O Espiritismo considera o arrependimento como uma característica da evolução do espírito. O sentimento de culpa faz parte disso.
Todos nós já erramos terrivelmente no passado. Através de múltiplas reencarnações, atravessamos todos os períodos da História. Os crimes bárbaros, os costumes arcaicos que nos chocam, as atrocidades, os desmandos, as covardias cometidas em milênios de civilização foram cometidas por nós mesmos.
Por conta disso, todos nós já carregamos culpas que muito nos fizeram sofrer. Quantas vezes será que desencarnamos em péssimas condições morais? Quantas vezes ficamos presos nas grades das nossas próprias culpas, convivendo incessantemente com as acusações da consciência? Quantas vezes imploramos para reencarnar, nem que fosse nas condições mais precárias?
A reencarnação muitas vezes é o último refúgio de um espírito atormentado pela culpa. Sem conseguir esquecer os erros cometidos, sem conseguir lidar com o remorso, sem se arrepender a ponto de ensejar um esboço de recuperação, não sobra alternativa a não ser esquecer temporariamente de si mesmo e de tudo que lembre os enganos praticados. E o meio de esquecer, pelo menos em parte, é reencarnando. Esquecer em parte. Porque não esquecemos completamente. Muitas pessoas têm grande curiosidade de saber das suas existências passadas. Mas trazemos em nosso íntimo tudo o que já vivemos. As impressões das nossas reencarnações anteriores estão evidentes em nossas características psíquicas. O modo como vemos o mundo, a vida, as pessoas, as situações, tudo isso fala de nós, de nosso passado.
A maneira como lidamos com a culpa é um forte indício do nosso passado. Há pessoas que vivem atormentadas pelo sentimento de culpa, mesmo sem saber do quê. São reminiscências do passado, que o mergulho no novo corpo físico não foi capaz de apagar. Alguns espíritos foram tão castigados por suas próprias consciências no astral, entre a existência anterior e a atual, que passam o tempo inteiro na expectativa de algum sofrimento, de alguma desgraça, de alguma tragédia.
Pessoas assim devem se ajudar. Devem abandonar a curiosidade mórbida pelos crimes e tragédias dos jornais, devem deixar de lado o interesse por tudo que é macabro, por filmes de terror, por acidentes graves, por morte, doença, sofrimento. Só elas mesmas podem modificar o seu estado íntimo, adicionando novos valores para substituir, pouco a pouco, as velharias macabras que infestam a sua mente subconsciente. Devem procurar exatamente o oposto do que procuram. Boas notícias, pessoas boas e agradáveis, passeios, caminhadas ao ar livre, exercícios físicos, leituras edificantes, orações, frequência assídua ao centro espírita ou a algum templo religioso onde se valorize o otimismo, o pensamento positivo e a alegria de viver.
Os erros de que não lembramos são como fantasmas a assombrar as consciências culpadas. Sem o firme propósito de substituição desse estado de espírito, a maior parte da vida é consumida em lamentação, raiva, mágoa e desespero. A quase totalidade dos estados depressivos e culposos são curados ou consideravelmente aliviados com ação. Se a pessoa que vive sob a culpa souber ajudar a si mesma, poderá em pouco tempo se tornar alguém compreensivo, paciencioso e tolerante com as falhas alheias, por saber que em si mesma há um mundo insondável de erros a serem redimidos e trabalhados.
O melhor remédio para as enfermidades do sentimento de culpa é o serviço em benefício do próximo, é dedicar-se a algo de produtivo e útil. Todos nós, em maior ou menor grau, somos espíritos culpados, muitos em vias de regeneração. Precisamos estar sempre prevenidos contra as lembranças nefastas do passado culposo. Lembrar os erros cometidos não acrescenta nada. Temos que ter consciência de nossa pequeneza moral e avançarmos sem receio, mas sem rememorarmos nossos erros ou tentarmos buscar na lembrança desta ou de outras existências as causas de possíveis sofrimentos atuais. Que, na maioria das vezes, são solucionáveis ou contornáveis com autoajuda permanente.