado muitos séculos depois, quando o seu ensino tivesse sido deturpado pelos dogmas, obscurecido pelo fanatismo religioso?
O que houve no dia de Pentecostes não cumpriu em nada o que Jesus falou sobre o parakletos, o consolador prometido.
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” – “fique” (em “fique convosco para sempre”) é a tradução do verbo meno (μενω), derivado do substantivo mone (μονη), traduzido no versículo 2 deste capítulo como “moradas”, quando Jesus diz “na casa de meu pai há muitas moradas”. Na casa de meu Pai há muitas “permanências”, muitas permanências diferentes.
Jesus promete o parakletos (ou consolador) para que “permaneça” conosco. A tradução diz “(…) para que fique convosco para sempre” – “sempre” é uma das traduções do substantivo grego aión (αιων). É a mesma que é traduzida com o sentido de “eterno”, quando se fala em “vida eterna” neste Evangelho. Mas aión, tradicionalmente, na literatura grega, se refere a “um período de tempo”. Traduzir como “para sempre” não é uma boa escolha – pelo menos não hoje, quando temos uma noção um pouquinho mais clara a respeito de nossas falhas e do tempo incalculável que levaremos para evoluir razoavelmente.
Este consolador, o parakletos, é uma das moradas de Deus, é uma das permanências de Deus, então vai permanecer conosco durante um determinado período de tempo, durante uma “era”, que é uma tradução mais adequada para aión – esta palavra só é traduzida com este sentido de “eternidade” no Evangelho. É um problema de tradução. Como já assinalamos, na literatura grega anterior a Jesus, na Septuaginta, nos pais da Igreja, em lugar nenhum aión tem o sentido de eternidade.
Então Jesus pedirá a Deus e Deus nos dará um outro parakletos. Se é outro é porque já havia um, e este um é o Evangelho, a boa nova trazida por Jesus.
Vamos ler os versículos 16 e 17 novamente para ver se descobrimos quem é o parakletos:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” – a leitura destes dois versículos em sequência dá a impressão de que o consolador é o “espírito de verdade”. Neste mesmo capítulo, no versículo 6, Jesus diz: “eu sou o caminho, e a verdade e a vida” – Jesus está falando em nome do Cristo, é o Cristo em Jesus que afirma isso. Jesus, o espírito plenamente cristificado, é o caminho, e a verdade e a vida. Sabemos, então, quem é o espírito de verdade.
Vamos ver o que Jesus diz em 16:12-13:
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir”.
Jesus deixa claro que não nos ensinou tudo e que o nosso aprendizado terá continuidade, e que o continuador será o “espírito de verdade”.
Jesus diz que o espírito de verdade não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido -a mesma coisa que Jesus mais de uma vez diz a respeito de si mesmo, como neste mesmo capítulo que estamos estudando, no versículo 10: “As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo”.
Ainda neste capítulo, no versículo 3, Jesus diz que vai voltar:
“E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”.
Se Jesus diz que vai voltar; se Jesus diz que não nos ensinou tudo, mas que o espírito de verdade nos guiará em toda a verdade; e, principalmente, se Jesus disse que “ele” é a verdade, o “espírito de verdade” é o próprio Jesus.
Alguém poderia alegar que Jesus não está falando de si mesmo porque fala no espírito de verdade na terceira pessoa. Mas isso Jesus faz muitas vezes nos Evangelhos, como quando refere-se a si mesmo como “o filho do homem”. Jesus se utiliza da linguagem na terceira pessoa para possibilitar níveis de entendimento mais profundos, pois assim percebemos que “filho do homem”, “filho de Deus”, “espírito de verdade”, embora sejam designações usadas para identificar a ele mesmo, também são características intrínsecas a todos nós, são níveis evolutivos, são possibilidades que temos dentro de nós em estado latente.
Mas o espírito de verdade não pode ser o próprio consolador, pois Jesus diz que “o Pai nos dará outro consolador”. O consolador presente enquanto Jesus esteve encarnado, e que está presente até hoje, é o Evangelho.
Jesus diz que vai voltar; Jesus diz que é a verdade; o espírito de verdade vem nos guiar em toda a verdade. Já falamos várias vezes sobre a palavra “verdade”. Verdade é a tradução da palavra grega alétheia (αληθεια). Alétheia é o despertamento, o desvelamento do que estava esquecido. Exatamente o que é dito do consolador. O consolador vem lembrar o que estava esquecido, vem tirar o véu do esquecimento, vem descobrir o que estava oculto por trás do véu do esquecimento.
Esse é o papel da verdade. Somos partículas de Deus, temos o conhecimento de nossa natureza espiritual e divina dentro de nós em estado latente. O papel da verdade é tirar o véu do esquecimento, é “desvelar” aquilo que está oculto, é “revelar” o conhecimento adormecido. Estamos no estado de letargia (léthe + orge) espiritual, esquecidos da nossa verdadeira natureza espiritual e divina.
Essa promessa de Jesus se cumpriu com o advento do Espiritismo. O Espiritismo é o consolador prometido por Jesus. A codificação do Espiritismo, coordenada pelo Espírito de Verdade, veio nos ensinar todas as coisas a respeito da nossa natureza espiritual e veio nos lembrar dos ensinamentos de Jesus que tínhamos esquecido.
Depois de dezoito séculos de disputas, de dogmas, concílios, cisões, reformas e contra-reformas, depois de termos deturpado o ensino de Jesus colocando a salvação fora de nós, dependente da aceitação de dogmas inventados pelos homens, o Espiritismo, o consolador prometido por Jesus, vem nos lembrar o ensino do Cristo, que é o que realmente importa para a nossa auto-salvação – porque somos nós mesmos que nos salvamos, através do cumprimento, em nossa vida diária, de tudo o que Jesus nos ensinou.
Como é evidente que não somos capazes, ainda, de colocar todo o ensino de Jesus em prática, o consolador prometido por Jesus nos ensina (ou nos lembra) a reencarnação, o intercâmbio entre os espíritos encarnados e desencarnados, e inúmeros outros conhecimentos que não estávamos preparados para compreender há dois mil anos.
Muitos ainda não estão preparados, mas isso é questão de tempo. A verdade há de prevalecer, sempre. Todas as Leis da ciência um dia foram desconhecidas pelo homem. Quando foram descobertas, enfrentaram o ceticismo e o deboche. A própria Igreja, que por muitos séculos se fez detentora do ensino de Jesus (e temos que reconhecer que devemos a ela a preservação e divulgação do Evangelho), no passado, quando éramos ainda mais imaturos intelectual e moralmente, condenou e matou muitos que contrariavam os seus dogmas.
Um exemplo famoso é Giordano Bruno, que foi condenado à morte na fogueira por defender, entre outras coisas, que o Universo era infinito, e também Galileu Galilei, que sustentava que a terra girava em torno do Sol (quando na época acreditava-se que a Terra era o centro do mundo) e teve que abjurar, desmentir-se para escapar da condenação.
É por isso que o Espiritismo, o consolador prometido por Jesus, só surgiu no século XIX. Foi preciso que a Revolução Francesa abalasse os alicerces do mundo antigo e medieval, para que o pensamento humano se libertasse da prisão dos dogmas e se expandisse na ciência
e na filosofia. Se observarmos a História, desde o tempo de Jesus até a Revolução Francesa praticamente não houve mudanças. O mundo só começou a mudar na virada do século XVII para o século XVIII, e a partir daí, com o Positivismo de Augusto Comte, na mesma França da Revolução e de Allan Kardec, os homens se encorajam cada vez mais a buscar explicações, a não mais aceitarem dogmas e verdades prontas.
No período em que surgiam as ciências modernas, que mudariam definitivamente a vida no planeta com suas inúmeras invenções e descobertas, surgiu também o Espiritismo, como uma doutrina continuadora do ensinamento de Jesus, capaz de oferecer um amplo campo de pesquisas para a resolução dos problemas do homem.
É natural que quem não conhece o Espiritismo não o reconheça como o consolador prometido por Jesus. Mas uma leitura e uma análise livre de conceitos pré-concebidos de apenas dois livros: O Livro dos Espíritos e O Evangelho segundo o Espiritismo, costuma fazer muitas pessoas mudarem de ideia. As ideias são trazidas com lógica a clareza, totalmente expostas ao exame crítico.
O Espírito de Verdade, que se comunicou com Allan Kardec através de vários médiuns, é o próprio Jesus? Nada impede que seja. Particularmente, pela incalculável superioridade de Jesus, e a consequente distância vibratória entre ele e nós, acreditamos que Jesus sirva-se de trabalhadores da sua causa para se comunicar. O espírito que se apresentou como Espírito de Verdade pode ser um medianeiro, um porta-voz de Jesus. Mas isso não afasta o fato de que o Espiritismo é o consolador prometido por Jesus.
Como disse Leon Denis, o Espiritismo não é a religião do futuro, mas é o futuro das religiões. O Espiritismo não vai durar para sempre, assim como nenhuma religião vai durar para sempre. Mas os seus ensinamentos (que são os ensinamentos do Cristo, não mais em forma de parábolas e símbolos, mas abertamente e com todas as letras) serão adotados por todos, mais cedo ou mais tarde. Isso pode levar muitos séculos, e para isso precisaremos reencarnar ainda muitas vezes.
Vimos que a leitura em sequência dos versículos 16 e 17 dá a impressão de que o consolador e o espírito de verdade são o mesmo. Isso se deve ao modo como foram traduzidos esses versículos. Embora a sua tradução não esteja incorreta, temos que lembrar que os manuscritos originais não tinham sinais de pontuação. Vamos, então, fazer uma releitura, respeitando criteriosamente o texto grego:
“Se me amais, guardai os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro parakletos, para que fique convosco para o aión. O espírito de verdade o mundo não pode aceitar, porque não o contempla nem o conhece; mas vós o conheceis, porque permanece convosco, e estará em vós”.
Nesta releitura, em que a gramática grega foi totalmente respeitada, vemos que Jesus aborda duas coisas: uma, é que Deus nos dará outro parakletos para que fique conosco no aión, ou seja, “durante uma era”. E a outra, é que “o mundo não pode aceitar o espírito de verdade”. O mundo não o aceita porque não o contempla, não o percebe com os seus sentidos físicos, e porque não o conhece, não o percebe intimamente. Mas os discípulos de Jesus, assim como muitos espíritos encarnados e desencarnados, o conhecem, porque ele está dentro de nós – o espírito de verdade permanece em nós, habita em nós.
- Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.
- Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis.
Jesus está dizendo novamente que vai voltar. Mas é evidente que Jesus não voltaria em carne e osso. Jesus já esteve aqui em carne e osso uma vez, não teria por que repetir sua missão.
“Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais (…)” – no original os verbos estão no presente: “o mundo não me vê, mas vós me vedes”.
Também é possível compreender esta passagem mais ou menos assim: “Ainda pequeno, o mundo não me vê, mas vós me vedes” – o Cristo interno das pessoas do mundo sendo ainda muito pequeno, não é percebido por elas. Por isso em 16:12 Jesus diz que teria ainda muitas coisas para nos dizer mas que nós não suportaríamos. Suportamos as verdades proporcionalmente ao tamanho do nosso Cristo interno, ao desenvolvimento do nosso Cristo interno.
- Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
Um “dia”, na Bíblia, não é necessariamente um período de 24 horas. O Gênesis diz que Deus fez o mundo em seis dias. É claro que esses “seis dias” representam seis períodos geológicos. Jesus diz que vai voltar – e nesse período, nessa era, nós perceberemos a comunhão entre o Creador e as suas creaturas: “Eu em meu Pai, e vós em mim e eu em vós”.
- Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
- Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?
- Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.
- Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.
O verbo emphanizó (εμφανιζω), traduzido como “manifestar”, é formado a partir da raiz phos (φως), que quer dizer “luz” – emphanizó é “fazer brilhar”. Jesus diz que manifestará a si mesmo, ou seja, fará brilhar a sua própria luz, a luz do Cristo, naqueles que o amarem.
Na pergunta de Judas fica nítida a distinção entre os discípulos de Jesus e “o mundo”. “O mundo” representa aqueles que não estão preparados para receberem o ensinamento do Cristo.
“(…) Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” – “palavra” é a tradução de logos. Somos todos casas de Deus, moradas de Deus. Mas só somos efetivamente habitados por Deus se tivermos consciência disso, se nos conscientizarmos da nossa natureza divina.
- Tenho-vos dito isto, estando convosco.
- Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.
- Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
Jesus faz distinção entre a paz do Cristo e a paz do mundo. O paz do Cristo é interna, íntima – não é a ausência de problemas e dificuldades, mas a coragem de conviver com os problemas e dificuldades.
“(…) aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome (…)” – já vimos que o “espírito santo”, mencionado aqui, não pode ser uma das três pessoas de Deus e nem ser um ser único. O espírito santo é o espírito voltado para Deus, dedicado a Deus. A expressão “o espírito santo” representa os espíritos dedicados a Deus, os mensageiros de Deus, os trabalhadores da causa do Cristo.
A Doutrina Espírita foi revelada por esses espíritos. Não que a Doutrina Espírita seja a detentora da Verdade, ou que os espíritos responsáveis pela codificação do Espiritismo sejam superiores aos espíritos responsáveis por quaisquer outras correntes de pensamento. O que importa não é o Espiritismo como movimento – isso é passageiro, é transitório. O que importa é o conjunto de verdades que nos foram reveladas em várias partes do mundo, através de pessoas que não se conheciam, e que hoje cada vez mais ganham espaço. Verdades como a imortalidade do espírito, a reencarnação e a comunicação entre espíritos encarnados e desencarnados são reconhecidas por milhões de pessoas que professam religiões que tradicionalmente não acreditam nisso.
Por que “o espírito santo” e não “os espíritos santos”, se a Doutrina é “dos espíritos”? Pelo mesmo motivo pelo qual dizemos que o homem foi à Lua, que o homem faz guerra, que o homem destrói o planeta. Eu não destruo o planeta, não faço guerra e não fui à Lua (pelo menos não ainda), e, no entanto, sou homem. Quando dizemos que “o homem” foi à Lua, estamos generalizando: o ser humano conquistou a proeza de ir à Lua, o homem é capaz de ir à Lua.
Vemos isso também no Gênesis, quando Deus fez “o” homem.
Assim o Evangelho se refere aos “espíritos voltados para Deus”. O espírito dedicado a Deus, que faz a vontade de Deus, é o espírito santo. Um dia todos seremos espíritos santos.
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