Fui surpreendido pela notícia da renúncia do papa Bento XVI. Antes de ser espírita sou cristão, por isso o interesse no tema…
“A fé sem a caridade não dá fruto e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente para a outra realizar o seu caminho.”
Pensou que fosse frase de espírita? Não, é parte do discurso do papa Bento XVI na última sexta-feira. Lembro sempre que todos queremos a mesma coisa, as diferenças estão na construção do pensamento.
Quando o papa João Paulo II desencarnou, em 2005, tive grande esperança. Esperança de que o novo papa promovesse uma renovação de valores, fazendo com que as pessoas, principalmente os mais jovens, se interessassem mais pelo ensinamento cristão. Na época, achei que era um momento adequado pra isso, graças à comoção gerada pela despedida de um papa carismático, querido, que marcou uma geração.
O catolicismo, apesar de perder fiéis, continua sendo a maior denominação religiosa da cristandade. Mais de um bilhão de pessoas, cerca de um sexto do mundo, são católicas. O Brasil, maior país católico e maior país espírita do mundo, tem mais ou menos cento e vinte milhões de católicos. É muita gente. Alguém que exerça uma liderança real sobre essa multidão é alguém com uma responsabilidade enorme.
Não acompanhei o papado de Bento XVI. Mas sei que houve uma tentativa de atuação mais forte e coerente com os princípios defendidos pelo catolicismo.
Não tenho a pretensão de opinar sobre como deve ser ou deixar de ser a orientação da Igreja Católica. Até porque, sou espírita, e minha relação com as mais variadas denominações religiosas é de respeito e alguma admiração, nada mais que isso.
Mas fico estarrecido ao imaginar as incríveis mudanças no pensamento ocidental que um novo papa poderia fazer.
Um dos motivos que, a meu ver, tem afastado algumas pessoas do catolicismo, é a busca por milagres, por soluções de problemas, por curas de todo tipo. Religião não resolve problemas, essa é a minha opinião. Mas não é segredo algum que muitas pessoas procuram igrejas evangélicas ou centros espíritas em busca de soluções. Grande parte encontra essas soluções. E o catolicismo, talvez por sua estrutura muito pesada, não tem oferecido nada de novo há bastante tempo.
As mulheres continuam afastadas das funções clericais e antigos tabus persistem. Métodos contraceptivos, divórcio e aborto são questões intocáveis. Concordo em relação ao aborto.
O Espiritismo e o passado da Igreja Católica
Os adversários da Igreja Católica se apressam em citar velhos temas escabrosos como a Inquisição e a venda de indulgências. A História mostra, a quem for imparcial, que a Inquisição representou um grande avanço no Direito. Antes da Inquisição havia o Poder Real, exercido pelo rei, que mandava matar quem, quando e como quisesse, e havia o juízo popular, em que a população julgava, condenava e executava. Eram os linchamentos, que vigoraram durante séculos e séculos. A partir da Inquisição se instituiu a possibilidade de defesa. Claro que muitas vezes essa possibilidade não representava grande coisa. Mas foi um avanço, que se consolidou com o tempo. A venda de indulgências nunca foi oficial. Foi um erro praticado por membros da Igreja, que eram pessoas como outras quaisquer. E pessoas erram.
Alguns historiadores lamentam profundamente a Idade Média, que apelidaram de Idade das Trevas. Esquecem (na verdade, não dão a mínima pra isso) que o Cristianismo chegou até nós, hoje, graças a essa “Idade das Trevas”. Não dizem que Deus escreve reto por linhas tortas? Pois é…
É fato que a Igreja, até o V Concílio Ecumênico de Constantinopla II, no ano de 553, admitia a reencarnação. A reencarnação foi suprimida por um canetaço do imperador Justiniano para agradar sua esposa Teodora. Teodora havia sido uma famosa prostituta. Suas ex-colegas tinham muito orgulho dela, por ela ter subido na vida. Ela, pelo contrário, as odiava por lembrarem sua origem, e mandou matar quinhentas delas numa tacada só, coisa comum na época. O povo, que acreditava em reencarnação, passou a dizer que Teodora teria que ser assassinada em quinhentas vidas para “resgatar sua dívida com Deus”. Revoltada, Teodora convenceu o marido a “acabar com a reencarnação”.
Fico imaginando se o novo papa ousasse admitir a reencarnação, que revolução no pensamento humano! Claro que isso é totalmente fora de cogitação. Mas que seria revolucionário, seria.
Que o novo papa seja um homem bom e que seja digno de seu mais de um bilhão de fiéis. E que Bento XVI aproveite sua aposentadoria em paz.
Espiritismo e o novo papa, Francisco