Um dos artigos que escrevi que mais geram perguntas é Espiritismo e sonhos eróticos. Todos os dias há novos comentários no site, que nem sempre publico por trazerem descrições muito explícitas de sexo. Devo lembrar que qualquer criança pode ter acesso a este site. Por se tratar de um tema-tabu, muitas pessoas preferem enviar suas perguntas por e-mail. Recebo centenas de e-mails por dia. Eu gostaria de responder a todos, mas o tempo não permite. E muitas das perguntas são sempre as mesmas, como é o caso das perguntas relacionadas ao artigo Espiritismo e sonhos eróticos.
Por isso escrevo este artigo: para dirimir as principais dúvidas e esclarecer que não tenho poderes para ajudar ninguém que experimente essa situação. Minha tarefa é esclarecer. A partir daí, quem estiver realmente interessado em solução deve buscar a solução.
Não existe uma nomenclatura específica para isso: no outro artigo, chamei de sonhos eróticos. Não que se trate de sonhos, mas porque essa é a impressão para quem não conhece a realidade espiritual e não tem ideia do que se trata. Mas o nome mais adequado talvez seja sexo astral. Poderíamos chamar de sexo com espíritos, mas nós também somos espíritos. Somos espíritos encarnados, estamos temporariamente animando um corpo físico, mas somos espíritos. Quando morrermos, deixaremos este corpo, mas permaneceremos sendo exatamente quem somos. Teremos os mesmos gostos, os mesmos costumes, as mesmas opiniões, as mesmas tendências, e, quase sempre, a mesma aparência.
Poderíamos chamar de sexo durante o sono, mas em algumas pessoas o nível de consciência é tão alto, e a sensação física tão evidente, que falar de sono não transmite o que essa experiência significa.
O sexo astral a que nos referimos é a experiência sexual, completa ou não, entre um espírito desencarnado e um espírito encarnado. Também é possível haver relação sexual entre dois encarnados desdobrados, mas não consideraremos essa hipótese por ela ser menos provável e por gerar inevitáveis fantasias. Muitas pessoas “viajam na maionese” e podem tentar encontrar o alvo dos seus desejos durante o sono.
Falamos em espírito encarnado desdobrado. Nós somos espíritos encarnados. Durante o período de sono físico, enquanto o corpo físico repousa, o espírito permanece ativo. O que precisa descansar é o corpo, não o espírito. O corpo é uma máquina usada pelo espírito para se manifestar, mas nós somos espíritos. Quando o corpo repousa, então, por ocasião do sono, ficamos parcialmente libertos e vamos em busca daquilo que mais nos interessa. Isso é quase sempre automático, impensado. Saímos do corpo físico com o corpo astral. O corpo astral, também chamado de perispírito ou corpo espiritual, é semelhante ao corpo físico, mas de um outro tipo de matéria que não conseguimos perceber. Não conseguimos perceber o corpo astral através dos nossos cinco sentidos físicos. Mas, quando estamos no plano astral, que é para onde vamos quando dormimos ou quando morremos, este corpo é tão real quanto o nosso corpo físico. O corpo físico é o nosso corpo para o plano físico. O corpo astral é o nosso corpo para o plano astral. Quando morrermos, ficaremos só com o corpo astral, pois o corpo físico terá estragado e irá apodrecer. Quando dormimos, nos libertamos parcialmente do corpo físico, ficando presos a ele apenas por uma espécie de cordão energético, o chamado “cordão de prata”, e mantemos atividade no plano astral com o nosso corpo astral.
O que fazemos? Há pessoas que não fazem nada. Há pessoas que fazem as mesmas coisas que fazem enquanto estão acordadas – isso é comum em quem tem atividades muito repetitivas. Como fazem a mesma coisa o dia todo, automaticamente, durante o sono continuam fazendo a mesma coisa, repetindo os mesmos gestos.
Há pessoas que trabalham em benefício do próximo. Há espíritos trabalhadores esperando por eles que os guiam até outros espíritos, encarnados ou desencarnados, que estejam precisando de ajuda. A energia dos encarnados é importante para os desencarnados. Alguém que morreu doente ou num acidente, por exemplo, pode permanecer com a impressão da doença ou com as sequelas do acidente, e a energia dos encarnados pode restituir a sua saúde.
Há pessoas que passeiam por qualquer lugar, do presente ou do passado. Mas a maioria vai em busca de prazeres. Procuram, no plano astral, aquilo que não podem procurar no plano físico. No plano físico nós desenvolvemos uma determinada personalidade. Você nasceu em uma determinada família, teve uma certa criação, conviveu com pessoas, viu e ouviu coisas, entrou em contato com cultura, religião, valores, opiniões, e foi se moldando conforme foi crescendo.
Você não é no dia-a-dia como você é de verdade. Mesmo que você seja uma pessoa boa, autêntica, sincera, leal, correta. Isso é o papel que você representa, como numa peça de teatro. É claro que, se você interpreta um papel bom assim, é porque você já desenvolveu, ao longo de inúmeras existências, condições para dar conta deste papel. Um espírito menos experiente que você, ou menos esforçado, menos esclarecido, não teria condições de desenvolver uma personalidade como a sua, mesmo que tivesse sido criado com os melhores cuidados e com muito amor.
Nós aprendemos a nos comportar neste mundo, neste plano, nesta sociedade. Reprimimos nossos desejos, nossos sentimentos primitivos, nossas emoções mais negativas, nossos pensamentos mais sombrios. E essa repressão, no caso de um espírito já um pouquinho adiantado, não custa muito esforço. Ele naturalmente sabe o que pode e o que não pode fazer, o que convém e o que não convém desenvolver. Mas a maior parte de nós usa máscaras. Podemos ser honestos, bons maridos ou boas esposas, boas mães, bons pais, cidadãos exemplares, podemos fazer orações, compartilharmos belas mensagens no Facebook, criticarmos os erros dos outros, e, no entanto, cometermos esses mesmos atos que consideramos erros e que criticamos nos outros quando estamos no astral, desdobrados.
Nossa personalidade atual é apenas um nível de consciência que desenvolvemos, mas está longe, muito longe, de ser o nosso verdadeiro “eu”. Somos muito melhores e piores do que isso. Melhores pelo nosso potencial e por toda a bagagem que já temos e que não demonstramos atualmente. Mostramos, na reencarnação atual, apenas uma pequena parte do que já aprendemos e adquirimos em nossa trajetória espiritual.
Mas somos piores no sentido de que aquilo que reprimimos no plano físico ainda não está superado. Podemos ser honestos aqui porque nos propusemos firmemente a isso, mas, no fundo, ainda não superamos essa fraqueza, e, quando desdobrados, revelamos a nossa desonestidade. Podemos ser pacatos no estado de vigília (quando estamos acordados), mas, quando nos desdobramos, saímos atacando todos que nos disseram desaforos ou que contrariaram nossos interesses.
Isso é muito comum com o sexo. Uma pessoa pode ser fiel no casamento e sexualmente bem comportada, mas, no astral, onde não temos as barreiras que nos impomos aqui no plano físico, cai a máscara. Não que isso seja algo pecaminoso ou que deva ser veementemente combatido. Não. Quando tratamos de autoconhecimento, não há espaço para pudores ou puritanismo. Mas isso é fato que muitos conhecem por experiência própria. Já recebi mais de dois mil relatos neste sentido. Uns muito vagos, de pessoas que não sabem explicar o que lhes aconteceu, mas outros claríssimos, com detalhes vívidos como se se tratasse de experiências físicas. Se considerarmos que este é um tema delicado, que gera medo e vergonha, podemos fazer ideia de que muitas outras pessoas passam por isso e não se manifestam a respeito.
O sexo astral pode ocorrer com ou sem consentimento por parte do encarnado. Quase sempre isso ocorre imediatamente depois de dormir ou imediatamente antes de acordar. Nesses dois períodos estamos num estado de consciência ligeiramente alterado, num estado intermediário entre a vigília e o sono; entre o físico e o astral. Muitas pessoas sentem a aproximação do espírito, ou veem o espírito claramente, sentem o seu toque, o seu cheiro, tudo, como se fosse físico, e tentam acordar. Percebem que estão dormindo, num estado que não sabem explicar, querem acordar, tentam se soltar do espírito e não conseguem. Este estado de não conseguir acordar, de não conseguir voltar para o corpo físico, chama-se “paralisia do sono”, ou “catalepsia do sono”, e é bastante comum.
O espírito pode ser conhecido ou desconhecido. Pode ser conhecido de existências anteriores, ou conhecido apenas do plano astral. É importante considerar que essas experiências podem acontecer por muitos anos até que a pessoa perceba o que está se passando.
Nos casos em que o encarnado consente, forma-se uma verdadeira parceria: o espírito desencarnado (ou espíritos; pode ser mais de um) já fica à espera do encarnado quando ele se deita para dormir. Assim que ele pega no sono, o próprio espírito o ajuda a desdobrar-se. No caso de o encarnado manter a consciência, ele vê o espírito no seu quarto, ou já na sua cama.
Se o encarnado não consente, a experiência pode ser bem desagradável. Principalmente se o seu grau de consciência for avançado. Cada pessoa tem um determinado grau de consciência quando se desdobra. A maioria é zero, não lembra de absolutamente nada. Outros têm lembranças vagas; outros sabem que estão dormindo e pensam que estão sonhando. Outros, por fim, têm plena consciência, ficam tão lúcidos quanto você está, neste momento, lendo este artigo.
Por que isso acontece? Porque somos espíritos ainda muito atrasados, e a maior parte de nós permanece presa a desejos carnais. Uma pessoa que é viciada em sexo não vai se livrar do seu vício em sexo só porque morreu. Vai continuar procurando sexo de todas as formas. Além disso, o sexo envolve muita energia. E os espíritos desencarnados ainda muito apegados às sensações da matéria, aos prazeres do corpo físico, sentem falta da energia dos encarnados. Aproveitam-se, então, do sexo, para vampirizar as energias dos encarnados.
Muitos atraem esses espíritos com o seu pensamento permanentemente voltado para o sexo. Em tempos de internet, a pornografia está na cabeça de grande parte da população e se tornou um vício vil e ridículo, que atrai companhias espirituais com o mesmo teor vibratório. Aí embaixo está o meu vídeo “Pornografia numa visão espírita”.
O que fazer para se livrar disso? Para muitas pessoas essas experiências são um verdadeiro tormento. É comum que essas pessoas percam o interesse pelo sexo convencional, deixando, até, de ter relações com os seus cônjuges. Ficam esgotadas sexualmente e energeticamente, sempre cansadas, desanimadas, sem vontade pra nada.
Não há solução mágica, não há truque, não há facilidades para resolver isso. Todos os dias pessoas me pedem ajuda para acabar com isso em suas vidas. Todos os dias eu tenho que dizer que não posso resolver esse problema. Também não tenho como saber quem é o espírito que as persegue sexualmente, se ele é conhecido ou não, ou o que causa isso. Não pergunte; não sei.
É preciso entender que você não tem controle direto sobre o seu nível de consciência no astral. Você se controla aqui, se quiser se controlar. Lá você é como você é de verdade, mesmo que não pareça você como você pensa que você é. Você pode ter essa personalidade certinha hoje, mas nem sempre foi assim. O sexo sempre foi um dos maiores desejos do ser humano. Em algum momento do seu passado você desenvolveu exageradamente o seu lado sexual, e isso pode não estar totalmente resolvido em você.
Orar e pedir ajuda ao espírito protetor sempre é bom. Mas é preciso lembrar que fazemos isso quando ainda estamos acordados. Assim que pegamos no sono, já não temos essa mesma personalidade; cai a máscara, e fazemos o que realmente gostaríamos de fazer se não tivesse ninguém olhando, nem nós mesmos. O espírito protetor não vai nos segurar à força para nos impedir de fazermos o que queremos fazer.
Pela minha experiência e pela observação, vejo duas soluções, as duas bastante trabalhosas. A primeira só vale para aqueles que sentem realmente os sintomas que citei, ou seja, aqueles que se mantém conscientes, que se mantém lúcidos, que sabem o que está acontecendo. Se este é o seu caso, informe-se sobre projeção astral (ou projeção consciente, ou viagem astral; é a mesma coisa). Estudando a projeção astral e desenvolvendo a capacidade de dominar a si mesmo durante a projeção, o problema pode ser solucionado. Dá trabalho; é preciso querer de verdade. Procure vídeos no Youtube do Saulo Calderon e do Wagner Borges. São os melhores especialistas no assunto. Não perca tempo com outros.
A outra solução, válida para todos (aliás, para todo mundo), é a pessoa dedicar-se resolutamente, com muita vontade e decisão, a fazer o bem ao próximo. Seja num centro espírita, numa igreja, numa ONG, ou em qualquer lugar. Mas que se dedique a uma ou mais tarefas específicas, metódicas, que passem a fazer parte do seu dia-a-dia. Nós demoramos algum tempo (semanas ou meses) para que os hábitos que incorporamos aqui no plano físico passem a nos acompanhar no astral. Quando parei de fumar, por exemplo, continuei fumando, por algum tempo, no astral. Até que um dia parei de fumar lá também.
Ao abraçarmos uma atividade útil em benefício do próximo, principalmente de pessoas que não conhecemos, que não fazem parte do nossos grupo familiar, nós nos envolvemos com espíritos trabalhadores que também se dedicam a isso. Formamos novas parcerias espirituais, e, com o tempo, levamos esses hábitos também para o astral.
Essa capacidade de desdobrar-se conscientemente, associada, muitas vezes, à capacidade de ver espíritos, é sintoma de mediunidade. Para saber lidar com a mediunidade é preciso conhecê-la. Para isso há bons livros e há os cursos nos centros espíritas. A mediunidade pode ser uma valiosa ferramenta de trabalho em benefício do próximo.
A solução definitiva para todos os nossos males é a prática do Evangelho de Jesus. Se praticarmos o Evangelho com todas as nossas forças, não teremos esse tipo de problemas. O estudo é necessário. Precisamos de esclarecimento, precisamos saber o que se passa conosco. E para sabermos o que acontece com nós mesmos temos que saber mais sobre a nossa verdadeira natureza espiritual. Sem esclarecimento não vamos para a frente.