Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Transfiguração de Jesus

No episódio conhecido como transfiguração, Jesus se comunicou com os espíritos de Moisés e Elias, derrubando qualquer suposta proibição de comunicação com os espíritos desencarnados. Neste vídeo, o 13º de uma série de 30 vídeos em que analisamos o Evangelho de Lucas, abordamos, além da transfiguração no monte, a cura do epilético e as condições para seguir Jesus, temas abordados no capítulo 9 de Lucas.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

CAPÍTULO 9

28. E aconteceu que, quase oito dias depois destas palavras, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao monte a orar.
29. E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente.
30. E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias,
31. Os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém.
32. E Pedro e os que estavam com ele estavam carregados de sono; e, quando despertaram, viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam com ele.
33. E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo o que dizia.
34. E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram.
35. E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi.
36. E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só; e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.

Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, talvez seus melhores médiuns, visto que foram os mesmos que o acompanharam, por exemplo, quando da cura da filha de Jairo, que era dada como morta.

Acompanhado deles, Jesus subiu ao monte para orar. Novamente Lucas menciona que Jesus subia ao monte para orar, significando a elevação vibracional.

Enquanto Jesus orava, seu rosto ficou diferente e sua roupa muito branca. Então apareceram dois homens. Eram Elias e Moisés. Ambos haviam desencarnado há muito tempo, então eram dois espíritos desencarnados que se apresentaram como se estivessem encarnados, como se fossem homens carnais.

Os espíritos de Moisés e Elias falavam com Jesus, sobre o que aconteceria com Jesus em Jerusalém.

Aqui fica demonstrado que Jesus não desaprovava a comunicação entre os espíritos encarnados e desencarnados, pois ele mesmo se comunicou com estes dois espíritos. Se Jesus pode, nós também podemos, pois Jesus nos disse que nós poderíamos fazer as mesmas coisas que ele fazia (João 14:12).

Também fica claro que a proibição de consultar os mortos, feita por Moisés no Antigo Testamento, se referia às práticas de adivinhação, à busca de favores materiais e a objetivos escusos e fúteis, mas não se referia à comunicação respeitosa e bem intencionada entre os espíritos. Se os espíritos desencarnados nada mais são do que seres como nós, apenas despojados do corpo físico, não há porque proibir a comunicação entre uns e outros. A presença de Moisés demonstra isso. Foi Moisés mesmo quem proibiu, mas proibiu práticas que nada tem a ver com o Espiritismo, e suas proibições valiam para aquele tempo, para aquele lugar, para aquele povo, para aquelas circunstâncias.

O outro espírito que se apresenta é Elias, que havia reencarnado há pouco como João Batista. Como espírito adiantado que era (Jesus disse que entre os nascidos de mulher – ou seja, entre os espíritos que ainda precisam reencarnar, que ainda não se libertaram do ciclo reencarnatório – não havia ninguém maior do que João Batista) o espírito que animou Elias e João Batista tinha plenas condições de determinar a aparência com que se apresentaria.

Pedro, Tiago e João, que estavam com Jesus, não conheciam Moisés e Elias. Moisés havia morrido há mais ou menos 1200 anos, Elias há 900 anos. Como eles souberam que os dois homens ou espíritos eram Moisés e Elias? – Ou isso ficou evidenciado durante a conversa ou Jesus disse a eles.

Nos Evangelhos de Mateus e Marcos, assim que eles descem do monte Jesus revela a Pedro, Tiago e João que João Batista é a reencarnação de Elias.

Se buscarmos um simbolismo por trás da aparição de Moisés e Elias, encontraremos justamente Elias, que reencarnou como João Batista, como o elemento de ligação entre Moisés e Jesus.

Este espírito, que viveu como Elias e como João Batista, representa o longo percurso que a humanidade deve percorrer para preparar-se para o desenvolvimento do seu Cristo interno.

O reconhecimento de Deus e a tentativa de andar de acordo com as suas Leis é simbolizado por Moisés. Moisés com as suas leis rígidas representa o nosso estágio inicial de espiritualização, em que precisamos seguir regras de conduta bem estabelecidas por não termos a consciência suficientemente desenvolvida para analisarmos por nós mesmos.

A nossa trajetória espiritual na Terra, que acontece através de inúmeras reencarnações, é representada por Elias, que na sua reencarnação como Elias defendeu as leis de Moisés e como João Batista preparou o caminho para Jesus.

Elias mandou matar pela espada 450 profetas de Baal (1 Reis 18:17-40)  e João Batista foi morto pela espada a mando de Herodes (Mateus 14:3-10). Elias-João Batista representa o espírito que percorre o longo caminho que leva a Deus, evoluindo do simples cumprimento da Lei até a conscientização e a libertação dos erros.

A Bíblia de Jerusalém diz que Pedro, Tiago e João estavam “pesados de sono”; a tradução do Haroldo Dutra Dias diz que eles estavam “sobrecarregados de sono” e que, “ao acordarem, viram a glória dele e os dois varões que estavam com ele”. O Haroldo oferece para esta palavra “acordarem” o seguinte significado literal: permanecer acordado, passar a noite em vigília, acordar completamente.

A versão em espanhol de Francisco Lacueva traduz como “despertar totalmente”. De fato o verbo grego diagregoréo ( διαγρηγορέω) quer dizer “velar”, “estar de vigia”, “estar totalmente acordado”. Não entendemos por que traduzem como se eles houvessem acordado quando o sentido é de que eles permaneceram despertos.

É possível que eles estivessem desdobrados, projetados conscientemente no plano astral enquanto os seus corpos físicos estavam repousando.

Isso explicaria o fato de terem visto Jesus em aparência diferente, pois o que teriam visto, então, seria o seu perispírito, que era naturalmente resplandecente, fulgurante; isso também explicaria terem visto Moisés e Elias, que estariam ali em espírito; e isso também poderia explicar o fato de terem reconhecido Moisés e Elias, pois é possível que eles já os conhecessem de outras ocasiões em que houvessem se desdobrado. Algo semelhante ao que ocorreu com o apóstolo Paulo quando reconheceu Ananias, depois de ter ficado temporariamente cego – provavelmente o conhecia de sonhos ou projeções (Atos 9:12).

Pedro propõe fazer três tendas; uma para Jesus, uma para Moisés e outra para Elias. Talvez Pedro estivesse se referindo a tenda com o sentido de “tabernáculo”. O tabernáculo era uma tenda ou barraca onde, desde o êxodo (a saída do povo israelita do Egito conduzido por Moisés) até o tempo do rei Davi, era realizado o culto a Javé.

Pedro estaria, então, endeusando Jesus, Moisés e Elias, e por isso a observação de Lucas de que ele “não sabia o que dizia”, pois não havia percebido, ainda, que todos são espíritos, dispensando a formalidade dos cultos como os que eram prestados a Javé.

Há outra possibilidade de interpretação para esta proposta de Pedro: Na segunda epístola de Pedro ele se refere ao seu corpo físico como tenda ou tabernáculo (2 Pedro 1:13-14). Supondo-se, como parece, que eles estavam desdobrados com lucidez, e que esta cena tenha se passado no plano astral, é possível que Pedro, ao perceber que Elias e Moisés se afastavam, tenha proposto exatamente a materialização dos dois e a continuação deste encontro no plano físico.

Se considerarmos que Pedro se referia ao corpo físico como tenda e tenha oferecido armar três tendas, uma para Jesus, uma para Moisés e outra para Elias, pode ser que estivesse propondo a produção de um fenômeno de materialização.

Essa hipótese parece ainda mais verdadeira, pois vemos no texto que veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram”. Nos textos bíblicos sempre que há a materialização de um espírito – e aqui lembramos que Javé também é um espírito – ele “surge no meio de uma nuvem”.

Isso que designam como “nuvem” é o ectoplasma dos médiuns, necessário para a produção dos fenômenos de materialização.

Temos então duas hipóteses: ou estes fatos aconteceram no plano astral e depois houve a proposta de materialização, como parece ter sido; ou tudo se passou no plano físico, e a transfiguração de Jesus, então, foi uma transformação no perispírito que se irradiou em torno do corpo físico como uma atmosfera fluídica.

“Saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi”. – Fato idêntico ocorreu por ocasião do batismo de Jesus por João Batista (Lucas 3:22), dando a impressão de tratar-se de um espírito superior a Jesus. A encarnação de Jesus certamente foi planejada durante milênios, e isso faz parte de um projeto cósmico que nós mal podemos vislumbrar.

37. E aconteceu, no dia seguinte, que, descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão;
38. E eis que um homem da multidão clamou, dizendo: Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que eu tenho.
39. Eis que um espírito o toma e de repente clama, e o despedaça até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado.
40. E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam.
41. E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei? Traze-me aqui o teu filho.
42. E, quando vinha chegando, o demônio o derrubou e convulsionou; porém, Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino, e o entregou a seu pai.

Marcos diz que havia escribas discutindo com os discípulos de Jesus (Marcos 9:14-16). Aproveitavam o fracasso deles para colocar em dúvida o seu poder. Jesus sai em defesa dos seus discípulos e pergunta aos escribas o que é que eles estavam discutindo.

Vemos o caso de uma criança com grave obsessão. Somos levados muitas vezes pelas aparências e não compreendemos como uma criança pode ser vítima de uma influência espiritual negativa. Nos esquecemos de que o espírito é velho. O espírito pode estar habitando um corpo novo, mas ele é velho, e pela Lei de causa e efeito, sempre colhemos o que plantamos. Quando não encontramos a causa de nossos problemas na existência atual, a causa está no passado do espírito.

Ainda no Evangelho de Marcos, que narra este episódio com mais detalhes, Jesus pergunta há quanto tempo lhe acontecia isso, e o pai do menino responde que desde a infância (Marcos 9:21). Como os ensinamentos do Evangelho são para o espírito, isso se refere à infância do espírito, pois também é dito que o espírito o jogava muitas vezes na água e no fogo. A água é justamente o símbolo do nascimento físico, da reencarnação que acontece através da água – o novo corpo se desenvolve no líquido amniótico; e o fogo é o efeito da Lei de causa e efeito, é a dor que transforma e purifica.

Então o espírito deste menino sofria há várias reencarnações, há muito tempo, pois, como é narrado em Marcos, o espírito que o perseguia era surdo – isso quer dizer que o próprio espírito do menino era surdo, mas surdo para as verdades espirituais.

Vamos conferir esta passagem em Marcos:

E perguntou ao pai dele: Quanto tempo há que lhe sucede isto? E ele disse-lhe: Desde a infância. E muitas vezes o tem lançado no fogo, e na água, para o destruir; mas, se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos. E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê. E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade. E Jesus, vendo que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai dele, e não entres mais nele.” Marcos 9:21-25

Jesus curou o menino e o devolveu ao seu pai: Através do Cristo, os filhos são devolvidos ao Pai, a Deus Pai.

***

Aqui há o relato de uma desobsessão. Mas temos que prestar atenção à lição que este fato nos oferece: O pai do menino fala da sua incredulidade. No texto grego essa palavra é apistis, ou seja, a ausência de fé. Fé não é apenas crença. A palavra grega pistis, traduzida como fé ou crença, quer dizer fidelidade, lealdade. Quem tem fé em Deus é fiel às leis de Deus, é leal às leis de Deus.

Nós vemos que o espírito que não é fiel às leis de Deus, que não segue as Leis de Deus, que é surdo para as Leis de Deus reencarna muitas vezes em situação de sofrimento, e, ao final de cada passagem pela matéria, é defrontado com a dor, representada pelo fogo, que é um mecanismo de reajuste, é o sinal claro e inequívoco de que o caminho que se está trilhando não é o caminho certo.

Mas todos temos o livre-arbítrio, e podemos escolher continuar surdos às Leis de Deus, surdos à voz da consciência, pois as Leis de Deus estão gravadas em nossa consciência. No entanto, basta que se tenha um mínimo de fé, uma fé embrionária, mas sincera, reconhecendo com humildade a pequeneza desta fé, para que o Cristo que habita dentro de cada um de nós seja despertado e reerga o espírito. Mas é preciso oferecer um mínimo que seja de fé, de boa vontade, assim como vimos no episódio da multiplicação dos pães, em que é necessário contribuirmos com as nossas migalhas.

“Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei?” – Aqui, como em outras ocasiões, Jesus não está se referindo à geração de pessoas daquele tempo, mas à geração de espíritos. Jesus não está reclamando de ter que aguentar por mais alguns meses a companhia dessas pessoas incrédulas e perversas (pois logo ele iria deixar o mundo carnal). Jesus está se referindo à geração de espíritos que habitam a Terra, pela qual ele é o responsável. Jesus é o responsável pelos espíritos do planeta. É o irmão mais velho encarregado de nos conduzir a Deus. 

Jesus encarnou entre nós para nos ensinar a respeito da nossa natureza divina, do Cristo que temos dentro de nós, e nos deixou um código de ensinamentos morais eternos que, quando forem plenamente seguidos, nos libertarão do domínio da matéria.

Jesus tem ao seu encargo bilhões de espíritos ignorantes e endurecidos, ou, nas suas palavras, “incrédulos e perversos”. Incrédulos pela nossa falta de autonomia, por esperarmos por ajuda externa, por buscarmos fora de nós o que está dentro de nós. Sofremos em consequência de nossos próprios atos.

Noutro sentido, vemos que a nossa fé, mesmo que vacilante, desde que sincera e insistente, como foi o pai do menino, é aumentada, é potencializada pelo auxílio espiritual. Espíritos num grau mais elevado não hesitam em aproximar-se da nossa pequeneza espiritual, mesmo que para isso tenham que descer até nós, como Jesus que desceu do monte e encontrou a multidão à sua espera.

Mateus e Marcos contam que os discípulos perguntaram a Jesus porque não tiveram poder sobre o espírito, e Jesus disse que só se tem poder sobre estes espíritos endurecidos através do jejum e da oração. Ou seja, da abstinência dos apelos materiais e da oração que eleva o espírito. Vigiar o aspecto material e manter elevado o aspecto espiritual. Orar e vigiar (Mateus 26:41).

43. E todos pasmavam da majestade de Deus. E, maravilhando-se todos de todas as coisas que Jesus fazia, disse aos seus discípulos:
44. Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos, porque o Filho do homem será entregue nas mãos dos homens.
45. Mas eles não entendiam esta palavra, que lhes era encoberta, para que a não compreendessem; e temiam interrogá-lo acerca desta palavra.

Jesus já havia avisado aos seus discípulos o que aconteceria com ele. Pedro, Tiago e João, que o acompanharam em sua comunicação com Elias e Moisés, devem ter ouvido mais detalhes sobre o que lhe aconteceria, mas os outros ainda não entendiam. Mas esta fala de Jesus também se refere a todos nós, ao filho do homem, que somos nós em nosso próximo estágio evolutivo.

Assim como há uma longa transição entre o reino vegetal e o reino animal – o cogumelo, por exemplo, não é nem vegetal nem animal, está num estágio intermediário – assim também nós, que estamos no estágio hominal, não alcançaremos o reino de Deus de maneira brusca, mas o conquistaremos gradualmente.

Nós, neste estágio, também seremos entregues nas mãos dos homens, estaremos junto aos homens em missão para esclarecê-los, guiá-los, auxiliá-los em sua caminhada para Deus.

“Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos”. – A palavra que Jesus diz que temos que colocar em nossos ouvidos é o Cristo – “palavra” em grego é logos, que também designa o Cristo. Ouvir a palavra é estar receptivo a Deus para desenvolvermos o nosso Cristo interno.

46. E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior.
47. Mas Jesus, vendo o pensamento de seus corações, tomou um menino, pô-lo junto a si,
48. E disse-lhes: Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me receber a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo será grande.

Vimos há pouco que quem costumava acompanhar Jesus em momentos especiais eram Pedro, Tiago e João, como no episódio da transfiguração. Essa maior proximidade destes três discípulos com Jesus deve ter despertado o ciúme nos outros, por isso logo depois discutiam sobre qual deles seria o maior. Quando Jesus percebeu que eles queriam saber quem era o maior dentre eles, tomou um menino, uma criança.

Essa criança pode representar as crianças espirituais, os pequenos na fé – como o pai do menino obsediado -, nossos irmãos espirituais mais novos, assim como nós somos irmãos mais novos de Jesus.

Quando chegarmos ao estágio de que Jesus nos falou, quando nos tornarmos filhos do homem, seremos responsáveis pelos homens, que são as crianças espirituais. Cuidando dos nossos irmãos menores estaremos cuidando do próprio Cristo, pois o Cristo está dentro de cada um de nós, é a partícula de Deus em nós.

É evidente que não devemos esperar o nosso progresso espiritual para só então cuidarmos dos que são menores do que nós. Pelo contrário. É exatamente cuidando deles que alcançaremos este próximo estágio. A diferença é que então estaremos em missão, e não mais resgatando os nossos próprios erros.

Um dos sentidos do que Jesus falou se referindo à criança é que quem se faz o menor para servir também se torna como as crianças. E quem receber a este que se tornou como criança, quem receber a este que se fez menor para servir ao próximo, recebe o Cristo. Quem recebe o ensino de quem se fez pequeno para servir ao próximo recebe Jesus, e quem recebe Jesus recebe a Deus.

Para ser o maior é preciso ser o menor. Jesus deixou uma imagem clara disso ao lavar os pés dos discípulos, pouco antes de morrer, e dizer: “Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros”. João 13:14

Este ensino de Jesus também se aplica na prática. Devemos receber as crianças que vêm ao mundo por nosso intermédio, ou que são colocadas em nosso caminho, como a irmãos espirituais, irmãos em Cristo.

49. E, respondendo João, disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco.
50. E Jesus lhe disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós.

Jesus estava dizendo que quem recebe a criança em seu nome recebe a ele mesmo. Isso chamou a atenção do apóstolo João. Ele viu um homem que desobsediava, afastava os espíritos atrasados em nome de Jesus. E a lição de Jesus é clara: “Quem não é contra nós é por nós”.

Se todos os que se dizem seguidores de Jesus seguissem essa orientação do próprio Jesus, haveria menos disputas religiosas. Quase sempre quem se opõe a algum pensamento religioso diferente do seu é por sentir os seus interesses pessoais ameaçados.

51. E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.

 Essa palavra “assunção”, no grego analípsi, não tem necessariamente o sentido de subida, mas de aceitaçãoassumir um encargo, retomar ou dar continuidade a um encargo.

Era uma nova fase na missão de Jesus: “… manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém”. – Essa expressão “manifestou o firme propósito” é o modo como foram traduzidas duas palavras: Prôsopon estírisen.

Prôsopon é “pessoa”. Também pode ser traduzido como “rosto”, “cara”, mas referente à pessoa, à personalidade.

Estírisen é o verbo que está indicando a fixação, a firmeza.

Parece mais natural traduzir como “fixou a pessoa”, ou “firmou a pessoa”, ou ainda “firmou a personalidade” para ir a Jerusalém.

Jesus preparava-se para ir a Jerusalém, sabia que ia passar por sofrimentos físicos e então fixou, firmou, fortaleceu a sua personalidade, a sua pessoa. O espírito fortaleceu o homem Jesus para se encaminhar para o que o aguardava em Jerusalém.

52. E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada,
53. Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.

Jesus mandou mensageiros à sua frente. A palavra grega para mensageiros é aggelos, “anjo”. Conforme assinalamos antes, a palavra “anjo” tanto pode designar espíritos encarnados como desencarnados.

Os samaritanos tem origem israelita misturada com outros povos, eram considerados rivais ou mesmo inimigos pelos judeus.

Jerusalém quer dizer “visão da paz”. Samaria quer dizer “torre de vigia”. Para os discípulos de Jesus alcançarem a visão da paz, era preciso que se elevassem, de acordo com o simbolismo da torre, e vigiassem, pois Samaria quer dizer torre de vigia. Para alcançarem a paz, precisavam orar – para elevarem as suas vibrações – e vigiar. Orar e vigiar para chegar até a paz.

Os samaritanos não permitiram a sua passagem por causa das suas diferenças com os judeus. Era comum que pessoas vindas da Galileia passassem pela Samaria na época da páscoa para irem a Jerusalém.

54. E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?
55. Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.
56. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.

Tiago e João, a quem Jesus chamava “os filhos do trovão” (Marcos 3:17), por serem impulsivos – eram muito jovens – perguntaram a Jesus se podiam fazer descer fogo do céu para consumir aquelas pessoas, mas Jesus os repreendeu.

Essa atitude dos discípulos, somada à atitude anterior de proibir um homem de afastar obsessores em nome de Jesus, demonstra que faltou a estes discípulos justamente orar e vigiar para alcançar a paz.

Também deixa evidente o motivo pelo qual eles não conseguiram afastar o espírito obsessor do menino: o pouco desenvolvimento espiritual deles.

Isso serve de exemplo para nós. Nós não temos moral para querer doutrinar espíritos se nós não nos doutrinarmos. Nós não podemos alcançar a paz na base da força.

Tiago e João queriam que descesse fogo do céu para acabar com a cidade. Provavelmente não se importariam se todos morressem por causa de alguns. Era assim no Antigo Testamento, mas não é assim com Jesus. Nós não podemos condenar coletividades por causa de algumas individualidades. Nós não podemos generalizar e condenar grupos de pessoas por causa de alguns de seus componentes.

Samaritanos e Judeus eram próximos, tinham uma origem em comum, cultuavam o mesmo Deus. Mas não se focavam nas semelhanças, apenas nas diferenças. As diversas denominações religiosas que se propõe a seguir Jesus também agem assim, algumas vezes. Ignoramos as muitas coisas que temos em comum para nos focarmos em algumas poucas diferenças.

***

A seguir, Lucas nos traz três exemplos de condições para seguir Jesus. Um homem que se oferece para seguir Jesus – que Mateus nos informa se tratar de um escriba – e dois homens a quem Jesus convida para segui-lo.

57. E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores.
58. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.

É possível que este homem estivesse oferecendo os seus serviços a Jesus, já que era um escriba, um homem letrado que poderia ser útil a Jesus. Jesus nos fala das características de vida do filho do homem na Terra: o filho do homem (nós, em nosso próximo estágio evolutivo) não tem onde reclinar a cabeça, não tem nenhum vínculo com bens materiais e não é preso a ninguém. Está de passagem pela matéria a serviço do próximo, não tem nada de seu a não ser suas aquisições morais e os conhecimentos e experiências que já conseguiu absorver.

59. E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai.
60. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus.

Pode-se depreender da frase que o seu pai estivesse próximo de morrer, e que este seguidor de Jesus, que era convidado ao discipulado efetivo, queria desvencilhar-se do que considerava um dever moral. 

“Os mortos enterrar os seus mortos” quer dizer que aqueles que estão vivos para a espiritualidade, aqueles que estão despertos para a verdadeira vida, que é a vida espiritual, não devem se preocupar com os mortos na matéria, na carne, com os que dormem  para as coisas do espírito, as pessoas que vivem como zumbis, ou como diz o meu amigo Mauro Pilla, os CBDs – come bebe e dorme.

Pode-se traduzir esta frase do grego de outro modo: “que os mortos sepultem os mortos de si mesmos” – os que morreram de si, do espírito, que, embora biologicamente vivos, estão espiritualmente mortos, por estarem completamente desconectados das coisas do espírito.

61. Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.
62. E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.

Quem toma o caminho do Cristo, o caminho reto que leva a Deus, não pode olhar para trás, é um caminho sem volta.

Jesus se utiliza de um exemplo prático que ainda pode ser verificado em nossos dias. O lavrador, para arar a terra em linha reta, não pode olhar para trás. Se olhar para trás, para ver o quanto já fez e o quanto ainda falta, o sulco na terra sai torto. Ou seja, para seguir o caminho reto não se pode olhar para trás. A atenção deve ser apenas para a frente.

Olhar para a frente para preparar a terra para receber a semente. Preparar o caminho para plantar. Colhemos o que plantamos. E se plantarmos em linha reta, colheremos em linha reta.

Este é o maior obstáculo que as pessoas encontram para seguir o caminho do Cristo, para assumir um compromisso de serviço ao próximo, seja consolando, seja esclarecendo: o dever que julgam ter para consigo, para com os pais, cônjuge e familiares.

Mas Jesus já nos disse noutra ocasião que a verdadeira família é a família espiritual (Lucas 8:21). Os verdadeiros laços de afeto são os laços do espírito, não da carne.

Não podemos nos descuidar dos nossos afetos terrenos, mas isso não pode servir de desculpa para nos isentarmos dos nossos compromissos espirituais.

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