Os convidados para o banquete é uma das parábolas de Jesus que trazem, sob o véu dos simbolismos, a ideia da reencarnação como necessária para o progresso do espírito e consequente comunhão com Deus, representado pelo banquete. Outros assuntos abordados neste vídeo são a renúncia às coisas materiais, as relações familiares e a cura do hidrópico, todos referentes ao capítulo 14 do Evangelho de Lucas. Este é o 19º vídeo de uma série de 30 vídeos em que analisamos e interpretamos o Evangelho de Lucas a partir de um entendimento espírita.
Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.
CAPÍTULO 14
1. Aconteceu num sábado que, entrando ele em casa de um dos principais dos fariseus para comer pão, eles o estavam observando.
2. E eis que estava ali diante dele um certo homem hidrópico.
3. E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado?
4. Eles, porém, calaram-se. E, tomando-o, o curou e despediu.
5. E respondendo-lhes disse: Qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?
6. E nada lhe podiam replicar sobre isto.
Jesus está num sábado na casa de um fariseu importante para fazer uma refeição. No capítulo anterior nós comentamos acerca do fato de que Jesus costumava jantar na casa de fariseus, e afirmamos que não podemos concordar com os comentaristas do Evangelho que acreditam que os fariseus estavam sempre tentando tramar contra Jesus. Certamente Jesus tinha admiradores entre os fariseus.
Estava na casa do fariseu um homem hidrópico. A hidropisia é uma doença causada por distúrbios na circulação do sangue causando inchaço em partes do corpo ou no corpo todo.
Sabemos que no contexto bíblico a água é o elemento gerador absoluto. No começo do Gênesis, quando trata da creação, vemos que Deus não cria a água, é como se a água já existisse, ela representa o princípio material. O espírito de Deus pairava sobre as águas (Gênesis 1:2): o princípio espiritual e o princípio material, conforme nos ensina a questão 27 de O Livro dos Espíritos.
A hidropisia é caracterizada pela retenção de líquido, pela retenção de água, hidro quer dizer água. O hidrópico representa o espírito apegado à matéria, aquele que quer reter os bens materiais consigo.
É a terceira vez no Evangelho de Lucas em que Jesus cura no sábado, e Lucas repete aqui a argumentação de Jesus constante do capítulo anterior.
É dito que Jesus “o curou e despediu”. O verbo traduzido como “despedir”, no texto original grego, é apêlisen (απελυσεν), indicativo aoristo do verbo apolío, que além de “despedir” também quer dizer “desatar”, “desamarrar”, “libertar”. Jesus libertou este espírito.
Semelhante ao caso da mulher encurvada, que estudamos no capítulo anterior, Jesus percebeu que este espírito ou já havia cumprido o seu carma, ou seja, já estava quitado com a Lei de causa e efeito, precisando de um influxo de energia para se libertar do efeito de tanto tempo de escravidão à matéria; ou Jesus concedeu a ele uma espécie de moratória, permitindo a este espírito melhores condições para agir positivamente em direção à espiritualização. Também temos que considerar que nem sempre o espírito encarnado que apresenta uma doença é um espírito necessariamente culpado.
A lição desta cura de Jesus é que através do Cristo, na nossa tentativa de comunhão com o Cristo (já que eles iam participar da mesma refeição, e a refeição é uma comunhão – ao comerem a mesma coisa todos têm algo em comum dentro de si), esta proximidade e comunhão com o Cristo é que nos afasta da matéria, nos liberta da escravidão às posses materiais, nos liberta da retenção das coisas materiais junto de nós, o que impede a nossa evolução espiritual. Nós evoluímos no mundo material, mas o espírito deve agir sobre a matéria, e não a matéria agir sobre o espírito.
7. E disse aos convidados uma parábola, reparando como escolhiam os primeiros assentos, dizendo-lhes:
8. Quando por alguém fores convidado às bodas, não te assentes no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu;
9. E, vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o derradeiro lugar.
10. Mas, quando fores convidado, vai, e assenta-te no derradeiro lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa.
11. Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.
Jesus nos deu o exemplo vivo desta lição. Jesus, o responsável maior pelo planeta Terra, se fez homem e nos serviu como o maior exemplo de humildade. Noutra ocasião Jesus renovou este ensinamento aos seus discípulos lavando os pés deles (João 31:5), para que esta imagem ficasse gravada e não nos esquecêssemos do seu exemplo de humildade, que todos devemos seguir.
Emmanuel, a propósito desta passagem, nos lembra de não esmagarmos os outros com os nossos conhecimentos, de respeitarmos as inteligências menores que a nossa, de não impormos nossa bagagem intelectual sobre os outros. Além de falta de humildade e compreensão com as diferenças, a demonstração do saber com ostentação provoca a imediata antipatia por parte daqueles que são alvo da ostentação intelectual.
Nossa postura deve ser naturalmente humilde, sem a falsa humildade dos estereótipos espíritas, mas a humildade espontânea, de reconhecer o nosso próprio tamanho, a nossa própria pequeneza.
Se nos destacarmos em qualquer área isso deve se fruto do nosso esforço e deve partir do reconhecimento pelo próximo. É o próximo que decide se temos ou não algum valor. Nós, de nossa parte, temos que ter em mente a nossa imperfeição e o pouco conhecimento que temos de tudo e de todos.
Há um perigoso estereótipo no meio espírita, muito próximo do comportamento dos fariseus no tempo de Jesus. Os fariseus ostentavam o seu jejum fazendo cara de fome, sujando o rosto de cinza e mantendo a barba emaranhada. Queriam que todos vissem como eles eram sofridos, pelo seu jejum, pelo seu esforço em cumprir o que determinava a lei e as tradições.
Há espíritas que confundem humildade com aparência humilde, então usam uma roupa gasta, bem batida, descuidam da aparência e pensam que com isso estão sendo humildes. Mas muitos destes saem do centro espírita e entram no seu carro importado e vão para o seu apartamento de luxo num bairro nobre.
Não há nada de errado em ter posses. Então por que esconder? Por que a tentativa de se passar por humilde? O que aparência tem a ver com humildade? O que a riqueza material tem a ver com humildade ou falta de humildade?
A palavra humildade vem do latim humilis, que tem a mesma raiz de húmus, terra. Ser humilde é se colocar no seu devido lugar. O homem é espírito e vive na matéria. O que é material fica na terra, o corpo e as coisas materiais voltam para a terra, são perecíveis. Voltam para o húmus da terra, viram adubo, viram pó. Ser humilde é reconhecer isso, reconhecer a transitoriedade dos valores materiais a que nos agarramos.
Não precisamos de muita coisa para cumprirmos a nossa tarefa na Terra: Vontade, disciplina e equilíbrio. É esse equilíbrio que devemos buscar.
Jesus andava bem trajado. Quando ele foi crucificado os soldados romanos disputaram as suas vestes. Não iriam disputar para ver quem ficava com as suas roupas se ele andasse esfarrapado, vestido de andrajos.
Jesus demonstrava humildade no servir ao próximo, no se fazer homem como nós, em comer o que nós comemos, beber o que nós bebemos, vestir o que nós vestimos.
Que nós saibamos nos colocar nos últimos lugares. Se tivermos algum mérito naturalmente seremos convidados a sentar mais para cima.
Quem se reconhece pequeno cresce naturalmente aos olhos dos outros, aos olhos de si mesmo e aos olhos de Deus. Quem se imagina maior do que é, desperta antipatia no próximo, decepciona-se consigo mesmo e afasta-se de Deus.
Esta lição de Jesus constava do livro de Provérbios, então já devia ser conhecida de todos:
“Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes;
Porque melhor é que te digam: Sobe aqui; do que seres humilhado diante do príncipe que os teus olhos já viram.” Provérbios 25:6-7
Jesus começa dizendo: “Quando por alguém fores convidado às bodas…” – A imagem do casamento, tão presente na Bíblia, e muito utilizada por Jesus, simboliza a nossa união com o Cristo. É a nossa personalidade, essa pessoa que animamos nesta existência, que deve se unir com o Cristo que habita dentro de cada um de nós.
Nós recebemos convites para a espiritualização desde a infância. Quase todos nós já fomos convidados por Jesus para sermos seus colaboradores. Quem não lembra de si mesmo, na infância, sensibilizado com a ideia de Deus e com a imagem de Jesus? Quem nunca observou a pureza e a boa vontade de uma criança para tratar das coisas espirituais?
Jesus nos deu essa lição observando os convidados do fariseu para a refeição. Em todos os fatos corriqueiros do cotidiano Jesus tomava exemplos para que nós compreendêssemos, um dia, a profundidade do seu ensinamento.
12. E dizia também ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado.
13. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos,
14. E serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos.
Podemos ter a impressão de que se trata de uma proibição de Jesus, mas temos que prestar atenção no objetivo da sua advertência. Para que ele nos recomenda isso? “para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado”.
Jesus está falando de uma festa. Esta festa é a vida e os valores que juntamos na vida. Nada impede que convidemos amigos e familiares e quaisquer pessoas para participarem da nossa festa, que representa a nossa vida. A advertência de Jesus é para que não esperemos nada em troca, para que não façamos nada em benefício do próximo dando margem a que ele pense que nos deve um favor. Não podemos convidar ninguém a participar do jantar da nossa vida e alimentar-se dos nossos valores, do pão espiritual que Deus nos concede para que repartamos com o próximo, e com isso esperarmos qualquer espécie de retribuição – nem das pessoas, nem de Deus – nem nesta existência e nem depois que desencarnarmos.
Jesus disse em outra ocasião para amarmos aos nossos inimigos, pois até as pessoas que descumprem as leis de Deus amam aqueles que os amam. Jesus também nos disse que não são os sãos que precisam de médico, mas os doentes. Ao orarmos o “Pai nosso” pedimos a Deus o pão espiritual.
Quando estamos dispostos a sermos instrumentos de Deus, Deus se manifesta através de nós e nós repartimos o pão espiritual com aqueles que têm fome das coisas do espírito.
Devemos fazer da nossa vida um jantar, uma festa das coisas do espírito, e devemos convidar para esta festa não os nossos amigos, familiares e colegas que tem tanto ou mais pão do que nós. Os que já aprenderam a receber de Deus o pão espiritual, o pão sobressubstancial, que foi erroneamente traduzido na oração como “pão de cada dia”, estes não estão precisando de nós, estes não precisam do nosso convite para a festa.
Quem precisa comer do pão espiritual que Deus nos concede para repartir com o próximo são os pobres, os aleijados, os mancos e cegos.
Os pobres que mendigam as coisas do espírito; os aleijados, aqueles em que falta alguma coisa para compreender a Deus e às suas leis perfeitas; os mancos, aqueles que estão espiritualmente desequilibrados; os cegos, aqueles que não enxergam a manifestação de Deus em todas as coisas, os que ainda não desenvolveram olhos de ver.
Jesus diz que os que repartirem o pão espiritual, os que convidarem os necessitados para a festa, estes serão bem-aventurados (ou felizes), pois estes serão recompensados na ressurreição dos justos.
O substantivo dativo anástasei (αναστασει), traduzido como “ressurreição”, quer dizer “voltar ao estado anterior”, ou “tornar a ficar de pé”. Os israelitas usavam um eufemismo para designar a morte, diziam deitar-se. Ressurgir para a vida, então, é levantar-se. Anástasei tanto pode significar o retorno para o plano astral como o retorno para o plano físico. No caso em questão Jesus parece estar se referindo ao plano astral, pois este é o estado anterior à reencarnação do espírito. O espírito encarnado que volta ao seu estado anterior vai para o plano astral, pois é de lá que ele veio.
Anástasei, no sentido de “tornar a ficar de pé” pode também significar a elevação; neste caso, a elevação dos justos, ou seja, dos ajustados à Lei de Deus. Aqueles que cumprem as Leis de Deus estão naturalmente ajustados com as Leis de Deus, levantando-se, elevando-se vibracionalmente. A “ressurreição dos justos”, neste caso, seria a elevação vibracional dos ajustados com as Leis de Deus.
15. E, ouvindo isto, um dos que estavam com ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus.
Eles imaginavam o reino de Deus como algo fora de nós, mas Jesus nos ensina que o reino de Deus está dentro de nós (Lucas 17:21). Compete a nós o desenvolvermos e vivenciarmos. Este comentário do convidado deu ensejo a que Jesus contasse uma parábola:
16.Porém, ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos.
17. E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado.
18. E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado.
19. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado.
20. E outro disse: Casei, e portanto não posso ir.
21. E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos.
22. E disse o servo: Senhor, feito está como mandaste; e ainda há lugar.
23. E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha.
24. Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.
Nós recebemos o convite de Jesus. Se antes Jesus nos deu recomendações sobre quem devemos convidar para a nossa festa, a nossa vida, agora ele dá o exemplo do Cristo que habita em nós.
Conforme vamos evoluindo, vamos desenvolvendo a consciência de nós mesmos e de nossas responsabilidades. Percebemos, vagarosamente, que temos o Cristo dentro de nós, e que compete a nós nos integrarmos a ele.
O Cristo nos convida para este grande jantar, para esta comunhão. Mas o nosso apego à materialidade nos faz negar o seu convite. Ou nos apegamos aos bens materiais (representados pelo terreno), como se eles fizessem parte de nós; ou nos deixamos escravizar pelo trabalho (representado pelos bois, que eram utilizados para o trabalho), pela carreira, pelas relações de poder e status; ou nos prendemos aos prazeres terrenos e às relações de família (representados pela desculpa do homem que alega ter casado).
Todas estas coisas fazem parte da nossa experiência terrena. Os bens materiais, os prazeres, o trabalho, os laços de família. Mas nada disso pode estar acima de nossa relação com o Cristo.
Jesus nos disse para buscarmos acima de tudo o reino de Deus, as coisas espirituais, e o resto nos seria dado por acréscimo (Lucas 12:31).
Todos nós, que estamos razoavelmente despertos – e o interesse pelos assuntos ligados à espiritualidade é um indício claro deste despertamento -, recebemos o convite do Cristo, todos nós estamos maduros para começarmos o nosso processo de união com o Cristo que habita dentro de nós.
Reencarnamos cheios de bons propósitos, dispostos a passar por cima dos nossos instintos inferiores, prontos para iniciarmos uma existência de equilíbrio e de busca de elevação espiritual, através da conscientização, da transformação moral e do serviço em benefício do próximo. No entanto, ainda nos distraímos mais do que deveríamos com os falsos valores da matéria, que são transitórios e não nos acrescentam nada.
Quando somos lembrados do nosso convite para o jantar com o Cristo – e somos lembrados muitas vezes, de diversas formas – quase sempre alegamos nossos muitos afazeres profissionais, nossos compromissos sociais, nossos deveres com a família.
A família é geralmente vista como uma boa desculpa, pois elevamos a família como a grande causa de nossas vidas. Não é assim. Nossa família é formada por espíritos que progridem em conjunto, uns mais e outros menos. É verdade que nossa primeira obrigação moral e material é com a família, pois não é à toa que os espíritos se aproximam. Mas a família não pode servir de pretexto para deixarmos de lado nossa tarefa espiritual.
Nossa obrigação começa com a família, mas não termina com a família; até porque nossa verdadeira família é espiritual.
Na parábola que Jesus nos conta, o homem que fez o convite, vendo que os que foram convidados recusaram o convite, manda convidar os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos.
Quem são estas pessoas? São os mesmos espíritos que recusaram o convite.
Por que recusaram o convite da primeira vez? Por que se deixaram envolver pelas coisas materiais, movidos pelo egoísmo em suas mais diversas formas.
O caminho que leva a Deus é uma reta. Quando somos dominados pelo egoísmo abandonamos o caminho reto e entramos em desvios e atalhos. A Lei de Deus nos avisa que nos desviamos do caminho através da dor. A dor é um aviso de que saímos do caminho reto que leva a Deus. Por meio da dor, causada por nossas próprias escolhas erradas, nos tornamos temporariamente pobres, aleijados, mancos e cegos.
E somos convidados novamente, pois a misericórdia de Deus é infinita e sempre nos concede novas chances para nos rearmonizarmos com as Leis divinas. Então alguns de nós aceitam, outros ainda não.
Na parábola, o servo avisa o homem que ainda há lugar: “Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha. Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia”.
A Lei força todos a se reajustarem. Não temos escolha. Nosso destino é o progresso e a felicidade. Nosso livre arbítrio se resume à escolha sobre a forma e tempo que levaremos para progredirmos e alcançarmos a felicidade.
O senhor manda buscar pelos caminhos. São os mesmo que se desviaram que estão nestes outros caminhos.
Nenhum daqueles primeiros convidados provará a ceia do senhor. Eles já não existem mais. Os espíritos que animaram aquelas personalidades egoístas, que se desviaram do caminho reto das Leis de Deus, hoje revestem outros corpos, outras personalidades, em condições diferentes. Aprenderam com a dor e aceitam, mesmo que impelidos pela força da Lei, o convite para o jantar.
25. Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse-lhe:
26. Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
A palavra “aborrecer” (que, traduzido literalmente, quer dizer “odiar”), nesta fala de Jesus, é um hebraísmo, uma expressão do idioma dos israelitas em que há mais ênfase do que nós costumamos utilizar. Na falta de uma palavra mais adequada para traduzir o pensamento de Jesus, foi usado o verbo “odiar”, no grego misei (μισει).
Jesus não nos pede, de modo algum, que odiemos nossos familiares, sejam quais forem. Como dissemos há pouco, nossa obrigação começa com a família, mas não termina com a família.
Jesus resumiu os mandamentos em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Marcos 12:30-31). Nenhum interesse pode estar acima de Deus. Dando prioridade a Deus teremos o equilíbrio necessário para cuidarmos da família e não só da família.
27. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.
28. Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
29. Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele,
30. Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.
31. Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
32. De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.
33. Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.
Jesus fala que devemos carregar a nossa cruz. Não é demais lembrar que a crucificação já era uma prática comum naquele tempo. Todas aquelas pessoas a quem Jesus se dirigia já tinham visto, alguma vez na vida, um condenado carregando a sua cruz até o local designado.
Jesus não quer dizer com isso que somos condenados, mas que temos que cumprir com o nosso dever sem esmorecer. Jesus alerta para a responsabilidade que é aceitar o seu convite. É preciso que saibamos o que nos espera, temos que estar preparados, temos que estar bem conscientes do que representa seguir o Cristo.
Jesus cita o exemplo de alguém que quer construir uma torre, e, para isso, precisa calcular, antes, quanto material será preciso para completar a obra.
Jesus também cita o exemplo de um rei que vai fazer guerra contra outro rei, que antes deve calcular se pode, com seus dez mil soldados, vencer os vinte mil soldados do outro rei.
Podemos imaginar que Jesus está apenas chamando a nossa atenção para os riscos de iniciar um processo de espiritualização, em que nos tornamos mais sensíveis, mais abertos a influências espirituais, mais conscientes da gravidade de nossos pensamentos, palavras e ações, e depois desistirmos.
É claro que se fizermos isso teremos alguns revezes. Ao nos conscientizarmos, passamos a sofrer as consequências dos nossos erros às vezes imediatamente; ao nos sensibilizarmos, nos tornamos mais suscetíveis, abrimos nosso campo eletromagnético às influências externas. Se vigiarmos e orarmos, essas influências serão benéficas. Se desistirmos da nossa caminhada com Jesus, estaremos mais expostos a outras influências.
Podemos ser levados a pensar que para que a construção da torre chegue ao fim, temos que ter material suficiente, e que para que o rei vença a guerra arranje mais dez mil soldados.
Mas não. Jesus diz para renunciarmos a tudo o que temos. A torre não deve ser construída e a guerra não deve ser iniciada.
Não precisamos de uma torre para nos elevarmos materialmente, mas precisamos nos desapegar da matéria para nos elevarmos espiritualmente.
Também não precisamos lutar contra inimigos externos. Nossa luta é interna, é contra o nosso próprio orgulho e egoísmo.
Todo este capítulo é sobre o desapego a tudo o que nos prende à matéria, a todo egoísmo:
- A cura do hidrópico é a libertação da retenção das coisas materiais;
- A escolha do último lugar para sentar à mesa é abrir mão de toda e qualquer honraria, é abrir mão dos melhores lugares reconhecendo a nossa pequeneza;
- Os convidados para a ceia que nós oferecemos (para a nossa vida) devem ser os espiritualmente mais necessitados, e não aqueles que têm condições de se bastarem a si mesmos;
- Os convidados para a festa do senhor não aceitaram o convite por causa de terrenos, bois e casamentos, e foram novamente convidados mais tarde, quando pobres, aleijados, mancos e cegos;
- Jesus diz que para segui-lo deve-se desfazer a falsa ideia de que vivemos para a família, pois acima de tudo estão as coisas de Deus;
- E, por fim, notamos que temos que abrir mão de tudo o que nos mantém o egoísmo, como o grande crescimento material representado pela torre e as lutas externas movidas pelo orgulho, quando sabemos que só a quem temos que vencer é a nós mesmos.
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