Vegetarianismo

O vegetariano e a alimentação

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Sou vegetariano. Eu pago a comida que entra em minha casa. Eu preparo a comida. A comida que eu preparo e disponibilizo contém todos os nutrientes necessários para a alimentação saudável e a manutenção da boa saúde. Eu permito que comam carne fora de casa. Na minha casa, não. Estou sendo radical?

Quando alguém me procura pra tirar uma dúvida, se aconselhar sobre determinado assunto, ou numa tentativa de desabafo, respondo o que sei e o que me parece válido para o momento. Outro dia uma leitora me perguntou se eu só tinha respostas, se eu não tinha perguntas. Ela queria saber se eu também não preciso pedir conselhos, desabafar, me queixar de vez em quando. Usei os argumentos que já havia apresentado neste artigo: “O espiritismo e o desabafo“.

Isso não é pretensão nenhuma de minha parte. Eu realmente não costumo ser incomodado por dúvidas. Meu grande esforço é colocar em prática o que sei que é o certo. A teoria, pra mim, não é problema. Sou aberto a mudanças e sei reconhecer quando posso estar errado. Mas isso tudo é teoria. E a teoria, é bom que seja lembrado, é a parte mais fácil.

Eu disse ali em cima que não costumo ter dúvidas. Pois agora, excepcionalmente, surgiu uma:

Essa é a parte que não se come…

Sou vegetariano há menos de um ano, e a carne não apenas deixou de fazer parte de meu cardápio como não entra mais em minha casa. Você entendeu a questão? Não entra mais carne na minha casa.

Quando deixei de comer carne, não contava com a adesão familiar. Pensei que cada um comeria o que bem entendesse; eu, de minha parte, não ia mais comer carne. Só isso. Pensava até em continuar preparando pratos à base de carne, já que sou bom cozinheiro; pensei em eventualmente fazer um churrasco pras visitas, ou mesmo pra família. Sou gaúcho, e o churrasco aqui no Sul é uma espécie de religião.

Mas isso mudou. E mudou porque, surpreendentemente, quase todos me seguiram. Com isso, perdi completamente o hábito de comprar carne ou derivados, preparar carne pra comer, ter carne na geladeira. Até aí tudo bem. Só que alguns deram pra trás. A ideia não estava amadurecida em suas cabeças e eles voltaram a comer carne quando longe de casa. Não vejo problema nisso.

Claro que eu preferiria que não houvessem fraquejado. Claro que a minha vaidade, que de vez em quando mostra a cara, se sentiu ferida ao perceber que falhei como líder (sei que não é assim; mas essa é a visão caolha da Vaidade). Mas encaro com naturalidade que nem todos estão preparados ou dispostos a deixar de se alimentar de carne. Como já argumentei noutra ocasião, não posso exigir dos outros algo que eu só recentemente passei a fazer.

Mas o fato é que me acostumei a conviver sem carne em casa. Numa casa em que há fumantes e não fumantes, se os não fumantes se incomodam com o cigarro, os fumantes não fumam dentro de casa. A comparação de carne com cigarro é ruim? Também achei. Mas quis dizer que o cheiro de carne hoje me incomoda. Não sinto mais cheiro de churrasco, sinto cheiro de cadáver de animal tostado no fogo. Não sinto mais cheiro de bife, sinto cheiro de pedaço de bicho morto. Exagero? Pouco mais de um ano atrás eu acharia isso ridículo…

A questão é: Eu pago a comida. Eu preparo a comida. A comida que eu preparo e disponibilizo contém todos os nutrientes necessários para a manutenção da boa saúde. Eu permito que comam carne fora de casa. Estou sendo radical? Não sei.

Até que ponto tenho que abrir mão do que acredito em nome da tolerância? Essa tolerância não é condescendência? Se a comida é boa e tem os nutrientes necessários, comer carne obrigatoriamente não é apenas um capricho?

Minha filha Sofia tem três anos e meio, frequenta a escola desde um ano de idade e é vegetariana. Recentemente a diretora comentou comigo que a Sofia estava “convertendo” seus colegas, revelando a eles, na hora das refeições, que “carne é bichinho”. Quase todos deixaram de comer, pelo menos durante alguns dias. Provavelmente orientados pelos pais, voltaram a comer. Isso não demonstra que comer carne é um capricho, é algo cultural?

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