Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

A cura do paralítico de Betesda – Espiritismo

A cura do paralítico no tanque de Betesda é um bom exemplo, dado por Jesus, dos mecanismos da Lei de causa e efeito. Ao reencontrar o homem curado, Jesus o adverte: “Não peques mais para que não te suceda coisa pior” – sinal de que o homem havia pecado, anteriormente, para que lhe sucedesse o mal que Jesus conheceu nele. 

Este é o tema deste vídeo; o episódio envolvendo a cura do paralítico de Betesda. Este é o 10º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 5:1-16

O Evangelho de João parece ter alguns deslocamentos de texto. É possível que o manuscrito original ou um manuscrito muito próximo do original tenha se desgastado, pela ação do tempo e partes do seu texto tenham sido misturadas. 

O capítulo 4 termina dizendo que Jesus ia da Judeia para a Galileia, e o capítulo 6 começa dizendo que Jesus, então, passou para o outro lado do mar da Galileia. A sequência lógica, depois do capítulo 4, é o capítulo 6. O capítulo 5 quebra a ordem natural, pois começa dizendo:

  1. Depois disto havia uma festa entre os judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

De qualquer forma, isso não pode ser averiguado e não afeta a nossa proposta de estudo.

Não é dito que festa é essa, mas deve se tratar da festa de Pentecostes, que era comemorada 50 dias depois da páscoa, e lembrava a doação das tábuas da lei, onde estavam os dez mandamentos, a Moisés, no monte Sinai. Nesse mesmo capítulo, no versículo 45, há referência a Moisés, o que nos leva a crer que estávamos na festa de Pentecostes.

  1. Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres.

Há muita divergência sobre o nome do tanque. O mais provável é Betesda, que quer dizer “casa da misericórdia”. Este tanque ou piscina devia ser um santuário de cura pagão, ou seja, não pertencente à religião judaica, mas aos romanos. Se fosse um lugar de banhos públicos, como pensam alguns comentadores, jamais aceitariam que doentes se banhassem ali, como veremos a seguir – as leis de pureza da Torá não permitiam o contato com os doentes.

  1. Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento da água.
  2. Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.

O final do versículo 3, a partir de “esperando o movimento da água” e todo o versículo 4 não fazem parte do texto original. Esta parte foi acrescentada mais tarde como uma tentativa de explicação de como ocorriam as curas. Como se tratava de um santuário pagão, alguém tentou “judaizar” as curas atribuindo-as a um anjo.

  1. E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.
  2. E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são?
  3. O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
  4. Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.
  5. Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu leito, e andava. E aquele dia era sábado.

Notamos que o homem não pediu a Jesus para ser curado. Foi Jesus quem percebeu que ele, dentre tantos outros enfermos, era aquele que estava receptivo à cura.

Para ser curado, mesmo por Jesus, é preciso estar receptivo. Em Mateus 13:58 e em Marcos 6:5 nós vemos que quando Jesus visitou a sua cidade, Nazaré, não pôde realizar muitas curas por causa da falta de fé das pessoas. A fé produz a receptividade necessária.

O que aquele homem precisava era mudar o foco da sua mente. Ele representa todos aqueles que ainda acreditam que nós precisamos de uma força externa, de uma solução vinda de fora – quando na verdade nós temos o Cristo dentro de nós e temos um manancial de forças não utilizadas que está à nossa disposição.

Este homem, provavelmente um paralítico (pois precisava que alguém lhe pusesse no tanque), simboliza o espírito sem ação, tomado pela inércia, pela descrença de si mesmo, aqueles que vivem choramingando e se queixando da vida, e que quase sempre o que precisam é apenas de ação: levantar-se do chão e agir.

Vemos que Jesus disse a ele: “levanta-te, toma o teu leito, e anda” – e logo ele ficou são – ele ficou são antes mesmo de levantar. A sua enfermidade, mais do que qualquer coisa material, era a inércia, a falta de ação. Assim que ouviu a ordem de Jesus – que representa o Cristo interno do homem – ele reagiu, levantou-se e voltou a movimentar-se.

A cura que ele esperava ainda era uma cura material – a água, na Bíblia, como vimos, representa o elemento gerador absoluto, é o princípio material. Enquanto ele esperou a cura através da matéria, ele não a encontrou. Só quando ouviu o seu Cristo interno, quando percebeu dentro de si a sua natureza de filho de Deus, creado à imagem e semelhança de Deus, é que ele saiu da inércia, parou de esperar forças externas e levantou para a vida.

O simbolismo da água é recorrente nestes primeiros capítulos. Analisando os diferentes contextos, não temos dúvida de que a água, como acontece desde o Gênesis, simboliza a matéria.

No capítulo 2, Jesus transforma água em vinho – espiritualiza o que é estritamente material.

No capítulo 3, na conversa com Nicodemos, Jesus diz que é preciso nascer de água e espírito (ou seja, reencarnar) – a partir do corpo, que é matéria perecível, e do espírito, que é imortal.

No capítulo 4 Jesus fala à mulher samaritana sobre a água viva – que não é como a água comum, que representa tudo o que é material e transitório e que não mata a sede nunca, mas que representa as coisas o espírito, a vida verdadeira da individualidade voltada para Deus.

E agora, no capítulo 5, o que cura o homem não é a água – quem cura o homem é Jesus – ou seja, a cura não está na matéria, mas no espírito. Jesus representa o espírito, representa o nosso Cristo interno, a partícula de Deus em nós. Jesus é o espírito que desenvolveu plenamente o seu Cristo interno, tornou-se um com Deus, e encarnou entre nós para nos ensinar o caminho para a nossa libertação espiritual.

Em outra ocasião Jesus disse que nenhuma das ovelhas que o Pai lhe confiou seria perdida (João 10:26-30), Jesus é o bom pastor – esse tanque ficava próximo à porta das ovelhas.

Jesus também disse outra vez que devemos nos esforçar para entrar pela porta estreita (Lucas 13:24) – o que esse homem que foi curado precisava era esforçar-se. Ele é uma das ovelhas de Jesus, como você, e precisava esforçar-se para entrar pela porta estreita, a porta das ovelhas.

O homem não era exatamente um exemplo de fé – mas demonstrava boa vontade, estava disposto a curar-se, e foi suficiente para que a misericórdia de Deus agisse sobre ele. Betesda quer dizer exatamente “casa da misericórdia”.

Também é possível perceber a alusão à reencarnação. Sabemos que a reencarnação é a possibilidade de cura para o espírito. Precisamos reencarnar para purgar certas impurezas e para consolidar aprendizados. O tanque, então, simboliza a bolsa amniótica, em que se desenvolve o novo corpo. O homem enfermo espera a ajuda de alguém que o ajude a descer – sabemos que para termos uma reencarnação com as mínimas condições precisamos ter laços de amor, precisamos que alguém nos receba como pai ou mãe, que alguém nos ajude a “descer” as nossas vibrações para voltarmos ao plano físico.

Esse homem era um entre tantos espíritos enfermos esperando “o movimento das águas” – esperando a oportunidade de reencarnar: os cegos – aqueles que ainda não enxergam a realidade espiritual; os mancos – aqueles espiritualmente desequilibrados; e os ressicados ou paralíticos – que são os espiritualmente estagnados.

Jesus então disse a ele: “levanta-te, toma o teu leito, e anda” – o verbo traduzido como “levanta-te” é egeire (εγειρε), imperativo presente, na voz ativa, primeira pessoa do singular do verbo egeiró (εγειρω) o mesmo verbo que seria traduzido como “ressuscita”.

Toma o teu leito, ou seja, o corpo físico, e anda. Age. Movimenta-te.

  1. Então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito.
  2. Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma o teu leito, e anda.
  3. Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito, e anda?
  4. E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de naquele lugar haver grande multidão.

Era proibido qualquer trabalho no sábado. O Gênesis diz que Deus creou tudo em seis dias e que no sétimo dia descansou. Como levaram isso ao pé da letra, havia grandes discussões a respeito do que podia e o que não podia ser feito no sábado – e carregar o leito não podia.

O homem joga a responsabilidade em Jesus, por ingenuidade, ou por medo, e não sabia quem era Jesus.

Os judeus não queriam saber quem havia curado o homem. Queriam saber quem havia mandado desobedecer à lei.

Muitos religiosos ainda hoje não se preocupam com o bem que é feito por quem pensa diferente deles, preocupam-se apenas com aquilo que contraria as suas crenças ou os seus interesses.

  1. Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.
  2. E aquele homem foi, e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara.

Aqui fica claro que a enfermidade do homem se devia aos seus próprios erros – pecado quer dizer erro.

Há pouco o homem não sabia quem era Jesus. Simbolicamente, ainda não sabia onde encontrar o seu Cristo interno. Vai encontrá-lo no templo, que representa o corpo físico (João 2:21). É dentro de nós mesmos, onde quer que nós estejamos, que encontramos o Cristo.

Não podemos generalizar e pensar que todas as pessoas doentes estão doentes por terem cometido erros. Em 9:3 há o exemplo do cego de nascença que foge a essa regra.

  1. E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas no sábado.

Aqui parece haver outro deslocamento de texto. A continuação original desta passagem é o capítulo 7:19-23:

  1. Não vos deu Moisés a lei? e nenhum de vós observa a lei. Por que procurais matar-me?
  2. A multidão respondeu, e disse: Tens demônio; quem procura matar-te?
  3. Respondeu Jesus, e disse-lhes: Fiz uma só obra, e todos vos maravilhais.
  4. Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem.
  5. Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada, indignais-vos contra mim, porque no sábado curei de todo um homem?

Os judeus circuncidavam os filhos no oitavo dia de vida, mesmo que caísse num sábado, porque a circuncisão representava a aliança com Deus. O que Jesus diz é que eles valorizavam mais o sinal da aliança com Deus do que a própria manifestação da misericórdia de Deus ao conceder que um homem fosse totalmente curado. Nesse ponto não mudamos muito.

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