Este artigo foi publicado originalmente em 18 de Abril de 2012
O Livro dos Espíritos, editado pela primeira vez em 1857, estabeleceu um marco no pensamento humano: o pensamento espírita. Somos o que pensamos, e o pensamento espírita demonstra isso usando as ferramentas da liberdade de pensamento, da abertura à reflexão e ao progresso das ideias. Fosse o pensamento espírita fechado em torno de uma verdade única e, certamente, descambaria para o dogmatismo.
Ao publicar o Livro dos Espíritos, Allan Kardec legou-nos a base de um conhecimento dinâmico, o alicerce de um edifício que nunca estará completo. Ou você é ingênuo a ponto de pensar que um dia saberemos tudo? Claro que não. Mas se constrói sobre o alicerce. Sem enfraquecê-lo. Sem modificá-lo. Sem sobrecarregá-lo. Mas sobre ele. Para isso serve o alicerce, para que se construa sobre ele.
Muitas obras vêm contribuindo, ao longo do tempo, para o desenvolvimento do pensamento espírita. Entre os que mais geram assunto, podemos citar os livros de André Luiz, entre outros trabalhos psicografados por Chico Xavier, longe ainda de serem plenamente compreendidos em seus múltiplos enfoques; e numa corrente não muito bem aceita pelos adeptos mais tradicionais do Espiritismo, os livros ditados por Ramatis, numa tentativa de união entre os pensamentos do Oriente e do Ocidente.
Na obra ora comemorada, Kardec alerta: “… ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós.” Entendo perfeitamente aqueles que preferem ater-se a determinadas obras em detrimento de um enfoque mais amplo. É graças ao conservadorismo que a essência não se perde. Mas o mundo é grande, e há espaço pra todos. Não há no mundo duas pessoas com ideias e concepções exatamente idênticas.
A maior virtude do pensamento espírita é a liberdade. É tão grande a influência do espiritismo em nosso país, que nem todos percebem. Quantas pessoas dos mais diversos credos creem na reencarnação? Quantas pessoas têm noção, mesmo que primária, de que existem outras vidas; de que já conviveram com determinados entes de agora em vidas passadas; que sabem que viverão novamente, após esta vida, numa outra, em outros corpos? Isso é o pensamento espírita disseminado, ganhando terreno, plantando ideias novas, vergando velhos conceitos arcaicos. Não me parece nada salutar discutir diferenças às vezes tão mínimas, se comparadas às imensas diferenças que há entre o pensamento espírita e alguns credos ditos cristãos. Ou, mais ainda, entre o pensamento espírita e o ateísmo, que nada aceita, fruto que é da ignorância acerca de antigas crenças sobre Deus deturpadas pela pobre imaginação humana.
O Livro dos Espíritos nos trouxe um novo tempo para o pensamento humano, partindo de um novo paradigma do conhecimento. Uma visão cósmica da vida, com novos sentidos e significados dentro da ordem universal. Fez eclodir uma mudança no comportamento humano. Hoje não temos dúvida de que somos nós que realizamos a nós mesmos. Que somos hoje o que fizemos de nós ontem, que o hoje é o futuro de um passado construído por nós, passado em que idealizamos e realizamos o que somos hoje, e que amanhã seremos o que nos programarmos para ser a partir de hoje, e que esta programação se dá em primeiro lugar no pensamento.