A transição planetária é anunciada por Jesus no Evangelho. Confundido com o fim do mundo ou o “juízo final”, é o tema principal do capítulo 21 do Evangelho de Lucas. Este é o 26º vídeo de uma série de 30 vídeos em que analiso e interpreto o Evangelho de Lucas.
Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.
CAPÍTULO 21
1. E, olhando ele, viu os ricos lançarem as suas ofertas na arca do tesouro;
2. E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;
3. E disse: Em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva;
4. Porque todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha.
Este episódio ficou conhecido como o “óbulo da viúva”. Óbulo, para quem não sabe, é uma contribuição, um donativo.
Vemos o quanto somos levados pelas aparências, pois a tendência ainda hoje é valorizar quem dá mais, mesmo que esta doação não represente nada ou quase nada para quem a dá. É que materialmente vale mais quem dá mais, mas espiritualmente o que vale é o esforço, o sacrifício que se é capaz de fazer.
Os comentadores dos Evangelhos dizem que era costume os ricos trocarem seu dinheiro por moedas miúdas, para que ficassem mais tempo inserindo as moedas no gazofilácio, que era uma espécie de cofre em formato de trombeta (aqui traduzido como “arca do tesouro”), onde eram colocadas as moedas por uma pequena abertura. Então eles eram vistos por todos, e o barulho das moedas anunciava a sua grande doação. Todos percebiam que eles estavam doando grandes somas.
Foi a isso que Jesus se referiu quando recomendou que não saiba a mão esquerda o que faz a mão direita (Mateus 6:3). Era costume, e ainda é, fazer doações visando notoriedade e reconhecimento. Os que agem assim, segundo Jesus, já receberam a sua recompensa. O reconhecimento pelo público já é a sua recompensa.
Pessoas como a viúva quase não são vistas. Não porque são poucas, mas porque são discretas. Quem dá com o coração não faz alarde da sua doação, é comum que ninguém tome conhecimento dela.
O mundo tem muitas pessoas como a viúva a que Jesus se referiu. Pessoas que dão de si mesmas para o próximo sem serem percebidas ou reconhecidas.
O texto original grego diz que ela “deu toda a sua vida”. Por extensão, a palavra bion (βιον) pode ser entendida como sustento, assim como nós dizemos “ganhar a vida”, significando meio de trabalho. Mas a palavra é “vida”. A viúva representa quem dá da sua vida ao próximo, quem contribui com a coletividade de acordo com as suas condições.
5. E, dizendo alguns a respeito do templo, que estava ornado de formosas pedras e dádivas, disse:
6. Quanto a estas coisas que vedes, dias virão em que não se deixará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.
Este templo de Jerusalém, que havia sido mandado construir por Herodes, era considerado uma das maravilhas do mundo naquela época.
Toda a fala de Jesus até o final deste capítulo foi interpretada como predição para aquela mesma época (como a queda de Jerusalém, que ocorreu no ano 70) e é vista por muitos religiosos como uma previsão do fim do mundo.
No Evangelho de João é dito que Jesus se referiu ao templo como sendo o corpo físico (João 2:19-21). Jesus se refere à precariedade das coisas materiais, e dá a entender exatamente o contrário do que pensam aqueles que esperam que Jesus vá voltar em pessoa, e que vai estabelecer um reino sobre a Terra.
Jesus disse que o seu reino não é deste mundo (João 18:36). Não podemos esperar que Jesus se subordine à imaginação infantil que pretende vê-lo glorioso, como um rei terreno, cheio de marra e falsa grandeza. O ensino de Jesus é todo espiritual.
Além disso, Jesus não vai voltar. Não vai voltar porque nunca foi. Nunca nos abandonou. O Evangelho de Mateus termina com Jesus dizendo: “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mateus 28:20).
Jesus está conosco em espírito, está presente em nós quando praticamos o seu ensinamento.
7. E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, quando serão, pois, estas coisas? E que sinal haverá quando isto estiver para acontecer?
8. Disse então ele: Vede não vos enganem, porque virão muitos em meu nome, dizendo: Sou eu, e o tempo está próximo. Não vades, portanto, após eles.
9. E, quando ouvirdes de guerras e sedições, não vos assusteis. Porque é necessário que isto aconteça primeiro, mas o fim não será logo.
Perguntam quando acontecerão essas coisas e que sinais aparecerão para anunciar essas coisas. Em momento algum Jesus fala em fim do mundo, ele apenas diz o que vai acontecer antes que o império da matéria (representado pelo templo) deixe de reinar sobre o homem.
Todas as coisas referidas por Jesus neste capítulo são coisas normais neste planeta, como falsos profetas, guerras, terremotos, fome, doenças, perseguição, prisão, morte. Nada disso é novidade. Nada disso pode ser tomado como sinal de qualquer coisa imediata. Essas coisas aconteceram em todas as épocas da humanidade.
E o que Jesus está dizendo é que “é necessário que isto aconteça primeiro, mas o fim não será logo”. Jesus fala de um período de sofrimento que antecede a vinda do filho do homem, que é o nosso próximo estágio evolutivo.
Hoje nós vivemos o período de transição planetária, em que nosso planeta está deixando de ser um mundo de provas e expiações para se tornar um mundo de regeneração. Essa transição não se refere especificamente ao planeta, mas aos seus habitantes. Nós, como espíritos imortais que somos, é que estamos em transição.
Os mansos herdarão a Terra, disse Jesus (Mateus 5:5). Só os que forem mansos, ou seja, só os que domarem os seus instintos primitivos e dominarem a sua própria força é que permanecerão neste planeta. Aqueles que não se adequarem habitarão outro planeta, o que para eles será como um castigo (já que experimentarão condições primitivas de vida), mas em que terão condições de continuarem o seu desenvolvimento auxiliando os habitantes deste planeta, ainda muito primitivos, em seu progresso material e espiritual.
10. Então lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino;
11. E haverá em vários lugares grandes terremotos, e fomes e pestilências; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu.
12. Mas antes de todas estas coisas lançarão mão de vós, e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do meu nome.
13. E vos acontecerá isto para testemunho.
14. Proponde, pois, em vossos corações não premeditar como haveis de responder;
15. Porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem.
16. E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós.
17. E de todos sereis odiados por causa do meu nome.
18. Mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça.
19. Na vossa paciência possuí as vossas almas.
20. Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação.
21. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e os que nos campos não entrem nela.
22. Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas.
23. Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo.
24. E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.
25. E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas.
26. Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto as virtudes do céu serão abaladas.
27. E então verão vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória.
28. Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima.
O que temos neste capítulo são imagens fortes de que Jesus se serviu para que ficassem registradas as características do período de provas e expiações e a grande diferença que notaremos quando nos aproximarmos do período de regeneração. Poucas lições podem ser percebidas aqui.
No versículo 18, depois de abordar uma série de violências, Jesus diz que “não perecerá um único cabelo da vossa cabeça”. Isso, se levado ao pé da letra, é uma contradição, mas temos que lembrar que Jesus nos disse que até os fios de cabelo da nossa cabeça estão todos contados (Mateus 10:30), querendo dizer que Deus sabe tudo sobre nós.
Todos os nossos pensamentos, palavras e ações ficam gravados em nosso subconsciente, fazem parte do nosso patrimônio espiritual. O que Jesus está indicando, aqui, é que nada do que adquirimos, moralmente e intelectualmente, será perdido. O que é físico perece, mas o que é espiritual é imortal.
“Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias!” – No Evangelho de Mateus, quando Pilatos estava indeciso sobre a condenação de Jesus, o povo insistiu na sua condenação e assumiu a responsabilidade pela morte de Jesus dizendo: “o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mateus 27:25). Estes espíritos comprometidos com a morte de Jesus é que mais tarde, reencarnando cheios de culpa, desarmonizados com as Leis divinas, ensejaram o alerta de Jesus sobre as mães que os receberiam em seus ventres.
29. E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira, e para todas as árvores;
30. Quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão.
31. Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto.
32. Em verdade vos digo que não passará esta geração até que tudo aconteça.
Os ciclos da natureza nos anunciam as estações do ano. Quando uma árvore vai dar fruto, sabemos em que época do ano estamos. Do mesmo modo, observando as características do mundo em que vivemos, temos que saber que o reino de Deus está perto, mais perto do que a maioria costuma imaginar, pois o reino de Deus está dentro de nós. O reino de Deus é o nosso próximo estágio evolutivo, quando nos tornaremos filhos do homem, resultado da evolução espiritual do homem, frutos do homem.
A árvore produz a sua continuidade através do seu fruto. Nós também produzimos nossa continuidade através do fruto da nossa evolução. Somos o resultado de nós mesmos. Os espíritos mais adiantados um dia foram seres como nós. O que eles são hoje é o resultado do que eles foram ontem.
“Não passará esta geração até que tudo aconteça”. – Jesus cita uma série de dificuldades, catástrofes naturais e humanas. Será que todas as pessoas daquela geração experimentaram todas essas coisas? Os contemporâneos de Jesus, as pessoas que viviam naquela época em que Jesus disse essas coisas, todas elas passaram por guerras, terremotos, perseguições, todas viram sinais no sol e na lua? Claro que não. Jesus não está se referindo àquela geração terrena, não está se referindo àquelas pessoas. Jesus está se referindo à geração de espíritos da Terra. Jesus possivelmente tenha foi o responsável pela formação do nosso planeta, é um espírito muito antigo. O tempo para ele não é o mesmo tempo para nós. Todas essas coisas a que Jesus se referiu, para ele representam alguns dias; para nós isso parece uma eternidade.
Quando Jesus se refere àquela geração ele está falando dos espíritos habitantes deste planeta, espíritos que estão sob sua responsabilidade, as ovelhas que o pai lhe confiou (João 10:26-30). Todos nós, ao longo da nossa trajetória espiritual, experimentamos essas coisas.
33. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão de passar.
O ensinamento de Jesus é cósmico, universal, é válido em qualquer lugar e em qualquer tempo. Por isso não vale a pena analisar previsões ou profecias. Essas coisas são efêmeras, têm seu prazo de validade. O ensinamento é eterno. O tempo passa, a Terra se desloca pelos céus do espaço infinito e o seu ensino continua presente.
34. E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.
35. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra.
36. Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem.
37. E de dia ensinava no templo, e à noite, saindo, ficava no monte chamado das Oliveiras.
38. E todo o povo ia ter com ele ao templo, de manhã cedo, para o ouvir.
Jesus nos chama a atenção para a disciplina. Não nos proíbe prazeres. Jesus nunca proibiu os prazeres materiais. Não há nada de errado no uso, mas no abuso. Precisamos desenvolver a disciplina para estarmos sempre prontos para subirmos novos degraus evolutivos. Quando estamos prontos, as oportunidades aparecem. Quando estamos preparados, não somos pegos de improviso.
“Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra”. – Aqui é uma alusão clara ao expurgo, ao exílio dos espíritos rebeldes em outro planeta. “Há muitas moradas na casa de meu pai”, disse Jesus (João 14:2). Cada morada é adequada a um determinado nível evolutivo. A Terra está avançando um nível, muitos espíritos que estavam há séculos sem reencarnar estão tendo a sua última oportunidade. E os que não se adequarem às novas condições serão exilados noutra morada da casa do pai.
Jesus recomenda a vigilância e a oração. Está na hora de aprendermos a vigiar os próprios pensamentos. É condição necessária para nos adequarmos ao mundo de regeneração. O controle sobre os pensamentos e o estado permanente de oração, que é o estado de gratidão. Não existe oração mais produtiva do que o estado de gratidão a Deus, às coisas e às pessoas.
“… para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem”. – Jesus não diz que podemos evitar todas aquelas coisas que ele diz que iriam acontecer, e que sempre aconteceram. Ele diz que podemos “ser havidos por dignos”, ou seja, podemos alcançar um nível em que estas coisas já não nos atinjam diretamente. O que Jesus recomenda é que sejamos de tal modo mansos (pois os mansos herdarão a Terra) que nenhuma violência física, seja de pessoas ou da natureza, seja necessária para estimular o nosso progresso.
Só precisamos da dor até aprendermos a trilhar o caminho reto das Leis de Deus. O caminho que leva a Deus é uma reta. A dor é um mecanismo que nos avisa que estamos fora do caminho. A utilidade da dor é essa: nos alertar de que devemos voltar ao caminho. Se já estamos no caminho, a dor não é mais necessária.
Quando alcançarmos este estado de mansidão estaremos em pé diante do filho do homem. Rohden traduziu como “subsistir ante o filho do homem”. Outros traduzem como “levantar”, “permanecer levantado”. A palavra grega é statêne (σταθηναι) – infinitivo aoristo na voz passiva do verbo hístemi, que quer dizer “ficar de pé”, “permanecer firme, estabelecido”. O sentido original da palavra se refere a estado, estar. É este verbo hístemi, acrescido do prefixo aná, que quer dizer “de novo”, “novamente”, que forma o verbo anístemi, que é traduzido como “ressurreição”, que nada mais é, no texto original grego, que “voltar ao estado anterior”, “voltar a ficar de pé”, “levantar-se novamente”.
Então nós estaremos diante do estado de filho do homem, estaremos de pé, firmes, aptos ao nosso próximo estágio evolutivo.
“E de dia ensinava no templo, e à noite, saindo, ficava no monte chamado das Oliveiras”. – Para terminar, uma ênfase sobre a necessidade de orar e vigiar.
De dia ensinar no templo, ensinar através do exemplo, da vivência cotidiana, por meio de pensamentos, palavras e ações – no templo, ou seja, no corpo físico.
E à noite, saindo, saindo do templo, saindo do corpo físico, desdobrar-se (ou projetar-se) para o monte, para um lugar ou estado mais elevado. Nossa atividade durante o período de sono físico reflete o que predomina em nós durante o estado de vigília.
Quando consolidarmos a prática de orar e vigiar estaremos aptos a continuar a atividade consciente durante o período de sono físico, quando estamos parcialmente libertos do corpo físico.
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