Neste vídeo, que é o 17° de uma série de 30 vídeos em que analisamos e interpretamos o Evangelho de Lucas, tratamos d a parábola do servo vigilante, da parábola do rico insensato, do ensino de Jesus sobre a preocupação e a ansiedade, do fermento dos fariseus e outros temas pertinentes ao capítulo 12 do Evangelho de Lucas.
Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.
CAPÍTULO 12
1. Ajuntando-se entretanto muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou a dizer aos seus discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
A palavra grega traduzida como “muitos milhares” é myriádom (μυριαδων), que quer dizer “dez mil”. Não podemos imaginar dezenas de milhares de pessoas cercando Jesus. Não havia tanta gente naquela região.
Isso pode ser uma força de expressão, querendo dizer que havia uma grande multidão. Mas não podemos esquecer que Jesus não estava presente apenas no plano físico. Se hoje um médium suficientemente treinado pode acessar ao mesmo tempo o plano astral e o plano físico, mesmo que imperfeitamente, é evidente que Jesus via, ouvia, pregava e agia no plano astral. Milhares de espíritos desencarnados estavam à volta de Jesus, aprendendo, socorrendo-se, preparando-se para reencarnar em seguida e dar continuidade à pregação do Evangelho, como aconteceu no que se convencionou chamar de cristianismo primitivo, em que o número de seguidores do Cristo cresceu rapidamente.
Isso não aconteceu sem planejamento. Muitos espíritos, dos mais diversos níveis evolutivos, cercavam Jesus. Por isso a impressão de que se atropelavam, de que andavam uns por cima dos outros.
Jesus diz aos seus discípulos para que se cuidassem do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. O fermento simboliza a desintegração, a corrupção, representa o estado íntimo de hipocrisia. A principal característica dos fariseus apontada por Jesus é a hipocrisia.
É bom esclarecer que o significado original da palavra “hipócrita” é “ator”. Jesus comparava os fariseus aos atores da época, que em seus diálogos respondiam uns aos outros suas falas decoradas, que interpretavam personagens, que aparentavam ser o que não eram.
Os fariseus eram muito esclarecidos para a época, mas não utilizavam o seu esclarecimento para tornarem-se pessoas melhores, apenas seguiam regras exteriores. Perderam-se em suas próprias regras e tradições, assim como os fundamentalistas de hoje, que não se permitem questionar nada do que esteja na Bíblia, por mais grotesco e insano que seja.
Por outro lado, os espíritas também correm o risco de se assemelharem aos fariseus. Jesus cobrava mais dos fariseus do que de qualquer outro grupo ou classe, justamente pelo fato de eles terem mais esclarecimento. Quanto mais esclarecimento, maior é a cobrança. Os espíritas que decoram questões doutrinárias e nomenclaturas e descrições fenomenológicas, esquecendo-se de colocar em prática o ensinamento de Jesus, estão bem próximos dos fariseus.
2. Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.
3. Porquanto tudo o que em trevas dissestes, à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado.
Jesus alerta para a realidade espiritual, pois se no plano material é possível esconder-se atrás das aparências, no plano astral a verdade sobre nós é revelada.
Depois de desencarnados não teremos uma máscara de carne para nos escondermos. Então nossos pensamentos e sentimentos íntimos serão conhecidos por todos.
“… e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado”. – O telhado ou terraço das casas israelitas era plano, podia-se andar sobre ele. Era o lugar mais em evidência para dizer alguma coisa aos vizinhos ou às pessoas que passavam pelas ruas.
O que foi dito em segredo será divulgado a todos. Isso tanto pode se referir às nossas fraquezas íntimas, que serão conhecidas, como pode se referir aos segredos doutrinários, aos ensinamentos que Jesus passava aos seus discípulos mais próximos, que não eram propagados ao povo porque o povo não estava apto a compreender questões mais profundas.
Os conhecimentos divulgados abertamente pelo Espiritismo, pela Teosofia, pelo Rosacrucionismo, pela Conscienciologia, em seus locais de reunião, nos livros, na internet, foi segredo de poucos durante séculos. Jesus nos disse que não poderia nos ensinar tudo, pois não suportaríamos. Não teríamos condições, naquela ocasião, para compreender a realidade espiritual. Mas hoje muitos de nós já estão preparados para isso. Maior, portanto, a nossa responsabilidade.
4. E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer.
5. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei.
6. Não se vendem cinco passarinhos por dois ceitis? E nenhum deles está esquecido diante de Deus.
7. E até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.
Jesus continua a sua advertência dizendo para não temermos aquele que pode matar o nosso corpo. Devemos temer quem tem autoridade de nos lançar na Geena. A maioria das versões traduz a palavra Geena como inferno, mas isso é uma incorreção.
A Geena ou o Vale dos Gemidos é mencionada já no Antigo Testamento, desde Josué. Era um vale onde foi construído um altar ao deus Moloch, onde eram feitos sacrifícios de crianças. Até reis dos judeus, como Manassés e Acaz queimaram os seus próprios filhos em adoração a Moloch.
O profeta Jeremias protestou contra essa monstruosidade, e o Rei Josias destruiu o local do culto fazendo daquele vale o depósito de lixo de Jerusalém, onde lançavam os cadáveres de animais e de criminosos. Depois da morte de Josias o culto a Moloch foi reativado por algum tempo.
O gás, provavelmente metano, produzido pela deterioração do lixo, é que fazia o fogo manter-se aceso permanentemente. Assim surgiu o simbolismo do “fogo que nunca se apaga”, que foi utilizado para a figuração do inferno.
É claro que devemos tratar de preservar a nossa vida, mas Jesus nos ensina que o corpo físico é perecível, mas o espírito é imortal.
Quem pode nos mandar para o Geena, que hoje chamaríamos de umbral ou astral inferior, é o nosso subconsciente. Nosso subconsciente é a soma de tudo o que já pensamos, falamos ou fazemos, em todas as nossas existências. É o que determina a nossa vibração. É o conteúdo do nosso subconsciente que sintoniza com os seus afins. Semelhante atrai semelhante, e as mentes perturbadas sintonizam umas com as outras produzindo seus geenas temporários.
Nem os passarinhos, que eram vendidos por um valor irrisório, estão esquecidos de Deus, pois são parte da creação. “E até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados”. Tudo o que faz parte de nós está contado, anotado, registrado. Todos os nossos pensamentos, palavras e ações estão contados, estão arquivados em nosso subconsciente. Nada é perdido, nada passa despercebido. É a soma de tudo isso que forma o que nós somos, que nos diferencia de todos os demais.
8. E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus.
9. Mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus.
Na tradução do Haroldo temos, em vez de “todo aquele que me confessar”, “todo aquele que se declarar por mim”. A palavra grega é homologuései (ομολογησει), de onde nós temos, na língua portuguesa, “homologar”, ou seja, confirmar, reconhecer.
Quando de homologa um documento, por exemplo, se está confirmando, reconhecendo aquele documento como autêntico.
Nós já vimos que o “filho do homem” é o nosso próximo estágio evolutivo. E sabemos que a palavra “anjo” quer dizer “mensageiro”. Anjo de Deus é o mensageiro de Deus, é o espírito puro, que já se libertou totalmente da matéria e que superintende a evolução dos espíritos.
Então vemos que todo aquele que reconhece Jesus como modelo a ser seguido se aproximará do estágio de filho do homem, recebendo dos mensageiros de Deus novas incumbências de acordo com o seu adiantamento conquistado. Mas aquele que não reconhecer o caminho indicado por Jesus como o caminho reto que leva a Deus, este será negado diante dos mensageiros de Deus. Terá que repetir uma trajetória semelhante, reencarnando com as mesmas incumbências, agravadas pela quebra no planejamento evolutivo dentro do grupo de espíritos com que evolui.
10. E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á perdoada, mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado.
Aquele que contrariar os requisitos para a ascensão ao estágio evolutivo de filho do homem estará atrasando a si mesmo e será perdoado, ou seja, será libertado do seu erro assim que retomar o caminho. Mas aquele que blasfemar contra o santo espírito (o texto grego traz aqui “santo espírito” em vez de “espírito santo”), este não será perdoado, quer dizer, não será libertado do seu erro. Este não apenas se desviou do caminho natural em linha reta que leva ao próximo estágio evolutivo, de filho do homem. Este está na contramão do caminho evolutivo, está se opondo à sua natureza de espírito, está se insurgindo contra a sua filiação divina, contra a sua condição de filho de Deus, creado à imagem e semelhança de Deus. Não será automaticamente libertado do seu erro assim que retomar o caminho. Terá que resgatar o seu erro recuperando a caminhada.
13. E disse-lhe um da multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança.
14. Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?
15. E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.
A lei determinava que dois terços da herança ficavam com o filho mais velho, e o outro terço fosse dividido entre os demais (Deuteronômio 21:17). O reclamão, provavelmente, era o irmão mais novo.
Percebemos pelo exemplo de Jesus que não devemos nos meter a tratar de questões familiares dos outros. Temos que estar disponíveis para ajudar, mas sem nos intrometermos em questões pessoais, mesmo que sejamos chamados a isso. Para essas questões existem profissionais competentes.
Naquela época estas decisões geralmente cabiam aos escribas. É provável que o povo tenha se decepcionado com Jesus por ele não tomar esta decisão ao seu encargo, pois esta era uma das características que o povo esperava no messias prometido, do grande líder que Deus mandaria para libertar o povo do dominador romano. O rei Salomão, por exemplo, era lembrado por sua sabedoria em resolver pendengas judiciais entre as pessoas.
16. E propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância;
17. E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos.
18. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens;
19. E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga.
20. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.
O homem queria recolher (ou armazenar) os frutos, mas o ensino também é válido para o saber. De nada adianta acumular conhecimento e não compartilhá-lo. O conhecimento deve ser movimentado.
O homem da parábola substituiu os celeiros por outros celeiros maiores. Em vez de substituir o seu apego às coisas materiais, aumentou o seu apego. Nosso grande esforço, no estágio evolutivo em que estamos, é o de substituir velhas crenças por novos conhecimentos, substituir pensamentos negativos por pensamentos positivos, substituir maus hábitos por bons hábitos.
22. E disse aos seus discípulos: Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis.
23. Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que as vestes.
24. Considerai os corvos, que nem semeiam, nem segam, nem têm despensa nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis vós do que as aves?
25. E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
26. Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?
27. Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
28. E, se Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
29. Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos.
30. Porque as nações do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que precisais delas.
31. Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
“Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. – Raramente alguém leva esta recomendação de Jesus a sério. No entanto, nada mais óbvio do que isso. Uma pessoa equilibrada espiritualmente desempenha melhor qualquer atividade em qualquer área da vida. Uma pessoa que busca o reino de Deus (que é o nosso próximo estágio evolutivo), que busca evoluir, melhorar-se, aprimorar-se moralmente, é uma pessoa que se relaciona melhor e encontra em todas as suas atividades um sentido maior.
A recomendação de Jesus nesta passagem é para não nos preocuparmos. Temos que nos ocupar, não nos pré-ocupar. A cada dia viver o próprio dia, e não antecipar o dia de amanhã.
Nosso padrão de pensamentos atrai pensamentos semelhantes, de encarnados e desencarnados. Quando nos preocupamos estamos atraindo outros pensamentos de preocupação e ansiedade.
Tudo começa pelo pensamento. Todas as realizações humanas, antes de se concretizarem materialmente, tiveram existência no pensamento. Um padrão de pensamentos de preocupação produz no mundo material sempre mais motivos para preocupação. Somos o que pensamos. E a Vida nos apresenta o que intimamente achamos dela.
Jesus não está recomendando a ociosidade, de jeito nenhum! Os corvos não são ociosos, mas não se preocupam com o dia de amanhã. Vivem a cada dia o seu dia.
Nós somos espírito e estamos na matéria. Tanto o espírito quanto a matéria vivem da Vida de Deus. Nossa inteligência, nossas conquistas morais e intelectuais são o pouco que conseguimos captar da inteligência de Deus. A matéria de que dispomos, nosso corpo físico, nosso alimento, roupa, casa e todas as demais coisas materiais são o pouco que utilizamos, como um empréstimo, do que também é de Deus.
Nada do que é material é realmente nosso. Só levaremos conosco, quando desencarnarmos, nossos conhecimentos e experiências, nossas aquisições morais e intelectuais. Isto são qualidades de Deus que conseguimos incorporar à nossa individualidade, e passam a fazer parte de nós.
O homem da parábola, que destruiria os seus celeiros para construir outros maiores, estava tratando exclusivamente das coisas materiais, que ficam no plano material, que não nos acompanham em nossa jornada espiritual.
32. Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.
Jesus está se referindo aos bilhões de espíritos encarnados e desencarnados que evoluem neste planeta e que estão confiados a ele. Jesus é o pastor deste pequeno rebanho. Pequeno, perto da imensidão do cosmos. Jesus é o responsável pelos espíritos da Terra. E nos avisa de que estamos prontos para conquistar o reino de Deus, progredirmos e subirmos um degrau na escala evolutiva espiritual.
33. Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói.
34. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.
“… onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração”. – Este ensinamento de Jesus não se refere especificamente aos bens materiais, mas a tudo o que valorizamos. Concentramos o nosso pensamento nas coisas que nos são mais importantes. Essas coisas podem ser boas ou más. Mas o nosso pensamento passa a maior parte do tempo em função dos mesmos assuntos, dos mesmos temas, das mesmas ideias. Para muitos é o dinheiro, para outros é o sexo, para outros a vingança, ou a doença, ou a preocupação com os filhos, ou o ciúme doentio, ou a ambição profissional, ou o futebol, a política, a religião.
Nosso tesouro é o pensamento. É o pensamento que determina quem somos hoje e quem seremos amanhã. E onde está o nosso pensamento, está o nosso coração. Não importa se o pensamento é bom ou mau. Nosso coração (ou a nossa mente) o acompanha. Isso vale para todas as situações da nossa vida.
35. Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias.
Usava-se um cinto para prender melhor as vestes, que não tinham a praticidade das roupas que usamos hoje. Só se soltava o cinto para dormir, assim como só se apagava a candeia, que era a lâmpada da época, na hora de dormir.
A recomendação de Jesus é para que estejamos sempre vigilantes, devemos estar permanentemente no controle dos nossos pensamentos. O corpo físico precisa de repouso, mas o espírito deve estar sempre desperto. Quem adquire o controle sobre os pensamentos no estado de vigília, quando estamos acordados, passa a ter controle sobre eles mesmo quando o corpo físico está dormindo.
36. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe.
37. Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá.
38. E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília, e os achar assim, bem-aventurados são os tais servos.
39. Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa.
40. Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais.
Muitos veem nestas palavras de Jesus a promessa de sua volta, acreditam que Jesus vai voltar em pessoa.
Acreditamos que ele esteja se referindo ao nosso próximo estágio evolutivo, que é o de filho de homem, o produto da evolução humana na Terra.
Para viabilizarmos o nosso próprio progresso espiritual, a vigilância sobre os próprios pensamentos é imprescindível. O homem evoluído, que Jesus chama de filho do homem, deve servir, e não esperar ser servido. O próprio Jesus, incalculavelmente maior que nós, veio para nos servir, assim como um pastor serve ao seu rebanho.
41. E disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?
A pergunta de Pedro demonstra que Jesus não expunha os seus ensinamentos mais adiantados ao povo, pois o povo da época não tinha condições de compreender as verdades espirituais que hoje o Espiritismo disponibiliza a todos. Jesus disse, mais tarde, que teria muito mais a nos revelar, mas que não poderíamos suportar naquele tempo (João 16:12).
Jesus responde a pergunta de Pedro ainda em forma de parábola.
42. E disse o Senhor: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?
43. Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
44. Em verdade vos digo que sobre todos os seus bens o porá.
45. Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se,
46. Virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis.
47. E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;
48. Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá.
Jesus fala de um senhor que vai se ausentar e deixa um servo como mordomo, como responsável pelos seus outros servos. Se ele cuidar bem dos outros servos, será feliz. Mas se ele achar que o seu senhor vai demorar e abusar dos servos, cuidando apenas de comer, beber e embriagar-se, o seu senhor chegará inesperadamente e o castigará com muitos açoites, porque o mordomo sabia que a vontade do seu senhor era que cuidasse bem dos seus servos. Mas, se ele não sabia da vontade do seu senhor, se o mordomo não sabia que o seu senhor queria que ele cuidasse bem dos seus servos, então o seu castigo será menor.
Jesus completa dizendo que “a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”.
O que Jesus está dizendo é que a nossa responsabilidade é proporcional ao nosso conhecimento da verdade.
O espírito que cuida bem dos outros é recompensado. O espírito que cuida mal dos outros será cobrado por isso. Essa cobrança será pequena se ele age sem conhecimento da verdade. Mas a cobrança será grande se ele conhecer a verdade e mesmo assim agir contra a verdade.
O Espiritismo proporciona conhecimentos que a maior parte das outras correntes de pensamento, religiosas ou não, não oferecem. Se somos mais esclarecidos, se nos julgamos mais esclarecidos, temos que estar cientes de que a nossa responsabilidade para com a nossa própria consciência é muito maior.
Jesus disse noutra ocasião que com a medida com que medirmos seremos medidos (Lucas 6:38). Nosso conhecimento espiritual nos amplia os horizontes, amplia a medida com que percebemos a realidade.
Nossa responsabilidade é do tamanho da nossa percepção da realidade espiritual. Jesus quando se refere ao mordomo abusado diz que o senhor “separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis.” O verbo grego traduzido aqui como “separar”, que outras versões traduzem como “cortar em dois” ou “cortar ao meio” é dikazô (διχοτομησει), de onde deriva a palavra “dicotomia”, que é “separar em duas partes geralmente contrárias”. É a separação rigorosa entre matéria e espírito.
O espírito perde a oportunidade de elevação e de maior liberdade em relação à matéria, e como resultado de sua conduta materialista fica temporariamente mais sujeito às dores resultantes do plano material, sofre a ação telúrica que o prende à matéria.
O simbolismo de satanás ou diabo é exatamente este. O apego à matéria, à prisão às coisas materiais. O seu contrário é a espiritualização, a libertação da influência material.
49. Vim lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso?
50. Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!
51. Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão;
52. Porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três.
53. O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra.
Jesus diz que não veio trazer paz à Terra, mas divisão (ou dissensão). Isso ocorre tanto dentro dos lares, em que há divisões por causa dos posicionamentos religiosos de cada um dos seus membros, como há a divisão dentro das pessoas, a inquietação causada pelo início da conscientização, em que o espírito encarnado abandonou os velhos hábitos mentais, mas ainda não consolidou hábitos novos.
54. E dizia também à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede.
55. E, quando assopra o sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede.
56. Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?
57. E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?
58. Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado, procura livrar-te dele no caminho; para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão.
59. Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro ceitil.
Jesus aconselha que nos livremos (ou reconciliemos) dos nossos adversários enquanto estamos no caminho, ou seja, enquanto estamos encarnados. A reencarnação é a oportunidade de nos reconciliarmos com antigos desafetos, graças ao esquecimento temporário do passado. Se não nos reconciliarmos enquanto estamos encarnados, na linguagem figurada utilizada por Jesus, iremos para a prisão, e de lá não sairemos enquanto não pagarmos o último centavo.
Fica demonstrado, aqui, que não há penas eternas, não existe castigo eterno como pregam as religiões tradicionais. Se aquele que não se reconciliou com o seu adversário ficará preso até que pague o último centavo, ou seja, até que se reajuste com a Lei de causa e efeito, quer dizer que depois de ter pagado até o último centavo ele será libertado. É o que Jesus diz.
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