Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Eu sou o pão da vida – uma visão espírita

O discurso de Jesus conhecido com “o pão da vida” é um dos mais famosos do Evangelho. Essa afirmação de Jesus não há como ser compreendida ao pé da letra. Sem as “chaves” que proporcionam o entendimento adequado, são apenas palavras fortes de sentido obscuro. 

Este é o 13º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João, em que ofereço minha interpretação pautada pelo conhecimento dos Evangelhos, inclusive do original grego, e do Espiritismo.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 6:28-71

  1. Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus?

Jesus aconselha o trabalho pelo pão do espírito, eles perguntam que trabalho é este. Literalmente a pergunta é: “que faremos para trabalhar o trabalho de Deus?” – ou: “que faremos para obrar a obra de Deus?”

  1. Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.

Esta tradução nos oferece um entendimento muito simplório do tema que Jesus está tratando. Dos versículos 27 a 29 o verbo ergazomai (εργαζομαι) que quer dizer “trabalhar” e o substantivo ergon (εργον), que quer dizer “trabalho”, aparecem quatro vezes. Ergon é normalmente traduzido como “obra”.

Vamos recapitular: Jesus diz para “obrar não pelo pão que perece, mas pelo pão que permanece”. Perguntam a ele o que devem fazer para “obrar as obras de Deus”. E Jesus diz que “a obra de Deus é crer naquele que Deus enviou”.

Temos que chamar a atenção para dois fatores: quando eles perguntam a Jesus o que devem fazer para obrar as obras de Deus eles estão se referindo às obras da lei. Jesus está tratando de um assunto essencialmente espiritual, mas os judeus da época ainda estavam presos à lei de Moisés, e pensaram que Jesus estivesse se referindo a alguma coisa relacionada à lei, a exigências religiosas. Outro fator que deve ser considerado, e que já mencionamos outras vezes neste estudo, é a tradução do verbo grego pisteuó (πιστευω) pelo verbo “crer”. A obra de Deus não é “crer em Jesus”. Jesus representa o Cristo. Jesus é o espírito plenamente cristificado, o espírito que desenvolveu totalmente o seu Cristo interno, o Deus imanente, o Logos que está dentro de cada um de nós. A obra de Deus é sermos fieis ao Cristo, sintonizarmos com o Cristo, aderirmos ao Cristo.

Notamos que eles perguntam sobre “obras”, no plural, se referindo às obras da lei, e Jesus responde que “a obra” de Deus, no singular, é aderir ao Cristo – ou sintonizar com o Cristo.

Não são necessárias muitas exigências religiosas, mas uma só coisa é necessária. Foi isso que Jesus disse a Marta em Lucas 10:41:

“Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária” – essa coisa é fé-fidelidade a Jesus. Aderência a Jesus, nosso modelo e guia. Tendo isso em mente, toda a vida muda, todos os aspectos da vida são substancialmente alterados.

Baseados nesta afirmação de Jesus, traduzida como está, algumas correntes religiosas pregam que o que importa não são as obras (que no seu entender são todas as ações), mas a fé – que a salvação acontece pela fé. Os que defendem essa ideia se esquecem de dizer (ou simplesmente não se dão conta) de que para desenvolvermos a fé no seu sentido verdadeiro, de fidelidade, lealdade, obediência, harmonia, sintonia, é preciso que eduquemos nossos sentimentos, pensamentos, palavras e ações para nos tornar aquilo que queremos ser.

Jesus é nosso modelo e guia. Para seguirmos Jesus precisamos imitar Jesus, e isso está muito além de apenas “crer”. Aliás, se desconsiderarmos a reencarnação, qualquer discussão neste sentido se afasta da razão. Discute-se apenas opiniões sem o menor respeito pela lógica. Só através de incontáveis experiências pela matéria conseguimos progredir espiritualmente.

  1. Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que operas tu?
  2. Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu.

Se tivesse havido um milagre, por que estariam pedindo sinais a Jesus?

O maná do deserto de que eles falam é o alimento supostamente dado por Deus ao povo israelita durante a travessia do deserto (Êxodo 16:4,8,12-15).

  1. Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
  2. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.

Jesus disse há pouco que “a obra de Deus é ter fé naquele que Deus enviou”. Eles entenderam que Jesus estava se referindo a si mesmo, pois disseram: “Que sinais fazes tu, para que tenhamos fé em ti?” – mas Jesus não responde à pergunta deles, apenas os corrige.

Jesus não estava se referindo exclusivamente a si mesmo. Jesus fala como o Cristo, não como o homem Jesus. O que é válido para Jesus é válido para qualquer um de nós – respeitando, é claro, a diferença evolutiva entre ele e nós.

O que desce do céu e dá vida ao mundo é o Cristo, chamado de Logos na introdução deste Evangelho. É a fagulha da luz de Deus que está dentro de cada um de nós.

  1. Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão.

A resposta deles, aqui, é igual à da samaritana quando Jesus falou sobre a água viva que sacia a sede (João 4:15).

  1. E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.

A quarta bem-aventurança de Jesus diz: “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mateus 5:6) – a melhor tradução é “justeza”, no sentido de “ajustamento”. Bem-aventurados os que têm fome e sede de ajustamento às Leis divinas, pois serão saciados.

Vemos que é preciso o uso do livre-arbítrio, é preciso tomar a iniciativa, ir em direção ao Cristo, o pão da vida, e aderir totalmente ao Cristo para matarmos a fome e a sede das coisas do espírito.

  1. Mas já vos disse que também vós me vistes, e contudo não credes.

Muitos de nós já pressentimos, algumas vezes, a presença do Cristo dentro de nós, mas isso não foi suficiente para nos voltarmos definitivamente para o caminho reto que leva a Deus.

  1. Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.

Tudo o que tem vida há de desenvolver, pela eternidade afora, o seu Cristo. Jesus dirá mais tarde que nenhuma das ovelhas que Deus lhe confiou se perderá (João 10:26-30). Jesus é o responsável por um grupo de espíritos que faz a sua evolução na Terra. É possível considerar que Jesus foi o responsável ou um dos responsáveis pela formação do nosso planeta. Se considerarmos que o Universo é infinito, é fácil compreendermos que cada planeta é governado por um espírito ou um grupo de espíritos mais desenvolvidos.

  1. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
  2. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia.
  3. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

Jesus veio fazer a Vontade daquele que o enviou – se alguém o enviou, é porque é superior a ele; se é superior a ele, não é ele mesmo. Não seria concebível que alguém enviasse a si mesmo. Mesmo assim, milhões de pessoas defendem que Jesus é Deus, o Creador do Universo.

Jesus, como espírito plenamente cristificado, ocupa-se em fazer a Vontade de Deus, pois ele é pura manifestação de Deus. A Vontade de Deus é que toda a sua creação viva em harmonia com Ele. Nós somos parte da creação. Quem contempla o Cristo e sintoniza com ele tem a “vida plena” em Deus – já falamos que aiónios (αιωνιος) não quer dizer “para sempre”. Vida eterna não é simplesmente viver para sempre, mas se refere a uma qualidade de vida, à vida imanente, à vida em comunhão com Deus.

É a Vontade de Deus que move o mundo. Quando ajustamos a nossa vontade à Vontade de Deus, somos co-creadores com Ele, posto que Ele jamais deixa de crear.

“(…) e eu o ressuscitarei no último dia” – quando é o último dia? que último dia é este? é o último dia de vida? o último dia do mundo?

O Gênesis diz que o mundo foi creado em seis dias. É evidente que cada dia, no Gênesis, representa uma era, um determinado período de tempo, mas não um ciclo de 24 horas. Pedro, na sua segunda epístola, falando da relatividade do tempo, diz que para Deus um dia tem mil anos (2 Pedro 3:8). O adjetivo eschatos (εσχατος) pode ser traduzido como “final”. O “último dia” é o “estágio final”.

O verbo anasteso (αναστησω), indicativo futuro na voz ativa, primeira pessoa do singular do verbo anistémi (ανιστημι), está aqui traduzido como “ressuscitarei”. Os judeus não tinham uma palavra específica para designar a ressurreição ou a reencarnação. Usavam um eufemismo, “levantar”, no sentido de “levantar os mortos”. Anistémi quer dizer “levantar”, “tornar a ficar de pé”, “voltar ao estado anterior”. O significado comum é “levantar”.

Jesus não vai “ressuscitar” ninguém no último dia porque não tem último dia. Jesus vai “elevar no estágio final”. Aquele que contemplar o Cristo e aderir ao Cristo será elevado pelo Cristo no estágio final de sua evolução terrena.

Sempre que sintonizamos com boas ideias, bons pensamentos, elevamos o nosso padrão vibratório. Quando aderirmos totalmente ao Cristo seremos elevados pelo Cristo, e isso determinará o final do nosso estágio evolutivo na Terra (João 11:24 e 12:48).

É possível entender isso como a seleção natural que atravessamos neste período de transição planetária. A Terra está deixando de ser um planeta de provas e expiações para se tornar um planeta de regeneração. Se aderirmos ao Cristo nos elevaremos e permaneceremos no planeta em seu novo estágio. Se não aderirmos ao Cristo, não nos elevaremos o suficiente para acompanhar o novo padrão vibratório do planeta e seremos expurgados para um planeta condizente com a nossa vibração, com o nosso estágio evolutivo.

  1. Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.
  2. E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?
  3. Respondeu, pois, Jesus, e disse-lhes: Não murmureis entre vós.

Os judeus, não entendendo que Jesus era a manifestação plena do Cristo, e que falava como Cristo, acharam um absurdo Jesus dizer que desceu do céu. Jesus chama a atenção deles. Popularmente diríamos que Jesus “deu um xixi” neles. 

  1. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

O verbo traduzido como “trouxer” é elkuse (ελκυση), que tem o sentido de “atrair” – ninguém vai ao Cristo, ninguém procura o Cristo se o Pai não o atrair.

Nós saímos de Deus e vamos para Deus. Deus é a nossa origem e o nosso destino. Somos permanentemente atraídos para Deus. O que é a nossa eterna busca pela felicidade? Por que corremos atrás de prazeres, de bens materiais, de poder, de satisfação? Nunca estamos contentes, e esse descontentamento é justamente a nostalgia de Deus, é a nossa necessidade interior de nos religar com Deus.

Buscamos fora de nós, durante milênios, o que está dentro de nós. Deus se manifesta através das Suas Leis, perfeitas e imutáveis. Uma dessas Leis é a Lei do progresso. Somos impelidos a progredir sempre, mesmo que não tenhamos consciência do porquê desse progresso. É a atração que Deus exerce sobre nós, sobre todas as Suas creaturas. Somos atraídos por Deus, impelidos pela Lei de Deus, e o Cristo nos eleva no final do nosso estágio evolutivo.

  1. Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.

O profeta que disse isso foi Isaías:

“E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e a paz de teus filhos será abundante”. (Isaías 54:13)

Ouvir é ser receptivo. O primeiro mandamento começa assim:

“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração”. (Deuteronômio 6:4-6)

Isso não é apenas ouvir com os ouvidos. É ouvir e aprender. Os mandamentos são Leis de Deus. As Leis de Deus estão gravadas em nossa consciência. Quando ouvimos a consciência e aprendemos vamos ao Cristo.

  1. Não que alguém visse ao Pai, a não ser aquele que é de Deus; este tem visto ao Pai.

O Cristo interno pode ver o Pai, mas o intelecto não. O intelecto está limitado ao que é transitório. O intelecto é um importante instrumento para chegarmos ao entendimento de Deus. Mas só poderemos sentir Deus através do nosso Cristo interno

  1. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.

Quem sintoniza com o Cristo tem a vida eterna. O tempo do verbo é o presente. A vida eterna, que os outros Evangelhos chamam de reino de Deus, é um estado interno que independe de tempo e espaço.

  1. Eu sou o pão da vida.
  2. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.
  3. Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.

Jesus está comparando o pão da vida, que é o Cristo, que é a própria vida permanente, ao maná do deserto, o chamado “pão que caía do céu” para alimentar os israelitas no deserto, que era apenas uma coisa para manter uma existência provisória.

Por extensão, o que é comparado aqui é o ensino religioso dado por Moisés e o ensino do Cristo – a religião é provisória, o Cristo é eterno.

  1. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.

No versículo 49 Jesus diz: Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram” – Jesus diz “vossos” pais, se referindo aos antepassados dos judeus. Ele, como judeu, também tinha os mesmos antepassados. Notamos claramente que Jesus fala como o Cristo, Jesus é pura manifestação de Deus e não está se referindo a si mesmo como homem, como espírito encarnado.

O Cristo não tem carne. É evidente que Jesus está usando uma linguagem metafórica, está falando por figuras, está servindo-se de imagens fortes para que as suas palavras ficassem eternizadas.

O Cristo não tem carne, do mesmo modo que um homem não é um pão. Jesus não está dizendo que dará a sua carne no sentido de “corpo”. Se fosse isso, ele usaria a palavra “corpo”, no grego soma, e não sarx (σαρξ), que é “carne”, mas que representa a “substância”. A carne é a substância do corpo vivo. A carne que Jesus diz que vai dar pela vida do mundo é a própria “substância da vida”. A substância do Cristo é a vida.

Não podemos ignorar aqui os interesses que moviam o evangelista ao escrever este Evangelho. Comentamos no primeiro capítulo a respeito dos adversários dos primeiros cristãos. Na cidade de Éfeso, onde este Evangelho foi escrito – e em outras localidades – havia muitos seguidores da doutrina de João Batista. Também havia os judeus que não haviam se convertido ao Cristianismo, e o evangelista não esconde a sua intenção de apresentar João Batista como um mero coadjuvante e de passar uma imagem negativa dos judeus.

Aqui o interesse do evangelista é se opor aos docetistas. O docetismo era uma corrente de pensamento infiltrada entre os primeiros cristãos que dizia que Jesus veio ao mundo apenas com um corpo aparente, que o seu corpo não era real, e a sua crucificação tinha sido apenas aparente. Isso era tão importante para o evangelista João que na sua primeira epístola ele diz:

“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo”. (1 João 4:1-3)

Não podemos esquecer que João era um espírito encarnado como eu e você, sujeito a preconceitos e falhas de caráter.

  1. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer?

Notamos que a linguagem figurada de Jesus novamente é mal compreendida. Vimos isso na conversa de Jesus com Nicodemos, em que Nicodemos entende que Jesus se referia literalmente a entrar novamente no ventre da mãe para nascer de novo; vimos isso com a mulher samaritana que entendeu que a água viva que Jesus oferecia a ela evitaria que ela precisasse voltar ao poço para pegar água; e agora pensam que Jesus está falando de antropofagia.

  1. Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.

Sem dúvida nenhuma esta foi a coisa mais chocante que aqueles homens já tinham ouvido em suas vidas. No Gênesis está escrito:

“A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis”. (Gênesis 9:4)

Em Deuteronômio 12:16 é repetido que o sangue não pode ser comido, e no Levítico diz que a alma está no sangue, e quem comer sangue será morto (Levítico 17:10-11). Isso era lei e era tradição há séculos. Os judeus jamais comeriam sangue, e a simples ideia de comer sangue humano deve tê-los revoltado terrivelmente.

Há estudiosos que não acreditam que esta passagem que fala de comer carne e beber sangue faça parte dos textos originais – mas isso não pode ser provado.

O Cristo pede para que o assimilemos totalmente, para fazermos nosso o seu ensinamento, a fim de que suas palavras se tornem nossa carne e nosso sangue, nossa vida cotidiana.

  1. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
  2. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.

Lembramos novamente da quarta bem-aventurança: Bem aventurados os que têm fome e sede de justeza, porque serão saciados. Os que têm fome e sede de ajustamento com Deus comem e bebem do Cristo. Comem a sua carne, ou seja, a sua substância; e bebem o seu sangue, ou seja, a sua alma.

Sua carne verdadeiramente é comida e seu sangue verdadeiramente é bebida – “verdadeiramente” é a tradução de aléthós (αληθως), que é o advérbio de alétheia (αληθεια), que normalmente é traduzido como “verdade”. Tratamos de o significado da palavra “verdade” no Evangelho no capítulo 1: É o “desvelamento”, a retirada do véu do esquecimento da nossa natureza espiritual e divina. É sairmos da letargia da morte aparente do espírito e nos religar com Deus.

É isso que a fome e sede do Cristo nos proporcionam, pois…

  1. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.

Esse permanecer um no outro é exatamente o ajustamento da quarta bem-aventurança.

  1. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.

O Cristo é manifestação do Pai. Quando nos ajustamos ao Cristo passamos a viver por ele, superando a personalidade transitória e vivendo a individualidade divina. Como disse o apóstolo Paulo: “vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. (Gálatas 2:20)

  1. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
  2. Ele disse estas coisas na sinagoga, ensinando em Cafarnaum.
  3. Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?

Esses discípulos não são os doze, mas outros seguidores de Jesus. A palavra traduzida como “discurso” aqui é logos – “Este Logos é duro, quem pode ser receptivo a ele?” Realmente, para quem ainda está preso à personagem transitória, ligado às coisas materiais efêmeras, ser receptivo ao Logos que habita em nós parece muito duro.

  1. Sabendo, pois, Jesus em si mesmo que os seus discípulos murmuravam disto, disse-lhes: Isto escandaliza-vos?
  2. Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?

Achavam o ensino de Jesus muito duro, mas Jesus pergunta como seria a sua reação se pudessem ver o “filho do homem” – que é o homem no seu próximo estágio evolutivo, o espírito já evoluído – subir, elevar-se vibracionalmente após o desencarne, retornando ao plano de onde veio.

  1. O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida.

Jesus falou de carne e todos se chocaram, mas a carne é perecível, transitória, e depois de abandonada por ocasião da desencarnação, não vale para mais nada além de voltar à terra.

Assim como é o espírito que dá a vida à carne, as palavras de Jesus são espírito e vida.

  1. Mas há alguns de vós que não crêem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar.

O evangelista está se referindo a Judas. Percebe-se a má vontade dele para com Judas. Ele é o único a acusar Judas de ladrão. É possível perceber a associação da imagem de Judas, até pelo seu próprio nome, aos judeus.

  1. E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido.
  2. Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.
  3. Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?

Esta é a primeira referência do evangelista João aos doze.

Muitos dos que seguiam Jesus tornaram para trás. Não estavam prontos para segui-lo, estavam dando um passo maior que as suas pernas. É comum que pessoas se interessem, num primeiro momento, por determinado ensino que lhes convém. Mas, assim que notam alguma dificuldade, ou quando se deparam com algo que desagrada ao seu ego, ao seu personalismo, desistem.

Einstein disse que a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original. Isso vale perfeitamente para o aspecto moral. Quem tomou contato com o ensino do Cristo não poderá se queixar de desconhecimento. Quanto mais conhecimento, maior é a nossa responsabilidade.

  1. Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.
  2. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.
  3. Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo.
  4. E isto dizia ele de Judas Iscariotes, filho de Simão; porque este o havia de entregar, sendo um dos doze.

“(…) um de vós é um diabo” – Jesus está falando de Judas. E isso devia ser suficiente para provar que não existe diabo como um ser. Jesus não está acusando Judas de ser uma criatura infernal, um diabo vermelho de chifre, rabo e tridente.

A palavra diabo é formada pelo prefixo dia, que quer dizer “movimento através de”, “afastamento”, mais o verbo balló, que quer dizer “lançar”, “jogar” (daí a origem da palavra “bola”). Diabo, literalmente, quer dizer “lançar separado”. O diabólico é aquilo que é lançado separadamente, divergentemente.

Popularmente, o diabo é o que joga contra. É como se num time de futebol houvesse um jogador que jogasse contra a sua própria equipe.

Diabo é o adversário, mas o adversário interno, não um ser dos infernos que faz queda de braço com Deus.

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