Em novembro, quando escrevi acerca dos moradores de rua, citei como referência o trabalho realizado pelo meu amigo Ricardo de Lima, do Blog Kardeciano,blogspot.com.br
Nem sempre concordo com tudo o que ele diz, mas admiro e recomendo o seu trabalho pela seriedade e pelo conhecimento de causa. É um dos melhores blogs espíritas ou com abordagem espírita opinativa.
Quem quiser conferir o meu artigo, aqui está ele:
Devemos ajudar quem não quer ser ajudado?
ARTIGO DE AUTORIA DE RICARDO DE LIMA
Um olhar para a população em situação de rua
Vigora muito no senso comum, devido às nossas heranças de existências transatas e que a antropologia chama de heranças socioculturais, a leitura de que a pobreza é problema de caráter. Desta forma vemos uma pessoa em situação de rua e o denominamos ou rotulamos de “vagabundo” que não quer trabalhar.
Mas se nos detivermos numa leitura sob o olhar sociológico iremos perceber que este problema histórico está estritamente ligado à contradição do capital versus trabalho, vivemos em um mundo capitalista que alimenta nossas ilusões de liberdade, ilusões de liberdade, pois encontramos em anúncios de emprego o dizer “Salário a combinar”; Mas quem combina e negocia sua força de trabalho? Quem determina o valor da sua força de trabalho?
Ignoramos que a miséria funciona como um forte elemento constrangedor e ou opressor que o capitalismo usa para que pressionemo-nos a submeter à sua vontade, ao preço que nos determinam, e este elemento leva-nos a conformarmo-nos com a exploração, com nome das metas de produção e execução do trabalho.
Nossa impontualidade tem um preço, milhares de acertos e um bom desenvolvimento se dilui ante um erro, uma posição a mais já é suficiente para que o explorado se torne um explorador do trabalho do outro que beneficia o dono do Capital.
Se torna necessário ter o que Karl Marx chamou de força industrial de reserva, para que os salários continuem baixos, estimula em benefício próprio a competição, então tem sempre alguém buscando o lugar de outro, sempre mais alto, sempre mais lucro…
Para que alguns poucos lucrem e a maioria sustente este pouco é necessário que haja a manutenção da pobreza e da miséria…
Se nos detivermos a olhar as grandes cidades e mapearmos as ações sociais realizadas, iremos perceber que existe uma fronteira invisível criando um muro de ações que situam a exclusão do pobre aos ditos bairros nobres. Nesta fronteira percebe-se quantos projetos sociais existem, enquanto que na zona periférica há uma grande ausência destes projetos, salvo algumas poucas exceções, pois o pobre está no lugar do pobre, mas se estiverem nos centros passam a ser um problema, sujam a cidade, enfeiam os cartões postais e se faz necessário higienizar a cidade, tirá-los dali, porque pessoas normais se incomodam com a presença deles, esquecendo que são pessoas humanas, não querem ver o que acham que é feio, para muitos é melhor a hipocrisia de uma sociedade perfeita do que agir para mudar positivamente a cidade e o País onde mora.
Hoje vivemos um crescimento grande da População em situação de rua que tem causas sociais intrinsecamente ligadas à falta de investimento em saúde publica…
Ao contrario do que se pensa, que o Crack é o maior fator que contribui para o crescimento desta população, é um ledo engano, pois quem causa o maior rompimento dos laços familiares pela dependência química é o alcoolismo, droga lícita que faz parte de nossas convenções sociais e que é estimulada por propagandas e por nossa cultura de autoafirmar nossa identidade e independência, do uso intermitente ao uso constante, e causando conflitos familiares e posteriormente o rompimento de laços, que para o público masculino é difícil de ser transposto, se mostrando por meio de dados levantados a esta população de sua maioria masculina.
Outro fator além do social e de saúde publica, são nossas heranças espirituais ou socioculturais de ancestralidade indígena, onde ter o necessário para sobreviver e manter-nos vivos e desfrutar da liberdade da natureza, não submetendo-nos à sociedade de consumo e acúmulo de bens, faz com que se revelem através de algumas posturas facilmente encontradas.
O que faz com que muitos de nós interpretem como um problema, pois a maioria da sociedade gasta a vida trabalhando para juntar bens que não desfrutam, pois somos escravizados pelo tempo e pela correria.
Corremos para descansar…
Corremos mesmo estando descansando…
Gastamos a vida e a saúde para ganhar dinheiro, e no momento de nossa aposentadoria, gastamos o que acumulamos para recuperar um resto de vida.
E isso tudo nos parece tão normal…
Como espíritas devemos compreender esse fenômeno, chamado população em situação de rua, e atuar socialmente na educação da infância e juventude para que entrem na sociedade e tragam em suas atitudes um novo norte, uma nova perspectiva, e junto a esta população promovendo-a socialmente sem promover a “manutenção da pobreza”, tema de nosso próximo texto.
Quem quiser ler a continuação deste assunto, visite o blog do Ricardo de Lima clicando sobre o título do artigo: Manutenção da pobreza