Quem foi que disse que Jesus é o Governador espiritual da Terra?
Essa afirmação – que não passa de uma suposição – é frequentemente levantada no meio espírita. É comum principalmente entre os palestrantes: quase sempre se referem a Jesus como o “Governador espiritual da Terra”.
Eu mesmo afirmo isso no meu estudo sobre o Evangelho de João. Esse estudo, composto de 35 vídeos, foi quase que inteiramente inspirado. O que não foi inspirado nesse estudo foi o primeiro vídeo, em que eu abordo os cinco primeiros versículos do primeiro capítulo e a passagem que trata da multiplicação dos pães – que na verdade não foi uma multiplicação, pelo contrário – foi uma divisão.
O primeiro vídeo não foi inspirado porque foi alvo de muito estudo por mim; então não houve condições de receber nenhuma inspiração. E quanto à parte da divisão dos pães, eu tenho resolvido dentro de mim que não houve nenhum acontecimento milagroso ou supostamente milagroso: não houve multiplicação nenhuma; é uma certeza que eu tenho. Se eu tenho essa certeza, a minha mente se fecha para qualquer nova ideia, para qualquer inspiração.
Mas o restante do trabalho foi todo inspirado. Tem coisas que eu mesmo, intimamente, não acredito, neste trabalho, como é o caso de Jesus ser o “príncipe deste mundo”, ou o “governante deste mundo”.
Mas essa história de Jesus ser o Governador da Terra é coisa de Emmanuel.
A primeira menção a esse tema está na Revista Espírita de Janeiro de 1864, numa mensagem do espírito Hahnemann. Hahnemann, para quem não sabe, foi o criador da homeopatia.
O comentário de Hahnemann na Revista Espírita é a respeito de um caso de possessão. Diz ele:
“Essas obsessões freqüentes terão, também, um lado muito bom, porque, penetrado pela prece e pela força moral, é possível fazê-las cessar e adquirir o direito de expulsar os Espíritos maus e, pelo melhoramento de sua conduta, cada um buscará adquirir o direito que o Espírito de Verdade, que dirige este globo, conferirá quando for merecido.” Hahnemann (Médium: Sr. Albert)
– O Espírito de Verdade, que dirige este globo.
– Será que Hahnemann achava que o Espírito de Verdade é Jesus?
– Provavelmente sim. Eu não acho que o Espírito de Verdade seja Jesus: no máximo um espírito representante de Jesus – mas isso é minha opinião.
Aqui, então, nós temos, num primeiro momento, a opinião de Hahnemann. Assumindo que o Espírito de Verdade seja Jesus, Hahnemann foi o primeiro (e o único, no tempo de Kardec) a sustentar que Jesus seja o “dirigente do globo”.
Há um importante detalhe a respeito da participação do espírito de Hahnemann na obra de Kardec.
A primeira edição de O Livro dos Espíritos (que não é a edição que se utiliza hoje) foi produzida através da mediunidade de três médiuns adolescentes – uma delas, a senhorita Japhet.
Há uma carta de Alexandre Aksakof (para quem não sabe, Aksakof foi um importante estudioso dos fenômenos anímicos e mediúnicos. Há um clássico de sua autoria publicado até hoje pela FEB: o livro Animismo e Espiritismo) – há uma carta de Aksakof em que ele tece algumas críticas a Kardec.
Segundo Aksakof, três quartos de O Livro dos Espíritos foi produzido com material proveniente das comunicações recebidas pela senhorita Japhet. Além disso, ele acusa Kardec de ter se apoderado de um conjunto de manuscritos da senhorita Japhet, que deu origem a O Livro dos Médiuns.
A curiosidade é que a senhorita Japhet, já desde antes de conhecer Kardec, dava comunicações em nome de Hahnemann – Hahnemann era um dos espíritos que se comunicava através dela.
Na 1º edição de O Livro dos Espíritos Kardec menciona Hahnemann algumas vezes e coloca Hahnemann como um dos responsáveis pelo conteúdo do livro.
A partir da 2º edição, de 1860, Kardec para de mencionar Hahnemann.
– Por quê?
– Porque, exatamente, eu não tenho certeza, mas o fato é que Kardec e a senhorita Japhet se estranharam. Kardec não menciona ela em O Livro dos Espíritos, e nem sequer dá um exemplar do livro para ela – além de ter ficado com manuscritos produzidos através da mediunidade dela.
Mas, voltando ao assunto, é esse Hahnemann que diz que o Espírito de Verdade é o dirigente do globo.
Mas essa informação passou batido, até porque pouquíssimas pessoas têm conhecimento da Revista Espírita.
Quem lança a ideia de que Jesus é o Governador espiritual da Terra é Emmanuel.
Aliás, muitas ideias que os espíritas defendem com unhas e dentes são ideias de Emmanuel.
A primeira vez que essa ideia é lançada é no livro A Caminho da Luz, de 1939.
O subtítulo do livro é “História da Civilização à Luz do Espiritismo”. Esse subtítulo é enganoso. O livro pode tratar da história da civilização de acordo com Emmanuel, mas não de acordo com o Espiritismo. Desde quando um único espírito dá a sua opinião e essa opinião passa a ser a opinião do Espiritismo?
Infelizmente, foi assim que aconteceu. Emmanuel lançou uma série de ideias novas, algumas delas frontalmente divergentes das ideias propagadas por Kardec, e o Movimento Espírita adotou essas ideias como se fossem pertencentes à Doutrina.
Vamos ler o trecho em que essa ideia aparece pela primeira vez:
“Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias. Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos. A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.”
Emmanuel está dizendo que Jesus é um espírito perfeito. E que já era um espírito perfeito antes da criação da Terra. Depois ele continua:
“Sim, Ele havia vencido todos os pavores das energias desencadeadas; com as suas legiões de trabalhadores divinos, lançou o escopro da sua misericórdia sobre o bloco de matéria informe, que a Sabedoria do Pai deslocara do Sol para as suas mãos augustas e compassivas. Operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a escola abençoada e grandiosa, na qual o seu coração haveria de expandir-se em amor, claridade e justiça. Com os seus exércitos de trabalhadores devotados, estatuiu os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra, organizando-lhes o equilíbrio futuro na base dos corpos simples de matéria, cuja unidade substancial os espectroscópios terrenos puderam identificar por toda a parte no universo galáxico. Organizou o cenário da vida, criando, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos seres do porvir. Fez a pressão atmosférica adequada ao homem, antecipando-se ao seu nascimento no mundo, no curso dos milênios; estabeleceu os grandes centros de força da ionosfera e da estratosfera, onde se harmonizam os fenômenos elétricos da existência planetária, e edificou as usinas de ozone a 40 e 60 quilômetros de altitude, para que filtrassem convenientemente os raios solares, manipulando-lhes a composição precisa à manutenção da vida organizada no orbe. Definiu todas as linhas de progresso da humanidade futura, engendrando a harmonia de todas as forças físicas que presidem ao ciclo das atividades planetárias.”
Aqui Emmanuel afirma que Jesus foi o criador do nosso planeta e de tudo que há nele. Aliás, desde cinco bilhões de anos atrás Jesus teria antecipado as condições futuras de vida no planeta para abrigar ao homem. Isso não tem o menor sentido. Pense por você mesmo: se o objetivo da Terra é abrigar o homem, por que ele já não fez o planeta com condições adequadas para isso? Para que esperar cinco bilhões de anos?
Essa explicação, que não explica nada, é baseada em dados de livros de ensino médio.
– Não é mais fácil admitir que nós não sabemos? Para que essa intransigência de querer adaptar as coisas que nós não conhecemos ao nosso pouco saber? Será que nós precisamos dessas infantilidades para aceitar o ensino de Jesus? Aliás, essa historinha de Emmanuel mudou alguma coisa? O homem se tornou mais cristão por causa dessas ideias? O espírita conhece realmente alguma coisa mais profunda sobre o ensino de Jesus?
Alguém pode dizer que não foi só Emmanuel a sustentar essa ideia – outros espíritos também afirmam que Jesus é o Governador espiritual da Terra.
Vamos parar de brincadeira! Depois que a ideia foi lançada e foi aceita pelo público espírita, é fácil qualquer espírito (ou suposto espírito) “confirmar” as teorias de Emmanuel.
Isso não tem valor nenhum! Isso não é evidência de absolutamente nada!
Haveria algum indício de evidência, pelo menos como uma teoria a ser levada em consideração, se vários espíritos dissessem isso ao mesmo tempo, em lugares diferentes, através de médiuns que não se conhecessem.
Por que se eles dizem isso em tempos diferentes, um está influenciando o outro; se os médiuns que afirmam isso se conhecem, um está influenciando o outro.
– Você não percebe o absurdo que é acreditar numa ideia mirabolante só porque um espírito disse?
Aliás, em primeiro lugar, nós temos que acreditar que foi um espírito que disse, e não o seu médium. Hoje está cheiro de supostos médiuns por aí espalhando as suas ideias particulares e dizendo que é psicografia, que foi o espírito tal que disse.
O único argumento que resta é a credibilidade do médium, a moral idônea do médium. No caso de Chico Xavier, que já é considerado um santo por grande parte dos espíritas, é difícil para muitas pessoas admitir a hipótese de que o Chico era um ser exatamente como nós, sujeito a falhas e fraquezas.
Chico era católico. Emmanuel era católico. É natural que as suas ideias sejam impregnadas de conceitos católicos. Para eles, já que a nossa razão não aceita mais, de jeito nenhum, que Jesus seja Deus, o próprio Deus Creador do Universo infinito, então pelo menos criador do nosso planeta ele é!
Emmanuel tem uma preocupação que ele segue à risca: jamais contrariar a tradição católica. Apenas um exemplo: os especialistas são unânimes em afirmar que o primeiro Evangelho que nós conhecemos a ser escrito foi o Evangelho de Marcos. Os próprios especialistas católicos, hoje, reconhecem isso sem problemas.
Mas a tradição diz que o primeiro Evangelho a ser escrito foi Mateus, por isso o primeiro que aparece nas Bíblias é o de Mateus – então Emmanuel sustenta que o primeiro a ser escrito foi o de Mateus.
Essa história de Jesus ser o Governador espiritual da Terra é por causa do Evangelho de João. O Evangelho de João começa assim:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. João 1:1-3
Logo depois diz assim:
“Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. João 1:10,11
Essas palavras têm um sentido muito mais profundo; se você quer entender eu sugiro que assista o meu estudo sobre o Evangelho de João. Mas mesmo que a intenção do autor do Evangelho seja afirmar que Jesus é Deus: o que é que nós temos que ver com isso?
Eu disse há pouco que outros espíritos confirmam o que Emmanuel disse. Vamos ver o que diz Joanna de Ângelis:
Jesus transcende, desse modo, os estágios do processo evolutivo na Terra, porquanto Ele já era o Construtor do planeta, quando sequer a vida nele se apresentara”. (Série Psicológica de Joana de Angelis. Livro Desperte e seja feliz. 10 ª ed. Editora LEAL, 1996. Psicografia de Divaldo Pereira Franco. Capítulo 1 – O homem Jesus. P. 17.)
André Luiz também confirma (quem está falando é o instrutor Áulus):
“Semelhante atitude, porém – acentuou o orientador -, decorre de antiga viciação mental no Planeta. Para maior clareza do assunto, rememoremos a exemplificação do Divino Mestre. Jesus, o Governador Espiritual do Mundo, auxiliou a doentes e aflitos, sem retirá-los das questões fundamentais que lhes diziam respeito”.
Joanna de Ângelis diz que Jesus é o construtor do planeta e Áulus, através de André Luiz, dia que Jesus é o governador espiritual do mundo.
– Esses testemunhos servem para corroborar a tese de Emmanuel?
– De jeito nenhum!
Eu tenho grande apreço por Emmanuel. Gosto de muita coisa no seu pensamento. Eu tenho em grande consideração a obra de André Luiz. André Luiz nos apresenta uma maneira muito prática de perceber os mecanismos da mente e de vivenciar a espiritualidade. De Joanna de Ângelis eu não posso falar muito porque o meu conhecimento sobre a sua obra é muito limitado.
Mas nós temos que entender que esses espíritos estão sob a influência de Emmanuel. André Luiz se comunicava através de Chico Xavier. Segundo o que nos é dito, foi o próprio Emmanuel que apresentou André Luiz a Chico Xavier. Além disso, Emmanuel é o mentor de Chico Xavier, então é evidente que toda e qualquer comunicação que tenha sido feita através de Chico Xavier passou pela supervisão de Emmanuel.
Aliás, eu tenho convicção de que a obra de André Luiz seria bem diferente se fosse escrita através de outro médium. Mas isso já é outro assunto.
– E quanto a Joanna de Ângelis?
Divaldo sempre esteve à sombra do Chico. Isso não tem nada a ver com o valor ou com a capacidade de cada um deles. Como Chico começou antes, e já era consagrado quando Divaldo surgiu no meio espírita, o Divaldo teve que se contentar com o segundo lugar no imaginário espírita brasileiro.
Além disso, Chico sempre quis ser santo. Chico Xavier era católico praticante na juventude, e lia muitas vidas de santos, biografias de santos católicos. Chico sempre fez questão de manter a postura típica de um santo católico.
O Divaldo já é bem diferente. O Divaldo tem uma personalidade mais forte, mais marcante, tem uma enorme facilidade com as palavras. Mas nunca teve o apelo popular que o Chico teve.
No início da sua atividade pública o Divaldo passou por alguns constrangimentos por causa de comparações com o Chico. Inclusive foi acusado de plágio, ao que tudo indica, pelo próprio Chico.
Não vem ao caso aqui discutir se houve ou se não houve plágio; não é esse o caso. O fato é que depois disso certamente o Divaldo redobrou os seus cuidados – e entre esses cuidados certamente está presente o de não contrariar o pensamento de Emmanuel.
Emmanuel se consolidou no Movimento Espírita como o grande baluarte do Espiritismo, a grande voz, o grande defensor do Movimento. Nenhum médium psicógrafo ousa contrariar Emmanuel – pelo contrário: repetir ensinos de Emmanuel dá foros de verdade a qualquer bobagem supostamente psicografada. Hoje o mercado editorial espírita está entupido de lixo pernicioso que os seus autores mentem escancaradamente que é psicografia e o público compra, lê, acredita e agradece.
– Cadê o senso crítico?
– E você? Você acha que Jesus é o Governador da Terra?
Eu cheguei a aceitar essa ideia como uma hipótese de trabalho. Hoje eu não aceito mais.
Por uma série de motivos:
- O estudo aprofundado dos Evangelhos (e é preciso esclarecer que esse estudo vai muito além da leitura dos Evangelhos, envolve muitas outras fontes) – o estudo aprofundado dos Evangelhos nos deixa perceber claramente que Jesus foi um grande homem. Talvez tenha sido realmente o espírito mais elevado que já esteve aqui. Mas um homem; não um construtor de planetas.
Aliás, a ideia de um construtor, de um engenheiro, de um idealizador de planetas é uma ideia primária e absolutamente material. Nós temos que ter em mente que nós vivemos num mundo de ilusão – a analogia mais próxima é um programa de computador. A mente é um programa de computador, e a mente é compartilhada por todos nós. Nós dizemos a minha mente, a tua mente, mas isso que eu chamo de “minha” mente é apenas a percepção que eu tenho da mente graças à frequência em que eu estou vibrando. O assunto é muito mais complexo do que simplesmente apontar quem foi o autor, quem foi que fez.
- Fica muito visível – mas para que fique visível nós temos que abrir mão das nossas antigas crenças, que são apenas dados que nós inserimos no programa – fica muito visível que a ideia de considerar Jesus como o Governador da Terra é uma nostalgia católica. Emmanuel é um espírito de raízes católicas, é um espírito conservador, de ideias firmes, bem ao estilo jesuíta, como foi o padre Manoel de Nóbrega, sua última reencarnação.
Existem muitos outros grandes espíritos além de Jesus. Dois terços da humanidade não são cristãos; para eles Jesus não tem a importância que tem para os cristãos. Dizer para eles que Jesus é o Governador da Terra é um verdadeiro absurdo.
– Existe algum problema em acreditar que Jesus é o Governador espiritual da Terra?
– Talvez sim, talvez não. O problema verdadeiro é nós acreditarmos em tudo o que os espíritos nos dizem. Essa passividade não tem nada a ver com a proposta inicial do Espiritismo. É comum nós vermos os espíritas enchendo a boca para falar de “fé raciocinada” – mas onde é que está essa fé raciocinada?
A ideia de Jesus como responsável por nós pode ser muito confortadora, nós nos sentimos protegidos e queridos por Jesus. Mas será que nós ainda precisamos desse tipo de tratamento?
O ensino de Jesus está aí, à nossa disposição para ser estudado, meditado e praticado. São as ideias de Jesus que valem, não a natureza de Jesus ou o cargo ocupado por ele na instituição planetária.
***
(CARTA A JOAQUIM ALVES – EM SÃO PAULO) – Uberaba, 10 de junho de 1962
Meu caro Jô,
Deus nos abençoe e inspire. Tenho várias notícias e lembranças para agradecer a você, querido amigo, – as cartas, os retratos, as demonstrações de carinho por intermédio dos companheiros que chegam de São Paulo e todas as gentilezas de sua bondade constante, – o que faço ao iniciar esta carta, pedindo ao nosso Divino Mestre o recompense e abençoe, sempre e sempre.
O assunto primordial desta carta, no entanto, querido Jô, é a resposta à sua missiva confidencial de 1 deste mês que apenas chegou às minhas mãos na tarde de anteontem.
Refleti muito antes de escrever para você, respondendo. Orei. Pedi a inspiração dos nossos Maiores. Não era meu intento tratar do caso doloroso suscitado por nosso caro Divaldo Franco, notadamente com vocês, amigos queridos de São Paulo, aos quais me ligo por laços muito altos do coração.
Sua carta, entretanto, coloca seu sentimento imensamente sincero à mostra e silenciar, de minha parte, no assunto direto que você me trouxe seria desconsiderar o meu carinho para com você.
Concluí então que deveria responder ao querido Jô, abrindo igualmente toda a minh’alma.
Você diz em sua ternura infinita por mim, e que reconheço não merecer, que estimaria ouvir-me, como sendo o pastor. Você sabe, querido Jô, que não me sinto nessa condição. Estou muito longe da capacidade de dirigir.
A rigor, deveria com o seu carinhoso coração, no caso, na posição de alma irmã da sua alma, companheiros de jornada e de luta.
Mas pelo amor que nos reúne na Causa que esposamos, prefiro (embora eu não o mereça) conversar com você abraçando-o por meu filho. E ao abraçar você, nessa condição, quero que você saiba que, no pensamento, reúno igualmente o nosso Divaldo, ao seu lado, como sendo meu filho também.
Feito este preâmbulo, vamos conversar, nós dois, de alma para alma.
Em 1959, confirmando a estima que tenho por Divaldo, não vacilei receber um prefácio para o primeiro livro mediúnico, que ele se propunha lançar, através da FEB. O prefácio veio da parte do nosso André Luiz estimulando-o ao trabalho, naturalmente. De minha parte, agi tão confiante, que não cheguei a conhecer o texto, texto esse que não hesitava endossar com todo o meu coração.
Chegado o livro à FEB, sei que amigos da nossa mais alta instituição espírita do Brasil aconselharam-no a desistir da publicação, até que a mediunidade dele produzisse algo, mais original, de acordo com a elevada posição de orador espírita que ele desfruta, com merecimento justificado, em nosso meio. Alegavam nossos amigos no Rio e isso com ele próprio, Divaldo, que o livro recebido por ele era profundamente semelhante aos livros de André Luiz.
Para mim, isso vale como advertência grave que ele não poderia esquecer.
De minha parte, ainda na última vez em que com ele estive, na Comunhão Espírita Cristã, em conversa íntima, aconselhei-o a concentrar-se sem qualquer pensamento preconcebido, sem leituras anteriores de livros determinados, sem propósito de produzir mediunicamente em tema predileto e sem criar qualquer clima condicionado por ele, mentalmente, o que seria sempre uma dificuldade por ele oposta à manifestação espontânea dos Amigos Espirituais.
Disse tudo isso com a gentileza natural que devemos uns aos outros, tentando ajudá-lo sem ferir, atento ao esforço que todos lhe devemos na divulgação da Doutrina Espírita. Entre amigos uma observação carinhosa dessa natureza vale por um aviso salutar.
Assim procedi, por notar, há muito tempo, que diversas mensagens recebidas por mim (desculpe você, querido Jô, este “mim” tão gritante, mas a explicação minha a você é pessoal e devo assumir plena responsabilidade do que estou dizendo) vinham na imprensa Espírita, desfiguradas ou, às vezes, quase que plenamente copiadas, como tendo sido recebidas por ele, algumas até mesmo antedatadas, quando em confronto com as páginas psicografadas por mim, embora os trabalhos sob minha responsabilidade viessem a lume antes dos apresentados por ele.
Vi tudo e calei-me.
Há muitos anos, o nosso abnegado Emmanuel me ensinou o hábito salutar de não me defender em causa própria.
As mensagens em grande número, no setor de trabalho que me foi atribuído estão na imprensa espírita e na distribuição de mensagens avulsas, bastando que os espíritas conscienciosos se disponham a estudá-las.
Os casos são às dezenas, ferindo de frente a dignidade mediúnica na Doutrina que abraçamos, sem que ninguém viesse defender a Causa em si.
Não me competia a mim efetuar um trabalho de preservação dessa ordem, de vez que sou um trabalhador que estou na ponta dos trilhos, isto é, na parte mais humilde do avanço da linha, com as mãos no atendimento aos meus deveres de dia a dia, diante do povo necessitado, devendo confiar nos engenheiros que dirigem o comboio.
Desde 1959, aguardo que se levante um dos companheiros representativos do movimento espírita a fim de tratar do grave problema.
Ninguém apareceu.
Continuei a ver as páginas a que me refiro em todos os setores ou em quase todos os setores, mas se me pronunciasse abertamente, semelhante providência partida inicialmente de mim viria situar-me num caso de defesa pessoal, o que sempre repeli, compreendendo que minha pessoa insignificante, no caso em exame como em qualquer outro caso, nada vale. Não digo isso por humildade que não tenho, mas simplesmente por sentir-me assim mesmo, sem merecimento qualquer.
Apareceu em abril deste ano o folheto “Para onde vamos, espíritas?”.
O assunto das mensagens copiadas surgiu com enorme efervescência e você me dá notícias do nosso Divaldo, abatido e compreensivelmente abalado em São Paulo.
Entendo, sim, querido Jô, as lágrimas do nosso caro amigo e também me comovo, orando a Jesus por todos nós, a fim de que, cada um de nós se compenetre de suas responsabilidades próprias.
Entretanto, para responder à sua afetuosa consulta, peço a você permissão para tratar do assunto com a gravidade de nossos compromissos sobre o impulso de nossos sentimentos.
Comecei a lida mediúnica em 1927, quando o nosso Divaldo provavelmente deveria estar no berço.
Estou aposentando-me no terceiro emprego que tive nesta vida, no qual trabalhei 30 anos sucessivos sem licença e sem férias, embora a minha moléstia nos olhos, há mais de vinte anos, me conferisse por lei o afastamento do serviço regular.
Não digo isso como quem apresenta louros, mas para lembrar que estou no meu recanto, atendendo às minhas obscuras obrigações.
Sempre respeitei o nosso caro Divaldo em sua tarefa brilhante, como sempre respeitei a todos os companheiros do Espiritismo, na posição em que o Senhor os colocou a servir.
Nunca fui a uma cidade sequer das inúmeras em que o nosso caro Divaldo é festejado e querido, com méritos justos na palavra doutrinária, a fim de subtrair o respeito devido a ele, a pretexto de ser eu insignificante médium psicógrafo. Nem por isso, no entanto, embora reconhecendo a minha total desvalia, devo esquecer que trago nos ombros o peso de uma responsabilidade mediúnica, e espírita à qual, desde 1927, me rendi.
Será possível que meus irmãos de Doutrina Espírita possam julgar que estou recebendo os livros dos nossos Benfeitores Espirituais sem qualquer noção de compromisso moral e de amor pela Causa? Será crível que suponham esteja eu fazendo da mediunidade um esporte de quem mais nada tem a fazer? Estarei recebendo as páginas de Emmanuel, há mais de trinta anos consecutivos para brincar? Andarei dos 17 anos de idade aos 52, na tarefa mediúnica, qual se eu fosse uma criança no parque de diversões?
Em 1958, como é do conhecimento público, meu pobre sobrinho Amaury Pena, talvez deslumbrado pela idéia de lucros financeiros com livros mediúnicos, sentindo-se assediado por entidades infelizes e adversárias do movimento espírita-cristão, não hesitou, quando contrariado em seus desígnios cobrir-me o rosto com a lama de profundo sarcasmo. Durante quase um mês, os jornais do País me apontaram na categoria de mistificador criminoso. Entretanto, os espíritos perturbadores, no caso de meu sobrinho, vinham pela frente, o que me permitiu responder-lhes com a única maneira digna que vi diante de meus olhos. Para não deixar em minha folha mediúnica e espírita a notícia inverídica que entrara, um dia, em rixa com os entes amados de minha família, toda ela constituída de almas afetuosas e boas, mudei-me para Uberaba, a centenas de quilômetros da casa que Deus me concedera para cultivar o jardim do amor familiar e onde eu deixava conveniência e hábitos regulares de quase cinqüenta anos.
Não tomei semelhante atitude como quem traz uma pedra dentro do peito. O amor e o respeito à Causa Mediúnica e à Causa Espírita exigiam de mim um pronunciamento endereçado ao futuro. Preferi sair, à maneira de um ingrato aos que mais me deram amor na presente reencarnação e à maneira de um desterrado no próprio lar no conceito daqueles que não podiam entender, de pronto, o meu gesto de repulsão ao desrespeito levantado pelos espíritos inferiores, utilizando um pobre rapaz renascido na família que o Senhor me dera, desrespeito esse lançado audaciosamente às nossas fileiras e aos nossos trabalhos.
O caso, agora, é diferente. Esses mesmos espíritos inferiores se utilizam do nosso caro Divaldo e atacam o nosso movimento espírita pela retaguarda. No caso do meu pobre sobrinho, que essas mesmas entidades já levaram à desencarnação prematura, induzindo-o a alcoolizar-se até a morte do corpo em 1961, o problema era claro. Hoje, temos um labirinto porque os golpes chegam de trás.
O assunto é sutil. Tudo parece tão leve, tão superficial. Mas se os espíritas permitem que entidades menos dignas se apossem de um companheiro respeitável para adaptar, copiar, desfigurar e enxertar as páginas dos nossos Instrutores Espirituais acumuladas num esforço paciente e também respeitável de mais de trinta anos de serviço, daqui a outros trinta anos, os nossos netos e continuadores abraçarão problemas e perplexidades tendentes a desacreditar a mediunidade, de vez que, com o tempo, ninguém mais saberá quem copiou e mistificou, no assunto, se Chico Xavier ou Divaldo Franco.
Sei que a obra é de Cristo e que n’Ele devemos todos esperar.
Não ignoramos também que na obra de Cristo cada um de nós tem responsabilidades essenciais.
Pergunto então a você, meu filho:
Posso concordar com o que está acontecendo, se estão em jogo a Doutrina Espírita e a Mediunidade e não o meu nome? Devo aplaudir uma perturbação que ameaça o serviço de minha existência inteira? Devo tratar nosso Divaldo, como se fosse uma criança irresponsável, quando tributo a ele respeitoso apreço e grande afeto, há mais de dez anos, vendo-o viajar na condição de um pregador consciente das verdades espíritas, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, assumindo, por isso, indiscutível responsabilidade para com milhares de pessoas, talvez milhões? Devo tratá-lo à feição de um companheiro necessitado de assistência, quando o problema é interesse de uma Causa inteira, criado levianamente por ele próprio, e no qual compareço à maneira de um réu em julgamento público, sem ter saído de minha casa e sem ter abandonado os meus deveres, na consciência tranqüila?
Não será mais justo e recomendável entregá-lo à assistência de que se encontra realmente necessitado, invocando o amparo dos Mensageiros de Jesus que suplico para mim mesmo e esperando serenamente o juízo sereno dos espíritas responsáveis pela orientação do nosso movimento, a fim de que ele seja aconselhado e dirigido, como devo, de minha parte, estar igualmente pronto a receber os avisos e instruções dos companheiros na fé e no trabalho a fim de que eu não me transforme em instrumento de perturbação para os nossos serviços?
Diz o nosso caro Divaldo que me ama, e eu tenho dado provas de imenso apreço afetivo a ele, entretanto, por que motivo não me respeita o nosso amigo como respeito a ele? Porque razão esse propósito deliberado de arrasar com as mensagens dos nossos Benfeitores Espirituais, recebidas por meu intermédio, desfigurando-as, descaracterizando-as, ferindo-as, transfigurando-as?
Não posso inocentá-lo, porque isso acontece há muito tempo e ele possui bastante auto-crítica para reconhecer que as entidades que se valem dele para isso estão entrando numa atitude, francamente abusiva por desrespeitosa ao Espiritismo e à Mediunidade, a ponto de sacerdotes católicos-romanos já estarem se manifestando pela imprensa indagando se sou eu ou ele o mistificador. De mim mesmo, nada valho e estou pronto a receber por bênçãos quaisquer injúrias que sejam assacadas contra a minha pessoa, entretanto, no assunto, é a Doutrina Espírita que está sendo desprestigiada e dilapidada.
Soube que o nosso Divaldo tem dito, onde vai, que está sofrendo em demasia, sentindo-se por vezes desejoso de renunciar à tarefa, o que seria lamentável por encontrarmos nele um orador digno e um arauto digno de nosso movimento espírita, o que realmente me comove e me confrange, mas devo tratar somente com as minhas emoções um problema em que milhões de pessoas amanhã procurarão a verdade?
Devo deixar que a minha comoção embargue o meu raciocínio, largando a mediunidade embaciada e desrespeitada, com evidente menosprezo aos companheiros que virão depois de nós?
Depois do impresso “Para onde vamos, espíritas?”, surgem aqui e ali alguns poucos amigos decididamente interessados em estudar a realidade dos fatos e apresentarem, de público, o resultado de suas observações, o que não poderia impedir de minha parte.
E caber-me-ia desencorajá-los, acobertando a intromissão gradativa dos espíritos das sombras, em nossas fileiras, a título de caridade, que é carinho mas é também ensinamento, se até agora nenhum companheiro de responsabilidade nas instituições espíritas se lembrou de que a obra de Emmanuel deve ser digna de respeito?
Afirma o nosso Divaldo, reiteradamente, que me ama e me deseja todo o bem, mas porque age assim, permitindo que entidades irresponsáveis o manejem dessa forma? Eu também amo Allan Kardec e admiro-lhe imensamente a obra sublime, entretanto, por isso, estaria eu autorizado a tomar-lhe essa ou aquela página da Codificação Espírita, alterando-a e lançando-a com o nome dos amigos desencarnados que me assistem, para uso dos meus irmãos na fé?
Aparecem os companheiros que afirmam será o movimento espírita dividido com semelhante questão, contudo, querido Jô, minha consciência está tranqüila. Não desencandeei o problema. Permaneço onde vocês todos me conhecem. Por ser médium dos livros dos nossos Amigos Espirituais, o que julgo tão natural como se a mediunidade psicográfica fosse outro campo qualquer de atividade espírita, nunca esperei qualquer consideração.
Há mais de trinta anos, entrego aos companheiros do Espiritismo as páginas dos nossos Amigos Espirituais, com a profunda veneração de quem não deseja conspurcá-las com as próprias deficiências e imperfeições que carrega, sem jamais conservar a idéia de remuneração dessa ou daquela natureza. Sempre recebi as demonstrações dos amigos queridos, quais vocês, os afetos queridos de São Paulo como quem recolhe tesouros que não merece e rogando a Deus me torne digno da confiança e da ternura com que me tratam. No íntimo, porém, tenho pedido ao Senhor me ajude a viver conforme a simplicidade a que me sinto jungido por imposições naturais de minha condição pequenina, e assim, meu querido Jô, devo desencarnar coerente com o que tenho acreditado, sem desejar para mim outra cousa que não sejam a Vontade do Senhor e o dever bem cumprido.
Entendo que o nosso Divaldo possui legiões e legiões de amigos, muitos deles influentes e poderosos no campo econômico e social, por merecimento natural dele, operário brilhante da palavra espírita e, sem dúvida, raro missionário da assistência à infância desvalida em Salvador, mas isso não pode interferir com a minha obrigação de ser fiel a mim mesmo, nas responsabilidades que abracei na Doutrina Espírita e na Mediunidade, na presente reencarnação. Não posso iludir-me. Todos estamos caminhando para a Espiritualidade e se eu aqui posso enganar aos meus irmãos de ideal, abusando dessa ou daquela qualidade que o Senhor me emprestou, amanhã não poderei enganar aos que nos seguem de uma Vida Maior, e à cuja existência desde agora me sinto entrosado. É preferível que eu seja sozinho, mas com a tranqüilidade de quem cumpre o próprio dever diante daqueles que me puseram esse mesmo dever nas mãos por título de confiança, do qual não poderei abusar sem graves conseqüências.
Por tudo o que exponho a você, querido amigo, com sinceridade e carinho, porque não é sem carinho e sem sinceridade que escrevo esta carta, não desejo receber a visita pessoal do nosso Divaldo presentemente, conquanto, não tenha de minha parte qualquer mágoa e esteja em prece pela felicidade e saúde, fortalecimento e tranqüilidade dele. Acontece que se nos encontrarmos agora, estaria na posição estranha de quem nada pode dizer. Se vier a censurá-lo seria crueldade de minha parte, porque devo acreditar que ele está sendo instrumento da perturbação sem perceber. E, por outro lado se vier a tratá-lo com ternura, dou a impressão errônea de que estou aprovando a leviandade em andamento. Como vê, você, querido Jô, há momentos, em que o testemunho nosso é doloroso, de vez que não podemos trair a nós próprios.
Se ele, porém, recorrer a você para saber o que penso das ocorrências em curso, autorizo seu carinho a mostrar-lhe esta carta, na qual exponho todos os meus sentimentos e pensamentos, no assunto, depois de rogar a assistência dos nossos Instrutores Espirituais, a fim de escrever a você com serenidade entre o coração e o cérebro, coerente com a Doutrina Espírita e comigo mesmo. Divaldo tem largo futuro à frente. Ele não precisa absolutamente da psicografia para sustentar a amizade e o carinho dos amigos desencarnados e encarnados. Jesus colocou-lhe um facho de luz no verbo sagrado que ele, nosso amigo e companheiro tão querido, pode santificar, cada vez mais, dele fazendo a sua bandeira de serviço à Humanidade, crescendo sempre como um dos mais altos paladinos de nossa Causa no Brasil e fora do Brasil.
Mostrei esta carta aos amigos que me partilham a convivência e sendo de seu desejo pode mostrá-la aos nossos queridos companheiros daí. Poucas vezes terei oportunidade de me deter no caso com tanta clareza, de vez que o assunto é agressivo e doloroso e realmente só escreveria o que escrevi nesta carta em me comunicando com aqueles que mais amo.
Deus nos abençoe, querido Jô, e perdoe a franqueza carinhosa de quem igualmente o ama por abençoado filho espiritual.
“Peço reserva sobre esta carta que deve ser lida somente para os que possam compreendê-la com espírito de compreensão fraternal.”
Chico
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Programa Fantástico de 29/02/2004:
Da página do Divaldo:
Alegações de Plágio nos Livros de Divaldo Amigos pediram para comentar alegações de plágio nos livros de Divaldo em relação às obras do médium Chico Xavier. Consideramos: 1) Divaldo tem hoje mais de duzentos livros publicados (140 psicografados mais os biográficos e as coletâneas), sete milhões e meio de livros editados, traduções para dezessete idiomas, mensagens por xenoglossia, de forma especular (de trás para frente), diferentes temas e estilos (Filosofia, Crônicas, Ensaios de Psicologia Espírita, Romances – Temas Sociais/Reencarnação e Obsessão/Alienações, Infanto-Juvenil, Comportamento, Narrações Evangélicas, Poética, Mediunidade, Depoimentos de Além-Túmulo, Casa Espírita, Biográfico de Divaldo). Tal currículo é impossível de plagiar; 2) como falar de plágio de quem realizou fatos inéditos, como por exemplo: 1) único médium que psicografou um livro inteiramente num idioma que não era o seu (Hacia las Estrellas, em espanhol, ed. LEAL); 2) único médium que psicografou 140 livros nos primeiros 40 anos de publicações mediúnicas (o dobro de qualquer outro médium até hoje); 3) único médium que psicografou livros com temas modernos e inéditos na literatura mediúnica, na área da psicologia, psiquiatria e psicopatologias, relacionando-os à mediunidade e obsessão. A Psicóloga Dra. Cristina Maria Carvalho Delou, com pós-graduação na UERJ, e que foi Diretora da Associação Brasileira para Superdotados, em 1987, analisou os livros do Espírito Joanna de Ângelis (Guia de Divaldo), fazendo um paralelo com a “Quarta Força em Psicologia” (Transpessoal): “Joanna é uma profunda conhecedora dos problemas humanos”; sua linguagem, cientificamente, é moderna, principalmente no que diz respeito à discussão inicial sobre a mudança de paradigma…”; 4) psicografou sete livros durante viagens ao Exterior para fazer palestras; (trabalhou ambas as faculdades mediúnicas – oratória e psicografia); 5) psicografou centenas de mensagens em vários países onde foi fazer palestras, em idiossincrasia histórica e cultural; 6) único médium considerado persona non grata e proibido de entrar num país (Portugal e colônias africanas, em 1972), em virtude de mensagem psicográfica, incluída no Index Expurgatorius, considerada atentatória ao regime ditatorial salazarista da época; 7) único médium intimado por uma polícia internacional (a PIDE, na África), para explicar as informações históricas do País, contidas numa mensagem psicografada; 8) há mais de dez anos fazemos pesquisas das obras do médium Divaldo Franco. Contabilizamos mais de 260 Espíritos Comunicantes que, quando encarnados, tiveram quinze diferentes atividades profissionais (Prêmios Nobel, Acadêmicos de Letras, Filósofos, Cientistas, Poetas, Militares, Educadores, Médiuns, Vultos espíritas, Políticos, Presidentes da República, Religiosos, campeões esportistas, Santos e Santas). Identificamos a naturalidade deles: EUROPA (nove países); AMÉRICA (seis países e de 16 Estados do Brasil); ÁFRICA (dois países); e ÁSIA (um país); 9) em cem mensagens familiares por ele psicografadas, de sessenta Espíritos para seus entes queridos, identificamos mais de 750 particularidades e detalhes nas mesmas. Divaldo desconhecia o Espírito missivista e seus familiares, que eram médicos, advogados, arquitetos, desembargadores, escritores etc, revelando capacidade para avaliar a psicografia; 10) fizemos um VADE MECUM (Dicionário Temático Remissivo) de todos os livros do médium Divaldo (em revisão), o qual totalizou mais de 20 mil remissões e cerca de três mil verbetes (assuntos). Evidente o ineditismo e fecundidade das obras; 11) analisamos quatro livros psicografados por Divaldo, do Espírito Vianna de Carvalho (1874-1926). Há citação de quase quinhentos nomes de pessoas conhecidas na História, nas mais diversas áreas de atuação e de diferentes lugares. Com relação às outras citações – científicas, filosóficas, históricas, políticas, bíblicas, literárias e médicas – encontramos cerca de 1.100 delas. A produção psicográfica do médium Divaldo é enciclopédica, impossível de plagiar, ele que nem o ginásio cursou. Há treze anos estamos pesquisando as obras completas do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), pois Divaldo psicografou oito obras atribuídas a este Espírito. Anotamos milhares de características em comum entre o escritor Victor Hugo e o Espírito Victor Hugo (metáforas, hipérboles, anticreses, antíteses, neologismos, vocabulário, cor local, citações em latim, em espanhol, em inglês, o grotesco, o burlesco, onomástico, peculiaridades lingüísticas, método enfático, citações geográficas, históricas, mitologia etc). Este gigantesco trabalho terá oportuna publicidade, com resultados da comparação literária, que já se vislumbram; 3) a primeira questão a considerar numa mensagem é seu conteúdo. Se um livro fala de perdão ou amar o próximo, não há plágio se outros Espíritos, por outros médiuns, escreverem a mesma coisa (a fonte é o Evangelho e não este ou aquele Espírito ou médium). Não há plágio se as mensagens tratam do mesmo assunto (Filosofia, Sociologia, Cristianismo, Evangelho, Espiritismo etc). Caso contrário, o evangelista João seria acusado de plagiar os outros evangelistas que o precederam; todos os Espíritos que ditaram livros após Allan Kardec teriam plagiado as mensagens da Codificação. Por isso também que o médium Divaldo não acusa de plágio quem manifesta semelhança com sua oratória. Os assuntos tratados são os mesmos, com a agravante de o subconsciente de cada um arquivar inevitavelmente lições recebidas. Divaldo tornou-se o maior Discípulo de Allan Kardec de todos os tempos. A Humanidade precisa muito de plágio, plágio das lições de Jesus, vivenciando Seu Evangelho… Washington Fernandes Fonte: Jornal Mundo Espírita – Novembro/2007 |
P.S.
O Paulo Neto, sempre atento, mandou-me hoje, 04/07/207, uma correção: Entre Hahnemman (1864) e Emmanuel (1939), houve duas oportunidades em que Jesus foi chamado de “Governador da Terra”: a primeira por Leon Denis, no livro O Cristianismo e o Espiritismo, de 1898; e numa comunicação recebida em 1908 por Eurípedes Barsanulfo e assinada por “João Batista”. Transcrevo parte do e-mail enviado pelo Paulo Neto:
“Comunicação recebida 1908, [por Eurípedes Barsanulfo] não constando dia e mês:
Glorificados sejais, filhos de Deus, que buscais os raios desta bendita luz que Deus acende na Terra para iluminando a todos, assim dizer: Meus Filhos, na Terra, sempre eu vos esclareci e iluminei pelas bocas dos profetas desde Moisés até Elias, desde Elias até João Batista, de João Batista até ao meu Amado Filho. Por todos tenho semeado em vossos corações o amor que de tantos marcados exemplos vos tenho dado, porém meus filhos, o vosso Governador, o vosso Redentor Jesus, falando aos apóstolos e por isso a humanidade inteira Jesus promete enviar como na passada sessão que foi dito por meu legado Gabriel, promete Jesus, repito, o Espírito Consolador.
Acompanhai-o, segui-o e vos chegarei até a Mim, porém meus filhos quando este mesmo Espírito de Verdade, falando ao povo como outrora Jesus, encontra da parte do povo, de alguns de boa vontade, de fé ardente, de outros a indiferença que quer isto denotar é que através de tantos séculos a humanidade busca ter sempre o mesmo procedimento.
JOÃO BATISTA (grifo nosso)
[…]
Nota-se que está claramente dito que Jesus é o “vosso Governador”, é um fato que, em Léon Denis (1846-1927), se confirma:
A passagem de Jesus pela Terra, seus ensinamentos e exemplos, deixaram traços indeléveis; sua influência se estenderá pelos séculos vindouros. Ainda hoje, ele preside os destinos do globo em que viveu, amou, sofreu. Governador espiritual deste planeta, veio, com seu sacrifício, encarreirá-lo para a senda do bem, e é sob a sua direção oculta e com o seu apoio que se opera essa nova revelação, que, sob o nome de moderno espiritualismo, vem restabelecer sua doutrina, restituir aos homens o sentimento dos próprios deveres, o conhecimento de sua natureza e dos seus destinos. (grifo nosso)”