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A família pode impedir um de seus membros de seguir o Espiritismo?

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É comum que famílias que seguem religiões conservadoras se oponham a que um de seus membros frequente o centro espírita. Entre casais também há esse conflito. O marido ou a esposa impedem ou tentam impedir que o seu cônjuge pratique o Espiritismo. O que o Evangelho de Jesus nos elucida a esse respeito?

Muitas pessoas encontram oposição dentro da sua própria casa para seguir o Espiritismo. Pessoas que conhecem o Espiritismo, tomam contato com o Espiritismo, às vezes pessoas que têm forte mediunidade, e que encontram em suas próprias casas opiniões contrárias ao Espiritismo. Isso geralmente por parte do cônjuge – seja o marido ou esposa – ou, no caso dos mais jovens, por parte dos pais.

Estes que se opõem ao Espiritismo, ou são pessoas que têm fortes crenças, crenças mais conservadoras, especialmente por parte de alguns chamados evangélicos, ou então são pessoas que não têm crença nenhuma, e que acham que o Espiritismo é uma grande bobagem.

E as pessoas que passam por isso, que encontram esta oposição, esta contrariedade dentro de suas próprias casas em relação ao Espiritismo ficam muito confusas, não sabem que atitude tomar – e realmente pode ser difícil chegar a uma decisão. Afinal, o que é mais importante: fazer aquilo que se tem vontade e que se considera o certo ou contentar os familiares – seja a esposa, o marido ou os pais?

No próprio meio espírita é muito comum nós ouvirmos que a nossa primeira obrigação é com a família. O Espiritismo diz que “fora da caridade não há salvação”, então trabalhamos muito em cima da caridade, mas é comum ouvirmos que o nosso primeiro dever, que a nossa primeira caridade deve ser dentro do próprio meio familiar.

Jesus nos recomendou amar ao próximo – nos questionamos então quem é o nosso próximo, e percebemos claramente que os nossos familiares são o nosso próximo mais próximo.

A família, então, cada um dos membros familiares, aquelas pessoas mais próximas de nós, que formam nosso lar, são importantes por dois aspectos: em primeiro lugar pelas ligações que temos com eles – na família se reúnem aqueles espíritos que têm ligações que vêm de existências anteriores; é comum que antigos desafetos reencarnem no mesmo meio como oportunidade de se reajustarem, de se rearmonizarem consigo mesmo e com os outros.

A vida sempre nos concede oportunidades de reparar o mal que cometemos, e a reencarnação no mesmo meio é uma das maneiras mais comuns que a vida nos proporciona para que promovamos esse reajuste, essa reparação dos erros.

Mas nem só de laços formados em outras existências é composta a nossa família atual. Nós formamos ligações psíquicas com espíritos desencarnados que se sentem atraídos pelo nosso padrão de pensamentos. Os espíritos a quem normalmente chamamos de obsessores, que são atraídos por nossas atitudes mentais e muitas vezes pelos nossos vícios (espíritos que desencarnaram com algum vício permanecem viciados, e sentem-se atraídos pelos encarnados que mantém o pensamento focado ainda neste vício, e permanecem escravizados a esse vício), forma-se então uma parceria, e esse desencarnado que é atraído por nós pode vir a reencarnar no nosso seio familiar, nesta ou em outras existências. O mesmo acontece em relação àqueles espíritos que são atraídos pelos nossos pedidos materiais, pelas nossas orações de cunho material, egoístico.

Pessoas que têm por hábito fazer orações dirigidas exclusivamente aos seus caprichos, aos seus desejos materiais, fazendo aquilo que chamam de “simpatias”, estão se envolvendo com espíritos desencarnados que por algum motivo sentem-se impelidos a atender ou tentar atender a esses pedidos.

Estamos criando vínculos, e esses vínculos tendem a se fortalecer, como mecanismo que a vida oferece para que haja a reparação e o reajuste entre as partes através da reencarnação. Então a tendência é que no lar sejam reunidos espíritos que tenham vínculos entre si; esses vínculos podem ter seu início em existências anteriores ou podem ter começado enquanto as partes estavam em planos diferentes, alguns encarnados, outros desencarnados.

Vemos, então, dois motivos pelos quais os familiares, as pessoas com quem compartilhamos o nosso teto, são especialmente importantes para nós. Uma, pelos vínculos que temos uns aos outros; e outro, até como decorrência deste, pelo fato de estarmos mais próximos. Se temos dever para com o nosso próximo, o nosso primeiro dever é com aquele próximo mais próximo, que quase sempre é um familiar.

Há uma passagem no capítulo 10 do Evangelho de Lucas em que alguém pergunta a Jesus: – “Quem é o meu próximo?”

Jesus, então, conta a parábola do bom samaritano:

Um homem viajava por uma estrada deserta, foi assaltado e espancado; levaram tudo que ele tinha e deixaram ele jogado na estrada, todo machucado. Passaram por lá um sacerdote e um levita. O sacerdote era um líder religioso, corresponderia hoje a um padre, um pastor, a um dirigente espírita, a um babalorixá. Seria de se esperar que como um líder religioso ele se condoesse da situação daquele homem e o socorresse – mas não, ele passou reto. O levita a mesma coisa; os levitas descendiam da tribo de Levi (uma das doze tribos de Israel, que formam o povo israelita), e dos descendentes de Levi, é que saíam os sacerdotes, então também eram pessoas ligadas mais diretamente à religião, e também passou reto por aquele homem, não deu a menor atenção a ele. E passou lá um samaritano – e os samaritanos eram considerados inimigos pelos judeus. Aquele povo que habitava a Samaria tinha uma origem em comum com os judeus, mas foram misturados com outros povos, acabaram adotando alguns costumes diferentes e eram considerados inimigos – mas o samaritano olhou para aquele homem que havia sido assaltado, havia sido espancado, estava precisando de ajuda, não se questionou sobre quem ele era e foi lá ajudá-lo. Cuidou das suas feridas, colocou ele sobre o lombo do seu animal e levou-o até uma hospedaria, pediu que o dono da hospedaria cuidasse dele e que aquilo que faltasse, algum dinheiro que faltasse, depois ele pagaria.

Depois de contar essa parábola Jesus devolve a pergunta ao homem. Então, quem era o próximo daquele homem? E fica evidente que era o samaritano.

O samaritano não se perguntou, não se questionou se aquele homem era um familiar, se era seu vizinho, se era do seu povo, se era semelhante a ele, se tinha crenças iguais as dele – apenas percebeu que aquele homem precisava de ajuda, a única pessoa que estava perto dele era ele mesmo e se dispôs a ajudá-lo. Naquele momento os dois eram literalmente próximos, um estava próximo do outro, um deles precisando de ajuda e o outro podendo ajudar, e este que podia ajudar – que era o samaritano – não hesitou em ajudá-lo.

Nosso próximo, então, é o próximo mais próximo, e neste ponto os nossos familiares têm primazia sobre os demais, têm prioridade sobre os demais.

Mas será que isso justifica abrirmos mão de nossas convicções, abrirmos mão de nossa vontade íntima de nos dedicar àquilo que consideramos realmente importante?

Nosso modelo e guia é Jesus. Quando tivermos uma dúvida em relação ao que é certo e o que é errado, o que devemos fazer e deixar de fazer, nada melhor do que nos socorrermos nos ensinamentos de Jesus – os Evangelhos estão aí à nossa disposição.

Em primeiro lugar vemos que Jesus já previa que essas diferenças, essas dissenções dentro do lar iriam acontecer. Vemos em Lucas 12:51-53:

“Supondes que vim para dar paz à Terra? Não, eu vos digo, mas antes divisão; pois a partir de agora estarão cinco divididos em uma casa: três contra dois, e dois contra três. Estarão divididos pais contra o filho, e filho contra o pai; mãe contra filha, e filha contra a mãe; sogra contra a sua nora, e nora contra a sogra.”

Essas diferenças em relação a crenças já eram previstas por Jesus. É evidente que os espíritos, estando todos em graus evolutivos ligeiramente diferentes, acumulando dentro de si bagagens diferentes, conhecimentos e experiências diferentes, venham a pensar de maneira diferente. Então é claro que temos que tentar manter a paz, temos que tentar equacionar essas diferenças – mas não necessariamente passarmos por cima de nossas convicções.

Nos servindo novamente do exemplo de Jesus, em Lucas 8:21, quando avisam a Jesus que sua mãe e seus irmãos o estavam esperando e queriam vê-lo, ele aproveita a oportunidade para nos deixar este ensinamento, dizendo que aqueles que ouvem e praticam as palavras de Deus, esses são sua mãe e seus irmãos.

Jesus não está negando a sua família, mas está nos ensinando que a verdadeira família, os verdadeiros laços de família são os laços psíquicos, os laços espirituais. Todos sabem que há pessoas que têm muito mais afinidade com pessoas estranhas, com pessoas distantes, do que com pessoas de dentro do seu próprio meio familiar.

Temos nossos deveres para com a família, isso é inegável, mas não devemos passar por cima de nossas convicções para atender caprichos ou birras de familiares.

No livro “Os Mensageiros”, de André Luiz, segundo livro da série “A vida no mundo espiritual” (vem imediatamente depois de “Nosso Lar”, os capítulos 7 a 12 são citados exemplos de espíritos que reencarnaram com determinadas tarefas ligadas à evangelização, à espiritualização, e falharam. E, dentre estes, tem um exemplo, sobretudo, no capítulo 9 – nós percebemos que um dos motivos que levam à falha (e isso não é exceção, isto é bastante comum) são essas diferenças familiares. Ou são pais que exercem grande domínio sobre os filhos, ou o marido que proíbe a mulher – e mais recentemente, já que não há mais essas diferenças gritantes entre homens e mulheres (lembramos que esse livro foi escrito na década de 40, e naquele tempo a mulher ainda era muito mais dependente do marido), também é comum que mulheres se oponham ou proíbam os seus maridos de se dedicarem ao Espiritismo.

Muitas pessoas me relatam isso. É uma situação que gera bastante sofrimento, bastante conflito, e esses que proíbem geralmente são pessoas com visões religiosas ortodoxas (ao meu ver totalmente ultrapassadas, deturpadas) e que acreditam – por falta de estudo, por falta de observação, por falta de análise, por falta de critério – que o Espiritismo é danoso, que o Espiritismo é uma religião do diabo, que é proibida por Deus, que é proibida pela Bíblia.

A Bíblia proíbe o Espiritismo?

Mas o fato é que não podemos nos deixar escravizar pelos nossos familiares. Reconhecemos que eles têm prioridades sobre os demais pelos laços que nós temos com eles, e pelo fato de dividirmos com eles a nossa vida, a começar pela nossa própria casa. Mas não podemos esquecer que somos indivíduos. Os laços familiares são transitórios, o verdadeiro amor liberta; esse sentimento de posse, essa pretensão de domínio sobre aqueles que compartilham a vida conosco, isso é puro egoísmo.

Nossos vínculos com nossos familiares têm que ser vínculos de amor, mas temos que aprender a nos manter desligados dessas diferenças de opinião que acabam só nos prejudicando, tanto a nós quanto a eles.

Tem uma passagem no Evangelho de Lucas, no capítulo 18, quando um jovem rico pergunta a Jesus o que ele precisa fazer para herdar a vida eterna. Então Jesus diz para ele cumprir os mandamentos: não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho. O jovem diz que isso ele já faz; Jesus, então, diz para ele vender todos os seus bens, se desfazer dos seus bens e doar dinheiro aos pobres. O jovem, então, sai muito triste porque tinha muitos bens. Então Pedro, aproveitando a oportunidade, pergunta a Jesus:

“Eis que nós, deixando as próprias coisas, te seguimos. Jesus, então, responde: Vos digo que não há ninguém que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou genitores, ou filhos, por causa do reino de Deus, que não receba neste tempo muitas vezes mais, e na era vindoura a vida eterna.”

Ele fala em “deixar”: deixar casa, ou mulher, ou irmãos, pais ou filhos.

No texto original grego, o verbo que é traduzido como “deixar” é afeken, o mesmo verbo que é traduzido como “perdão”. Vemos então que o significado original de perdão, nos Evangelhos, é de desligar, libertar, deixar ir, deixar para trás. Aqui, quando Jesus se refere àqueles que deixaram casa, mulher, pais, filhos, ele está dizendo daqueles que deixaram para trás. Perdoar é isso: deixar para trás. Perdoar não é esquecer, nós não esquecemos, e nem devemos esquecer – mas temos que deixar para trás aquilo que não nos serve, aquilo que não é construtivo.

Então Jesus, aqui, não está aconselhando de modo algum que deixemos nossa casa, abandonemos mulher, marido, filhos, pais, para seguirmos a Jesus, para seguirmos ou Espiritismo, ou uma igreja qualquer, ou o que quer que seja, não é este o caso; este deixar para trás é nos desligarmos, não darmos tanta atenção para as diferenças.

Jesus também nos disse noutra ocasião – e este ensinamento serve para todas as circunstâncias de nossa vida – que devemos cuidar em primeiro lugar do reino de Deus, das coisas do reino – ou seja, das coisas do espírito – e que todas as outras coisas nos serão dadas por acréscimo.

Vivemos num mundo material, então é evidente que temos que trabalhar, temos que estudar, temos que cuidar da casa, da família, temos que viver aqui no mundo material conforme o mundo material exige. Mas o nosso foco, o nosso objetivo primordial deve ser as coisas do espírito.

Se nos dedicamos às coisas do espírito, se seguimos os ensinamentos de Jesus da forma como nós o entendemos – no caso de nós espíritas, por exemplo – automaticamente estaremos mais equilibrados para lidar com as diferenças que porventura existam dentro do nosso próprio lar.

Claro que pode haver questões mais delicadas, questões mais radicais de pessoas, de familiares que realmente proíbam, que digam assim: “ou eu, ou o Espiritismo”. A decisão compete a cada um, é uma decisão de foro íntimo, cada um consulta a si mesmo – se não tiver dados suficientes dentro de si, consulte o ensinamento de Jesus e siga a sua consciência.

A consciência sempre nos diz o que é certo e o que é errado; nós muitas vezes não conseguimos ouvi-la com clareza – ou não queremos ouvi-la com clareza, mas sabemos dentro de nós o que devemos fazer.

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