Talvez a maior polêmica a respeito da trajetória de Jesus narrada nos Evangelhos seja a expulsão dos mercadores do templo. Católicos e protestantes, de um modo geral, não se incomodam muito com esta passagem. Mas os espíritas têm dificuldade para admitir que Jesus, o espírito mais elevado que conhecemos, tenha cometido este ato que consideram como uma violência.
O fato é narrado nos 4 Evangelhos, então não há como alegar que essa passagem tenha sido acrescentada posteriormente. Aliás, não convém escolhermos o que serve e o que não serve para nós nos Evangelhos. Ou o aceitamos ou não o aceitamos. Em o aceitando, as dificuldades encontradas são dificuldades de interpretação, já que a linguagem evangélica é essencialmente simbólica.
Neste vídeo, o 5º da série de estudos sobre o Evangelho de João, abordamos brevemente essa polêmica.
Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.
JOÃO 2:12-25
- Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias.
- E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
Não haveria o menor sentido em dizer que Jesus desceu a Cafarnaum e que logo depois subiu a Jerusalém se não houvesse um ensinamento por trás disso.
A palavra “Cafarnaum” é formada por kafar, que quer dizer “aldeia”, e nahum, que quer dizer “confortável”, “reconfortante”, “consolador”. Cafarnaum, então, é “a aldeia do consolador”, ou “cidade do consolador”. “Jerusalém” quer dizer “visão da paz”.
Jesus desceu até os irmãos mais atrasados para reconfortá-los, para levar-lhes consolação, e logo depois elevou novamente as suas vibrações para alcançar a visão da paz.
Isso serve de exemplo para qualquer trabalhador da causa de Jesus. De nada adianta nos limitarmos ao convívio com aqueles que estão no mesmo nível evolutivo que nós. Precisamos descer para consolar, para reconfortar os que ainda estão abaixo de nós. Mas não podemos nos esquecer de nós mesmos. Temos que elevar as nossas vibrações para alcançar a visão da paz.
- E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados.
- E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas;
- E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.
- E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorou.
- Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto?
- Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.
- Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
- Mas ele falava do templo do seu corpo.
- Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito.
Os espíritas, de um modo geral, têm dificuldade em admitir que Jesus tenha expulsado os vendilhões do templo. Essa dificuldade surge da confusão que fazem da imagem de Jesus. Consagrou-se no imaginário popular uma imagem de doçura, de suavidade. É comum no meio espírita expressões como “o meigo rabi da Galileia”. Não há nada de meigo em Jesus.
A expulsão dos vendilhões do templo é narrada pelos quatro evangelhos, então não podemos duvidar. Os que se sentem desconfortáveis com esta passagem é porque confundem a atitude firme e enérgica de Jesus com violência. Firmeza e atitude enérgica não querem dizer violência. Bondade não quer dizer complacência. Ser bom não é passar a mão na cabeça de quem comete erros reiteradamente.
Você ficaria de braços cruzados se presenciasse um crime sabendo que poderia detê-lo? Isso não seria conivência? Não seria uma fraqueza de caráter?
Jesus era jovem e havia sido trabalhador da construção civil até pouco tempo antes de começar a sua missão. Jesus era um homem forte e viril, não era um loirinho triste de olhos caídos. Essa imagem que inventaram de Jesus durante a Renascença gera muita confusão. Querendo imitar essa imagem doce e suave, podemos nos tornar compactuantes com o crime e com erros graves que podemos evitar.
Energia é virtude, não defeito. Um pai muitas vezes tem que ser firme, até severo, com o seu filho, para que o seu filho perceba que há limites. Foi o que Jesus fez.
O que é realmente importante, nos Evangelhos, são os simbolismos. João diz que Jesus falava “do templo do seu corpo” – nosso corpo (nossos veículos de manifestação) é templo de Deus, conforme assegura o apóstolo Paulo:
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo”. (1 Coríntios 3:16,17)
Em 1:14 nós vimos que Deus “tabernaculizou” em nós, construiu seu tabernáculo em nós. Nossos veículos de manifestação devem ser tratados com cuidado e respeito. Nossos corpos não nos pertencem, são concessões de Deus para que possamos adquirir experiências. A atitude enérgica de Jesus no templo é a mesma atitude enérgica que nós devemos ter com os nossos vícios, com os desejos aviltantes e com a preguiça, que não nascem do corpo, mas que se manifestam através do corpo. Contra isso temos que agir com energia, expulsando essas misérias que nos comunicam com os espíritos mais atrasados da Terra.
- E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
- Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia;
- E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem.
Vendo os sinais de Jesus, muitos foram fiéis ao seu nome, à sua manifestação. O nome é a manifestação externa da realidade interna, é a essência em forma de existência.
Estes a quem o texto se refere aderiram a Jesus por suas manifestações, pelos sinais que ele fazia, mas Jesus percebeu que essa aderência era apenas superficial, exterior, sem profundidade.
Jesus “(…)a todos conhecia” – como espírito incalculavelmente mais experiente que nós, Jesus sabe o que se passa na mente e no coração. Não temos segredos para Jesus, assim como não temos segredos para a nossa consciência.
PRÓXIMO ESTUDO DE JOÃO: CLIQUE AQUI
ESTUDO ANTERIOR DE JOÃO: CLIQUE AQUI