Para lidar com as crises emocionais, é preciso reconhecê-las. Isso requer honestidade emocional.
O espiritismo é a fé raciocinada, por isso damos muita importância à razão. A razão é imprescindível para o estudo do espiritismo. Essa é a parte intelectual. Não vejo nenhuma dificuldade em relação a isso. Mesmo que eu não tivesse experiências pessoais em outro plano, a razão seria suficiente para me persuadir acerca da realidade estudada pelo espiritismo.
Mas não somos assim tão racionais. Você é? Eu, nem sempre. Acontece que entre a razão e a ação está a emoção. Entre a mente e a matéria estão nossas emoções, que interferem em maior ou menor grau em nossas decisões.
Acho que a maior dificuldade em controlar nossas emoções se deve ao fato de exercermos muito pouco domínio sobre nossa consciência. Quantos minutos de consciência plena você utiliza num dia? Sim, minutos. Se você consegue se manter consciente de seus pensamentos, palavras e ações durante uma hora por dia, mesmo que intercaladamente, você está muito além da média.
Fazemos quase tudo no piloto automático, somos escravos dos nossos hábitos. Isso não é necessariamente ruim, é até necessário. Podemos realizar um monte de tarefas sem precisar prestar atenção exclusiva a elas. Só que na hora em que precisamos concentrar a consciência, estamos tão destreinados que ficamos dispersivos e agimos por instinto. É o que acontece quando nos deixamos envolver pelas emoções.
Você é emocionalmente honesto? Você joga limpo consigo mesmo quando se trata das suas emoções? Ou você atribui seu descontrole ao seu estilo, ao seu jeito, ao seu temperamento? Do tipo “ah, eu sou assim mesmo”?
Quando você sente raiva, tristeza, inveja, você tem consciência do que está ocorrendo? Você consegue perceber o significado do que você está sentindo nessas horas? Se não analisarmos o porquê de sentirmos essas emoções indesejadas, como poderemos evitá-las e crescer com elas?
Ao fazer essa análise reconhecemos nossas fraquezas. Sabemos o que nos faz sentir ameaçados a ponto de sentirmos raiva; sabemos o que frustra nossas expectativas gerando tristeza; sabemos por que gostaríamos de ter algo que alguém tem e nós não temos e por que isso desperta nossa inveja. – Como praticar a reforma íntima sem entrar em contato com o seu íntimo?
Quando nos deixamos dominar pelas emoções, nosso orgulho instintivamente busca culpados. Como se sempre houvesse algum culpado pelo que ocorre em nosso íntimo. Se conseguirmos analisar a causa das emoções será mais fácil nos responsabilizarmos por elas. Precisamos admitir que somos responsáveis pelo que se passa quando estamos sob efeito dessas emoções.
Por isso a importância de nos mantermos conscientes. Na maior parte do tempo somos guiados pelo piloto automático, e nas horas de emoções fortes agimos impulsivamente. Não acho que seja fácil treinar a consciência a ponto de nos dominarmos completamente num momento de forte emoção. Mas podemos dar tempo ao tempo, podemos ao menos evitar a impulsividade.
A consciência, o “Eu”, essa voz que fala dentro da sua cabeça, esse olho que observa você o tempo todo, a sua consciência não se confunde com as suas emoções. São níveis distintos. É possível manter-se consciente durante uma crise emocional. É como entrar numa nuvem negra. Com a consciência concentrada, é possível deixar que as emoções sigam seu fluxo normal, como um visitante indesejado que não pode ser mandado embora. O que nos resta é observar o visitante e esperá-lo sair.
Se damos tanto valor à razão, não podemos agir movidos pelo instinto. O animal que ainda existe dentro de cada um de nós já era pra ter sido superado há bastante tempo. Precisamos apagar os vestígios de irracionalidade que trazemos em nosso íntimo.